História Como Se Livrar De Um Demônio Apaixonado - Eu também me sentia mais humano ao lado dele

Respirei fundo muitas vezes.

Meus dedos, que estavam segurando fortemente o apoio da cadeira, estavam vermelhos e minha respiração ofegante. Era como se todo o meu interior estivesse queimando, uma dor horrível e meus olhos pareciam que saltariam de minha cabeça.

— Eu… Eu… — tentava falar, mas era como se minha mente estivesse apagada.

Levantei meu olhar e pude ver Namjoon sentado na outra ponta da mesa com o livro nas mãos, o semblante tranquilo. Estávamos em seu porão.

— A magia pode ser realmente convincente. — disse.

E então, aos poucos, fui conseguindo me lembrar, do episódio nos bastidores do programa de TV e logo depois a entrevista com algumas perguntas. Já um pouco melhor, encarei o loiro por alguns segundos antes de protestar.

— E por que nos levou a um programa de TV? Eu pensei que fosse fazer algo pior.

— Bom, desde que você me disse que queria arranjar um jeito de mandar o Jimin embora, eu tenho treinado alguns feitiços.

Desde o dia na casa da praia, Namjoon confessou-me ter sentido um certo poder despertar dentro de si, principalmente quando ficou a sós com Seokjin na sala, mas não me disse o que aconteceu entre eles. Mais tarde ele acabou descobrindo que, há seculos atrás, um ancestral seu havia sido um bruxo e, consequentemente, o Kim havia sido escolhido.

— Já faz quase três semanas, Jungkook. — ele fechou o livro e me encarou, retirando-me de meus pensamentos. — Quer dizer, você não mudou de ideia sobre isso?

— Não, não mudei. — disse firme.

— Vocês conversaram naquele dia, na casa do Yoongi. Você não se sentiu nem um pouco tocado?

— Não. — respondi rápido ao desviar o olhar.

— Tem certeza? — ele tombou a cabeça para o lado.

E então meus pensamentos viajaram para aquela noite.

Levantei-me e segui para a cozinha, já estava meio entediado naquela sala. Ficar trocando olhares com Seokjin o tempo inteiro estava sendo um pouco difícil, principalmente porque eu queria gritar diversas verdades na cara daquele babaca. Todos estavam ali, menos Jimin que, pelas palavras do príncipe da luxúria, resolveria algo e talvez chegaria tarde, ou nem iria.

Próximo a geladeira, peguei uma das garrafas d’água. Ao fechar a porta, o rosado me encarava encostado na parede.

— Eu acho que precisamos ter essa conversa, logo.

— Conversa? Sobre o que?

— Você sabe, nossa rivalidade em relação ao Jimin.

Apenas levantei as sobrancelhas e me sentei em um dos bancos.

— Quero deixar bem claro que só estou aqui porque sei que isso está afetando ele. Primeiramente, eu não tenho nenhum interesse romântico no Jimin.

— Ta bom. — disse debochado, mas o Kim continuou quieto. — Não foi bem isso que eu vi lá na praia.

— Enfim, não me interessa se você acredita ou não. — vi sua língua pressionar sua bochecha por dentro da boca. — Mas ele é o meu amigo e sei que você tem representado certa ameaça, uma ameaça mortal.

— Seokjin, entenda de uma vez: eu NÃO quero matar o Jimin.

— Que seja. — disse. — Eu só quero deixar bem claro que não quero ser, como vocês dizem aqui na terra mesmo? “BBF”, algo assim.

— Isso é termo de revista adolescente.

— Ah… Enfim. Eu não quero que sejamos amigos próximos, mas que nos respeitemos, pelo menos por causa dele.

— Pode ser justo, mas não é como se eu me importasse com isso.

— Você disse algo sobre a praia… Do que estava falando? — perguntou ao se aproximar da bancada.

— Ah. — gemi. — Bom, eu vi vocês se beijando. Fica meio difícil acreditar, “colega”… — respondi enquanto fazia o sinal de aspas. — Que vocês não estão se pegando.

— Ah… — ele meio que tentou prender o riso e eu fiquei sem entender. — Aquilo era uma miragem, eu nunca beijei o Jimin naquele dia. Foi só uma forma de manter você afastado dele, mas agora eu entendo o porquê ele sempre quer estar contigo, mesmo você sendo um babaca.

— Estar comigo?

— Sim. Você é irritante, mas tem algo que chama a atenção. Não sei, uma aura interior.

— Hm… — hesitei. — Mas não me importo mais com isso, nem com ele.

— É a sua escolha, não sabe o que está descartando da sua vida.

Dito isso, ele girou os calcanhares. O rosado abandonou o cômodo e me deixou com diversas dúvidas em minha mente e coração.

— Seokjin poderia muito bem brincar comigo de novo, eu não confio mais neles.

