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História Confissões de um Vocal - Dois


Escrita por: KikaHoneycutt

Capítulo 2 - Dois


Aquele final de tarde foi só o começo de algo bom depois de um dia repleto de desastres. As apresentações seguiram muito bem, obrigado, com uma vocalista cheia de si, quase insuportável, e um pianista apaixonado, quase insuportável também. Porque mesmo que  Yuu não falasse nada, nós estávamos juntos. Ele tinha uma atenção especial comigo, entende? Ele esperava na porta do colégio pra gente ir pro estúdio, comprava uma latinha de chá quando me via massagear a testa, tínhamos encontros que levavam a tarde inteira, apenas nós dois e, se deixasse, iriam além da tarde. Ele sempre se preocupava com minha relação com meus pais e eu também procurava saber mais sobre ele.

Yuu era filho único, mas pelo que ele contava, o pai não o pressionava sobre a música. Havia um acordo entre eles, que nunca cheguei a saber e também não insisti que me contasse, apesar da minha grande curiosidade. Eles conseguiam se entender, eu continuava saindo com o Yuu, a banda continuava seguindo, então estava tudo bem.

Nos encontros que tínhamos era inevitável falar sobre a banda, recentes contatos, arranjos diferentes, mas uma coisa que ele sempre pedia pra eu fazer era cantar. E eu cantava com a franja cobrindo meu rosto, sempre. Em muitas dessas vezes ele puxava meu cabelo, sempre uma mecha do lado direito, pra eu parar de ser tão tímido. Ele sempre ria disso.

- Acho que você devia fazer algo com o cabelo. - ele comentou certa vez depois de puxá-lo, como de costume.

E então pensei seriamente em dar adeus ao meu cabelo longo. Acho que não comentei, mas meu cabelo era bem longo, no meio das costas, e isso irritava tanto meu pai... O cabelo longo me deixava com uma aparência feminina. Nunca me incomodei com isso, mas Sadao, meu pai, tinha uma implicância especial com ele.

Por isso, quando o Yuu sugeriu a mudança, imaginei a cara que meu pai faria com o comentário "cortar o cabelo do Hayato” e a seguir como seria se eu aparecesse com os cabelos tingidos de diversas cores tipo Miyavi-san. E eu ri... MUITO.

 

Durante a semana, Hana-chan abriu uma revista na minha cara, dizendo que eu ficaria lindo se fizesse aquilo no cabelo. Era um loiro repicado e todo pro alto que me fez torcer o nariz. Eu não queria descolorir o cabelo e ficar parecendo um Super Saiyajin, mas avançando as páginas encontrei uma foto que me agradou. Era uma entrevista com o membro de uma banda que eu admirava muito na época. Ainda hoje os admiro, pois em meio tantas dificuldades, eles permaneceram firmes. Mas voltando ao cabelo inspirador, ele era longo, repicado e nas pontas tinha uma coloração vermelha que eu gostei muito ao ponto de mostrar pra Hana. Ela não aprovou logo de cara, mas disse que com um toque mais “Hayato” eu ficaria lindo! Bom... Palavras dela, tudo bem? Eu também não sei, até hoje, o que ela queria dizer com aquilo.

Quando cheguei pra fazer uma apresentação num sábado à noite numa pequena casa de shows da cidade, o primeiro que vi foi o guitarrista, Ken, e ele deu um sorriso de orelha a orelha perguntando quem era a garota que eu estava namorando, se eu estava sério mesmo e se já tinha ido conhecer os pais. Chegou até a perguntar se eu deixaria a banda por conta do namoro. Não sei de onde ele tirou essas ideias, mas eu ri bastante. Sério, meu cabelo não estava tão certinho assim! E eu queria muito ver como ‘ele’ iria reagir. Eu e Hana não tínhamos verba pra ir até um salão e cortar e pintar meu cabelo, então ela se encarregou disso e o cortou na altura da nuca, enquanto eu chorava as mechas derramadas. Deprimente, né? E aquela mecha que o Yuu sempre puxava ganhou destaque vermelho. Foi o máximo que conseguimos comprar na kombini: descolorante, água oxigenada e tonalizante. Com alguma produção pré-show by Hana-chan, o Hayato aqui ficou com fios (des)arrumados com muito laquê e cera, uma carinha de anjo com algo muito sutil de maquiagem e pronto pra mandar muito bem no piano!

