História Complementary Colors - Warming Orange

Lentamente os sonolentos olhos azuis dele se abriram, fitando o teto albino de seu quarto. Ele suspirou calmamente sentindo-se satisfeito, relaxado, descansado. Ao piscar, seus orbes safiras se desviaram para aquilo que mais lhe interessava nos últimos anos.

Os longos cabelos cor de caramelo estavam levemente embaraçados, espalhados em meio aos lençóis brancos. Um fino e leve sorriso se fez nos lábios claros dele, ao se lembrar do que havia acontecido horas atrás, logo levando a grande mão áspera até os longos e macios cabelos dela. Alisando-os gentilmente.

Porém aquela audaciosa mão – assim como ele – não se contentava apenas com os fios de cobre da moça. Gananciosa, aquela grande mão ambiciosa se atrevia a passear pela pele nua e delicada da moça adormecida em seu forte peito desprovido de qualquer vestimenta.

Inevitavelmente o gentil toque dele fez a jovem gemer baixinho, acordando-a lentamente. Ele assistiu aqueles fartos cílios negros se mexerem, revelando os grandes e brilhantes olhos castanhos claros da moça. O rapaz não pôde deixar de alargar o sorriso ao vê-la sorrir para ele e gentilmente dizer “Bom dia, Grimmjow.”.

Ah, aquela voz. Tão gentil e amável. Tão delicada quando a dona. Ele se perguntava o quê o havia chamado atenção nela. Perguntava-se como havia se deixado seduzir por aquela mulher. Era extremamente difícil para o rapaz de cabelos azuis raciocinar diante aquela pergunta. Tentar explicar aquela intensa e extremamente irracional atração.

Poderia ser a rara e estonteante beleza dela, o corpo formado por provocantes e elegantes curvas, os seios fartos, as pernas esguias, os quadris arredondados, a cintura fina... Mas se fosse apenas isso ela seria somente mais um caso em sua gigantesca lista de caprichos carnais. Porém ela não era só mais uma.

Talvez tenha sido a incrível, criativa e gentil personalidade dela. As gostosas risadas sinceras, os sorrisos inocentes, sua benevolência, seu divertido bom-humor, seu valente otimismo... Mas se fosse apenas isso, ela seria só uma amiga, uma parceira de conversas sem qualquer interesse carnal. Contudo ela não era somente uma amiga.

Enquanto cuidadosamente analisava a moça em seus braços, o azulado se permitiu lembrar que por muitos dias ele repetiu em pensamentos que não deveria deixar aquele estranho e compulsivo sentimento crescer dentro dele. Que não deveria cair nas amáveis, carinhosas e tão convidativas garras dela. Que deveria ignorar aqueles sorrisos e aqueles provocantes lábios carnudos que conseguiam pronunciar seu nome tão docemente.

Ele era o predador. Ele era o mestre. Ele era aquele que caçava. Não era uma inofensiva presa. Era um guerreiro. O senhor de si mesmo. Por muito tempo negou-se a aceitar que por uma única e maldita vez ele havia sido a vítima de sua presa. Que havia sido facilmente encurralado por sua caça. Todavia todo aquele esforço fora inútil. Ele fora vencido por ela. Uma doce derrota. Que se mostrou muito mais como uma vitória do que um estúpido fracasso.

Aquela mulher havia tido a audácia de ser algo a mais para ele. Ela havia o transformado em seu escravo, seu servo. O seduziu de uma forma que ninguém havia tentado conseguir. O seduziu com simples e sinceros sorrisos, com atos gentis, dando uma atenção especial para ele, ajudando-o sem pedir por coisa alguma em troca.

“Sim, talvez tenha sido isso...” pensava Grimmjow enquanto levava os finos e firmes lábios até os carnudos e rosados dela, talvez tenha sido a combinação de tudo. Beleza e personalidade. Gentileza e lealdade. Sinceridade e bondade. Originalidade e honestidade.

O forte e musculoso corpo dele se moveu naquela confortável cama, se rendendo mais uma vez aos encantos dela e aos seus malditos desejos, seus caprichos egoístas. Ele a devorou pela milésima vez naquela manhã. Não conseguia enjoar do delicioso gosto dela, do doce cheiro dela, dos maravilhosos sons que ela produzia quando estavam daquele jeito.

