História Como um Anjo - E... desistiu?

    26 de abril, sexta-feira.

Acordei um pouco perdida, sem saber quantas horas ou que dia era hoje. O meu quarto estava escuro por causa das cortinas fechadas. Escutei um barulho de porta se abrindo.

- Filha? — Era a Louise. Ela se sentou ao meu lado e fez um cafuné em minha cabeça — Você está bem? 

- Sim... eu acho.

- Está com febre, amor... muita febre. Você não vai para a aula hoje, vai ficar aqui, repousando. A Sophie ficará cuidando de você enquanto eu estiver fora — Ela se levantou — Volto logo.

Ela saiu do quarto e fechou a porta.

Tentei me levantar mas algo me impedia.

- Não, não, não, não, não — Era a voz do Murly — Você vai ficar aí, tá muito fraca pra ficar andando por aí — Era como se ele estivesse me segurando.

- Porque você está invisível?

- A Louise pode chegar a qualquer momento.

Foi só ele terminar de falar, que ela apareceu, segurando uma caixa cheia de remédios.

- Demorei muito? — Balancei a cabeça de um lado para o outro. Ela sentou-se ao meu lado e tirou um remédio de dentro da caixa. 

- Tome... ficará boa logo! 

O remédio tinha um gosto doce, para a minha sorte.

- Agora, é melhor descansar — ela me deu um beijo na testa e estava prestes a sair, mas segurei seu braço.

- Mãe...

- Hum? — Ela se sentou novamente ao meu lado.

- O Chris ele... — Eu estava prestes a contar que ele estava tentando me matar, mas logo parei.

- O que tem o Chris? — Ela perguntou, curiosa.

Comecei a chorar, e então a abracei.

- Ele me odeia...

- Porque você está dizendo isso? — Ela olhou pra mim, preocupada.

Abaixei a cabeça.

- Ele... — A porta se abriu, e quem entrou por ela foi o Chris.

- É melhor eu descansar — deitei na cama, de costas para a Louise e o Chris.

- Você não quer comer nada? — a Louise perguntou.

- Estou sem fome...

- Vamos, mãe — o Chris falou — Você não ia me deixar na escola?

- Sim... Vamos. Até mais tarde, True.

Eles saíram e fecharam a porta.

                     (...)

- Desisto.

Acordei assustada, percebi que o Chris estava ali, ao meu lado.

- O que você está fazendo aqui!!?

- Eu só queria dizer... — Ele foi até a porta e olhou pra mim — ... Que eu desisto.

- Como? — Eu realmente não estava entendendo nada.

- Você não entende nada mesmo, hein? Eu não vou mais te matar. Você não merece. Mas, de qualquer forma, eu ainda te odeio. Agora, se me der licença, tenho coisas mais importantes para fazer — em seguida saiu do quarto. 

Fiquei confusa e ao mesmo tempo surpresa. Como uma pessoa quer matar outra e desiste do nada? Se bem que eu nem sem como isso aconteceu...

Me levantei da cama, desci as escadas e fui para a cozinha, estava morrendo de fome.

Senti um leve cheiro de bolo que tinha acabado de sair do forno. Ao me aproximar da cozinha, encontrei a Sophie colocando o bolo em cima da mesa.

- True! — Ela veio até mim e me abraçou — que bom que você acordou...    Deve estar com muita fome, Huh? 

- Sim! — Falei, me sentando à mesa.

- O que deseja?

- Suco de abacaxi com hortelã, uma torrada e duas fatias de bolo.

Ela sorriu e logo me serviu.

Quando eu estava prestes a começar de comer, o John e o Chris apareceram. A Sophie foi logo atendê-los.

- O que desejam, senhores? — Ela puxou duas cadeiras para eles sentarem.

- Meia xícara de café sem açúcar — O meu pai disse.

- O mesmo — o Chris falou rapidamente.

O silêncio entre nós estava perturbador. Terminei de comer rapidamente.

- Com licença — Falei, me retirando e indo até o quintal. Precisava de ar fresco.

                      (...)

- Nem pense em ficar aqui por muito tempo — o Chris sentou-se ao meu lado — Daqui a pouco meu amigos virão para jogarmos futebol, e eu não quero que você atrapalhe.

Não disse nada, me levantei e estava prestes a ir para o meu quarto.

- ... Mas se você quiser, pode assistir o nosso jogo — Ele falou, sem olhar pra mim.

Fiquei um bom tempo olhando para ele, até ele se virar e olhar para mim. Me sentei no chão, próxima a porta de entrada da casa.

Demorou um tempo e a campainha tocou. O Chris foi atender e entrou três meninos. Um estava com a bola, que colocou-a no chão e segurou- a com o pé.

- Vamos separar as duplas! — o menino falou.

- Eu vou com o Bruno — O Chris disse, puxando o menino com cabelos e olhos negros para o seu lado.

- Bem... — O menino com a bola parecia desanimado — Então eu vou com o Robin.

Eles começaram a jogar. Começaram muito bem... Mas aí eu percebi que a bola estava próxima demais, vindo em minha direção.

- Aiii!!! — A bola bateu em meu rosto, parecia queimar.

Enfim perceberam minha presença.

- True? — Um dos amigos do Chris se aproximou de mim — Me desculpe, você está bem? 

Era o Bruno. Eu não o conhecia, mas ele sim. Talvez por eu ser a irmã do garoto mais popular da escola.

- Deixe ela pra lá — O Chris falou — Ela ficará bem. Agora vamos continuar essa partida.

- Quanto amor pela irmã! — O Bruno disse, com ironia.

- Ela NÃO é minha irmã!! — o Chris se enfureceu.

Me levantei e fui para a cozinha, para pegar uma bolsa de gelo e colocar em meu rosto, não queria ficar com uma mancha roxa causada pela bola.

- Senhorita, o que foi isso?! — a Sophie veio rapidamente em minha direção.

- Eu levei uma bolada na cara...

- Uh... — Ela fez uma expressão de dor.

- Não é tão sério assim... Eu vou ficar bem.