 

Não vou dizer que foi incrível, que mandamos muito bem, que agitamos e fizemos a diferença naquela noite só porque eu estava com um visual diferente. Veja bem, eu estava empolgado porque estava com um visual diferente, mas os shows eram os mesmos. Admito que posso ter conseguido algumas admiradoras naquela noite, mas não vou me vangloriar por mais que isso.

Quanto ao Yuu, bom, ele não pareceu notar de cara, mas dois dias depois do show, já que dia seguinte não existimos e nem tentamos nos ver, quando estávamos no estúdio esperando os outros. Ele puxou meu cabelo, a mecha vermelha, e disse que tinha algo ali diferente. Ele conseguia ser devagar pra algumas coisas...

-Gostei... –Comentou vagamente. –Você ficou bem assim. Seu rosto... ficou mais visível. –Disse soltando a mecha vermelha e fazendo uma carícia no meu rosto, sem noção de como fiquei envergonhado com esse gesto. Nós não costumávamos ser tão... carinhosos, mesmo estando sozinhos, então aquele toque rápido foi, no mínimo, inesperado. –Takahashi disse que você está namorando uma garota. Por isso cortou o cabelo?

-Quem? –A surpresa foi tamanha que nem lembrava quem era o Takahashi. Mas então lembrei do Ken falando isso a noite toda e me perguntei desde quando o Yuu dá ouvidos ao que o Ken fala? Naquele momento, se eu não estivesse sem ação, iria querer bater em algo... ou alguém!

-Ouvi o Takahashi dizendo que você está…

-Não. – Cortei logo. Que ideia absurda! – Você acha que eu iria arranjar uma namorada? –Ri nervoso. –O Ken-chan não entendeu que eu quis cortar só por querer…

-Ah... foi só por querer? –Eu acenei confirmando. –Então você não está namorando. –Neguei, mentindo, afinal para mim não havia dúvidas de que estávamos num relacionamento. –E cortou o cabelo porque quis? –Afirmei. –E pintou porque quis? –Confirmei novamente. Essa era a única meia verdade. –Que pena... Então não tem nada a ver com eu ter sugerido? – Ele perguntou com um meio sorriso e eu corei até a raiz dos cabelos. –Nem nada a ver com eu gostar de ficar puxando aqui?

Ele continuou com um sorriso mais aberto, fazendo o gesto já comum entre nós, e meu rosto começou a buscar uma cor acima do vermelho. Sério, eu estava quase púrpura. E então ele finalmente falou:

Izumi, você está ficando da cor do seu cabelo.

Isso era o de menos! O que eu queria mesmo naquela hora era me enfiar num buraco, de tanta vergonha que eu sentia! Não é simples, certo? Um rapaz cortar os cabelos porque outro sugeriu. Pintar de uma cor diferente uma mecha porque o outro costuma puxar pra chamar sua atenção. Não pode ser simples admitir isso, não é?

-Na-Não é nada. E o pessoal que não chega? –Tentei, juro que tentei desviar o assunto.

-Não desconversa, Izumi. –Ele ria da minha cara, vê se pode! –Os outros não estão atrasados, nós que chegamos muito cedo.

-Ah, verdade né? –Sorri sem graça.

-Hayato... –Acho que essa foi uma das raríssimas vezes que ele me chamou pelo primeiro nome. Eu olhei pra ele tentando não desviar muito o olhar. –Eu gosto de você.

Lembram que eu entrei em combustão né? Ok, não tinha realmente até esse momento, mas eu sorri. Daquele jeito bobo e idiota que todo mundo sorri quando descobre que é correspondido.

-E-eu t-também, Yuu-san. –engasguei ao invés de falar. E ele, claro, riu. Hiena ambulante de uma figa!

Sabe como é aquele lance de primeiro beijo? Então, eu gostaria de dizer que o nosso primeiro beijo foi lindo, mágico, romântico, que foi o que eu esperava e foi maravilhoso, mas sabe aqueles que você não programa, não espera, não acha que vai acontecer e de quebra ainda bate os dentes? E ele ainda quebrou a pontinha do dente da frente. Sem sacanagem. Eu ri muito. Tipo, MUITO!

