O sangue manchava a roupa da garota na altura do estômago e seu rosto pálido. Os olhos se fecharam e Tina sacudiu com delicadeza, que não combinava com o desespero nos olhos da auror, os ombros dela.
Nos braços dela estava uma garotinha de cachos castanhos claros que Tina não daria mais do que oito anos.
– GOLDSTEIN! – a voz de Sthepen entrou distante nos ouvidos de Tina. - TEMOS QUE IR!
Sthepen a puxou pelo braço e com um feitiço impediu que um pedaço do teto caísse sobre eles. Tina correu junto com ele e então ela parou. Talvez um instinto ou uma sensação, mas a mensagem do cérebro foi clara: Pare. Ela virou a cabeça para trás e forçou os olhos a enxergar na nuvem de poeira e na fumaça que começava a tomar conta do lugar.
Ela avistou um braço que saia de baixo de um armário derrubado. Um movimento.
– TINA! – ela ignorou a voz de Percival.
O armário foi arremessado ao comando da varinha e revelou um garoto. Ela pegou o menino, os braços dele prendendo-se no pescoço dela. Ela virou a tempo de ver uma mulher atrás de Percival.
– SENHOR GRAVES! – ela ergueu a varinha, mas não rápido o suficiente.
Percival foi lançado para cima, ele caiu no chão e em seguida o som de algo quebrando. Um raio vermelho atingiu ele. O corpo dobrou com a dor.
– Expelliarmus! – Tina segurou com mais firmeza o menino enquanto desarmava a mulher. – Incarcerous!
Collins pegou a mulher pelo braço. Ela lançou um sorriso de desdém para ele e Tina.
Ross passou o braço de Percival pelo próprio pescoço e segurou o auror quase inconsciente. Tina seguiu para a rua com passos velozes e frenéticos, desviando dos escombros e do fogo.
Ela barrou um auror francês. O homem olhou com confusão para ela e a criança.
– Besoin de l... – a morena não conseguiu formular a frase em francês. – Precisa leva-lo ao hospital! Entende? – ela passou a mão pelo cabelo do menino. – Está ferido!
O auror francês franziu o cenho e houve um momento de hesitação antes dele pegar o garoto.
Tina viu a mesma mulher que atacou Percival fugindo pela rua. A auror dobrou a esquina seguindo a bruxa.
Tina aponta a varinha e a mulher cai de joelhos e com as mãos para trás.
– Goldstein, não é? – a mulher tem um sorriso petulante e os olhos brilham com diversão, realmente não se importando em ter sido pega. – Vocês são tão ingênuos pensando que prendendo meia dúzia de nós vão impedir o bem maior.
– Accio.
– Minha varinha ficou lá trás – as palavras carregadas com o sotaque e provocação. – Se é isso que está procurando.
– Como fugiu? - a varinha ainda apontada para a dominada.
– Estão enganados pensando que tem tudo sobre controle. Nós temos olhos em todos os lugares.
Tina levanta a mulher e encara a expressão ainda sorridente e quase de vitória. Ela apertou uma mão ao redor do braço da mulher e a puxou pela rua.
_____
Newt estava em pé no salão da mansão esperando por Tina e Theseus. Erguendo a cabeça toda vez que escutava a porta abrir ou quando aparatavam. A morena e o Scamander mais velho entraram na mansão. Ambos com os cabelos e casacos sujos com poeira.
Theseus falava com Tina, a morena por sua vez apenas assentia e mastigava o lábio inferior. Theseus tocou o ombro de Tina e indicou o magizoologista que vinha na direção dos dois.
– Theseus. – disse Newt.
– Estou caindo fora. – Theseus deu as costas antes que o mais novo começasse a protestar por ele ter mentido.
– Tina. – o olhar do magizoologista é apreensivo. – Você está bem?
Tina assente em confirmação e apertando os próprios cotovelos. Newt mantém o olhar e ela nega com a cabeça após sentir os olhos arderem. Ela tenta convencer a si mesma que é apenas a fumaça a qual ela ficou exposta.
– Eu vi uma garotinha morrer. – a auror esfregou os olhos como se a ação pudesse faze-la esquecer.
O britânico a envolveu num abraço e afagou as costas dela em círculos.
– Se eu tivesse sido mais rápida. – a voz dela fica trêmula.
– Não é sua culpa. – ele assegura. – Você tentou.
– Ela era tão nova, me lembrou muito Queenie quando pequena. – a respiração dela é irregular. – Eu não consegui.
– Não foi sua culpa.
Tina desprende os braços do magizoologista de si e agradece com um sorriso pequeno e fraco.
– Eu preciso ir ao hospital.
– Está ferida? – ele repete a pergunta com os olhos inundando de preocupação novamente.
– Não, não é isso. Preciso encontrar um menino. Eu tirei ele do prédio que estava desabando. Tenho que saber se ele está bem.
