História Compartilhada - Realidade

Tokio – 22h35min

 

Tum Tum..tum tum

- Ele falou comigo.

Meu coração parecia que ia sair da minha boca. Essa pequena sentença ficava ecoando em minha mente, eu precisava urgentemente ligar para a Ino.

Calcei minhas pantufas e saltei da minha cama em busca do meu celular que estava em cima da estante, peguei-o e disquei o seu número.

- Sakura, o que aconteceu? Você está bem?

- E-eu estou é q-que – eu estava tão eufórica que não conseguia formular nenhuma palavra sequer -, elefaloucomigo!

- Calma, respira, e me fala de novo.

- Sasuke Uchiha falou comigo.

...

- Sério!? Aí testuda viu só, eu disse que aqueles olhares eram um sinal.

- Eu ainda não estou acreditando, parece uma fantasia.

- Então ta, vá lá falar com ele e amanhã você me conta como foi. Ok?

- Sim sim, até! Beijos.

Desliguei meu celular e comecei a pular de tanta alegria, finalmente ele me notou.

Sasu...ke.

Desde o colegial eu sempre olhava ele, mas ele nunca me notava por ser altamente popular. Quando eu era pequena nossos pais ficaram amigos e todo final de semana íamos até a casa deles e nós dois sempre brincávamos. E a partir daí tudo foi mudando, nossas mentes, amigos, até a cidade.

Alguns anos mais tarde ele se mudou para a capital, enquanto eu permaneci em Konoha, e depois que eu finalmente escolhi minha faculdade e o meu curso, minha vida mudou totalmente.

Prestei vestibular e passei na universidade de Tokyo. Me mudei juntamente com os meus pais e fui estudar a minha amada Medicina.

Porém o que eu não sabia, era que Sasuke também estudava lá e que ele estava totalmente diferente. Eu sempre passava por ele e ele era indiferente com a minha presença, mas, parece que tudo havia mudado hoje... O Uchiha me olhou pela primeira vez e também sorriu, exibindo seu lindo sorriso de canto e agora, veio falar comigo.

Sentei-me em cima da minha cama cor de rosa, aonde peguei meu notebook e fui lá ver a conversa. Contudo antes de eu ver o mesmo, passei por uma página que continha uma reportagem mundial.

Cuidado, você pode ser uma próxima vítima do Compartilhado!

- O que é isso?

Fucei mais a página e descobri que era um tipo de bullying, que acontecia na internet com divulgações de imagens íntimas. E mais abaixo dizia para nunca confiar nas pessoas que estão do outro lado da tela.

Fui desviada de meus pensamentos quando vi um novo ícone de conversa: era ele!

 

22h50min - Bate papo ON

 

- Oi, linda.

Aí Meu Deus.

- Oie, tudo bem?

- Agora sim, e com você?

- Estou ótima, anh... Você se lembra de mim? – corei, pensando que ele se lembrava de mim.

Silêncio.

- Sim, como esquecer? Nós brincávamos juntos se lembra Sakura?

Oh sim.

- Uhum, quando tínhamos nove anos de idade.

- Mudando um pouco de assunto... Eu tenho uma coisa pra lhe falar.

Estranho o Uchiha não era de ficar receoso.

- Fale.

- Desde o dia em que te vi na Universidade nunca tive coragem para chegar em você.

Naquele momento eu não sabia se me matava ou começava a correr pela casa gritando de felicidade. Ele estava se declarando!

 Quando eu ia digitar alguma coisa ele o fez primeiro.

- Você é muito linda Saky, te acho muito inteligente e divertida, e a verdade é que... Eu sempre fui afim de você rosada.

- Não sei o que te dizer.

E eu na sabia mesmo, será que eu também me declaro para ele? Isso só o que eu preciso é de 45 segundos de coragem insana.

- Eu também gosto de você Sasuke-kun!

Pronto! E para completar mandei um coração enorme para ele.

Parecia que borboletas voavam em meu estomago, o nosso amor era recíproco. Me senti cheia. Eu já estava começando com falta de ar, quando eu vi que ele estava digitando...

Ele me mandou outro coração.

Caí sobre o colchão, deixando meu notebook em cima do meu colo, pensando em como a vida pode ser feliz. Depois das declarações nós passamos a conversar por 1 hora, sobre várias coisas aleatórias ou sobre o que nós gostávamos.

Conversa vai. Conversa vem.

Até que um surto de adrenalina começa a passar pelas minhas veias, com uma única mensagem comecei a me sentir mal.

- Pode me mandar um nude seu?

Merda.