A partir deste dia, vivi um mar de rosas com meu primeiro namorado e isso é importante, porque até então eu só tinha casos sem compromissos. Mas se eu soubesse que dentro de poucas semanas depois daquele beijo, todo aquele mar de rosas acabaria, talvez tivesse feito algumas coisas diferentes. Foram dias ótimos ao lado dele. Deixamos de passar a tarde passeando no parque pra ficar namorando no carro, bom... era isso mesmo que fazíamos, não é? Trocas de carícias, beijos variados, às vezes só carinhos, mas sempre juntos antes de tomar o caminho de casa ou estúdio.

 

Claro que em poucos dias minha irmã sagaz notou minha alegria retardada e minha capacidade de ignorar as provocações do nosso pai, coisa que eu nunca fui bom em fazer. Então contei a ela o que estava acontecendo e sua reação foi... bem, ela me conhece bem demais.

Estávamos sentados na minha cama e ela com a cabeça apoiada no meu ombro. Eu estava um pouco nervoso por estar perto de contar pra Hana o meu relacionamento com o Yuu. Lembro do nó na garganta e o desconforto pra começar a contar.

-Nii-chan, quer que eu chame a ambulância? Está perto de um ataque cardíaco. – Ela riu me fazendo abrir um meio riso também.

-Hana-chan, eu acho que... tô namorando…

-Ehh?! –Ela se afastou, me encarando surpresa. –Quem?! Conta! Eu conheço?

-Não... você não conhece. É o Yuu, baterista da banda…

-Yuu...? –Ela ficou um momento pensativa voltando a se encostar no meu ombro. –Você disse que “acha”, por quê?

Uma coisa que eu gosto na minha irmã: Nada escapa dela.

-Ah... Ele disse que gosta de mim, mas... não disse nada além disso, entende? –Como contei, nada escapa dela e ouvi seu suspiro de preocupação como quem fala “lá vai você se meter em merda”. –Mas ele sempre me busca na escola e algumas vezes nós saímos juntos e sozinhos e... ficamos.

-Entendi... E vocês já... sabe, transaram?

Dessa vez fui eu quem fiquei surpreso... mesmo sem motivos.

-Não! Não. Por isso mesmo. Nós ainda não... fizemos nada. Ele parece me levar a sério, entende? Ele quer meu bem.

-Entendo... nii-chan, sabe que me preocupo com você... E não é a primeira vez que você entra numa situação que não acaba bem…

-Hana, esse vai dar certo. -Eu disse e ela me encarou daquele jeito protetor.

-Você já se decepcionou por achar que estava namorando com alguém que no final não prestava um iene.

Aquilo foi verdade e doeu ouvir. Ainda não tinha dado muita sorte entre os rapazes com quem eu saia e Yuu era o primeiro cujo encontro não havia começado com amassos em algum canto escuro ou balada. E era esse pensamento que me fez achar que com o Yuu daria certo.

-Ele é mais experiente, Hana-chan. É responsável…

-“Mais experiente” que você diz, é que tem experiência ou que é mais velho que você? –Esperou uma resposta, mas não muito. –Hayato…

-Hana…

-...você tá apaixonado por ele, não é? –Suspirou derrotada.

-.... estou... –Admiti.

-Eu quero conhecer esse Yuu. Quero ter certeza de que ele é essa boa pessoa pra você.

 

E foi assim que ela soube do Yuu e concordamos que aquilo nunca, de modo algum, deveria chegar aos ouvidos de Sadao-san. O único problema é que nenhum de nós tinha noção do que já havia chegado aos ouvidos dele.

Isso foi algo que eu descobri um mês depois, quando eu tive minha última discussão com meu pai. Foi quando eu teria o último encontro com o Yuu, quando chamei minha casa de “casa” pela última vez... quando Tokyo deixou de ser um sonho distante.


Notas Finais


Continua...

Como ainda estou reescrevendo o capítulo 6, vai demorar um pouco subir o capítulo 3, mas ele vem, ok?


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