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História Confissões de um Vocal - Três


Escrita por: KikaHoneycutt

Capítulo 3 - Três


Era véspera de mais uma de nossas apresentações, mas aquela seria especial porque o Yuu havia conseguido um contato e, se tudo desse certo, seria o começo de outros; o início de uma carreira profissional e seria o máximo!

Estávamos animados e toda a conversa, mesmo a mais besta, acabava caindo no assunto do show do dia seguinte e o cara que estaria lá. Não havia vocalista indigesta, não havia conflitos de família, nada nos tirava o bom humor e toda essa animação só nos levou para um lugar: a lanchonete perto da estação de trem. Comemos, bebemos, nos divertimos até que a hora do último trem se aproximou. Como Ken não morava no mesmo distrito não podíamos abusar da hora, então Yuu ofereceu carona para todos. Fui o último que ele deixou porque, como de costume, ficamos namorando um tempo do lado de fora, perto do portão. Àquela hora, imaginei que Sadao já estivesse se aprontando para dormir, assim como minha mãe, Midori e, talvez, Hana-chan estivesse estudando.

Mais tarde eu saberia que essa não era a realidade a começar por Hana que apareceu de surpresa no portão.

-Boa noite, Hayato-nii. -Ela cumprimentou me fazendo dar um pulo e ficar sem saber como agir com Yuu. Parecia até que ela estava esperando do outro lado.

-Hana-chan! Quer me matar de susto?

-Eu não. Você é quem parece gostar de viver perigosamente. -Ela disse e eu sabia que se referia à possibilidade de nosso pai nos flagrar. Percebi o olhar dela desviar para o Yuu e de volta para mim. -Na porta de casa?

-Ah, esse é o baterista da nossa banda.

-Prazer, Iwasaki Yuu. -Eles se cumprimentaram.

-Izumi Hana. Obrigada por acompanhar meu irmão. E desculpe qualquer problema.

-Imagina. O Hayato é um rapaz ótimo. -Nos entreolhamos. -E ele sempre fala muito bem de você.

-Assim espero! Não é fácil ser irmã dele.

Eles riram e eu achei que se deram bem. O dia estava encerrando de forma perfeita.

Hoje penso que se eu tivesse observado melhor... se eu tivesse questionado o porquê de Hana estar àquele horário no portão de casa, se eu não tivesse achado que o sorriso contido dela não era por cansaço ou por ter um recém conhecido entre a gente…

Ela sorriu para nós dois e nos perguntou sobre a banda, sobre Yuu e até tentou arrancar algo sobre nós dois como o clichê “quais suas intenções com meu irmão”, mas antes que ela fizesse esse tipo de pergunta lembrei do horário.

-Acho que está ficando tarde até pro Yuu. As ruas estão escuras, melhor deixar a conversa para outro dia.

-Hana-chan, por favor, venha nos ouvir amanhã. -Ele pediu.

-Claro! -Ela vacilou ao responder –Estarei lá.

 

Lembrando agora, deveríamos ter passado a noite conversando no portão...

 

Enquanto caminhávamos para dentro de casa, Hana me deu a mão reduzindo as passadas até a porta.

-Ne... nii-chan... Posso te pedir uma coisa?

-Hum? Pode. Se eu puder fazer…

-Tenta não fazer nenhuma besteira.

-Sobre o que? -Eu ri. -Não gostou do Yuu?

-Bom... Não posso dizer que adorei ele, mas não estou falando do Yuu... É sobre você mesmo. Não faça nenhuma besteira hoje.

-Tem alguma coisa acontecendo? -Eu perguntei ao pé da porta e ela apenas me olhou triste, concordando.

-Vou pro nosso quarto e te espero lá. Aconteça o que for, vem pro quarto.

 

Quando entramos em casa as luzes ainda estavam ligadas e na cozinha minha mãe servia chá pro meu pai. Eu devo ter perguntado o que faziam acordados porque eles me encararam e Midori não tinha um sorriso para me receber.

-Lembrou que tem casa? - Sadao perguntou e eu senti a ironia dele.

-Desde quando o senhor me espera chegar?

-Esqueceu o respeito desde que passou a andar com esses vagabundos? Hayato, precisamos conversar sobre seu futuro.

-Estou correndo atrás do meu futuro.

-Qual futuro? Estamos falando sobre algo que vai te dar o que comer e vestir. Você terminou o colegial, mas ainda vive às minhas custas, não tem um centavo pra se sustentar sozinho e ainda precisa se especializar em alguma coisa na vida.

-Não preciso me especializar. Vou ser músico. Não tem outra coisa que eu queira fazer.

