História Como Se Livrar De Um Demônio Apaixonado - Pena que é um pouco tarde para isso

Deitado sobre a cama, eu apenas conseguia visualizar aquela cena se repetindo por diversos momentos em minha mente. O olhar de Jin e em seguida seus lábios grudados aos de Jimin.

Eu não estava conseguindo assimilar tudo aquilo, sabe? Não sabia que sentimentos assim podiam machucar, parecia uma dor física, mas que eu não conseguia curar com um remédio qualquer. Minha garganta parecia com um nó toda vez que aquela cena se repetia e eu apenas sentia vontade de ir até Jimin e gritar o quanto eu o odiava, o quanto eu o amaldiçoava.

Ele foi um babaca, vamos combinar, mas também um ótimo ator. Sério! Eu nunca imaginaria que seu sangue era tão frio a ponto de estar aos beijos com Seokjin um dia depois de dizer que gostava de mim. Nossa, uma salva de palmas para esse imbecil!

Soquei o travesseiro fortemente enquanto as lágrimas desciam por minhas bochechas sem parar, finalmente havia entendido o porquê Jimin não queria realizar um pacto comigo, o porquê ele não me queria ao seu lado do inferno. Ele poderia ficar com nós dois ao mesmo tempo.

Eu seria seu lanchinho terráqueo, a marmita de demônio.

Park viria a terra e brincaria comigo, mexeria com meus sentimentos, usaria meu corpo de todas as formas que quisesse e pudesse, depois voltaria para o inferno para foder o Seokjin porque era disso que ele gostava. A sensação de ser o dominador, poderoso e implacável.

Senti náuseas ao me lembrar como estávamos próximos naquela noite sobre o telhado, de frente para o bar e ele com um disco de vinil em suas mãos. Como pude me deixar enganar com aquela conversa toda idiota? Você é muito burro, Jeon.

O pior é que eu dei tanta chance, sabe. Puta merda, o quanto eu me esforcei para mantê-lo próximo a mim, eu deveria ganhar o troféu de trouxa do ano, com direito a cerimônia e Namjoon anunciando meu nome. Entraria com um lindo Smoking e um chapéu, no palco contaria toda minha história com Jimin nesses últimos meses e todo mundo poderia comprovar o quanto fui um imbecil.

Falando em imbecil; adivinha quem abriu a porta segundos depois de eu ter tido este pensamento?

— Você está ai! — sua voz era animada. — Estava te procurando há um tempo.

Me ajeitei na cama escondendo o rosto debaixo do travesseiro.

Me procurando há um tempo? Pra quê? Sua boca não estava ocupada demais com a língua de Seokjin?

— Estou cansado. — minha voz vacilou, puta merda.

— Qual é, Jungkook. — o traidor puxou meu pé. — Vamos dar uma volta na praia, falta poucos dias para que nós voltemos para casa.

Eu quis rir, juro. Puta merda, como eu quis cair na gargalhada ao ser convidado para andar na praia depois do que vi. Nossa, Jimin era muito cara de pau, não era possível.

— Não quero ir. — respondi seco

— Por quê? — resmungou. — Af, vamos, só uma voltinha. Eu gostei da praia, não existe no inferno. Senti muita inveja de vocês, humanos.

— A praia continua lá, vai sozinho.

O cômodo ficou silencioso, pensei por alguns minutos que ele havia saido, até ele tentar puxar o travesseiro.

— Por que você está agindo assim comigo? — disse ao tentar puxá-lo.

— Eu não quero ir, Jimin.

Minha voz vacilou novamente e meus olhos marejaram, estava sentindo meu estômago se contrair e era como se meu coração fosse explodir. Se ele retirasse o travesseiro, iria me ver daquele jeito; tão impotente, fraco e destruído.

— Mas porque…

Minha paciência se explodiu, joguei o travesseiro longe e me inclinei na cama de forma rápida. Sentado, eu o encarei com meus olhos completamente tomados pela raiva, tristeza e decepção.

— EU JÁ DISSE QUE NÃO QUERO, VOCÊ É SURDO?

— Por que seu rosto está vermelho, mestre? — disse quase que em um sussurro enquanto se aproximava. — Quem fez isso com você?

Ele tentou tocar meu rosto, mas eu desviei e segurei sua mão, a empurrei para longe. Jimin me olhou com um semblante incrédulo, como se não estivesse entendendo a minha atitude, pudera, ele era um ator muito bom.

— Jimin, sai desse quarto. — pedi enquanto apontava para a porta.

Minha voz soava perigosa, estava quase vacilando outra vez, só que eu não deixaria ele me abalar.

— Só vou sair daqui quando você me disser o que está acontecendo.

Park cruzou os braços e me encarou sério, eu apenas soltei uma breve risada enquanto balançava a cabeça negativamente. O ruivo parecia não entender nada quando me levantei e abri os braços.

