Todos os dias precisa-se de uma pequena revolução dentro de si próprio para escolher como viver sua vida.
Quando Woohyun viu seu amado, caindo como se estivesse morto, foi como se algo nele estivesse morrido também e ele explodiu.
Tudo aconteceu como se estivesse em câmera lenta e o caos foi liberado. Woohyun gritou e com as mãos para o alto, tudo foi pelos ares. Os vidros voaram por todo lugar, as mesas foram derrubadas e todo mundo saiu correndo; no ambiente ventava forte.
Virando-se para Jungyeop que ainda estava no palco tentando se recuperar, o homem tardiamente percebeu seu corpo ser levantado como uma pena até ele ser arremessado na parede oposta. Woohyun caminhou em direção a ele, depois segurou o colarinho do homem e o socou sem parar, mesmo com os gritos tentando impedi-lo, ninguém conseguia para-lo, pois em volta tudo flutuava e o vento tão mais forte que cortava.
Alguns homens chegavam ao palco e tentavam pegar os garotos, mas eles logo começavam a lutar, defendendo-se uns aos outros.
A cena no salão era de uma perfeita confusão.
– Ajude-o Jong. – Myungsoo chamou a atenção de seu irmão, que parecia assustado com tudo ao seu lado.
Acordando e reagindo, o garoto loiro se ajoelhou ao lado do corpo desacordado de Sunggyu, rasgou a blusa no local onde estava o tiro e estendeu suas mãos, se concentrando para tentar tirar a bala do corpo dele.
Myungsoo observando toda aquela confusão suspirou fundo e abaixou a cabeça. Se concentrando fundo, ele parou o tempo e então todos ficaram imóveis. Olhou para Sungjong e tocou no ombro do menor e para ele, o tempo continuou e ele ainda tentava curar o machucado de Sunggyu.
Myungsoo foi até Sungyeol que lutava com outro cara e segurou em seu ombro, fazendo o maior que ia correr, ficar parado no lugar.
– Tire todos daqui, menos os nossos. – Pediu Myungsoo e Sungyeol assentiu, usando de sua super-velocidade para tirar todas as pessoas paradas do local – a maioria já tinha saído correndo mesmo – e trazer os demais garotos para perto. Quando Myungsoo julgou seguro, ele deixou o tempo rolar ao seu normal.
Em frente dele, Woohyun que antes estava imóvel com uma expressão chocada em seu rosto, acordou e olhou em volta confuso igual ao resto dos garotos. Mas não ficou muito nisso, quando avistou Sunggyu e foi correndo até ele, tentando segurá-lo em seus braços.
– Hyung, hyung, olha para mim. Você tem que acordar. HYUNG!!!
– Woohyun, só um minuto. Eu preciso curá-lo. – Sungjong o repreendeu e pousou suas mãos sobre o machucado de Sunggyu que já estava bem lentamente se fechando.
Todos os garotos olhavam aflitos e nervosos para Sungjong tentando curar Sunggyu, quem estava nos braços de Woohyun.
Hyung, você tem que conseguir. Você tem que viver. Eu não vou conseguir ficar sem você – Woohyun rezava por dentro, olhando para o rosto inconsciente e pacífico do mais velho.
De repente, todas as luzes do salão se apagaram.
.
.
.
.
.
.
.
.
∞∞
Interlude
Estranhamente, não teve pesadelos dessa vez.
Os sonhos ruins eram como seus melhores amigos, vinham constantemente e ele já até estava acostumado com eles. Neles era comum sentir o desespero, a agonia, a desesperança de dias melhores.
No começo eles vinham sem avisar e era assustador enquanto criança. Não havia ninguém ali para dizer que os monstros debaixo da sua cama não existiam. Ele teve que se virar sozinho, teve que lutar contra eles diariamente. A dor... ela foi como uma professora que lhe ensinou muitas coisas e ele aprendeu a lidar com tudo isso.
Ele perseverou para viver até o final.
Talvez essa era sua recompensa? Uma morte tranquila. Ele merecia isso, afinal, teve uma vida sofrida.
O lugar que estava era como uma miragem fantástica. O céu estava uma mistura de cor de rosa com roxo e azul, com se fosse uma tela de pintura. Parecia ser de madrugada, o sol acabando de acordar no horizonte. À beira da praia, a areia estava macia e as ondas espumadas do mar faziam cócegas em seus pés descalços.
