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História Condensação - Capítulo Único


Escrita por: Downdownbaby

Notas do Autor


Sabe aquele papo sobre surtos de inspiração de madrugada? Pois é. Não consigo entender a lógica de criação que a minha mente segue, mas o plot da vez é Yuri e único couple Yuri amorzinho na minha vida é TaeNy <3
Espero que alguém goste ^^

~Enjoy it

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Condensação - Capítulo Único

 

Taeyeon gosta de dizer que eu sou só uma garota incompreendida, mas nunca achei que esse adjetivo se aplicava a mim. Penso em mim como alguém que talvez Deus se arrependa pra caramba de ter mandado pra Terra toda vez que olha pra baixo e me vê gastando muitos dos meus minutos de vida pensando em metáforas inúteis.

Olhando de fora a maioria põe um rótulo de “garota tagarela e extravagante” na minha testa com letras cheias de glitter rosa. Isso na melhor das hipóteses, porque alguns rótulos certamente dizem “garota fútil que só deve se interessar em conhecer as últimas tendências de moda e planejar um jeito de deixar tudo cor de rosa”, e outros devem carregar palavras menos agradáveis ainda. Eu sei que incomodo algumas pessoas, mas não é como se pudesse fazer algo sobre isso. Depois de tentar não incomodar por muito tempo, ficou claro pra mim que é impossível, que algumas pessoas se incomodam com o que quer que seja apenas pelo prazer de reclamar. A vida tem dessas.

Acho que a essa altura deu pra perceber que eu gasto muito tempo analisando até os pequenos detalhes das pessoas. O mundo é um lugar bem interessante, então observar o que está dentro desse mundo é interessante também. Realmente me agrada passar horas pensando sobre as pessoas, sobre suas rotinas, comportamentos, suas histórias, e também sobre a natureza, história e futuro do universo... São muitas coisas pra se pensar. Então, depois de pensar um pouco sobre eles, é tentador buscar por padrões, porque é nesses padrões que se encontra a poesia.

É justamente pela poesia nas metáforas que eu nem mesmo tento consertar esse vício de comparar as situações diferentes até que elas se encaixem.

O meu primeiro desafio foi encontrar uma metáfora para mim mesma. Pensei em um gato porque sou tão livre quanto os bichanos, mas me faltava a sonolência deles – na verdade eu invejo Bacon (o gatinho da Taeyeon) pelo sono tranquilo dele enquanto eu tenho até problemas com insônia.  Depois me comparei a um beija-flor, ágil e atraído pela beleza das flores como eu sou atraída pela beleza da vida, mas meu coração não se parece com o de um beija flor. Você sabia que o coração daqueles pequeninos bate tão rápido que pode ser chamado de vibração e não batimento cardíaco? Pois é, meu coração jamais foi uma parte tão expressiva de mim. No fim, a melhor alegoria para mim mesma que eu encontrei foi uma nuvem e todas as suas particularidades. Aérea, distante, agradável quando o céu está limpo e assustadora quando traz tempestades. Além disso, as nuvens são feitas de água no estado gasoso, estado em que as partículas da água são mais livres e menos tensionadas entre si. É perfeito para minha personalidade.

E é em uma metáfora igualmente perfeita e suficientemente poética que minha mente trabalha em plena tarde de domingo. É uma tarde bem fria, diga-se de passagem. Está chovendo do lado de fora da casa onde eu escolhi passar o fim de semana, e é pra dona dessa casa que eu busco uma metáfora decente.

Kim Taeyeon.

Tem muita beleza em muitos sentidos em Taeyeon. Os olhos grandes como os de uma personagem de mahwa.

 Ela é minha namorada? Pra falar a verdade, não tenho certeza. Ainda não definimos um título para essa proximidade.

É uma proximidade muito nova pra mim, me faz se sentir quase tão perdida quanto quando cheguei dos Estados Unidos. Uma nova língua, novos rostos, novos valores, novos costumes... Foi um tempo de adaptação difícil e havia dias em que tudo o que eu conseguia desejar era voltar para o outro lado do oceano e pedir colo pra mamãe. Então a lembrança de que ela não estaria lá para me abraçar vinha como garras frias em torno da minha traqueia – era a melhor metáfora que encontrei para o sentimento de quando o choro quer vir com força demais e faz alguma coisa dentro da sua garganta doer pra caramba.

