1. Spirit Fanfics >
  2. Confissões de um Vocal >
  3. Quatro

História Confissões de um Vocal - Quatro


Escrita por: KikaHoneycutt

Notas do Autor


Como prometido, mais um capítulo no aniversário do Hayato ou quando terminasse de escrever o capítulo 7... Happy B-day, Arata! o/

Capítulo 4 - Quatro


Antes de dormir no shinkansen tentei ligar pro Yuu. Para pedir desculpas, me justificar de alguma forma por não poder comparecer à apresentação. Estávamos tão ansiosos por aquilo, era algo que trabalhamos durante um bom tempo para conseguir e eu me sentia errado por deixá-los, entende? Várias vezes me perguntei como seria se eu não tivesse aceitado a passagem, se eu tivesse procurado o Yuu e ficasse com ele já que estávamos juntos. Procurei por justificativas que eu pudesse dar caso eu esbarrasse com algum dos meus companheiros e banda ou se eles viessem tirar satisfações. Mas o máximo que tive foi um “A gente se fala mais tarde” por e-mail. Preciso dizer que esse “mais tarde” nunca aconteceu? Preciso: Não voltamos a nos falar até anos depois, mas isso é outra história¹ e naquele momento eu estava começando uma que seria muito mais intensa. Eu só não tinha noção do quanto.

 

Sempre ouvi dizerem que cidade grande era uma selva de pedra. Ninguém se fala, ninguém se conhece, ninguém se esbarra... Na verdade em Tokyo era exatamente isso, exceto pela parte de esbarrar. Aqui não se esbarra, se atropela. Essa foi a primeira impressão que tive da cidade quando deixei a estação seguindo a massa de gente.

Mapa em mãos, mochila nas costas, alguns trocados no bolso, minha caminhada até o bairro de Shibuya começou assim e fui admirando tudo que eu encontrava pelo caminho. Sério, era incrível! Tudo ali espocava na cara! Era tanta coisa para ver, tanta informação! Não é como se eu não visse isso em Kanagawa, principalmente no centro de Yokohama, mas... Cara, eu estava em Tokyo! Aqui eu teria uma chance de ser como sou e fazer o que gosto, eu poderia correr atrás de alguma oportunidade com a música enquanto trabalhasse com qualquer coisa que não me deixasse passar fome. Teto eu teria e com o tempo, ajudaria nas despesas. É fácil escrever isso agora que já estou morando com meu primo, mas mesmo antes disso eu tinha essa mentalidade otimista demais. Eu mal havia chegado e já me considerava abrigado, empregado e bem resolvido. Bem, acho que essa é mesmo uma característica minha.

Apesar de todo meu otimismo as coisas começaram a dar errado no momento em que desci na estação de Tokyo com a ideia de andar até Shibuya. Achava que descendo ali o restante poderia ser feito a pé. Parei até num cyber café para lanchar alguma coisa e se não fosse a boa alma daquele atendente, eu definitivamente não chegaria na casa do meu primo no mesmo dia. O problema é que eu não fazia noção da distância que era andar até lá e só percebi isso quando parei numa banca de jornal e perguntei para o senhor da banca qual direção eu deveria tomar. Ele foi simpático ao me dizer que eu estava com muita energia para ir andando até Shibuya e me aconselhou voltar para a estação e pegar o trem da linha Yamanote. Aliás, ele disse que eu poderia ter saltado em Shinagawa e já estaria no meu destino àquela altura, mas fazer o que se sou um recém-chegado no novo mundo? Naquele momento só achei que foi azar meu e falta de experiência, mas agora... acho que eu precisava ter errado a estação, mas isso é devaneio para outros assuntos, vamos voltar ao dia em que cheguei. Fiz o que o senhor da banca me orientou e confesso que foi complicado acertar os tickets e apesar disso em pouco mais que meia hora eu estava encarando a estátua do Hachiko e quase tirando uma selfie para enviar pra Hana. A ideia foi descartada quando ajeitei a alça da mochila pesada no ombro. Haveriam outras oportunidades, não é? Com menos mala e tudo mais.

