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História Confused Feelings of an Earl - O luto e as lembranças


Escrita por: Milynha_Sh

Notas do Autor


Ola pessoal. Tudho bem?? Espero que sim!
Bem não tenho muito a falar, então deixa eu dar um aviso:
-O capitulo de hoje possui algumas falas do manga e do anime, e eu as adptei ao meu contexto, ok? Ok ne! Logo vcs irão entender He He He
-E acho que é só hshushushsuhs
Bjs e boa leitura!

Ps: desculpem os erros, o capitulo foi editado pelo celular.

Capítulo 23 - O luto e as lembranças


Ciel estava sentado no pátio da escola, observava as nuvens escuras cobrirem o céu e o vento frio levar as folhas amarelas das árvores que desfolhavam. Já havia se passado um mês desde a morte de sua mãe e tudo ainda era muito intenso para ele, como se ainda revivesse o dia posterior ao funeral.

Ele não se conformava com a morte da promotora, não conseguia se acostumar com a ausência dela, e era desesperador alimentar a esperança de chegar em casa e encontrá-la na cozinha, preparando o jantar. Algo que nunca mais iria acontecer, nada nesse mundo teria o poder de trazer sua mãe de volta. 

Todos os dias ele pedia para Vincent ir a delegacia saber se as investigações obtiveram algum avanço, porém os policiais não diziam muita coisa, apenas que o assassino ainda não fora identificado, e isso revoltava ainda mais Ciel. Quantas pessoas ainda teriam que morrer até acharem esse monstro?

Seu celular vibrou, era uma mensagem de Sebastian perguntando como ele estava. Decidiu ignorar, não estava com cabeça para lidar com ele agora. A morte de sua mãe e a necessidade de fazer justiça eram as únicas coisas que tomavam conta de seus pensamentos. Dia e noite. Minuto a minuto.

“Abriu uma sorveteria perto daqui. Você quer ir lá depois da escola?” Yan, que já estava sendo ignorado desde o início do intervalo, resolveu quebrar o silêncio. A situação se tornava cada vez pior, Ciel a cada dia ficava mais calado e interagia menos, havendo vezes que passavam a manhã inteira apenas sentado um ao lado do outro, sem dialogo algum.

“Acho melhor não.” Ciel não tirou os olhos do céu. Até admirava a persistência do amigo em animá-lo, mas ele não possuía disposição para nada. “Vou aproveitar para revisar as matérias.” 

Yan suspirou, mesmo entendendo a situação difícil pela qual o outro passava, ainda assim era cansativo levar tanto revés. Dava vontade de desistir e deixá-lo sozinho com sua dor. Talvez esse fosse o melhor a se fazer, ou talvez não, Ciel poderia fazer alguma besteira consigo mesmo. 

Ele suspirou outra vez, aquele desanimo começava a afetá-lo também. “Sabe, você pode se abrir comigo, falar sobre o que está sentindo, sei lá, dizer o que está preso dentro de você... Eu li que isso ajuda a superar o luto.”

“Então você anda lendo sobre isso?” Ciel sorriu um pouco, não conseguindo imaginar o baterista fazendo aquele tipo de leitura.

“Não é o meu tipo predileto de leitura, mas se isso for ajudar a entender melhor o que você está passando... Por que não!?” Yan deu ombros. “Eu estou preocupado com você, seu pai está preocupado com você... Todos estão preocupados com você.” Ele já havia até recebido um telefone de Vincent, pedindo para que ficasse de olho em Ciel e que conversasse com ele e o fizesse interagir, pois tinha medo que seu filho entrasse em depressão. “Você está a cada dia mais fechado, quase não conversa com ninguém e vive trancado no seu quarto. Seu pai até falou que você está vendo menos o seu namorado. Por mais que essa seja uma fase difícil, você não pode se excluir do mundo. Isso não fará bem para o seu psicológico.”

“Eu realmente não estou te reconhecendo, por acaso você virou algum especialista em terapia do luto?” Ciel revirou os olhos. Entendia que Yan estava certo, mas ele ainda não conseguia voltar a sua rotina normal, parecia desrespeitoso com à memória de sua mãe. “Eu estou bem, apesar de não parecer.”

“Que bom que você admiti não parecer.” Yan sorriu e lhe fez um cafuné, bagunçando totalmente seus cabelos. “Eu só não quero que você fique andando com essa cara de peixe morto por aí.”

