História Como um Anjo - Como tudo começou

           20 de abril, sábado
Hoje é o meu aniversário. Deveria estar feliz, mas este dia sempre me faz lembrar do incidente. Lembro perfeitamente daquele dia, eu tinha acabado de completar 8 anos.
           *FLASHBACK ON*
- Ei, bela adormecida, acorda! — Era o Murly, meu irmão — Adivinha que dia é hoje!?
Ele era dois anos mais velho que eu, ou seja, ele estava com 10 anos naquela época.
- Hum... — Abri meus olhos e vi Murly na minha frente, de pijama, com o cabelo arrepiado e um sorriso no rosto. Ele se aproximou, beijou minha testa e em seguida me puxou para levantar-me da cama.
- Vem, rápido! A mamãe e o papai fizeram uma surpresa para você lá embaixo!
Descemos as escadas e fomos até a cozinha, onde tinha um bolo de chocolate em cima da mesa. Os meus pais estavam pregando alguns balões na parede e logo se viraram para mim, percebendo minha presença.
- Bom dia, aniversariante! — Minha mãe falou, animada, me dando um forte abraço.
- Dormiu bem? — Meu pai se aproximou, bagunçando o meu cabelo e me dando um beijo no topo da cabeça.
Assenti e me aproximei do bolo.
- Deve estar delicioso... — Falei, baixinho. Os meus pais não escutaram, mas o Murly sim.
- Prova a cobertura — Ele cochichou, pegando o meu dedo indicador e passando no cantinho do bolo — Bom, né? Eu ajudei a fazer.
- Crianças, vão brincar lá fora — A mamãe falou, fazendo alguma coisa no fogão — O dia está lindo!
Obedecemos e fomos até o quintal.
- Vamos brincar de esconde-esconde? — Perguntei.
- Que tal brincarmos na areia? — Murly falou, pegando um balde e uma pá de brinquedo que estavam jogados próximos ao  jardim.
- Sim!
Sentamos embaixo de uma árvore que tinha no quintal, para ficarmos sob a sombra.
- Ei, True — Ele parou de brincar por um momento.
- Hum?
- Saiba que você sempre pode contar comigo, ok? Sempre irei te proteger, mesmo depois da morte.
Dei um sorriso tímido e fui até ele para abraçá-lo.
- Mas porque você está dizendo isso? — Assim que terminei de falar, escutamos um grito.
- FOGO!!! — Parecia ser a mamãe. Ao olharmos para a janela da cozinha, uma fumaça escura começou a sair dela.
- Papai, mamãe! — Comecei a correr em direção à porta de entrada, mas Murly segurou o meu braço.
- True, fica aqui, vou ajudá-los — Ele ficou em minha frente — Não esqueça do que eu te disse, tá?
Em seguida entrou na casa. Eu não podia ficar parada, só olhando tudo aquilo acontecer, eu precisava fazer alguma coisa.
Comecei a entrar em desespero, então, sem pensar duas vezes, entrei dentro da casa. Estava tudo coberto pela fumaça, comecei a tossir e andar pela casa, tentando encontrar a cozinha.
- ma...mãe! — Comecei a ficar sem ar — Papai! Murly!
Num instante, tudo ficou embaçado, oque eu me lembro foi de alguém me levando para fora da casa, e então eu apaguei.
Acordei num quarto todo branco, parecia ser um hospital. Eu estava deitada numa cama com um nebolizador. Fiquei observando o local, meio desorientada, e percebi que havia uma pessoa ao meu lado. Era o Murly. Tirei o nebolizador e tentei ir até ele, mas eu estava fraca demais e acabei caindo no chão.
- M-Murly... — rastejei até a cama dele e me levantei. Toquei em seu rosto, estava gelado. Abaixei minha cabeça e comecei a chorar.
- Não chora... Por favor — Levantei minha cabeça, e então vi ele, olhando para mim.
- Você não deveria ter entrado na casa, você poderia ter morrido.
- Mas... e você? Você não vai morrer, vai? — Minhas lágrimas não paravam de cair.
- Eu sempre estarei ao seu lado, True... Sempre...
Ele segurou minha mão, e logo fechou os olhos, lentamente.
- Murly? Murly, olha pra mim! MURLY! — Tentei soltar minha mão, mas ele segurava forte, e não se mexia — MURLY, POR FAVOR, ACORDA!!
Um médico entrou no quarto e, ao me ver, aproximou-se rapidamente.
- Oque aconteceu? Porque você está em pé? — Ele perguntou, me segurando e levando-me até a cama.
- O Murly não me responde — falei, preocupada.
Ele olhou para o meu irmão, com uma expressão desapontada, e logo se virou para mim.
- Bem, ele... Ele teve o mesmo destino que os seus pais...
- Onde está a mamãe e o papai?!
Ele pôs a mão em meu ombro e olhou nos meus olhos.
- Olha pequenina... Você terá que ser forte daqui pra frente, ok? Eles com certeza estão num lugar melhor.
A partir daí, percebi que estaria sozinha no mundo, e mesmo que eu fosse adotada, nunca mais seria minha verdadeira família.
          *FLASHBACK OFF*