-Se você voltar a estudar, posso pagar o cursinho até que entre numa faculdade. Posso te colocar numa vaga de meio período no mercado.

-Sem chances de eu trabalhar com o senhor! Tem um empresário que vem nos ver amanhã e vamos assinar um contrato com ele. Vou seguir na música.

-E acha que isso dá dinheiro? Que esse empresário vai chegar pagando tudo pra vocês, comida, roupa e casa, até que essa sua banda de garagem consiga algum retorno? Não vou sustentar vagabundo.

- Não lembro de pedir pra me sustentar. Pensei que fosse sua obrigação como pai.

-Enquanto estiver sob o meu teto, você tem comida, roupa e estudos pagos, mas tem que seguir as minhas regras, Hayato!

-E se eu não quiser seguir um monte de regras idiotas? Se eu não quiser ter o mesmo futuro louvável que você tem? Porque parece que seu emprego traz muito dinheiro pra você sustentar a família, não é?

-Olha como fala comigo, Hayato! -Sadao perdeu o pouco do autocontrole que minha mãe devia ter implorado para ele ter naquela conversa e passou a se comportar normalmente. Era assim que nossas conversas aconteciam: com ele falando alto e impondo suas regras.

-Não vou trabalhar com você e não quero fazer uma faculdade. Vou viver como músico, quer você goste ou não. E se não vai me apoiar, não faz diferença pra mim!

-E não tem o meu apoio! Você acha que é assim? Vai tirar o dinheiro de onde? Dos caras com quem você fica se agarrando em Yokohama?

Nesse momento eu congelei porque não fazia ideia de que ele sabia sobre os meus relacionamentos. Eu sempre me achei cuidadoso sobre com quem andava e onde ia, justamente para evitar que chegasse ao conhecimento da família. Descobrir que principalmente meu pai sabia da minha orientação sexual... Até hoje fico me perguntando como isso chegou até ele.

-Eu nunca ganhei dinheiro dessa forma. -lembro de ter respondido com um bolo se formando na garganta. -Eu trabalhava na lanchonete e ganho com os pequenos shows que fazemos!

-Não me interessa o que você faz! Volte a estudar, se forme, assuma o mercado da família. Case-se. Me dê netos. Eu banco seus estudos e uma vida confortável.

-Não quero essa falsa vida confortável! -Disse caminhando para fora da cozinha. -Na verdade não quero nada que venha de você!

-Então saia dessa casa!

Eu o ouvi dizer antes que eu fosse para meu quarto. Me virei para encará-lo e ele estava sério.

-Sadao! -Minha mãe se pronunciou pela primeira vez e havia certo desespero na voz dela. -Por favor, não faça isso!

-Se não quer nada que ofereço então que saia dessa casa. Vai viver de favor porque aqui você não volta mais. Não é meu filho.

 

Eu não fiquei ali por mais tempo. Não pra ouvir minha mãe chorando ou tentando me convencer a pedir desculpa para Sadao. Não. Eu saí de casa, como o idiota que eu era, apenas com a roupa do corpo e o celular, seguindo pro único lugar próximo onde eu poderia pelo menos passar a noite: A casa do Aki, que não era muito distante dali.

Pensava em conversar pela manhã com o Yuu quando, no meio da escuridão da rua, lembrei de Hana pedindo para que eu não fizesse besteira. Liguei pra ela.

-Você é um cabeçudo, Hayato! -Ela falou assim que atendeu o celular. -Onde você está?

-Desculpe, Hana. Estou indo pra casa do Aki.

-Idiota... -Resmungou. -Não o incomode, volte sem ser visto.

-Hana, eu não vou voltar pra casa.

-Casa? Você acabou de perder a sua! É óbvio que não vou pedir pra você voltar! -Ela disse ofegante. -Olha, nem eu ficaria se esse não fosse meu objetivo, tudo bem? Eu te apoio e a mamãe também, mas você precisa voltar porque tenho algumas coisas pra te entregar.

Desliguei o celular com certa curiosidade sobre o que eu deveria buscar em casa. Nem passou pela minha cabeça o que poderia ser, então voltei e esperei do lado de fora até que tivesse certeza de que só meu quarto tinha a luz acesa.

Vi a silhueta de Hana na janela acenando e entrei silenciosamente pela porta da frente. Me senti um ninja ali. Um transgressor, um verdadeiro rebelde entrando pela porta da frente da casa que tinha acabado de ser expulso.

Ao fechar a porta do quarto fui recebido com um abraço apertado e alguns xingamentos. Hana me puxou pra perto da escrivaninha onde minha mochila esperava pronta. Foi quando observei ao redor e notei uma mala de viagem no chão ao mesmo tempo em que Hana me estendeu um envelope branco.