Eu nunca havia feito isso na vida, coloquei de lado meu computador, dobrei meus joelhos e um pus a pensar.

Se eu mandasse era como se eu passasse por cima da minha ética; sou uma mulher de família, vou parecer uma puta se mandar isso.

Contudo, era o Sasuke quem estava me pedindo, meu moreno.

Se eu não fizesse isso era como se nós não tivéssemos confiança um noutro. E a confiança é a base para um relacionamento.

Comecei a sentir ansiedade, não me sentia completamente à vontade.

- Não gosto do meu corpo – e era verdade. Eu tinha seios médios assimétricos, eu era magra, cintura fina e quadril largo, bom e meu bumbum arrebitado.

Deixei a frase solta e não demora muito ele responde.

- Manda vai... Tenho certeza que você é linda Saky, ou, não confia em mim?

Confio sim, nos outros é que não.

E se, a foto vazasse...

Me levantei da cama e fui fechar a porta do meu quarto, peguei meu celular e andei até o closet, deixando ele sem resposta.

Comecei a me auto-avaliar e cada vez mais eu me sentia agoniada. Em primeiro lugar tirei meu shorts de pijama azul bebê, e deixei ele deslizar por minha coxas até embaixo, depois passei a colada regata branca por cima da minha cabeça, fazendo com que meus cabelos rósseos se desprendessem do meu coque.

Só de calcinha e sutiã, porém, ele queria uma nude então isso quer dizer... Sem nada.

Percorri meus dedos por meu corpo até chegar a minha peça íntima, cor branca de renda. A tirei completamente, ainda bem que hoje de manhã eu havia me depilado e por fim, desprendi meu sutiã também branco.

Todas as minhas peças de roupa jaziam no carpete, agora tudo o que me impedia de bater uma foto era minha ética. Tudo o que eu preciso fazer é bater uma foto e mandar para o Sasuke, só isso.

“Só isso”.

É de mais. Trêmula peguei meu smartphone em mãos e mirei para o espelho.

1, 2, 3... Click. Enviado.

Rapidamente peguei a camisola mais próxima que vi a minha frente e vesti-a.

Corri e pulei em cima da cama eufórica esperando por sua mensagem.

Digitando...

- Nossa que gostosa!

Arrepiei-me por completo ao ler isso.

- Gostou!?

- Tenho que sair agora. Até amanhã.

- Até... - sabe quando você se arrepende de ter feito alguma coisa? Aquela familiar sensação de – e agora? -.

 

00h00min – Bate papo OFF

 

Merda.

Por que ele saiu assim do nada? Logo depois que eu mandei a foto ele vazou.

Minha cabeça começava a formular coisas absurdas, como: Ele só queria a sua foto. Ele vai compartilhar. Ele nunca amou você, era só fachada de bom moço.

Quando percebi eu já chorava, me sentia uma puta, uma qualquer e se, eu falasse para alguém iria me sentir suja.

Não iriam acreditar em mim. Meus pais não iriam mais me aceitar.

Será que eu fiz a coisa certa?

                                                                                ...[o.o]...

 

07h15min

 

Acordei de manhã em um rompante quando escutei a porta sendo batida.

- Sakura meu amor, acorde! – era minha mãe.

- Sim senhora.

Mesmo com uma extrema preguiça me levantei indo até o banheiro, aonde fiz minha higiene matinal e tomando um banho. Saí do banheiro enrolada em uma toalha com meus dedos enrugados, e acompanhada de todo o vapor.

Para a faculdade eu vesti uma roupa simples, que era composta por uma calça jeans clara de cintura alta, um scarpin cor de rosa bebê e uma t-shirt com blazer azul escuro.

Passei uma maquiagem básica, peguei minha bolsa e desci até o térreo.

Não tomei café da manhã, pois, não estava com fome apenas com um pressentimento estranho.

Com as chaves do carro em mãos entrei no meu Jeep Renegade vermelho, dado de natal como presente dos meus pais.

Indo até a Universidade não parei um minuto sequer de pensar no que aconteceu noite passada. Cada vez mais as palavras de Sasuke ecoavam em minha mente.

“- Tenho que sair agora. Até amanhã”.

E se parar para pensar, nem quando eu falei com a Ino ela pareceu surpresa com a minha revelação, não parecia ela, tão... neutra.

Esquece Sakura, são só paranóias suas.

 

07h52min

 

Desde o primeiro momento em que eu pisei na universidade os alunos me olhavam com uma cara maliciosa, debochavam em suas panelinhas ou, se afastavam quando eu chagava perto de alguns.