 

Mais uma vez mapa em mãos, mochila nas costas, nenhum trocado no bolso, minha caminhada por Shibuya não foi tão breve como eu gostaria e errei um par de ruas antes que uma senhora muito solícita me colocasse no caminho certo, desenhando a rota no mapa. Definitivamente fui admirando tudo que eu encontrava pelo caminho e me surpreendendo.

O encontro com Jin-san foi no mínimo... estranho? Não havia dúvidas, meu primo era um otaku. Ikeuchi Jin, 24 anos, morador de Shibuya que divide o apartamento com Trevas, uma Yorkshire fêmea que ele insiste em dizer que é macho. Não continuou os estudos depois do ensino médio. Não trabalha. Não sabe cozinhar. Frequentador assíduo de Akihabara, dono de uma simpatia contagiante e uma ingenuidade preocupante. Essa é a ficha que a gente saca logo nas primeiras conversas com o rapaz.

Assim que Jin me deixou à vontade no antigo quarto da mãe dele, resolvi desfazer as malas e ver o que Hana e Midori colocaram ali. Lembro de Trevas me observando atenta durante o processo e animada em ajudar. Foi ela inclusive que me lembrou de ligar para casa e avisar que cheguei. Sim, a cadela. Hana devia estar louca para ter notícias e minha mãe também. Não que eu tivesse muito que dizer “dormi a viagem inteira, errei a estação, esbarrei com um atendente gato...” Okay, até que tinha alguma coisa para contar.

Hana não parava de perguntar animada sobre tudo mesmo sabendo que eu não havia feito nenhum tour por Tokyo... digo, até fiz por conta das vezes que me perdi, mas não estava valendo, né? Falei sobre Jin, a primeira impressão que tive e que ela precisava conhecê-lo. Tenho certeza de que esses dois seriam capazes de conversar durante horas e dias sobre coisas que eu provavelmente ficaria perdido! Falei também sobre o Sr Pinguim² e Trevas e do jeito que conheço a figura não duvidava que ela estivesse dando saltinhos felizes no quarto. Aliás, quarto que agora era só dela e ela estava feliz por isso também, “apesar de já estou sentindo sua falta aniki”, segundo ela. E quando contei sobre a aventura para chegar em Shibuya, não pude deixar de fora a parada que fiz no cyber café e comentar do garçom ruivo que me pagou um lanche. E aí eu tive que afastar o celular da orelha, porque ela entrou em surto!

Ótimo! Esquece o Yuu ojiisan e parte pra experiências novas! Você merece isso!

—Hana! Isso é conselho que se dê?!

—Claro que é! Você virou uma página da sua vida! Está recomeçando e isso quer dizer que pode conhecer outras pessoas e esquecer o ojiisan.

—Hana, esquece isso ta? Eu decido quando tenho que esquecer o Yuu ou tentar entrar num novo rolo.—Disse bem cansado e com a saudade do mais velho batendo. –Eu... tentei ligar pra ele... Ele me procurou...?—Eu precisava saber dele. Saber se já tinham falado para ele que eu não estava lá. Se ele havia me procurado... e Hana era a única que poderia fazer isso. O silêncio que se seguiu na linha me incomodou. –Hana?

—Hai... Gomen Hayato... Ainda não esbarrei com nenhum deles.

—Hum... Mas você vai vê-los hoje na apresentação?

—Hai. Estava saindo quando você ligou. Bom, agora que não tem você lá, não preciso chegar tão cedo, não é?

—Se ver o Yuu...

—Eu falo que você está bem.—Ela concordou. –Mas agora que você está aí, como vai ser? O que pretende fazer a partir de agora, Hayato?

—Primeiro preciso de um emprego...