Quando percebi que não tinha mais pra quem correr quando o mundo ficava insuportável, passei por um processo que gosto de chamar de expansão – porque eu era um cubo de gelo e me tornei nuvem. Deixei de depender das condições do ambiente para existir e evaporei, tornei-me minha própria dona, minha própria base, minha própria motivação para levantar da cama todos os dias. A tristeza passou – tudo passa, não é mesmo? – e decidi que viveria bem comigo. Foi aí que passei a ser potencialmente incômoda para algumas pessoas.

Por algum motivo celestial, garotos parecem ser atraídos por garotas que não querem atrair ninguém. Eu nunca quis um namorado simplesmente porque não sentia falta de um ao meu lado. Ter amigos já é mais suficiente. As garotas, em contramão, parecem não se agradar nem um pouco com minha natureza livre. Parece que a sociedade coreana cria suas garotas para acharem inadmissível que eu – garota jovem e solteira – saia para dançar e beber com meus amigos sem um namorado grudado em mim. Queria ficar irritada, mas só consigo sentir muito por elas. Não sabem o quanto estão limitando a vivência da juventude que só temos uma vez e que escapa como areia entre os dedos, dia após dia.

Como eu quero o menor número de problemas possível, deixo que elas decidam o que querem fazer com as próprias vidas e continuo saindo pra beber e dançar porque é o que quero fazer com a minha.

Taeyeon diz que elas tem inveja porque eu chamo muita atenção com minhas “milhares de coisinhas cor de rosa” – palavras dela. Okay, eu admito que tenho coisas que a maioria da população mundial nem sabe que é possível comprar na versão cor de rosa. Desde roupas e acessórios até o case do passaporte. As chaves do carro tem um chaveirinho que comprei no Japão com um casal de minions cor de rosa. Sim, minions não precisam ser amarelos pra serem fofos. Ela faz piadas com meu “império cor de rosa” – palavras dela, novamente –, mas nunca me devolveu o cachecol rosa responsável por juntar nós duas.

Eu já trabalhava na empresa que trabalho hoje. Preferi começar a trabalhar assim que terminei o ensino médio, porque não era justo que papai continuasse pagando todas as minhas despesas enquanto eu fazia audições nos fins de semana para tentar ser uma cantora. O processo pra se tornar uma cantora famosa na Coréia do Sul é um tanto estranho, então não demorou muito até eu desistir. Mas antes eu fui muitas vezes mesmo até o prédio da empresa de entretenimento, e sempre que saía de lá passava no Starbucks que funcionava do lado. Em uma dessas visitas pós-audição, eu me distraí com a beleza da nova operadora do caixa e esqueci meu cachecol amarrado na cadeira.

Sim, era Taeyeon. E você que lê isto precisa entender que ela é ridiculamente bonita. Naquela época ela tinha os cabelos longos e platinados, então era impossível não ser atraída pra ela. Era como um planeta de massa gigante e os olhos de todos ao seu redor como pequenos meteoritos.

Quando voltei algumas semanas depois – já sem esperanças de recuperar meu cachecol que eu não lembrava onde deixara –, a mesma atendente bonita sorriu e perguntou se era eu “a moça do cachecol rosa”. Eu não soube se minha euforia foi pela chance de recuperar o cachecol ou por ela dizer que se lembrava de mim. Naquele dia ela disse que o cachecol estava na casa dela, pediu desculpas e me deu um post it rosa com seu telefone e endereço, dizendo que eu podia passar para pegar se quisesse ele rápido. Eu fui lá, mas – talvez intencionalmente – esqueci-me de pegar o bendito cachecol no meio da conversa boa que tivemos.  Taeyeon é uma mulher tão inacreditável que chega a ser ofensivo.

Quando descobri que eu saía do trabalho no mesmo horário que ela durante a semana, nossos encontros passaram a ser quase diários. E um dia ela me chamou pra assistir algum filme no sábado a noite. A essa altura eu já sentia que minha euforia não era pelo cachecol – que ainda estava amarrado na mochila dela, mas não tinha certeza se ela ao menos tinha interesse em garotas. Assistimos o último filme da franquia dos X-MEN porque nós duas temos o mesmo amor pelo universo dos mutantes. Ela porque gosta de mundos fantásticos e eu pela metáfora muito bem feita entre os mutantes e a comunidade LGBT. Quando o filme acabou era tarde demais pra ir pra casa, então ela pediu que eu ficasse até o outro dia de manhã. Naquela noite eu não dormi. Olhar pra Taeyeon dormindo era mais atraente do que algumas horas de sono, a imagem que eu via acordada era mais bonita do que um sonho.