— Eu ainda acho que você está fazendo um julgamento errado, você deveria conversar com o Jimin antes.

— Ele pediu para que eu me encontrasse com ele, esta noite em meu quarto. Eu tenho certeza do que quero, Namjoon. — coloquei minhas mãos sobre a mesa. — Eu estou cansado de toda essa incerteza, desta desconfiança, foi tolice da minha parte achar que poderíamos dar certo. Ele é um demônio! Céus, ele só está me usando e ficar permitindo a presença dele aqui, na terra, ao meu lado, só faz meu coração doer ainda mais.

Eu estava decidido, nada me faria mudar de ideia.

— Não tem volta, Jungkook. Depois que fizermos isso, ele realmente irá embora.

— Você já deveria ter começado. — respondi friamente.

Namjoon apenas engoliu seco antes de segurar o livro nas mãos de novo, depois colocou o objeto sobre uma das estantes.

— Eu prepararei tudo, esteja aqui a meia-noite.

Dito isto, eu apenas assenti e me levantei. Com o coração pesado, eu deixei o porão.

(…)

Já eram dez em meia, horário que havíamos combinado de nos encontrar. Eu havia evitado voltar para casa antes disso, estava um pouco receoso em ver Jimin depois de algumas semanas.

Respirei fundo quando girei a maçaneta da porta de entrada, a sala estava com poucas luzes acessas, passei pelo cômodo e olhei rapidamente para cozinha que estava deserta, a má-drasta ainda não havia chegado.

Subi o lance de escadas com as pernas meio trêmulas, quando cheguei ao corredor, vi a luz do meu quarto acessa e a porta levemente aberta. Ao me aproximar, podia escutar alguns passos dentro do recinto, estava nervoso pra cassete, confesso.

Quando abri a porta, meus olhos se arregalaram.

Jimin, que estava andando de um lado para o outro, parou e me encarou. Em sua mão esquerda estava um buquê de flores e o ruivo estava vestido a caráter, como se fosse jantar com alguém muito importante.

Nem parecia o demônio esnobe que conheci.

— Você já chegou…? — ele sorriu meio sem graça.

Meu coração estava pesado e minha garganta seca, uma parte de mim queria correr até ele e abraçá-lo, mas a outra me mantinha parado no mesmo lugar.

É apenas enganação.

É apenas enganação.

Eu adentrei o local mantendo o semblante sério.

— Eu colhi essas flores, Hoseok disse que são suas preferidas.

O Park estendeu o buquê para que eu pegasse, mas eu apenas empurrei sua mão de leve.

— O que está acontecendo? — perguntou.

— Eu só quero que você pare com toda essa encenação. — pedi, minha voz um pouco trêmula.

— Do que você está falando, Jungkook? — ele perguntou um pouco confuso. — Eu quero apenas lhe contar algo importante…

— Estou falando de toda essa enganação, Jimin. Você não cansa de ser tão fingido? Fingir sentimentos, fingir que se importa comigo, fingir que QUER FICAR COMIGO!

— É sobre isso que eu quero falar…

— Mas eu não quero mais ouvir, eu estou cansado de ouvir você, Jimin! — as palavras estavam saindo meio atropeladas, meus olhos um pouco marejados.

— Você não está me dando o direito de defesa, está querendo jogar a culpa em mim. Por que para os humanos isso é tão conveniente?

— Jimin, não é jogar a culpa, eu estou falando de coisas que você realmente fez. Eu não sei se seu beijo no Seokjin foi verdadeiro, mas eu sei que o que você me disse sobre o pacto era! — apontei para o ruivo. — Você não quer ficar comigo, só quer me usar como um brinquedinho, e isso, meu querido servo, eu não aceitarei.

— Então, o que você fará? — perguntou enquanto cruzava os braços, deixando o buquê debaixo de um deles.

— Eu vou te mandar de voltar, Park. — respondi, quase cuspindo toda aquelas palavras com um orgulho tremendo.

Como se estivesse feliz por vencer aquela discussão. Não pude hesitar em mostrar um sorriso vitorioso, mesmo as lágrimas escorrendo por minhas bochechas.

Que morreu logo em seguida.

— Ah, então vai em frente.

— Como assim, vai em frente? — perguntei confuso. — Você não vai me impedir? Não vai implorar?

— Não. — respondeu sério.

— Eu estou falando sério, eu não vou hesitar.

— Então faça, Jungkook.

— Eu farei. — funguei e então girei os calcanhares, indo em direção a porta.

— Eu só irei te pedir uma coisa. — parei ao escutar sua voz. — Nunca se esqueça do que eu lhe disse naquele quarto na casa de praia, foi verdadeiro.

E após escutar aquelas palavras, eu atravessei a porta. Enquanto andava pelo corredor, não pude deixar de desabar em um choro sincero, sem saber o que fazer.

Porque eu também o amava, eu também me sentia mais humano ao lado dele.