Depois disso a conversa durou pouco e prometi à Hana que ligaria no dia seguinte para contar mais sobre o dia em Tokyo, mas só se ela fosse ao show e também me contasse sobre os caras. Não havia dúvidas que eu queria era estar lá então, como não podia, queria que ela fosse e me trouxesse notícias. Eu queria que ele soubesse onde eu estava e que estava pensando nele, porque eu estava. Que eu não queria ter saído do jeito que saí. E eu sabia que os outros iriam encarar minha falta como um ato covarde ou desrespeitoso com a banda. Eu só não queria que ele pensasse assim. Queria continuar mantendo o contato com Yuu, mesmo que por e-mails. É insistência minha também. Mas o que posso fazer? É meu primeiro namorado!

 

Bem, no dia seguinte que cheguei a Tokyo recebi o convite para almoçar com Aya obasan, mãe do Jin.

Encontrá-la foi muito bom e, em certo ponto, intrigante. Ela é uma mulher adorável, muito forte e muito diferente da minha mãe. Não que Midori não seja forte e adorável, mas é diferente. Aya-san não ficou à sombra do marido, procurou ter sua própria independência financeira, bom... ela saiu daquele do interior onde morávamos e veio para Tokyo, não foi? Antes mesmo de se casar. Bem diferente da minha mãe que se casou com um homem tradicionalista e quando eu nasci se dedicou somente a casa e à família. Eu não acho isso errado, mas de certo modo, acho que pela forma como cresci vendo a relação dos meus pais, essa condição me incomoda um pouco. Ele nunca levantou a mão para ela, mas se algo não sai como esperado a culpa, provavelmente, será dela.

Mas Aya-san me deixou intrigado a respeito do Jin. Meu primo inspira cuidados. Não é que ele seja doente ou deficiente, mas é algo tão... Não sei se todos que o conhecem pensam assim, mas eu me preocupo com ele. Eu sei que temos pouco tempo de convivência, mas ele tem essa “coisa” que cativa e me faz ser super protetor porque é ele dizer que está saindo pra tal lugar que começo aqueles pensamentos começam a surgir “Não fale com estranhos, nem aceite nada deles, não ande em cantos escuros, tente não voltar tarde, me liga se precisar de alguma ajuda...”, além de “A que horas volta? Que tipo de lugar é esse?”. E quando Aya-san disse que não poderia julgar uma mãe por não desistir... Nossa! Se antes eu tinha alguma curiosidade sobre “como” ou “por que” ele é daquele jeito, a vontade dela “acertar” com o filho me deixou mais encucado. Sabe o monstrinho da curiosidade? Eu tenho um abominável e faminto.

Será que ele é vítima de bullying? Me perguntei isso algumas vezes depois do almoço com minha tia, mas se foi isso realmente não faço ideia... O que sei é que meu primo é uma criança grande, aliás, bem grande com seus 1,80 metros! Não que isso seja ruim, ter o Jin falando sobre seyuu³, mangás, vídeo game e a banda para ir além do overseas, faz ser menos difícil o dia seguinte. Ouvir ele falando naturalmente que uma desconhecida deu para ele um mangá só por acompanhá-la num Maid Cafe em Akihabara, é preocupante sim, mas também não deixa de ser engraçado. E ele falando com Trevas como se ela fosse um macho. E receber um “okaery” ou ouvir o “tadaima” dele todo fim de tarde está sendo bom.

O único problema que ainda não consigo me encontrar entre “as bagunças de Jin”. Pequenas pilhas de CDs, DVDs e mangás ao longo da casa e entulhado no quarto dele.

Deixe quieto, é o que venho me dizendo, um dia isso melhora... ou não.


Notas Finais


1- Leia “Ciúmes” escrita por mim e postada no Nyah! Fanfiction
2- Leia “Five Star” escrita pela Kaline e postada no Nyah! Fanfiction
3- Seyuu: Ator que faz as vozes dos personagens dos animes japoneses.



Próximo capítulo sai quando eu iniciar o capítulo 8.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...