Tina busca por um auror francês. Ela sobe as escadas e avista um no corredor, mas não tem tempo de ir até ele. Louise a chamou.
– Goldstein! – a ruiva se aproximou de Tina. – Onde você estava? Macduff quer falar com você.
– Eu vou daqui a pouco. – Tina dá uma rápida olhada na mulher e continua a avançar.
– Goldstein, é o Macduff.
Tina suspira vendo o francês sumir pelo corredor.
– Está bem. - Tina vira para Louise. – Onde ele está? Na sala dele?
Louise confirma e acena antes rumar para o quarto. Tina passa a mão pela testa na esperança de aliviar as pontadas que sente.
– Senhor Macduff? – Tina bate na porta.
– Entre. – Macduff crava os olhos na morena quando ela atravessa a porta. – Senhorita Goldstein.
– Queria falar comigo?
– Sente-se. – ele indica a cadeira frente da mesa.
Tina obedece e os músculos ficam mais rígidos que pedra. A mão de Macduff fica em concha e equilibra o cotovelo, a outra mão está sobre o queixo.
– Escutou quando disse que era para ir fora?
– Sim, senhor.
– Mas você não saiu.
– Eu tentei ajudar um garoto.
– Você o salvou, meus parabéns. Em compensação deu brecha para um auror ficar ferido.
– Está colocando a culpa em mim? – pela primeira vez na conversa a sensação intimidante deu lugar a uma ponta de ofensa.
– O senhor Graves desviou a atenção para ajuda-la e uma seguidora o atingiu. Ele vai ficar bem, mas a mulher teve a chance de mata-lo. Não precisamos de perdas.
Macduff faz uma pausa. A morena tem uma enorme vontade de chutar a mesa e sair da sala. Infelizmente, ela não pode fazer isso.
– Sabe por que está nessa equipe? Na investigação mais importante da MACUSA?
Tina abre a boca para responder, mas não consegue coragem suficiente para falar. Era retórico ou uma pergunta a ser respondida de fato?
– Está aqui porque é uma boa auror. Um grande empenho em todos os casos que participou, está a disposição para o trabalho e sempre pronta. O problema é que as vezes a senhorita tende não obedecer ordens. Se eu pedi para que os aurores voltassem para a rua é porque tinham seguidores fugindo. Quando você age junto com esse departamento tem que entender que qualquer ação sua vai ter consequência que iram cair sobre outras pessoas, não apenas você.
– Eu sei, mas...
– Quando estiver em campo e eu der uma ordem ela deve ser seguida. É uma decisão tomada pensando em não comprometer a equipe e que visa o melhor naquele momento. Espero que estejamos entendidos.
– Sim, senhor.
– Pode ir. – ele estende a palma para a porta.
Tina sai da sala e encontra o magizoologista encostado na parede. Ele abre o fantasma de um sorriso ao vê-la. Ela repara agora que o casaco dele está sujo nos ombros com poeira e que há um pouco de sangue debaixo do nariz.
– Você esteve no centro. – ela afirmou.
O magizoologista assente.
– Não podia ficar aqui sabendo que você e Theseus estavam lá. – ele olha para porta. – Tudo bem mesmo?
– Sim. – ela aperta o cotovelo esquerdo. – Eu apenas preciso dormir um pouco.
O magizoologista assente e os dois tomam caminhos opostos pelo corredor. A auror para e olha o britânico. Ela vacila um pouco antes de falar.
– Obrigada, Newt. – ela faz ele virar. – Por se preocupar.
O lábio dele curva com um sorriso. Ele agradece inclinando um pouco a cabeça.
Os dois retomam o caminho para as próprias camas.
______
– É tudo muito estranho. – disse Theseus.
Ele e a auror americana estavam do lado de fora da mansão. Era dezembro e o branco da neve cobria o chão e qualquer telhado a vista.
Tina começou a passar mais tempo com o Scamander mais velho, conversando sobre a investigação, o ministério, a MACUSA, o obscurus, os seguidores e , com certa resistência por parte da morena, sobre Newt.
– Eles faziam um atrás do outro. E agora, do nada, pararam. Desistir eles não desistiram, tem alguma coisa. Estão planejando alguma coisa maior.
Ele se referia aos ataques. O último fora o da torre Eiffel, desde então mais nenhum. Não de grande magnitude. Pegaram alguns que invadiram casas e restaurantes de no-majs.
– O presidente voltou para nova Iorque. – informou Tina vendo a própria respiração contra o ar frio. – Acho que vão nos mandar de volta.
– O ministro não insistiu muito para que voltássemos. Ele está crente de que quem prender Grindelwald vai ser do nosso ministério e não está poupando esforços para as investigações. Um problema a menos.
– Não está tendo muitos ataques por Londres?