Quando eu comecei meu curso de Medicina que fora há dois anos eu nunca tive uma horda de amigos, apenas colegas. Meus únicos amigos aqui era Naruto Uzumaki, um loiro hiperativo e a Ino, só.

O barulho dos meus saltos ecoava pelo corredor agora cheio de pessoas com rostos totalmente voltados para mim, enquanto alguns seguravam seu celular na mão. Alguns homens até me mandavam beijinhos, piscadas ou me chamavam de – sua gostosa.

Que nojo.

Eu só quero passar despercebida por todos, chegar na minha sala de aula e só. Cada passo que eu dava era agonizante, a cada pessoa que falava sacanagem perto de mim eu sentia uma vontade absurda de vomitar.

Por que isso esta acontecendo?

Desde que eu falei com Sasuke... As pessoas vêem me reparando.

Poderia ser a calça justa? Não. Eu sempre vinha desse jeito.

Parei meus passos quando me deparei com a porta da sala de aula, 210 B.

Meus braços permaneciam ao lado de meu corpo enquanto eu encarava o trinco com precisão.

Lentamente comecei a abrir, quando cheguei aos finalmentes, os alunos do curso me olhavam com uma cara estranha. Atrevi-me a entrar sendo acompanhada por vários pares de olhos, vi um lugar ao lado de Ino e fiquei por ali.

Agoniada.

O professor demorava a chegar, eu batia minhas unhas freneticamente na mesa, tentando buscar algum alívio.

Olho para Ino porém, ela não me olha de volta então eu puxo um assunto.

- Bom dia, porca.

E pela primeira vez na vida, vejo a loira me olhar fria.

- Não me chame assim! – rosnou.

Arregalei meus olhos ao ouvir sua resposta e ao mesmo tempo ela se virou para frente como se nada tivesse acontecido. Um tempo depois vejo ela pegar seu celular e digitar alguma coisa para alguém depois de dar um sorrisinho sacana.

O que??

 

09h30min - Hora do Intervalo

 

No meu bloco B – onde era Medicina – todas as pessoas andavam apressadas para a cantina, exceto eu.

Depois do que aconteceu com a Ino eu fiquei chocada, anos de amizade levaram a isso. Precisava encontrar Naruto e ele só poderia estar junto com os populares.

Os corredores pareciam ainda maiores do que ontem, o pátio/jardim não poderia estar muito longe daqui. Assim que virei à esquina vi um grupo de garotos sentados em um banco e do lado estava o loiro, passei a caminhar rapidamente para o local, e sem querer acabei não vendo uma pessoa que estava bem em minha frente. Bati de frente e acabei com uma dor de cabeça.

- Ei! Cuidado algodão doce.

Tomada pela raiva de ouvir esse apelido virei meu rosto e encontrei a prima de Naruto, Karin Uzumaki.

Era só o que me faltava.

- Saia da minha frente, não tenho tempo pra perder! – sentenciei vendo sua cara se tornar ácida.

- Ah... Mas para mandar nude você tem, não é!?

- Não sei do que esta falando. – como ela sabia?

- Você pode não saber, mas a universidade inteira sim!

A ruiva se virou e foi embora e eu, eu fiquei atônita. Continuei meu caminho até chegar até ao banco, quando cheguei lá vi Naruto e fui direto até ele.

- Posso falar com você? – cutuquei seu ombro.

Todos olhavam para mim surpresos por eu estar aqui.

- Claro. – deu um de seus sorrisos radiantes.

Fomos para um lugar mais afastado.

- Então, o que quer me dizer? – diz Naruto.

- Você já percebeu que todos estão estranhos hoje? Sabe, eles ficam rindo de mim e a sua prima agora pouco disse que a universidade inteira está sabendo de uma coisa que eu não sei.

- Isso é verdade. – ele não olhava em meus olhos, estava mentindo.

- Por que não olha para mim?

- Não consigo... não consigo acreditar que você fez aquilo Sakura-chan.

Meu coração ameaçava sair da boca, soltei um suspiro e perguntei-o.

- Aquilo o quê? – pus minha mão na cintura.

O idiota começou a rir, e alto.

- É incrível como sabe mentir tão mal. Se faz de santa para todos, mas, no fundo é uma puta igual a todas as outras.

Plaft!

 O estralo do tapa foi tão forte, que alguns que estavam ao redor olharam para nós. O loiro me fuzilava com os olhos, mas, olhando mais a fundo dava para perceber tristeza em seu olhar.

