História Confused Feelings of a Demon - Esse mordomo e a honra manchada.

Uma semana se passou desde àquela noite, Ciel havia se recuperado do resfriado e o clima na mansão aos poucos voltava ao normal. Sebastian vinha concedendo algumas regalias a ele, como acordar tarde e tomar banho em plena dez horas da manhã. E era o que faziam agora. 

Sentado entre as pernas do mordomo, Ciel descansava a cabeça em seu ombro, discutindo com ele sobre o último caso da rainha. A água começava a esfriar e a espuma já tinha se desfeito, deixando a cor turva novamente.

“Então você encontrou com o tal demônio?” Ciel ficou surpreso, pelo visto muitas coisas aconteceram durante o período que esteve doente. 

“Sim, naquela noite eu saí da mansão assim que vi você e Elizabeth juntos. Eu precisava espairecer os pensamentos ou… Enfim, acabei vagando sem rumo até chegar ao centro de Londres, e foi lá que encontrei Aron, o demônio responsável pelos assassinatos.”

“E você conseguiu descobrir quem é o mestre dele? E se essa pessoa é a mesma que procuramos?” Ciel ficava cada vez mais curioso. 

“Não e sim. O mestre de Aron é de fato o assassino de seus pais, mas eu não descobri o seu nome.” O mordomo confessou. 

“E porquê não o matou já que teve a chance?” Ciel não entendia porque o demônio não tinha feito isso, caso tivesse feito, agora ele estaria consumindo sua preciosa alma. 

“Digamos que eu tive alguns imprevistos.” Sebastian preferiu colocar dessa forma. “Não se preocupe bocchan, teremos outras oportunidades de pegá-lo, agora estamos a um passo de sua vingança.” Ele deu um sorriso complexo. “Agora, está na hora de sair da banheira, a água já está fria e não podemos correr o risco de você ter uma recaída.”

“Pare de ser chato, demônio! Eu não sou tão frágil assim. Agora continue a massagem. O que mais você ficou sabendo?” Ciel se acomodou melhor entre suas pernas, dando a entender que não sairiam cedo dali. 

Sebastian viu que seria difícil mudar de assunto ou convencer Ciel a sair do banho, por isso ele não teve outra alternativa senão apelar paea o golpe baixo. “Veja, bocchan.” Ele apontou para a água. “'Ele' está com frio”. 

Ciel olhou na direção onde o mordomo apontava e viu que aquela região estava encolhida devido o frio. Seu rosto corou, o outro realmente sabia como deixá-lo constrangido.

“Coitadinho! Se continuar encolhendo assim vai acabar sumindo.” Sebastian disse penalizado, fazendo carinho no membro de seu mestre. 

Ciel revirou os olhos, sabia que Sebastian o provocava para tirá-lo da água e que não pararia enquanto não conseguisse isso. Para não se estressar tão cedo, ele resolveu ceder e saiu da banheira. 

“Demônio maldito.” Ele resmungou ao sentar na cama para enxugar os cabelos, sabendo que o demônio conseguiria ouvi-lo. 

E Sebastian ouviu, sorrindo vitorioso. Havia matado dois coelhos com uma cajadada só. Sabia que era só tocar na ferida do conde para não encontrava mais resistência dele em teimar com alguma coisa. Para provocar um pouco mais, ele falou alto para que ele pudesse ouvir.

“Bocchan, não se esqueça de deixa-lo bem agasalhado.”

“Vai à merda.” Ciel bradou. 

Ainda na banheira, o mordomo deu uma risada sonora, e isso deixou Ciel mais enfurecido. Ao contrário de antes, Sebastian agora tinha a audácia de rir descaradamente de sua cara. 

S&C

Em um dos clubes sociais de Londres, Francis conversava com outras senhoras. Era habitual elas terem esses encontros para o chá, onda colocavam os assuntos em dia e se atualizavam sobre as novidades referentes ao público feminino, principalmente sobre as vindas de Paris, a febre do momento. Acompanhar a moda francesa era questão de status entre as madames.

Logo quando chegou, Francis percebeu que suas amigas a olhavam de um jeito diferente e pareciam desconfortáveis com sua presença. Ela também percebeu que o assunto mudou com sua chegada, e que suas falas pareciam não serem ouvidas ou levadas a sério. Francis tentou ignorar isso. 'Francamente, o que diabos deu nessas velhas carcundas?'

Ultimamente sua cabeça estava uma pilha de nervos prestes a explodir. Francis ficou possessa quando Elizabeth dormiu na casa do noivo sem avisar ou ao menos na presença de sua dama de companhia. Se isso vazasse seria um escândalo sem proporções, ainda mais por se tratar de famílias tão conhecidas.

Ela já não estava satisfeita desde o dia em que flagrou os dois trocando carícias no jardim da mansão. Francis já havia passado por essa idade e sabia bem que os hormônios dos jovens noivos deveriam está a flor da pele, isso a deixava receosa da filha cair em tentação e se entregar ao conde antes do casamento. 

Alias, este era outro assunto que logo providenciaria, Lizzy já tinha dezoito anos e passava da hora de casar, e logo mais Ciel também teria a maior idade, então não haveria mais empecilhos para que o casamento acontecesse. 

A marquesa tentava a muito custo manter a atenção no que era discutido, mas hoje particularmente seu humor não era dos melhores. Não que como ela gostasse de ficar nessas rodas de assuntos inúteis, as madames fofocavam desde a vida do mendigo até a cor das ceroulas da rainha, porém participar desses círculos era necessário, visto que vinha de uma família influente. Seguir as regras de etiqueta era uma obrigação.

“Com licença, eu preciso ir ao toilette.” Ele disse educadamente, mas quase ninguém prestou atenção. 