– Um grupo tentou invadir uma reunião, acho que para matar o ministro. O quê está dando dor de cabeça para o pessoal de outros departamentos é os jornais e tentar manter sigilo.
– Minha irmã me mandou um jornal no-maj semana passada. Eles falam em terrorismo e guerra. Meu medo é ter uma entre nós.
– Ah, sua irmã. Qual o nome dela mesmo?
– Queenie.
– Queenie. – Theseus fez um estralo com a língua. – Ela e Jacob estão gostando de Londres?
– Estão sim. Eles inauguraram a padaria esse mês. Ela está trabalhando na padaria agora e disse que já tem muitos clientes.
– Fica mais cheio neste mês. Pessoas fazendo as compras de natal e tudo mais. – um assobio longo sai da boca de Theseus. – Não e possível que passamos todo esse tempo correndo atrás de Grindelwald e seus seguidores.
– É uma loucura. – Tina não consegue encontrar outra palavra para definir tudo que estava acontecendo.
Theseus estuda a auror americana passear os olhos preocupados pela paisagem.
– Anime-se, Goldstein. Logo vamos ter uma folga. O natal está aí.
– Eu sou judia. Queenie e eu não comemoramos o natal.
Aquilo fez a americana lembrar que o hanukkah já estava por terminar. Tina não esteve no apartamento de Nova Iorque se deliciando com os pratos que Queenie preparava e que lembravam tanto os da mãe, não acendeu as velas, nem trocou os presentes. Não esteve perto da irmã.
– Eu não sou o que se pode chamar de homem de fé – ele deu de ombros. – Mas comemoro o natal. Eu vejo como um dia no ano para reunir a família e comer um bom jantar. Sério, se não fosse pela minha mãe insistir que Newt passasse o natal conosco, ele viraria o ano em outro continente.
Ela concordou com a cabeça. Mais alguns minutos de silêncio olhando a neve cair e Tina decidiu sair do vento frio que parecia conseguir esgueirar para pelo tecido dos dois casacos que ela usava e buscar aconchego na maleta do magizoologista. Onde o clima era mantido agradável e sempre controlado pelo britânico.
Dougal recepciona a morena segurando frouxamente os dedos dela. Tina agacha para ter o olhar nivelado com o do seminviso. Ela sente duas pequenas patas no ombro direito e nota um borrão preto indo para longe. Ela coloca as mãos sobre o peito apenas para confirmar o que sabia. "Ladrãozinho" ela pensou.
– Você ajudou mesmo com isso? - ela pegou dougal e suspirou. Um braço de dougal circundou no pescoço dela. – Vamos achar Newt. Eu quero meu cordão de volta.
Tina achou o magizoologista alimentando Francis. Ela reconheceu que precisava de um voo com o hipogrifo logo.
Newt passava as mãos pelas pelas penas da cabeça de francis e por seu bico. Ele jogou o último pedaço de carne no ar e o hipogrifo abocanhou com entusiasmo.
– Oi. – ela anunciou a própria chegada.
O magizoologista vira desconcertado pela súbita aparição de Tina. Ele mostra um sorriso desajeitado e abotoa os dois primeiros botões que estavam abertos.
– Oi.
– Pelúcio pegou meu cordão. – ela deixou dougal no chão e ficou com uma das mãos junto da dele.
– Peço desculpas por isso. Ele está a um bom tempo sem sair e está pegando qualquer coisa. – o sorriso dele transforma-se em um misto de exasperação e diversão. – Ele está sentindo falta das escapadas.
– Ele saiu quatro semanas atrás.
– Ele estava acostumado a sair com mais frequência. – defendeu ele. – Eu pego seu colar.
Ele cumpriu. Não recuperou apenas o cordão dela, recuperou também vários galeões que deu falta, botões, pingentes e relógios que eram de outros aurores.
– Obrigada.
– Você nunca tira. – ele comentou a própria nota.
– Não. – ela apertou o medalhão em mãos manifestando o igual aperto que tinha no peito. – Era da minha mãe.
Ela percebeu a empatia nos olhos dele e um pouco de arrependimento por tocar no assunto doloroso.
– Não peça desculpas, por favor.
Ela prendeu o cordão no pescoço e abriu o medalhão para olhar a pequena foto de um casal. Rapidamente o fechou.
– Planos para o natal? – ele se sente meio estúpido fazendo a pergunta. – Sei que é judia, mas poderia passar conosco. Queenie e Jacob poderiam vir. Todo natal é apenas Theseus e nossos pais, seria bom se vocês aparecessem.
A morena recorda e reflete sobre as palavras de Theseus. "Um dia no ano para reunir a família". Os dias do hanukkah que ela e Queenie compartilhavam passaram. O natal tinha o mesmo objetivo, reunir.
– Eu adoraria. – ela deu um pequeno sorriso para enfatizar.
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