- Eu sempre te amei Sakura-chan, e agora eu não posso acreditar que fez isso. E se quer refrescar um pouco a sua memória vá ao laboratório de informática e acesse o jornal estudantil. Depois disso não olhe mais na minha cara, ok?

Ele foi embora sem mais nem menos, tava na hora de acabar aquilo. Cheguei o mais depressa possível até lá, esbarrando em todos fui a um computador vago. Quando eu mexi com o mouse, a tela já estava iniciada abrindo no site – que eu queria.

Cobri minha face com as mãos em espanto no momento em que vi a imagem... Era eu, nua.

- A mesma foto que eu mandei para o Sasuke-kun... – sussurrei.

Com as mãos trêmulas rolei a página para baixo aonde dizia:

Sakura Haruno a nova estrela pornô! – a minha imagem estava a baixo.

Tabela de preços:

Um nude = 5,00 ienes

Boquete = 10,00 ienes

Sexo completo = 20,00 ienes

Aproveite é só hoje!

 

Nem terminei de ver o resto e saí correndo para fora, minhas lágrimas nublavam minha visão, sem rumo e sem coragem abaixei minha cabeça e fui a rumo ao meu Jeep.

Garota estúpida! Então todos que me viram hoje já sabiam por isso os comentários maldosos. Tenho asco por mim mesma. Naruto esta certo nem eu quero mais me ver. Não tenho mais privacidade, que vergonha.

Magoei meu melhor amigo, Ino esta com raiva de mim e Sasuke...

No momento em que eu atravessei a porta da saída, vi um casal se agarrando encostado no meu bebê. Cheguei mais perto e notei que era o Uchiha e a Ino.

- Não.

O Uchiha segurava possessivamente à cintura da garota e com a outra mão vagueava por debaixo da sua blusa, já a loira puxava os fios de cabelo negro, os dois se beijavam com luxúria.

- CHEGA! – gritei em todo o meu estupor.

Ofegantes os dois se viraram para mim.

- Gostou do camarote Saky?

- C-como pôde fazer isso??

- Gostou? – a mesma coisa que eu falei pelo bate papo ele me disse.

- Ino, você não vai fazer nada?

- Ér, sim. Achou o que testuda, que eu gostava de você? A verdade é que eu sempre tive inveja de você, tinha tudo o que sempre quis sempre a queridinha da turma, a “pura”. Mas a verdade é que você é uma vadia, que esperou o primeiro momento que teve para se esfregar no Sasuke, só por que ele pediu um nude seu, já vai mandando.

Olhei para o Uchiha de relance esperando alguma coisa e não veio nada, a não ser um olhar sarcástico.

- Você acha mesmo que iria querer alguma coisa com você? Desde pequena sempre me seguindo e sendo irritante. Se eu gostei da sua foto? Poupe-me! A Ino é muito melhor.

Irritante.

É melhor... Ino.

Os dois se afastaram rindo enquanto andavam de mãos dadas, exibindo para todos e inclusive para mim que estavam juntos.

Cambaleei até o carro e somente agora estando em casa não sei como eu consegui chegar aqui. Ainda bem que meus pais não estavam em casa.

 

10h13min

 

Fui em direção a cozinha pegar um utensílio. No caminho pra cá pensei muito em como fazer isso e como sou estudante de medicina vai ser fácil executar.

Quando cheguei ao meu quarto tranquei a porta e joguei a chave pela janela - caso alguém tentasse entrar. Abri as cortinas ao máximo para deixar o sol entrar, fui até minha cama e me sentei, iniciei meu notebook e exclui todas as minha contas, não quero deixar nenhuma pista ou mensagens de sofrimento.

Comecei a chorar quando me toquei prestes o que eu iria fazer, e tudo isso só passava de uma brincadeira por parte da minha BFF, eu confiei a minha vida a ela e pelo visto isso me custou à vida. Já meu coração estava despedaçado por essa revelação por parte de Sasuke, irritante.

E agora percebi que eu fui uma vítima do Compartilhado, aonde pessoas compartilham suas fotos achando que isso é legal, mas o bullying só serve para machucar as pessoas, é um prazer sádico.

Sentei-me ao pé da cama, tirei meu blazer e peguei a faca de carnes – a afiei antes – e comecei a passar pelo meu pulso verticalmente, observando como saía o sangue. Naquele momento parecia que eu não estava ali.

Inerte.

Fiz o mesmo no outro pulso e fui sentindo ficar fraca, meu braço era vermelho – sangue.

Fechei meus olhos pela tontura e cai no chão em um baque surdo. E a última coisa que eu consegui ouvir foi o meu nome sendo chamado além da porta:

- SAKURA!