Era lindo e Sunggyu sentia que podia flutuar.
Exceto que também sentia-se solitário.
O sorriso no seu rosto se desmanchou. Sempre tinha que ter algo que estava destinado a dar errado e lhe incomodar até em seus sonhos.
Assim como agora. Estava livre, mas sozinho. Essa realidade não era mais tão atraente quanto antes, tudo pareceu perder um pouco do seu brilho depois que percebeu isso.
Sinto falta dele...
.
.
.
.
.
.
∞∞
– Sunggyu...
Seu nome foi chamado baixinho.
– Sunggyu.
De novo, ouviu uma voz masculina o chamando, mas agora nitidamente.
– Sunggyu!
O dono do nome tentou abrir seus olhos pequenos, mas a luz clara do sol o fez fechar novamente.
– Consegue me ouvir? Está acordado? Você se mexeu então eu pensei... Sunggyu?
Sunggyu acordou e se deparou com Dr. Kim o encarando preocupado. Quando percebeu que o mais novo estava com os olhos aberto, suspirou aliviado e se sentou num banco do lado da cama.
– Dr. Kim? – A voz de Sunggyu saiu falha.
– Sim, sou eu. Mas acho que você já sabia que eu estou vivo.
– O que aconteceu? – Ele tentou se sentar, mas soltou um grunhido pela repentina dor no torso.
– Jungyeop atirou em você. E por muito pouco não te atingiu o coração. Felizmente Sungjong conseguiu te curar com as habilidades dele. Graças a Deus ele estava por perto também, porque se dependesse de te levar para um hospital, estaríamos perdido.
– Onde estão os outros? Aliás, onde estamos? – Com dificuldade, Sunggyu perguntava, pois ainda se sentia um pouco cansado.
– É uma longa história, realmente. Mas te respondendo: os outros estão pela casa e estamos numa ilha isolada no meio do oceano pacífico.
– Uma ilha? Ugh... por quanto tempo eu-
– Dormiu? Por dois dias.
O rapaz ficou em silêncio por alguns minutos.
– Como tudo isso aconteceu? Estou muito confuso. A minha cabeça está uma completa bagunça.
– Eu não sei bem o que aconteceu antes porque cheguei depois que você apagou. Apenas que a vi a comoção na frente da mansão e aproveitando, entrei pelos fundos com o meu pessoal, peguei vocês e partimos para cá. Na verdade, essa ilha é dos pais dos irmãos Kim, que eles doaram para gente no caso de conseguirmos libertá-los. Eles vinham nos apoiando e tinham tentando de tudo para tirar seus filhos de lá, mas eles morreram antes de conseguirem. Felizmente, sua fortuna foi deixada aos meninos e com isso veio a ilha de presente. Então mudei minha base para cá e preparei tudo para quando pudéssemos trazer vocês. Aqui ficaremos afastados do resto do mundo e das pessoas que estão de olho nas suas habilidades.
Infelizmente, porém, as consequências daquele dia foram desastrosas. O governo está nos caçando como loucos e todos na festa juram que viram os poderes de vocês e até a mídia conseguiu filmar alguma coisa. Eu tenho alguns contatos lá na Coreia que estão nos ajudando a encobertar tudo isso, mas até que a poeira esteja abaixada, é melhor continuarmos escondidos. Pelo menos por um ano ou dois... Você está entendendo um pouco a situação?
– E... como você sobreviveu todos esses anos? Junghee jurava que vocês estava morto. Eu vi nos pensamentos dela, ela admitia que o centro que matou você.
– Eles tentaram, mas minhas conexões lá naquele lugar eram maiores que as deles, eu tinha muitos amigos lá. Então deixei eles acreditarem que tinham se livrado de mim. Aliás, Junghee contava muitas mentiras e era cheia de jogos mentais e para tentar confundi-los e irrita-los, ela fazia de propósito aquela bruxa.
– O que aconteceu com ela? Com o centro e Jungyeop?
– Acabou Sunggyu. Eles se foram e o centro também. Aliás, tive o prazer de expor tudo sobre Jungyeop – exceto sobre vocês, é claro. Era o mínimo que eu tinha que fazer depois de ter participado daquela palhaçada. Eu só queria que você soubesse que eu me arrependo muito, eu de alguma forma achei que-
– Eu sei hyung. Eu te perdoo. – Sunggyu segurou a mão do doutor e apertou, o encarando sinceramente. Era a primeira vez que o chamava assim. Ali, fora das instalações do centro, se sentia mais confortável em falar. – Mas com o “se foram”, você quer dizer que estão... mortos?
