História Conectados - Abrindo o arroz

Abro os olhos, aproveitando a boa sensação de acordar naturalmente, até me lembrar do que aconteceu na madrugada. Olho para o chão e meus pôsteres estão lá jogados, exatamente como o branquelo os deixara.

Após o café da manhã, não tinha muito o que fazer, definitivamente não queria conhecer os poucos vizinhos que moravam ali, então apenas coloquei as coisas no lugar e fui fazer algumas pesquisas sobre fantasmas. Sim, talvez eu esteja louca, mas é melhor do que ficar no tédio.

“Fantasma, é a alma ou espírito de uma pessoa ou animal falecido que pode aparecer para os vivos de maneira visível ou através de outras formas de manifestação. Diz-se que se tornam fantasmas os seres que não cumpriram sua missão nesse mundo, foram assassinados ou cometeram suicídio. ”

Eita preula! Então se tudo aquilo foi real mesmo... o que será que aconteceu com ele para ter se tornado fantasma?

- Really? – Ouço a voz já não tão estranha para meus ouvidos. Me viro e não consigo evitar ficar boquiaberta ao ver aquele ser ali, em plena luz do dia. Parecia ainda mais pálido com o ambiente claro. – Está pesquisando essas coisas na internet? Quer fazer algo contra mim? Atirar com bala de prata ou me jogar alho?

- Você não é um vampiro, muito menos lobisomem, eu acho...

- Não seja estúpida, essas coisas não existem.

- Você também não.

- Ok, então você está louca? Aish... não acredito que você colou esses caras feiosos novamente!

 Ele os coloca no chão, como fizera anteriormente, aquilo me deixa extremamente irritada.

- Escuta aqui seu leite azedo, já te disse que esse quarto é MEU! Você não tem esse direito ok?!

- Do que você me chamou? – Ele diz caminhando até mim, ficando bem próximo, o clima esfriando cada vez mais.

Eu simplesmente perdi a fala, vendo de perto pude notar seus olhos puxados, a boca perfeita, um rosto realmente harmônico, ele parecia humano, se não fosse pela palidez estrema. Ele é atraente e horripilante ao mesmo tempo. Ora, o que estou pensando?! Falando essas coisas sobre um ser que nem está mais vivo. Volto de meus pensamentos quando ele coloca seu dedo em minha testa, apontando e dizendo:

- Me responda.

- Você m-me t-tocou? Isso é possível? Você não é um fantasma de verdade seu... – Tento empurra-lo, atravesso seu corpo e caio no chão como um saco de batatas, enquanto ele ria do acontecido.

- Fala sério, preciso fazer mais o que para você acreditar hein pirralha?

- Ei, não me chame assim! Tenho nome ok?

- Bom, eu posso fazer algumas coisas, mas ainda não posso ler mentes. – Não pude evitar não rir com o tom que ele usou dessa vez, foi mais leve, mais charmoso eu diria. Disse meu nome e em seguida ele me responde:

- Prazer, Yoongi.

- Prazer? Você está querendo me expulsar do MEU quarto cara, acho que não está muito contente comigo.

- Sim, é um prazer. Você é diferente deles.

- Deles?

- Os antigos moradores desse lugar.

- Sou diferente em que?

- Você é especial S/N. Lamento o transtorno. – Diz colocando os pôsteres onde estavam, da mesma maneira que os removeu.

Yoongi se afasta e novamente caminha até a janela, desaparecendo, dessa vez não estava carrancudo, seu olhar estava diferente, havia esperança neles.

***

Agora era fim de tarde, mamãe me chamou para ajudá-la no jantar, disse que eu precisava aprender essas coisas. Eu poderia muito bem viver de pizza, mas fui mesmo assim, para agrada-la. Estava abrindo o saco de arroz, mas não conseguia parar de pensar no Yoongi. Seu motivo por estar aqui, sua mudança repentina comigo, seu lindo rosto...

- O QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO MENINA?! – Gritou mamãe me tirando de meus devaneios, eu havia derrubado metade do arroz no chão.

Me desculpei e arrumei a bagunça pensando “Ah, Yoongi. Seu dom é me causar problemas. ”

***

Estava deitada, amanhã já teria aula, não estava nada ansiosa. Estava muito quente, então resolvi dormir sem cobertas mesmo, já que Yoongi havia mudado ele não viria me importunar a noite não é mesmo? Já estava em sono profundo, bem profundo mesmo, estudiosos chamam de orgasmo do ciclo do sono, quando acordo com frio. E lá estava ele, para minha surpresa com cara de assustado.

- Eu que deveria estar assustada Yoongi.

- Me desculpe S/N, não queria te acordar.

- Então porque está aqui?

- Eu só...

- Quer saber, é bom que tenha vindo mesmo, perdi meio saco de arroz por sua culpa.

- Minha?

- Sim, sua. Porque está aqui? Digo, porque você é um fantasma?

- Bom, eu vi que você estava pesquisando sobre isso, você já deve ter uma noção.

A primeira opção que veio em minha mente:

- A-assassinato?

Ele assente, ficando com o rosto pesado novamente.

- Quem fez isso?

- Meus pais.

- QUE TIPO DE PAIS FAZEM ISSO COM O PRÓPRIO FILHO?!

- Eles tinham uma religião idiota. Eram cegos por ela, queriam me obrigar a seguir seus passos nas eu não quis, então tiveram que eliminar a vergonha da família. – Disse abrindo os botões da camiseta branca, revelando uma cicatriz próximo à altura de seu coração.

O clima realmente ficou pesado. Não esperava uma história assim. Estava realmente me sentindo mal por ele. Yoongi fechou os botões em silencio.

- Você disse que eu era especial. – Digo. Pode ser meio egoísta querer sanar minhas curiosidades agora, mas precisava dizer algo para melhorar a situação.

- Sim. Quando te toquei ficou nítido. Há uma aura azul ao seu redor. Eu nunca havia visto nada do tipo. Você é especial, apenas não sei o porquê, mas quero descobrir.

- Por isso veio aqui esta noite?

Ele assente.

- Olha, eu realmente quero te ajudar – nunca fui tão sincera ao dizer algo – mas você não pode aparecer assim, a qualquer hora, ainda mais tarde da noite.

- Me desculpe S/N. Apenas me chame então, mas se não chamar eu aparecerei de qualquer forma, você não vai se livrar de mim nem tão cedo.

“Eu não queria mesmo” pensei.

- Tudo bem, nos veremos por aí Yoongi.

Ele desapareceu, como sempre. Não havia mais clima frio, mas eu senti um vazio maior em mim, não queria que ele fosse embora, queria conhece-lo mais, queria poder ajuda-lo o mais rápido possível. Não parei de pensar no branquelo. Ele era um fantasma, mas ainda era mais humano que muitos que eu vejo, senti suas emoções, ele não as expressou, eu apenas senti. Não pude deixar de sorrir relembrando o momento mais cedo, onde ele ficou tão próximo a mim... ele era tão... ah... Zzz.