Nossos olhos se encontraram por uma fração de segundos, antes que ele desviasse o olhar de maneira preguiçosa. Continuei encarando mesmo assim.
Ele sempre parecia meio sonolento na primeira parte da manhã. Como se não dormisse o suficiente. Também era difícil presenciar ao menos uma sombra de sorriso.
Resumindo, ele é o total oposto da minha pessoa. Enquanto eu tenho o cabelo colorido em tons de azul e verde, o dele é completamente preto, enquanto eu uso cores mais vibrantes, ele usa o confortável preto. Eu ria escandalosamente senão sempre alegre e divertida, ele quase nem falava.
Estaria mentindo se não dissesse que mantenho uma grande curiosidade sobre sua personalidade, o porquê de ele ser assim.
Assim que sua amiga chegou, pude ver um esboço de sorriso que logo se foi. Notei o brilho do piercing quando arqueou a sobrancelha direita. Logo seu ar mudou de sonolento para surpreso e irritado, e foi então que notei um pequeno corte no lábio inferior da garota.
Vez ou outra a garota aparecia com algum hematoma. Me perguntava o que fazia para aparecer desse jeito. Um frio percorreu minha espinha com algumas lembranças bem pessoais; desagradáveis.
Ele negou sua tentativa de explicação, não parecia satisfeito, mas não iria insistir numa resposta melhor.
Eu estava coçando desesperadamente, sem perceber, o símbolo do Yin Yang no meu antebraço esquerdo.
Estudava a quase um ano inteiro na mesma sala, e nem sabia seus nomes. Sou horrível em decorar essas coisas, mas todos pareciam saber quem eu era, e isso é um pouco frustrante.
Desviei minha atenção quando um dos meus melhores amigos pronunciou meu nome. Quase no mesmo instante em que parei de encará-lo, pude sentir seus olhos me analisando.
Era sempre assim. Ele nunca me olhava enquanto eu olhava para ele. Mas não me importo.
Demorei muito para perceber que quero lhe mostrar minhas cores, mesmo não sabendo como as suas se parecem.
~~
Seu olhar parecia fazer pinicar meu corpo, e ele estava sempre lá. Todos os dias antes da primeira aula.
Assim que senti a sensação passar, olhei-a imediatamente.
Sempre assim. Não conseguia sustentar seu olhar por muito tempo, então apenas olhava quando ela nãos estava me observando.
Os tons chamativos de azul e verde, inusitadamente combinavam bem com seus olhos cor de mel, dourados ao sol.
Ela era toda chamativa e vibrante. O tempo todo. Hoje, por exemplo, o top rosa pink, soltinho e de mangas curtas, em contraste com o cabelo, o jeans skinny, escuro e todo rasgado, que era levemente escondido por um casaco laranja de tecido fino e um coturno preto, aparentemente bastante usado, faziam a bela composição do dia.
Ela sorriu seu sorriso fácil e brilhante, por alguma piada do amigo platinado, eu não podia ver a covinha do lado esquerdo, mas sabia que ela estava lá marcando a bochecha cheinha.
Revirei os olhos para seu sorriso doce de mais. Ninguém deveria sorrir assim tão levianamente. E ninguém, obviamente, merecia minha amargura.
Ela toda brilhante, e eu todo opaco.
Éramos estremos opostos, e pretendia deixar assim. Cada um em seu polo, sem nunca verdadeiramente se encontrar. Assim como o dia e a noite, de algum jeito ligados pelo por do sol e o amanhecer, mas sempre distantes.
Encarei meu traje todo preto. No fundo eu sei que tenho medo, e me escondo no escuro.
Tenho medo de cobrir-me com suas cores.
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