História Confidences - 2° confissão: Insônia

3h:30min da manhã.

Às 3h:30min da manhã Adrien se mantinha acordado. Não sentia nenhum resquício de sono,  nenhuma piscada mais demorada,  uma breve cochilada ao escorar-se na parede,  nem mesmo um bocejo que fosse.

Absolutamente nada.

Invejava Plagg, o Kwami mal se mexia deitado na almofada abraçado firmemente à uma lata de seu queijo fedido. Ele tinha sorte.

A Adrien restara apenas ficar em sua varanda, enrolado em seu edredom sentindo o vento gélido que a madrugada trazia.

—Ainda acordado?

Não pode evitar o leve susto que sentiu ao ouvir a voz ao seu lado, mas o susto em seu rosto logo foi substituído por um enorme sorriso de alívio ao ver Ladybug alí.

Ela estava bem, estava com um sorriso no rosto e estava também... De cabeça para baixo.

Não pode evitar rir ao vê-la daquela maneira.

—Do que está rindo?  —Ela o perguntou.

—Não é nada. —Ele respirou fundo para conter as leves risadas. —Eu ainda não me acostumei à vê-la desse ângulo.

Ladybug soltou-se de seu ioiô e o segurou entre suas mãos ao ficar lado à lado de Adrien, olhando fundo nos olhos verdes.

—Assim podemos ter uma conversa mais descente?

—Sim. —Ele sorriu. —Acho que agora podemos.

—Por que está acordado à uma hora dessas?

—Eu acho que estou tendo problemas de insônia. —Adrien a respondeu. —E você?

—Eu o que?

—Por que está acordada à essa hora?

—Ah! —Ela soltou uma risada sem graça. —Eu gosto de fazer uma ronda durante a madrugada. É bem mais tranquilo.

—Entendi. —Ele fez uma cara de quem compreendeu para manter as aparências.

Ele sabia perfeitamente daquilo, Ladybug já havia lhe dito isso quando ele era Chat Noir. Ela gostava da madrugada e da tranquilidade que ela lhe proporcionava. E não foram poucas às vezes que em um de seus momentos de insônia ele se encontrara com ela pulando pelos telhados de Paris.

—E o que te causa insônia?

–Como?  —Foi tirado de seu breve devaneio para a encarar confuso.

—Sabe,  geralmente é algo te perturbando que causa a insônia. —Ela disse sem o encarar. —O que te preocupa a ponto de te causar insônia Adrien?

Adrien desviou o olhar e coçou a nuca. Não poderia dizer aquilo a ela, pelo menos não naquele momento.

Como dizer à Ladybug que ela era o motivo de sua insônia? Que a batalha violenta que tiveram com o pior akuma que já tinham enfrentado ainda estava viva em sua mente?

Esteve preocupado com ela, durante todo o tempo. Mesmo quando a viu purificar a borboleta para logo sair pulando por ai ele estava preocupado.
Ela saiu sem o seu costumeiro toque final, aquele "Zerou", que marcava mais uma batalha vencida.

Ele esperava que fosse apenas o cansaço, ou até mesmo por um esquecimento muito grande de sua Lady. Não gostava nem de imaginar que ela poderia ter se ferido sem que ele percebe-se.
Havia percebido que ela podia esconder muito bem as coisas.

—Adrien?

Encarou-a e bufou, era frustrante não poder dizer tudo que queria. Mas Chat diria, ele diria tudo até que ela lhe joga-se ioiô em sua cabeça o implorando para que fica-se quieto.
Mas agora, ele só podia observar o olhar dela de preocupação lançado para ele esperando uma resposta .

—Eu não sei dizer. —Adrien falou vagamente. —Acho que são os problemas, a quantidade de coisas que eu tenho que fazer e... Até mesmo o meu pai.

—Seu pai?

—É, ele tem se tornado um pouco mais distante à cada dia. Ele tem se tornado frio, distante, às vezes mal olha na minha cara. Eu deveria estar acostumado, mas... Eu não sei...

Ladybug se aproximou dele, a empatia no olhar, seu lado heroína queria poder ajudá - lo de alguma forma, mas seu lado Marinette só queria abraça-lo e consolá-lo.
E ela decidiu seguir o lado mais forte.

Abraçou ele de leve, um abraço apenas, sem nada demais. Apenas um abraço de compreensão, de amigos... De confidentes.

–Vai ficar tudo bem. —Ela murmurou próximo à seu ouvido. —Eu não sei pelo que você está passando então... Só posso dizer que no final vai ficar tudo bem.

Adrien a abraçou forte,  não tinha dito o real motivo de sua insônia, mas também não havia mentido.

Queria que aquele momento durasse, porque mesmo apesar de seu pai e de tantos sentimentos guardados só para sí, naquele momento ele sentiu que realmente ficaria tudo bem.

—Anda vem.  —Ela se separou dele com um sorriso o puxando para dentro do quarto.

—Por que?

—Posso não resolver todos os problemas, mas acho que posso lidar com uma insônia.

Por um momento Adrien olhou para dentro esperando ver Plagg em algum lugar, mas o Kwami havia sumido. Provavelmente havia ouvido a voz dela e se escondido em algum lugar. Já que eles não falaram baixo em momento algum, estranhava o fato de ninguém tê-los ouvido.

—O que quer que faça? —Ele perguntou olhando para Ladybug.

—Vá se deitar, apenas isso.  —Ela disse.

E foi o que ele fez, se aconchegou na cama, vendo sua Lady não ultrapassar os limites da porta da varanda. Encarou-a, vendo seu sorriso envergonhado e seu rosto corado. Sentiu aquela sensação voltar, e antes que fecha-se os olhos disse:

—Você está bem Ladybug?

—Por que está me perguntando isso?

—Eu não sei... Apenas quero saber.

—Bom, sim. —A voz dela soou levemente confusa. —Agora feche os olhos.

—Antes eu quero dizer um coisa.

—O que é?

—Confissão: Eu sofro de insônia então se acostume à me ver acordado.

E ela riu, sua risada leve ecoou no quarto. E depois disso Adrien fechou os olhos, teve quase certeza de que Ladybug cantou uma música, mas ele não se lembrava.

Se lembrava apenas de sua risada que embalou seu sono.