História Como Pode Ser?! - Destino

Mesmo furando fila com a ajuda de Lisa e Rosé, demorou muito até podermos finalmente entrar no enorme brinquedo. 

Lisa e Rosé foram em uma cabine e eu e Jennie em outra.

— Não tô sentindo meus pés. -Falei assim que adentrei a cabine do brinquedo e sentei.

— Ah, Jisoo, nem demorou tanto. Sua dramática. -Jennie soltou uma risada nasal.

— Não, você não tá entendendo. Não sinto meus pés desde quando a gente saiu da montanha russa. -ainda sentia minhas pernas bambas. Jennie riu e se sentou ao meu lado.

Após alguns minutos, nossa cabine foi se afastando do chão aos poucos. Quando percebi a altitude em que estávamos, comecei a hiperventilar e suar frio.

— Puta que pariu, Jennie, a gente vai cair! Meu Deus, Jennie, a gente vai morrer! -fechei os olhos e comecei a gritar.

— Jisoo, se calma, pelo amor de Deus! -Jennie retrucou.- Abre os olhos, mas não olha pra baixo.

— Nem fudendo. -Disse ainda apertando minhas pálpebras.

— Haja paciência.- Jennie sussurrou.- Jisoo, me dá sua mão, okay? -Senti a mão quente da menina ao meu lado se entrelaçar à minha. -Não precisa ter medo, estou aqui... com você.

O meu coração bateu mais forte naquele instante. Não sabia bem se era por causa da altura ou outra coisa.

Abri os olhos lentamente e evitei olhar para o chão, simplesmente foquei no rosto de Jennie.

— Bom, descobri algo a mais sobre você pelo menos. -Jennie disse ao perceber que eu estava olhando diretamente para seus olhos.

— Hm... o quê? -perguntei.

— Descobri que você tem medo de altura e que ao mesmo tempo que posso conseguir te deixar nervosa, posso te deixar calma também. -Jennie sorriu convencida. Senti minhas bochechas arderem.

O que eu mais queria fazer naquele momento era acertar um tapa no ombro de Jennie. Mas, apesar de ter me deixado constrangida, ela ainda segurava minha mão e tentava me acalmar.

— Eu te odeio. -murmurei.

— Você me ama, Kim, você só não descobriu isso ainda. -Jennie acrescentou. 

— Cala boca, Jennie Kim. -retruquei. -e me dá isso, comer me distrai. -peguei o pacote de pipocas de sua mão e comecei a mastigá-las.

Jennie balançou a cabeça e riu fraco. Vi a menina ao meu lado abrir a garrafa de cerveja com dificuldade e dar um grande gole.

— Nossa, você bebe como se fosse água. -Anunciei enquanto mastigava uma pipoca.

— Anos de prática... muitos anos. -Jennie murmurou.

A nossa cabine subiu mais um pouco e, instantaneamente, apertei a mão de Jennie. Ai meu coração.

— Relaxa, Jichu. -Apelido fofo, gostei.- vamos conversar para nos entretermos, okay? -Balancei a cabeça em afirmação.

— Olha, a gente já se conhece há um tempinho, mas quase não sabemos nada uma da outra. -anunciei tentando puxar conversa.

— Ah, eu não gosto muito de falar sobre mim... -Jennie deu mais um gole no conteúdo da garrafa. -minha vida é mais complicada do que o normal. 

— Mas somos amigas- falei. -E amigas precisam ter confiança. Pode começar a contar sobre sua vida, senhorita Kim.

Jennie suspirou.

— Ainda não, Jisoo, quem sabe outro dia, né? Mas por enquanto não. -arqueei as sobrancelhas e me dei por vencida.- vamos falar de coisas superficiais mesmo, tá? Tipo, qual sua comida preferida?

— Frango! Nossa, com toda certeza é frango. Mano, é muito bom. -me empolguei, mas pelo menos respondi a pergunta. Jennie riu.

— É, realmente deve ser frango. -Jennie riu novamente -Eu acho que não tenho uma comida preferida. Gosto muito de sorvete de leite, apesar de não gostar de leite.- Ela enfiou a mão no pacote de pipocas e pegou algumas. -mas no momento, gosto mais de pipoca.

Sorri com a espontaneidade da menina.

Sabe quando você está com a pessoa e agradece ao destino por ter feito ela entrar na sua vida mesmo que por acaso? Pois é, era assim que eu me sentia naquele momento.

— Ah, Jennie, hoje é o aniversário de casamento dos meus pais...

— Legal. -ela pegou mais pipoca e deu de ombros para o que eu tinha acabado de falar.

— Eu tava pensando, será que você não pode dormir lá em casa hoje? -perguntei. -Meus pais vão passar a noite fora e eu não queria ficar sozinha, entende?

— Gostei da ideia, pode ser. -Jennie bebeu mais um pouco do líquido que continha na garrafa de vidro. -Ah, Jisoo, posso fazer uma pergunta?

— Claro que sim. -respondi na maior inocência.

— Você acha que você é totalmente hétero? -Quando Jennie lançou a pergunta, acabei engasgando.

— Tipo, heterossexual? -Jennie balançou a cabeça em afirmação, como se aquele fosse o assunto mais normal da vida. -Tipo, homens?

— É, ué. Você é ou não? Gosta de meninas também? -Ela realmente tratava aquele assunto como se estivéssemos falando de pão com manteiga ou com requeijão. Aquilo era muito estranho para mim.

— Por que está me perguntando isso? É claro que gosto de homem.

— Mas tem certeza de que é só de homem? -arqueei as sobrancelhas para a menina ao meu lado.

— Ah, Jennie, qual é? Vamos falar de outra coisa? Meu deus. -Respondi inquieta.

Mal tinha percebido, mas nossa cabine estava quase chegando ao chão novamente.

— Ah, você vai querer beber isso? -Jennie apontou para a garrafa de cerveja, ainda lacrada, ao meu lado. Balancei a cabeça em negação.

— Pode pegar.

Enquanto Jennie tentava abrir a garrafa, minha visão ficou desfocada e eu comecei a pensar nos meus valores. 

Na verdade, eu nunca tinha pensado na possibilidade de gostar de uma menina. Desde pequena sempre aprendi que homens deveriam gostar de mulheres e vice-versa. Contudo, sentia que não me importava com a ideia de duas pessoas do mesmo sexo se 'pegando'. Parecia normal ao meu olhar, mas ser questionada quanto a minha própria sexualidade tinha um aspecto diferente, parecia meio proibido. Parecia tabu. Era fácil de se imaginar duas pessoas desconhecidas do mesmo sexo se beijando, mas me imaginar, isso sim era muito... estranho. 

Eu nunca tinha me imaginado beijando uma boca feminina...

Até aquele momento.

Era como quando você pensa que algumas coisas nunca irão acontecer com você, mas o destino acaba pregando uma peça e muda o roteiro.