“Ei!” Ciel deu um soco em seu braço, depois arrumou os cabelos. A sorte era que como seus fios eram lisos, então era fácil arrumá-los novamente. “Eu não estou fazendo cara de peixe morto.”

“Está sim.” O baterista assentiu. “Você está com esse olhar super sexy...” Imitou o menor, fazendo a mesma expressão sofrida com a qual ele aparecia na escola ultimamente.

Ciel não aguentou e riu pela primeira vez depois da morte de sua mãe. “Sério que eu estou andando assim?”

“Sério! O seu querido Sebastian deve estar a cada dia mais atraído por você.” Apesar de não gostar de Michaelis, Yan não se importaria de usá-lo se isso melhorasse o humor do menor.

“Que vergonha.” Ciel teve que admitir que precisava melhorar sua atuação. Não imaginou que era essa a imagem que estava repassando as outras pessoas.

S&C

Quando saiu da escola, Ciel encontrou Sebastian parado em frente ao portão do colégio, escorado no carro estacionado do outro lado da rua. E a expressão dele não era das melhores, mesmo por trás daqueles óculos escuros era possível sentir seu olhar penetrante. 

“Porque você não respondeu as minhas mensagens, nem atendeu as minhas ligações?” O demônio não fez questão de disfarçar seu mau humor. Odiava ser ignorado, algo que vinha acontecendo com frequência nos últimos dias.

“Eu não estava num bom momento.” Ciel entrou no carro, preferindo assumir que havia ignorado as mensagens e ligações de propósito à ter que inventar alguma mentira. Era menos trabalhoso. “Eu quero ir para a minha casa.”

Sebastian começava a ficar verdadeiramente irritado com o comportamento arredio do menor. Ele nunca antes havia sentido tanta falta do conde rabugento quanto agora, pelo menos o Ciel anterior não ficava choramingando pelos cantos. “Por que você não quer ir para a minha casa?”

“Tenho que estudar.” Ele mentiu.

“Eu estou admirado com o quão estudioso você anda ultimamente.” O demônio foi sarcástico, farejando de longe a mentira ali. Se não quiser ficar perto de mim, pelo menos seja direto.” 

Ciel deu de ombros, decidindo não se pronunciar. Pelo visto seu namorado estava bastante irritado dessa vez, o que era compreensivo, pois ele fazia de tudo para se aproximar e sempre era afastado. Nenhuma paciência resistiria a tanto gelo, e com Michaelis não seria diferente. 

Mas Ciel não fazia isso por realmente querer, e sim por precisar de um tempo só para si, se isolar para conseguir compreender e processar tudo que estava sentindo. O dialogo dentro do carro morreu até chegarem em frente a sua casa.

“Obrigado pela carona.” Antes de sair do carro, seu braço foi puxado pelo moreno, o impedindo de sair.

“Eu sinto a sua falta.” Sebastian resolveu deixar o orgulho de lado. Alguém ali tinha que ceder. “Nós quase não nos vimos nas últimas semanas.”

Ciel o olhou surpreso, não esperava essa confissão. Ele se sentiu até mal pelo desprezo que estava dando no namorado. “Desculpe por isso.”

Não era exatamente isso que o demônio esperava ouvir, preferia algo do tipo ‘eu também sinto a sua falta’ ou algo parecido, mas o pedido de desculpa também era bem vindo. “Eu posso pelo menos passar a tarde com você?”

“Você não voltará para a empresa?”

“Não. Estou com a tarde livre.” O demônio negou.

“Está bem, mas só se você fizer um bolo de chocolate para mim.” Ciel resolveu se render, até porque duvidava que Sebastian o deixasse em paz sem antes fazê-lo aceitar. “Com bastante cobertura.”

S&C

“Pronto! Agora é só deixar assar.” Sebastian colocou a forma dentro do forno. Tirou o avental e lavou as mãos para tirar o que ainda restava de farinha de trigo. “Acho que estou merecendo um beijo como recompensa.”

As bochechas de Ciel ficaram rosadas. Em sua opinião, um simples beijo se tornava algo embaraçoso quando pedido. “Você só merecerá a recompensa depois que eu provar o bolo e ver que ele está bom.”