Então eu aceitei o fato de que minha natureza livre estava cedendo. Eu queria muito poder ter Taeyeon mais perto. Estava disposta a abrir mão do meu espaço pessoal para que ela entrasse com toda a personalidade instável e sensível, porque sentia aqui dentro que ia valer a pena. Eu ia esperar até que ela decidisse vir até mim.

“Você se acha muito irresistível, não é Stephanie?”, você pode pensar. Não é bem assim. É só que esperar por ela já é um esforço grande pra mim. É como se cada pessoa vivesse dentro de um quarto onde existe a versão menor de um planeta, eu era acostumada com a minha atmosfera, meus ecossistemas, minha geologia. E cada pessoa é um planeta com atmosferas, ecossistemas e geologias diferentes. Abrir a porta desse quarto significa se deixar exposto aos perigos e perturbações externas, sair daqui de dentro é um passo que demanda coragem demais e, apesar de parecer, eu não tenho toda essa bravura.

Nós duas passamos a conviver cada vez mais, e isso fazia a agonia dentro de mim aumentar. Me perguntava se não estava sendo obvia o suficiente. Eu achava que sim, mas ela parecia distante ainda.

Até ontem.

Nós revezávamos na escolha do que faríamos porque funcionava bem assim. Taeyeon Gostava de animações 3D ou filmes musicais e eu geralmente escolhia algum filme sobre pessoas que usam a inteligência para grandes transformações. Eu curti muito Step up, Drumline, Make your move, You got served e até a maratona de Glee, mesmo sabendo que tinha grandes chances de o coração pisciano de Taeyeon não aguentar e se desmanchar quando chegasse em If I die Young. Dito e feito, ela chorou por horas nos meus braços, lamentando como era triste ver vidas jovens e cheias de arte morrerem. Taeyeon tinha a aparência dura e o interior mais vulnerável, meu exato contrário, duas peças que se encaixam perfeitamente. Por isso eu deixei ela escolher outra coisa pra ver naquela noite pra tentar se animar e, mesmo que eu não ficasse exatamente feliz de assistir Camp Rock, ver Taeyeon cantar junto com Demi Lovato – deixo por escrito que tenho certa resistência à ela – valia a pena. Ela gostava de cantar as trilhas sonoras e se saía melhor que a própria Lovato com Different Summers.

Ontem era minha vez de escolher e o plano era fazer maratona de Matrix, mas a chuva forte derrubou algum poste na vizinhança e todas as casas estavam sem energia elétrica. Como estávamos sem sono, Taeyeon pegou a vela que acendeu para que conseguíssemos andar pela casa e me chamou para tomar um banho de chuva. Eu disse que era loucura, porque obviamente era loucura. O que caía lá fora não era uma chuva de verão, daquelas que cai de um céu limpo e lava a alma, era uma tempestade violenta com relâmpagos e trovões. Mesmo apontando as árvores quase sendo arrancadas do chão pelo vento, precisei de muita insistência para convencer a pequena que olhar a chuva pela janela era o suficiente.

A água deve ter algo de mágico, porque olhar para a chuva sempre me deixa mais pensativa do que o comum. O bom era que agora tinha Taeyeon para dividir e multiplicar os pensamentos. Ela não fingia interesse, a gente realmente se entendia. Isso só me deixava ainda mais confusa quanto a demora dela para ler aquilo que meus olhos quase gritavam. Enquanto eu olhava pras sombras dançantes que a luz da vela projetava nas curvas do seu rosto, ela se concentrava em desenhar na janela embaçada. Será que eu deveria sair da minha atmosfera? Eu morreria lá fora? Ou a atmosfera de Taeyeon seria acolhedora e meu medo era infundado? Quando eu abri a boca para dar o primeiro passo pra fora da minha atmosfera, ela foi mais rápida e se pronunciou:

– Fany... – ditou com a voz baixa de quando está sonhando de olhos abertos. Eu olhei para o vidro e lá estava escrito o que ela pronunciou. Fany. Traçado com a ponta dos dedos no vidro embaçado pela condensação da água no lado de dentro da superfície.