Se ele pudesse, passaria o dia inteiro com ela ali. Deitados naquela cama, apaixonados. Todavia o trabalho o obrigava a se levantar, o obrigava a passar boa parte do dia longe dela, enfiado em um escritório composto por cores cinzas, trabalhando. Contudo, o rapaz de cabelos azuis sabia que a noite ele a veria novamente. Sabia que ela sempre estaria com ele. “Pelo menos hoje é sexta.” Pensava o azulado consolando a si mesmo.

Já era noite quando ele abrira a porta de seu apartamento. Seus olhos azuis imediatamente procuraram pela esbelta figura dela pela moderna sala de estar. “Bem vindo.” Dizia a voz da jovem com um sincero e gentil sorriso, enquanto terminava de preparar o jantar. Grimmjow não podia deixar de sorrir ao observá-la na cozinha. Ela parecia tão frágil naquele simples vestido verde-claro de alças finas, porém conseguia arrancar todo e qualquer ar dos pulmões dele.

Não importava quanto tempo eles estavam juntos, aquela mulher dona de longos cabelos castanhos alaranjados e provocantes curvas conseguia deixá-lo nervoso, ansioso, perverso, sedento por ela. Ela era tudo e muito mais para ele. Conseguia hipnotizá-lo com um simples olhar, um sorriso, um andar. Com ela, ele se sentia em casa. Arriscava-se a dizer que tinha finalmente encontrado a tão famosa e inalcançável felicidade.

Ela o havia transformado em algo diferente, algo que até então Grimmjow odiava, desprezava. Os cinco amigos mais próximos dele foram os primeiros a perceberem a súbita e extrema mudança nas atitudes do azulado. Este não agia como antes, mesmo ainda mantendo sua essência feroz, o rapaz havia sido transformado em alguém mais gentil e protetor.

O final de semana fora maravilhoso para o casal, dois longos dias cheios de carícias, risadas, conversas aleatórias, suspiros apaixonados, gemidos, juras de amor sussurradas. E a inevitável segunda-feira chegou. E assim como na sexta-feira, ele precisou despedir-se dela e ir trabalhar. Enfrentar uma agenda cheia de reuniões, as quais muitas das vezes ele achava que eram desnecessárias. Um estúpido desperdício de tempo.

Já era quase a hora do almoço, quando Grimmjow estranhou receber uma ligação no celular. Franzindo o cenho e estreitando os olhos azuis, o rapaz encarou a tela colorida do smartphone com certa desconfiança. Um número desconhecido. Atendeu aquele insistente, barulhento e irritante aparelho retangular, levando-o até a orelha, dizendo “Alô.” sem muito interesse. Franziu o cenho novamente ao ouvir a voz de uma mulher, esta parecia nervosa, ansiosa. Ela gaguejava, tropeçando nas palavras de forma atrapalhada.

O rapaz de cabelos azuis não era famoso por sua grande paciência, a única que tinha liberdade de abusar de seu temperamento era sua noiva, Orihime. O azulado levou a mão esquerda até o rosto, arrastando-a até uma de suas têmporas, massageando-as. Repetindo para si mesmo que deveria manter a maldita calma. Ele soltou um pesado suspiro ao conseguir identificar a voz, era Isane Kotetsu uma médica que trabalhava no mesmo hospital que sua futura esposa.

“Dá pra falar logo, Isane?! Eu não tenho a droga do dia inteiro!” rosnou Grimmjow, cansado de todas aquelas palavras desajeitadas. Ele a escutou respirar fundo e arregalou os olhos azuis ao ouvir a tal urgente novidade, que havia deixado a moça tão instável. Em um impulso ele levantou da confortável cadeira de couro de seu escritório e saiu dali, apenas dizendo “Vou sair.” para sua secretária, deixando-a sem saber o que fazer perante a apertada agenda de seu superior.

Ele praticamente corria pelos corredores do poderoso prédio comercial que trabalhava, desceu até a garagem e dirigiu seu carro, um jaguar esportivo de cor grafite. Seu destino era o hospital. Encontrava-se inquieto, ansioso, nervoso. O rapaz suava frio, apenas sentindo as medrosas palavras de Isane ecoarem em sua cabeça “A Orihime sofreu um acidente...”.