Poucas vezes Marinette entregou-se ao pânico de tamanha maneira como naquela vez.
O sol ainda enrolava ao despontar sobre Paris, pouco a pouco os tons alaranjados e dourados pousavam sobre os telhados iluminando ainda mais a cidade da luz. Marinette, porém, que sempre adorava ver o sempre belo amanhecer desejava com todas as suas forças que aquele dia não chega-se. Ela queria que o tempo parasse, ou melhor, queria voltar novamente no tempo e impedir a si mesma de fazer aquela loucura.
Por tudo que era mais sagrado, por que havia cedido a aquele gato preto?
Talvez se tivesse mantido sua postura sempre firme com ele ela não estaria ali; esperando a horas a mais do que devia do lado de fora da sua casa. Pensando se seria ruim ou não faltar um dia ou dois, ou três, ou o resto inteiro da semana a escola, se talvez fosse uma boa idéia desaparecer por um tempo. Afinal, ela não era tão relevante como Ladybug.
Não, ela não poderia fugir de tudo aquilo por mais que quisesse. Estava lá, a notícia mais acessada do site, em breve estaria estampada em todas as revistas em circulação que logo estariam em grande maioria ─se não em todas─ as casas de Paris.
E logo todos saberiam quem ela era. Sim, ela queria ser reconhecida, mas por seu talento, por seu estilo, e não por ter sido a “garota sortuda que teve um momento romântico com o herói de Paris─ como aquela reportagem dizia.
Ela sabia que havia a mínima chance de outras pessoas não terem a reconhecido ali. Uma chance quase inexistente, e embora ela se agarra-se firme naquela esperança, no fundo ela podia ouvir uma voz dizer: “Eles sabem Marinette, e você também sabe disso.”
Pânico, desespero, medo. Uma enorme confusão de sentimentos que ela desejara nunca sentir.
Quando a primeira luz da padaria se acendeu ela se levantou. Não queria encarar os pais naquele momento, afinal, o que diria a eles? Que havia saído no meio da noite para ter um encontro às escondidas? E pior ainda, que havia parado estampada em uma revista? Ou ela negaria com todas as forças que não era ela?
Ela não sabia.
Ainda estava cedo demais para ir para a escola, então em uma chance ínfima de tentar acalmar-se e mandar para longe as lágrimas que tantas vezes ela havia contido aquela manhã ela se levantou e andou pelas ruas ainda vazias.
Quanto virou pela décima vez em uma esquina qualquer ela pode sentir as pequenas mãos de Tikki pousarem sobre sua mão. Olhou de relance para a Kwami, que apesar de seu olhar preocupado deixou que um leve sorriso toma-se conta de seu rosto.
─Vai ficar tudo bem Marinette. ─A voz suave de Tikki murmurou.
Marinette forçou um sorriso, para logo depois virar o rosto em outra direção. Ela queria acreditar naquilo, ficaria tudo bem, mas no fundo, bem no fundo, ela não tinha certeza de absolutamente nada.
...
Desceu as escadas da enorme mansão correndo, tropeçando nos próprios pés, caindo quando enfim chegou a enorme sala. Adrien não tinha a intenção de ir à escola aquele dia, queria passar todo o tempo em casa ao lado da mãe e Nathalie, nenhuma das duas iria discordar daquilo, ele sabia.
Mas quando seu celular vibrou no meio da madrugada o acordando, e quando seus olhos pousaram sobre a foto dele ─ou Chat Noir, fosse quem fosse ─junto com Marinette ele se tornou incapaz de dormir. Um único pensamento rodando por sua cabeça:
“O que ele havia feito?”
Correu pela casa, parando em frente à porta. Tentando manter o mínimo de calma antes de cruzá-la. Tinha medo de como Marinette estaria. Ela estaria assustada? Nervosa? Com raiva, talvez?
Afinal, como ele pudera ser tão idiota a ponto de levá-la para o topo daquele arco? O que tinha em sua cabeça quando a beijou ali? O beijo havia sido ótimo, ele não podia nem de longe negar, mas ele poderia ter escolhido qualquer lugar, absolutamente qualquer lugar em toda a Paris, e onde ele havia a levado?
Para um ponto turístico, pessoas iam e vinham com seus celulares e suas câmeras. Qualquer um, pronto para capturar uma perfeita foto daquele momento tão intimo.
E agora, por causa de sua imprudência, Marinette que tanto havia lhe ajudado estava envolvida em uma enorme polêmica, e ele era culpado.
Por Deus, o que havia feito?
─Minou?
Virou-se e viu a mãe aproximar-se, um sorriso nos lábios, o cansaço no olhar. A noite dela parecia ter sido horrível, e ele não duvidava, ainda lembrava-se do quanto ela havia chorado no dia anterior. E mesmo com tudo o que estava acontecendo, Adrien se afastou da porta e aproximou-se da mãe a abraçando com força e deixando durar o tempo que fosse necessário.
─Oi mãe. ─Ele disse ao se afastar e sorrir a olhando. ─Como está?
─Bem. ─Natasha o respondeu entre um suspiro. ─Lidando com tudo pouco a pouco.
Adrien esboçou um leve sorriso, aquilo era uma das coisas que ele lembrava claramente dela e que não havia mudado. Mesmo com o mundo desmoronando ao seu redor, ela abria um sorriso e se mantinha forte.
Talvez, ele devesse agir como ela.