Dr. Kim abaixou a cabeça e desviou o olhar.
Sem querer, Sunggyu levantou a barreira e ouviu os pensamentos do doutor.
– Woohyun fez isso? – Não soube por que de sua voz soar decepcionada. Talvez por ter tentado impedir a todo custo disso acontecer e mesmo assim ter acontecido.
Não fui eu, mas ele fez por mim. De novo... é sempre ele que leva o castigo.
– Sim. Woohyun... naquele dia ele entrou num estado de frenesi muito grande, quando acordou daquilo se sentiu extremamente culpado e se isolou.
– Ele... ele está bem? Foi ferido?
– Não. Woohyun eu... eu o subestimei. Aposto que nem Jungyeop esperava isso, mas ele ficou muito poderoso. Acho que ele escondia essa sua força verdadeira. Enfim... ele ficou muito mal achando que você tinha morrido... ninguém sabe exceto eu, mas que toda noite ele vem aqui te ver e fica por horas e depois volta a se isolar. Dongwoo e os outros já tentaram conversar com ele, mas ele os ignora. Acho que se sente muito culpado.
Ao ouvir isso, o coração de Sunggyu se apertou. Aflito, tentou se sentar de novo em dificuldade.
– Eu preciso vê-lo. – disse desesperado.
– Sim, mas primeiro coma algo um pouco. Você precisa de energia.
Sunggyu queria ir imediatamente, mas consternado obedeceu.
~~~~
A visão era a mesma de seu sonho. Pôr do sol à beira-mar.
Woohyun estava sentado na areia de frente ao horizonte, abraçando as pernas e com a cabeça descansando nelas.
Por quantos anos Sunggyu sonhou com isso? Muitos... mas tudo ainda parecia irreial.
Se aproximando, o mais velho sentou-se ao lado do moreno. Quando sentiu uma presença e virou a cabeça, Woohyun se surpreendeu ao ver o sorriso calmo de Sunggyu.
– Hyung! – Exclamou surpreso. – Você acordou? Porque ninguém me disse eu ia-
– Eu acabei de acordar e vim aqui, na verdade. Porque não te vi ao meu lado.
Woohyun abaixou a cabeça, triste.
– Eu não... eu não sei se posso ficar perto de você. Meus poderes... eu... de alguma forma, me tornei perigoso.
– Tsk... não diga bobagens. Você acha que eu sou um fracote?
O mais novo não disse nada e apenas continuou de cabeça abaixada.
– Você se sente culpado com o que aconteceu, eu sei. Mas... será que eu posso ser egoísta e pedir para você focar agora em mim? Sabe, eu fui baleado e acabei de acordar, eu preciso do meu namorado.
Woohyun abriu um pequeno sorriso.
– Eu nunca deixei seu lado enquanto você dormia. Mas sinto que comigo você não está mais seguro. Quer dizer... depois do que vi acontecer com você, eu me desesperei e...
– Ei. – Sunggyu virou o rosto do menor, chamando-lhe atenção. – Você fez o que tinha que ser feito. Aquelas pessoas nos ajudam mais estando mortas. Depois de tudo que fizeram conosco, isso é o mínimo que merecem.
– Desde quando você pensa assim?
– Foi você que me disse isso. Cadê aquele Woohyun corajoso e impiedoso? Sim, é uma pena que isso aconteceu e teve que ser pelas suas mãos, mas é como você disse: ou era eles ou era a gente. Vale tudo para sobreviver.
– Acho que somos iguais nisso não é? Fomos criados para sermos monstros, está na nossa natureza certo?
– Fomos assim, mas não seremos mais. Não precisamos mais ser. Então não fique assim ok? Não se sinta assim. Estamos livres agora, Woohyun-ah.
– Eu não consigo evitar... acho que é a minha parte humana falando. A minha consciência está me matando. Não sei se consigo mais viver assim...
– E se eu te desse um motivo? Você não tem nada a perder certo? – Sunggyu sorriu, relembrando das palavras que o moreno lhe disse um ano atrás.
Chegando mais perto, ele tocou a têmpora do mais novo e fechou os olhos, assim fazendo Woohyun acompanhar-lhe e fechar também.