-Aqui está, nii-chan. -ela falou baixinho. -É uma passagem para Tokyo e o endereço do nosso primo, em Shibuya.

-Primo? Como assim...Tokyo?

-Você se lembra da tia Aya, a irmã da mamãe? Ela tem um filho que atualmente mora sozinho em Shibuya e depois que mamãe contou o que estava acontecendo e suas preocupações, Aya oba-san concordou em te receber lá.

Eu olhava para a passagem na minha mão, só uma ida para Tokyo, o endereço no distrito de Shibuya, um mapa e tentava processar toda a informação que Hana jogava no meu colo. Eu estava confuso e confesso que não sabia o que perguntar primeiro: como a mamãe sabia que ia dar nisso ou que horas o trem partia.

-Quando você me contou sobre o Yuu, conversei com a mãe. Teu último rolo não deu muito certo, então fiquei preocupada por você... ela juntou essa informação com outras que ouviu do nosso pai e achou que, por segurança, seria melhor reencontrar a irmã e pedir um favor. Parece que a ideia inicial do pai era te mandar pra um internato ou coisa assim, mas a mãe conseguiu retardar os planos dele.

Eu devo ter feito uma careta porque a Hana deu uma risadinha de canto.

-A mãe também sabe que você não deixaria a música. E quis apostar no seu sonho.

-Midori tem que ser canonizada... -O comentário nos fez rir num breve momento. -Eu não lembro do primo... Nem da tia. -Contei, me sentando na cadeira. Liberei um longo suspiro, finalmente entendendo a situação... ou parte dela.

-Mamãe disse que você era muito pequeno quando se viram pela última vez. Depois que Aya oba-san foi para Tokyo, tiveram pouco contato…

-Vocês fizeram tudo isso... -Eu disse olhando para a passagem.

-Vai ser pro seu bem. -Lembro da aproximação da minha irmã e do seu afago no meu cabelo. Ali eu soube que sentiria muita falta dela. -Em Tokyo você vai poder correr atrás da música. Tenta ser menos impulsivo, trabalhe duro... eu quero ter notícias suas através das revistas, do YouTube, quero ler fanfics com você…

-Desde que não seja yaoi.

-Como se você não gostasse... Aham.

Nós dois rimos e eu senti que meu riso começaria a se transformar em choro se eu não parasse naquele momento. Abaixei a cabeça e escondi o rosto entre as mãos.

-Trate de fazer valer essa passagem. Mas agora você precisa ir, nii-chan... daqui a pouco dá a hora de Sadao abrir o mercado e você não pode estar aqui.

-... o que eu faço agora Hana...? -Perguntei num fio de voz.

Hana se abaixou na minha frente.

-Vai pra estação esperar o primeiro trem. -Respondeu. -Entende porque eu pedi pra você não fazer nenhuma besteira? O Shinkansen sai no meio da manhã em Yokohama. Eu e a mãe podemos arranjar uma desculpa pra ir pra lá cedo, mas é importante que você já esteja lá.

Eu realmente tinha que ir. Não lembro se já contei, mas meu pai é o dono de um mercado pequeno, porém conhecido na região. Ele levanta bem cedo pra abrir as portas para os funcionários e é religioso com o horário.

Eu poderia tentar contar com o fato dele ter ido dormir tarde e então ele sairia mais tarde também, mas como Hana disse, seria imprudente e àquela altura eu já estava seguindo as instruções dela sem questionar.

 

Fui para a estação e peguei o primeiro trem para Yokohama e ainda pude ver minha mãe antes de embarcar para Tokyo. Se antes eu queria chorar com a Hana, com Midori não teve escapatória. Ela estava triste, acho que até um pouco desapontada, mas não deixou de ser otimista e me dar um sorriso.

-Vai dar tudo certo, filho. -ela disse. -Eu vou estar sempre com você.

 

Passei parte da viagem pensando nisso e repetindo para mim mesmo que tudo daria certo porque ela estaria na minha mente e no meu coração. Mas aquelas dúvidas sobre “como será meu primo”, “será que eu vou me adaptar”, “será que vou conseguir me virar sozinho”, elas sempre apareciam.

A outra parte da viagem passei dormindo, afinal, eu ainda não havia pregado o olho e aquele conflito de pensamentos otimistas e pessimistas me levou à exaustão.


Notas Finais


Continua...

O capítulo 7 foi iniciado então postarei o capítulo 4 quando começar a escrever o 8 ou no aniversário do Hayato (o que vier primeiro), ok?
Bjins.


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