─Mãe, eu queria muito, muito mesmo ficar, mas eu...
─Tudo bem Adrien. ─Ela sorriu. ─Eu consigo ver que está preocupado com alguma coisa, pode ir.
Adrien sorriu, deu dois passos em direção a porta quando um pensamento surgiu como um flash. Virou-se novamente para ela, sentia um leve frio no estômago e piscou diversas vezes, não sabia exatamente o que seu olhar transmitia naquele momento, mas ele sabia que no fundo havia um toque de dúvida.
─Pode ir minou. ─A voz de Natasha soou doce, um sorriso de compreensão em seu rosto. ─Eu prometo que estarei aqui quando você voltar.
Mais uma vez naquele momento Adrien sorriu. Correu pela sala cruzando a porta e entrando na limusine que o esperava já a longos minutos. Quando a porta fechou-se e o carro foi ligado à leve paz que havia nele sumira, puxou de leve os próprios cabelos e deixou um suspiro longo escapar.
─Ah Mari... ─Ele murmurou.
...
A aula não havia sido o caos que Adrien pensara.
Desde que pisara na sala ele manteve o olhar fixo em Marinette, cuidando dela de longe. Ela como sempre sentada a sua frente. Alya não havia aparecido aquele dia, e Marinette havia ficado sozinha todo o dia, a tristeza e o nervosismo parados nos olhos azuis. Ela havia ficado sozinha, como se ninguém ali ousasse de aproximar dela.
E ele se perguntava o porquê de também não ter se aproximado. Afinal, se ela estivesse com raiva de alguém seria de Chat Noir, e não dele. Então, por quê?
Adrien não sabia.
Apesar de tudo, dos cochichos identificáveis que ele ouvia correr ás vezes pela sala, o dia não havia sido um desastre. Havia sido desconfortável, um clima tenso rondando a todos, era obvio. Mas comparado ao que ele imaginara aquilo não chegara nem perto.
E então, a última aula havia chegado a seu final.
Marinette não fora capaz de nem mesmo se levantar. Grande maioria dos alunos voltaram-se em volta dela, e Chloé, como quem liderava um bando de leões ferozes e dispostos a conseguir o que queriam bateu com as mãos na carteira de Marinette fazendo tanto ela quanto Adrien derem um leve pulo nas cadeiras.
─Como você fez? ─A voz dela saíra acusadora, como um juiz que sentenciava um assassino.
─Do que você está falando? ─A voz de Marinette soara firme, mas Adrien podia vê-la apertar a barra da blusa por baixo da mesa.
─Não se faça de idiota. Você sabe muito bem do que eu estou falando. Como você fez para parar com o Chat Noir ali?
─Aquilo? ─A voz dela ainda firme, mas dessa vez Adrien pode ver toda a perna dela tremer. ─Qual é Chloé, você não acha mesmo que era eu ali acha?
─Não tente se defender. Todos nós vimos, era você ali, ao vivo, em cores e em alta definição. ─A voz de Chloé estava repleta de escárnio. ─Agora me diga como aconteceu. Afinal, um beijo daqueles não pode vir do nada.
O corpo de Marinette tremia, a respiração dela estava completamente ofegante. Adrien assistia a tudo, cerrando os pulsos com tanta força que ele podia sentir as unhas arranharem as palmas das mãos.
─Vocês já se encontraram outras vezes?
Marinette prendeu a respiração, Adrien atrás dela apertou com força o próprio casaco.
─Se falavam muito?
Marinette mal se mexera, Adrien respirou fundo.
─O que você teve que fazer para alguém como ele acabar com alguém como você?
Quando Adrien pode ver uma única lágrima cair sobre a madeira à raiva que ele estava tentando conter simplesmente transbordou. Bateu com força as mãos sobre a mesa, chamando a atenção de todos. Exceto Marinette, ela novamente nem se mexera.
Talvez o medo que estava a cercando estivesse a impedindo de se mexer.
E talvez, fosse a raiva que Adrien sentia de si mesmo por não ter feito nada o dia inteiro, a raiva que sentia das outras pessoas que estavam ali e apenas observavam, e até mesmo a simples raiva o fez sair de seu lugar fazendo todos ali se afastarem dela.
─Será que vocês podem a deixar em paz?! ─Gritou.
Ele não esperou uma resposta. Segurou firme a mão de Marinette e a tirou do meio de todos eles, correu junto com ela para fora da escola e ambos entraram no carro. Quando finalmente ele parecia ter conseguido fazer sua raiva diminuir ele olhou de relance para ela e pode ouvir seus soluços baixos.
E então a raiva deu lugar à culpa. Aproximou-se dela, as mãos tocaram as suas.
─Mari...
─Sabe... ─Ela arfou. ─Eu confesso que eu estou com uma má reputação horrível. E eu... Eu não sei o que fazer.
As lágrimas correram pelo rosto dela. E Adrien, em um impulso a puxou para perto. Deixou que ela chorasse em seu ombro, seus dedos passando por seus cabelos escuros. O coração apertado, a culpa lhe corroendo, doía tanto ver ela que sempre era um poço de alegria e sorrisos, estar assim ─por sua causa, e ele sabia disso─simplesmente cortava seu coração.
─Eu vou te ajudar Mari. ─Ele disse próximo ao seu ouvido. ─Eu não sei como, mas eu prometo, eu vou te ajudar.
Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.
Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.