“Quantas vezes eu terei que falar para você que tudo que eu faço é bom.” O demônio foi até Ciel e o imprensou contra a mesa. “Nesse caso eu exijo um pagamento parcelado: meio beijo agora, e meio beijo depois que você provar o bolo. É um acordo justo.”

Ciel sorriu, achando isso um tanto fofo. Somente seu namorado para fazê-lo esquecer das tormentas que estava enfrentando. “Você é impossível!” Abraçou o moreno e aproximou seus lábios dos dele, cedendo ao acordo. 

Foi um beijo com sabor de saudade, há dias não mantinham esse contato. As mãos do demônio contornavam com suavidade a lateral de seu corpo, acariciando sua cintura por cima do uniforme escolar. Ciel afundou os dedos nos cabelos da nuca dele e o trouxe para mais perto. 

“O que acha de me levar para conhecer o seu quarto?” Sebastian estava no limite de seu autocontrole.

“Você já conhece o meu quarto.” Ciel revirou os olhos.

“Mas isso não impede de usarmos isso como desculpa para ir até lá.”

“Nós não faremos sexo.” Ciel deixou claro, ele ainda não se sentia confortável em retomar a vida sexual. “A morte da minha mãe ainda está muito recente e eu acho que seria uma falta de respeito com ela, principalmente por que estamos em casa e... Eu só preciso de um pouco mais de tempo.”

“Sem sexo então.” Não era isso que Sebastian esperava, mas pelo menos estava no lucro de poder passar a tarde perto do rapaz. “Prometo que serei um bom garoto e irei me comportar.”

“Acho que as palavras ‘bom garoto’ e ‘comportado’ não combinam muito com você.” Ciel brincou, o puxando na direção do quarto. Ele não conseguia imaginar um Sebastian recatado, e, esse era um diferencial do Sebastian de seus sonhos, o mordomo com o qual sonhava era mais reservado que o Sebastian real.

Assim que chegaram no quarto, Ciel se jogou em sua cama, sua cabeça doía e ele sentindo-se mais cansado que o normal. O demônio ainda andou um pouco pelo quarto, explorando o lugar. Sendo Vincent um tremendo inconveniente, as poucas vezes que esteve ali foram rápidas, pois o médico sempre tratava de expulsá-los para a sala, ou para onde os olhos dele ou de Charllote pudessem alcançar. Agora sem ter ninguém para vigiá-los, ele poderia observar com mais calma a coleção de livros, revistas e jogos que haviam ali.

“Você não vem deitar?” Ciel mantinha o antebraço por cima dos olhos. Começava a ficar sonolento.

“Já estou indo.” O demônio tirou os sapatos e a gravata, o terno havia ficado na cozinha. Deitou ao lado de Ciel, observando que suas bochechas ficavam mais rosadas. Tirou o braço do rapaz de cima do rosto e encostou sua testa a dele. “Você está febril.” Constatou.

“Já desconfiava disso. Acho que vou resfriar, isso sempre acontece no outono e inverno.” Na verdade ele sempre fora muito suscetível a resfriar, parecia ter o ‘dedo podre’ para isso. Depois de alguns minutos de silêncio, Ciel estranhou a calmaria. Abriu os olhos, recebendo o olhar penetrante de Sebastian.

Apesar de se sentir desconfortável por ser encarado com tanta profundidade, ele devolveu o olhar na mesma intensidade. Aqueles olhos eram tão incomuns, Ciel pensava. Eram belos e raros, e ele nunca cansaria de admirá-los. A mão do moreno veio até seu rosto e o acariciou com ternura. Então Ciel fechou os olhos e aceitou o carinho. O toque suave em sua pele o fez se sentir bem. Sentiu a respiração do demônio perto da sua e logo os lábios dele se encostaram aos seus, beijando delicadamente.

Ciel abriu os lábios, deixando Sebastian explorar sua boca. Havia luxúria no modo como a língua dele deslizava na sua. Calor, foi o que ele começou a sentir quando Sebastian deitou sobre seu corpo. Ele deslizou as mãos pela costa do moreno, sentindo a firmeza de sua musculatura. Sua vontade era de descer ainda mais e apertar suas nádegas firmes. Porem isso já estava ficando intenso demais.

“Sebastian...” Quebrou o beijo, sentindo o coração acelerado. “Você prometeu que se comportaria.”