– Sou eu? – perguntei apenas para ter a certeza que tive quando ela acenou a cabeça.

– Eu posso te chamar assim? Stephanie – ela se atrapalhava para pronunciar o nome que eu disse a ela quando me apresentei – é muito difícil e percebi que Miyoung não te deixa confortável.

Era verdade, eu preferia meu nome de batismo. Lembrava minha casa, lembrava os velhos tempos pra onde eu voltaria se me dessem o poder de decidir. Ela ter a capacidade de perceber isso sem que eu nunca tenha dito em voz alta, só me dava mais certeza de que era ela. Eu não quis ser discreta naquele momento. Precisava deixar claro que Taeyeon era mais que uma amiga, ainda que eu não soubesse o quão longe ela ia bagunçar minha atmosfera. Ela me olhou de volta e talvez eu tenha prendido a respiração por alguns segundos antes de responder:

– Pode sim.

Ela continuou a olhar dentro da minha alma e tudo parecia surreal. A chuva lá fora ainda era o único som que impedia o silêncio total. No fundo, eu ainda estava com a mão na maçaneta da minha sala, esperando que um milagre acontecesse e Taeyeon batesse à porta primeiro. Eu era um tanto covarde quando se tratava de abrir mão do meu espaço pessoal e queria me socar por isso.

Meu debate interno se calou quando o rosto de Taeyeon deixou de ser iluminado pela luz da vela que tínhamos acendido sobre o fundo de uma xícara virada. Olhei para o lugar onde a vela queimava segundos antes e resolvi fazer algo útil – já que não tomaria nenhuma atitude –, levantando para buscar outra vela.

Mas Taeyeon levantou junto. E ficou de frente pra mim, alguns centímetros mais baixa. Eu via seu rosto mesmo na pouca luz que vinha da iluminação pública distante, porque ela é muito branca. Ela se aproximou muito e eu sentia o peito entrar em estado de alerta ao mesmo tempo em que o cérebro me ordenava que fizesse alguma coisa. Agora!

E, quando nossos narizes se tocaram suavemente e eu vi seus cílios mais perto que nunca dos meus, foi como se nós duas abríssemos a porta entre nossas salas ao mesmo tempo. A atmosfera dela não era venenosa, era igual a minha, me fazia ter vontade de ceder à tudo o que ela me pedisse. Tenho séria desconfiança de que Taeyeon tenha poderes telepáticos, porque, exatamente quando esse pensamento cruzou minha mente, sua voz soou soprada e baixa contra meu rosto:

– Você nunca vai me beijar, Fany?

Eu deixei o sorriso que pediu pra nascer, tomar meu rosto no tempo em que levei minhas mãos para cada lado de seu rosto. Então eu colei nossos lábios e pude ouvir o barulho dos tijolos que construíam o muro que dividia nossas salas indo ao chão. Taeyeon não me tocou apenas os lábios, ela conseguiu me alcançar de um jeito muito íntimo quando seus braços circundaram meu tronco e o aperto gostoso me fez pensar que ela também tinha esperado por aquilo. Nosso primeiro beijo acabou entre sorrisos quando Bacon veio miando escandaloso até nossos pés. Gatinho gordo e ciumento.

Depois de sentar no sofá pra dar um pouco de atenção ao bichano e buscar outra vela, Taeyeon me olhou sorridente e pediu outro beijo, sem vergonha nenhuma porque ela tão segura de si quanto eu. E como no mundo eu seria louca de negar?

Sinto muito em lhe dizer que até agora ainda não consegui uma metáfora para Taeyeon mas, se serve de consolo, tenho uma para o efeito Kim Taeyeon em minha natureza de nuvem: Ela me condensa como o calor faz com a água no vidro embaçado que ainda tem “Fany” escrito pela ponta do dedo dela.

Quando no estado gasoso, as partículas da água são livres e se movimentam em todas as direções, são muito difíceis de controlar e impossíveis de manusear. O processo de condensação transforma vapor em água líquida. No estado líquido as partículas são comparativamente mais próximas e muito maleáveis. É só olhar para a água que você bebe, coloque em qualquer recipiente e ela terá a forma dele. Eu tinha um coração de natureza gasosa e Taeyeon condensou para moldá-lo à sua vontade.

 


Notas Finais


E então? Me digam que alguém pegou a referência mais lindinha de outro couple tão amor quanto TaeNy <3

~chuu


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