Sombras confusas de rostos, momentos, detalhes e memórias desconhecidas e conhecidas permeavam por entre suas mentes.
Primero viram-se quando tinham 9 e 7 anos: Woohyun observava Sunggyu ser levado. Depois apareceu Sunggyu voltando de uma seção e ao colocar seu olhar na cela em frente a sua, viu Woohyun o esperando. Ele não chorava mais.
Viram-se quando tinham 11 anos e 9 anos: Woohyun narrava animadamente como ele tinha vencido numa luta com um garoto que era da idade dele, Howon era seu nome. Sunggyu fingia que o ignorava e continuava escrevendo em seu caderno, mas por dentro se sentia feliz pela vitória do mais novo e pela sua animação, pois sabia o quanto era importante pro mais novo que sempre perdia do outro garoto. Um sorriso discreto se abriu em seus lábios.
Viram-se com 15 e 13 anos: Woohyun estava sentado ao seu lado na “sala especial de estudos” e ele discretamente tocou sua mão e apertou. Sunggyu fingiu que nada aconteceu, mas suas bochechas esquentaram e ficaram vermelhas.
A cena mudou e Sunggyu viu levarem Woohyun que olhava para trás e sorria. Seus corações doíam pela despedida.
Apareceu Woohyun com 17 anos e havia um homem deitado e muito machucado na frente dele, porém no rosto do moreno não parecia haver remorso. No seu pensamento, ele estava satisfeito pelo trabalho feito, pois ganharia sua recompensa que era ver Sunggyu novamente.
Sunggyu recém tinha acabado de completar 20 anos, ele ria com as piadas sem graça de Woohyun. Eles se encontravam perto de suas respectivas grades, olhando um para o outro. As coisas tinham mudado, mas dentro de si, sentia-se aliviado por Woohyun estar ali.
Por fim, momentos e flashs passaram para eles, desde que Sunggyu conseguiu ler pensamentos, do primeiro beijo, até quando Woohyun ia até o quarto do mais velho escondido, depois quando mudaram para a mansão, a primeira vez que fizeram amor e o dia que Woohyun segurou o mais velho em seus braços achando que era o fim.
Sunggyu tirou as mãos da cabeça do Woohyun e despertou surpreso. Não tinha percebido, mas lágrimas molhavam sua face. Os dois se encaravam, sentindo e transmitindo várias emoções.
De repente, Woohyun abraçou forte o mais velho que retribuiu o abraço. Ambos choravam, emocionados por tudo que tinham visto e passado.
– Será que isso é razão suficiente para você? Não vê que eu ainda estou aqui... você... q-quem disse que você devia desistir de tudo? Temos que nos casar ainda, lembra? Você me deve um pedido de casamento. – Sunggyu dizia, enquanto soluçava e tentava secar as lágrimas do rosto. Woohyun apenas assentia, chorando ainda mais e apertando forte o abraço.
– S-sim.. eu – um soluço – eu prometo que vou te fazer a pessoa mais feliz do mundo. Eu vou sempre te proteger. Eu... eu vou te amar muito. Vou ficar sempre ao seu lado.
Sunggyu deu uma risadinha baixa.
– Seu chorão... sim, é assim que eu lembro de você.. – ele riu e segurou o rosto do mais novo, depositando um selinho nos lábios alheios – Sim, eu também prometo que vou te amar muito. Fique sempre ao meu lado.
Os dois rapazes então assistiram o sol se pôr, de mãos dadas.
Sunggyu estava livre aos 22 anos. E ele nunca se sentiu tão feliz em toda sua vida.
Por muito tempo, viveu sem perceber de fato, que tudo na sua vida não era seu, que vivia para outras pessoas e não para si próprio.
Ele não se sentia humano, não se reconhecia no reflexo que via no espelho, sua única certeza era a de que estava respirando. Não tinha razão para viver.
Ele não conhecia o que era felicidade, alegria, amor. Ele não conhecia o mundo exterior
Essa pessoa um dia acordou com vontade de mudar seu destino. De fazer a diferença. De finalmente ser o personagem principal de sua própria vida.
Há pouco tempo, uma pessoa vivia preso a si mesmo, mas graças a outra, ela se redescobriu
Sabe, você pode durar um pouco, mas não pode continuar eternamente de olhos fechados para a sua volta, vivendo inconscientemente.
Então ele assumiu o controle de si mesmo, da sua vida, da sua mente.
Compos mentis
FIM?
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.