— E você ainda pergunta? Depois do que fez hoje?

— O que eu fiz? — perguntou.

Não era possível, não mesmo. Jimin só podia estar de brincadeira comigo.

— Você ainda quer que eu numere? — mordi o lábio inferior prendendo um sorriso debochado. — Você é um imbecil, Jimin. Merece o prêmio de falsidade do ano que vai ser forjado em lata em vez de ouro, só pra ficar mais parecido com você.

— Jungkook, aonde você quer chegar? — caminhou em minha direção e segurou meus ombros de forma leve. — Eu juro que não estou entendendo todas essas ofensas… — me olhou da cabeça aos pés antes de parar seu olhar em meus olhos. — … esse jeito frio.

Eu não queria, não queria mesmo, mas estava prestes a desabar outra vez. Um nó na garganta e era como se minha voz tivesse sumido, ao olhar no fundo daquele mar negro que eram os seus olhos, eu só conseguia ver um traidor, sujo e indigno de me ter como companhia.

Eu merecia muito mais que Park Jimin, um conquistador barato, um colecionador de corações quebrados.

Apesar que Seokjin não teve nada danificado nessa história, muito pelo contrário. Ele estava adorando ter os lábios de Jimin sobre os seus, lá na praia.

Dei um passo para trás, mas ele tentou se aproximar outra vez, só que eu o empurrei fazendo-o se distanciar.

Acabei por desabar.

— Ontem estávamos aqui, de pé, nesse mesmo lugar. — funguei, mas as lágrimas já desciam de forma desesperada. — Você disse que não iria me deixar tomar decisões que fossem me prejudicar pelo resto da minha vida.

— E você está certo. — disse. — Eu jamais deixaria.

— Você deixou, Jimin. No momento em que conquistou meu coração, que me fez amar você, você prejudicou a minha vida para todo o sempre.

Ele tentou tocar meu braço, mas eu o afastei.

— Jungkook…

— Você disse que gostava de mim, muito mesmo, e eu, um babaca, um imbecil, me deixei cair nessa. No fim você é apenas um demoninho igual aos outros, você só gosta de brincar com os humanos.

— Eu jamais brincaria com você.

Eu gosto de você, Jungkook. De verdade, eu me senti muito bem quando estou contigo. Você fez acender sentimentos dentro de mim que nunca haviam sido explorados, me sinto mais humano ao seu lado. Não há porquê ir embora.

Minha mente não queria aceitar, apenas vagava naquelas palavras falsas. Eu sou um idiota completo, puxa vida. Solucei antes de encarar o chão, depois voltei meu olhar marejado a ele.

— Você estava aos beijos com Seokjin, por quê? — solucei. — Por que você quis brincar comigo desta forma, Jimin?

— O quê? — disse com um semblante incrédulo. — Eu? Eu não beijei o Seokjin.

— Não? — ri fraco. — Você não beijou? Então o que eu vi na praia foi uma miragem?

— Jungkook, eu estou falando sério! — segurou meus braços novamente fazendo-me olhar para ele. — Eu juro pela minha alma que não sei do que você está falando.

Ri novamente, minha vontade era socar aquela face linda e séria.

— Não me jure mais nada, Jimin. Você não é um homem de palavra, é só um mais um merdinha que preferiu marcar a minha vida de forma errada em vez de ser aquele que veio para fazer a diferença.

O fiz soltar meus braços outra vez e limpei minhas lágrimas, estava me sentindo melhor depois de colocar para fora todas aquelas palavras.

— Jungkook, tudo aquilo foi real. Minhas palavras, o beijo… Eu juro jamais faria algo pra te magoar.

Suas palavras sairam de forma atrapalhada, como se estivesse desesperado. Ele segurou meu rosto forçando-me a olha-lo.

— Eu amo você, Jeon. De verdade.

E então nossos lábios selaram-se, Jimin me beijou de forma necessitada, desesperada e, por um descuido, eu acabei me deixando levar. Acabei retribuindo por alguns instantes, selo Jeon Jungkook trouxa de qualidade.

Afastei um pouco o rosto parando o beijo, segurei suas mãos enquanto fingia olhá-lo de forma carinhosa.

— Pena que é um pouco tarde para isso.

Dito isso, eu soltei suas mãos e ele abriu a boca para dizer algo, mas eu sequer dei chance para que o ruivo falasse. Passei por Park Jimin de cabeça erguida e um olhar novo. Não, eu não seria mais um na listinha de merda dele, não mesmo. Iria me distanciar, sumir e só.

Iria mandá-lo de volta para o lugar de onde nunca deveria ter saído.

Maldita hora em que fui para aquele porão, que aceitei realizar aquela merda de desafio, que aceitei suas ajudas em meus problemas. Maldita hora em que deixei ele entrar aos poucos no meu coração com aquele sorriso solitário junto de alguns discos de vinil.