Ela caminhou com certa pressa para o toilette, realmente precisava usar o banheiro depois de tanto tomar chá. Entrou em uma das cabines e começou o maldito ritual de se livrar de toda aquela imensidão de panos. Às vezes ela se amaldiçoava por ter nascido mulher, não bastava a sociedade machista, ainda tinha que passar o dia inteiro sufocada por essa quantidade de roupa. 

Algumas garotas entraram no toillete, rindo e conversando sobre assuntos fúteis. Francis revirou os olhos, o entusiasmo da juventude parecia agora extremamente desgastante. 

“Vocês já estão sabendo do boato que corre pelas ruas de Londres?”

‘Nem aqui eu não consigo me livrar das fofocas.’ Pensou sendo obrigada a ouvir o que as jovens fofocavam do lado de fora da cabine. 

“Sobre Elizabeth? A noiva do conde Phantomhive?”

“Sim, ela mesma, que escândalo!” Gargalhou.

“Não estou sabendo de nada, do que estão falando?” Disse uma terceira voz.

“Não acredito que não esteja sabendo!” Outra exclamou surpresa. “Ela dormiu na casa do noivo sem o consentimento da mãe, e o pior, sem sua dama de companhia. Não é muito difícil imaginar o que devem ter feito.”

“E tem mais, agora que a desonrou, dizem que o conde está enrolando para não casar. Será difícil Elizabeth encontrar outro bom partido não sendo mais pura. Que vergonha.”

“Que absurdo. Não será de admirar que logo apareça prenha.”

A marquesa ficava cada vez mais estarrecida dentro da cabine, então era esse o motivo do comportamento estranho de suas amigas. ‘Amigas da onça isso sim’. 

A velocidade com que o fato se tornou publico foi assutador, com certeza isso vazou pela boca da criadagem. Se tais boatos continuassem aumentando, e de uma forma tão distorcida, eles destruiriam a honra de sua família. 

“Vocês deveriam cuidar da própria vida, nunca ouviram falar que quem muito se preocupa com a vida dos outros se esquece da sua.” Francis saiu da cabine, a cabeça erguida, o nariz empinado. O olhar soberano de quem está no topo da pirâmide da nobreza

As jovens ficaram brancas igual cera ao lhe verem, olhando uma para a outra sem saber o que falar. Apesar de escândalo dessa proporção, elas sabiam que estavam em um nível bem abaixo do da marquesa, por isso não seria nada bom despertar a inimizade dela.

“Não que eu deva alguma satisfação a vocês, mas só a título de conhecimento, Elizabeth foi cuidar do noivo que estava doente e eu dei consentimento para isso. E mais, o conde não a desonrou, nem a faltou com respeito como estão dizendo.” Francis lavou as mãos, antes de sair do banheiro ela concluiu. “A propósito, a data do casamento será anunciada no dia do aniversario de Ciel, agora ao invés de ficarem espalhando mentiras por aí, espalhem essa verdade.”

Francis foi forçada a mentir para amenizar os boatos, porém em relação ao casamento ela falava sério, agora mais do que nunca esse casório aconteceria ou ela não se chamava Francis Midford. Saiu do clube com a cabeça erguida, mas com o orgulho pisoteado, agora tinha consciência do motivo dos olhares acusadores por onde passava. Francis queria gritar e mandar todos para o inferno, mas um novo escândalo só pioraria a situação. 

Foi direto para sua mansão ter um particular com a culpada de tudo isso, entrando que nem um furacão no quarto de Elizabeth. 

“Mamãe? Aconteceu alguma coisa?” Lizzy foi pega de surpresa pelo modo tempestuoso que sua mãe entrou. 

Francis nada respondeu, caminhou com passos duros até ela e deu um forte tapa em seu rosto, fazendo-a cair no chão com a marca de uma mão na bochecha. “Agora por sua culpa o nome dos Midford está sendo difamado na boca de toda a sociedade.” Os olhos verdes de Francis estavam escuros de raiva. 

“Do que a senhora está falando?” Lizzy passou a mão pela bochecha não conseguindo conter as lagrimas. Sua mãe sempre foi rígida, mas nunca chegou ao ponto de lhe bater, ela sinceramente estava com medo do que mais sua mãe poderia fazer. 

“Todos estão falando que você dormiu com Ciel, que ele a desonrou e por isso não quer mais casar. Você tem ideia do tamanho do erro que cometeu?” Quanto mais a marquesa falava, mais raiva sentia. 

“Mas nada disso aconteceu, nós não fize....”

“NÃO IMPORTA O QUE FIZERAM OU DEIXARAM DE FAZER.” Francis gritou, perdendo a compostura. “O QUE IMPORTA É O QUE ESTÃO FALANDO DE VOCÊ!”

Ela passou a mão pelos cabelos desalinhados pela agitação e respirou fundo para se acalmar, precisava se recuperar, afinal, se continuasse gritando os criados ouviriam e espalhariam mais fofocas. Alem do mais, caso não se acalmasse acabaria espancando a filha até a morte.

“Amanhã eu irei falar com Ciel, agora com esses boatos se espalhando não aceitarei mais que esse noivado se prolongue. Ele terá que casar com você nem que eu fique segurando uma arma em sua cabeça e o leve ao altar.”

Elizabeth começou a chorar novamente, Ciel já havia brigado com ela por ter dormido na mesma cama que ele, agora então ele provavelmente a odiaria. Ela sempre sonhou com o dia do seu casamento, mas não queria que este acontecesse devido a essas condições, forçado por um erro seu. 

“Vamos! Levanta daí” Francis a puxou pelos cabelos. “Vá se arrumar. Nós iremos a Nina encomendar seu vestido de noiva.”