“Eu estou me comportando, estava apenas beijando você.” Sebastian sorriu divertido. No fundo, agia de forma proposital. “Eu não tenho culpa se você vê malícia em tudo que eu faço.”

Ciel ficou embaraçado. De fato eles não faziam nada demais. Apenas se beijavam e estavam totalmente vestidos, e o moreno sequer apresentava sinal de animação lá em baixo. Ele se sentiu um pervertido, mas que culpa tinha se o beijo estava tão gostoso. Droga! A ideia de não fazer sexo começava a ir por água a baixo, mas ele sabia que se fizessem acabaria se sentindo com a consciência pesada depois.

“Acho melhor você dormir um pouco.” Sebastian saiu de cima do rapaz. Apesar de ter conseguido se controlar até agora, ele tinha certeza que acabaria fracassando caso continuassem naquela posição. O pênis semi rígido de Ciel roçava no seu e, mesmo sabendo que se insistisse mais um pouco acabariam transando, ele havia prometido que se comportaria. “Quando acordar, o bolo já estará pronto.”

“Está bem.” Ciel se sentia agradecido, pois estava quase cedendo a vontade de transar. “Lembre-se de colocar bastante cobertura.”

“Como desejar, meu lorde.” O demônio deu um beijo em sua testa e levantou da cama. Foi até a mesinha de estudos perto da janela e sentou na cadeira, observando a chuva que começava a cair.

Fazia algum tempo que ele vinha se questionando, se teria se apaixonado pelo Ciel da vida passada, se o mesmo possuísse essa personalidade de agora. Possivelmente não, esse Ciel atual era quase tudo que ele detestava antes. Ainda assim, Sebastian não compreendia como conseguia sentir tanta atração pelo rapaz, mesmo odiando aquele estado depressivo em que ele estava.

S&C

“38,5.” Vincent checou o termômetro. “Você sente dor de cabeça?”

“Muita.” Na realidade, Ciel sentia que sua cabeça iria explodir, e seus olhos saltarem das orbitas.

“Dor no corpo?”

“Não.”

“Dor de garganta?”

“Não.” Ele começava a duvidar se aquilo era mesmo um resfriado, ou uma tremenda enxaqueca. Ele sempre sentia fortes dores de cabeça quando chorava muito, algo que vinha acontecendo com frequência nos últimos dias.

“Certo.” Vincent suspirou, já planejando ligar para algum amigo tirar seu plantão de amanhã, ele não conseguiria trabalhar com o filho naquele estado. A saúde Ciel vinha em primeiro lugar. “Tome esse remédio. Se você não melhorar nós iremos ao hospital.”

“Não seja exagerado. Deve ser só uma crise de enxaqueca.” Ciel tomou o comprimido e deitou novamente, virando para o lado em que a claridade era mais fraca. “Desligue a luz quando sair.”

“Se você quiser, eu posso dormir com você.” O médico se prontificou. Devido a recente perda de Charlly e ao abalo emocional em que se encontrava, ele sentia um medo irracional de perder o filho também.

“Não é preciso.” Ciel falava sonolento. “E ficaria muito estranho eu dormir com o senhor.”

“Qual o problema?” Vincent não entendia o motivo daquela discriminação. “Você dormia com sua mãe.”

“Sim, mas ela era mulher.”

“Sebastian não é uma mulher, mesmo assim você já dormiu com ele.” Ele alfinetou, lembrando-se da viagem que os dois fizeram à Londres.

“Sim, mas é diferente. Nós fizemos outras coisas além de dormir.” Ciel sorriu fraco, sabendo que isso expulsaria seu pai.

“Basta! Depois dessa é melhor eu bater em retirada.” O médico fez uma expressão de desgosto. Dava até náusea imaginar seu filho com aquele homem. “Boa noite, campeão. Qualquer coisa é só gritar ou bater na porta ao lado.” Brincou.

“O mesmo.” Ciel puxou o lençol até o pescoço, devido a febre ele sentia um grande frio.

Depois de apagar as luzes, Vincent saiu do quarto, ouvindo os primeiros pingos de chuva caírem no telhado. Pelo visto cairia um temporal durante a madrugada. Foi para o seu quarto e escorou-se atrás da porta, agradecido por mais um dia que chegava ao fim. Era assim que ele vivia ultimamente, contando as horas para o dia acabar. Era maduro o suficiente para saber que só o tempo o ajudaria a superar o luto.

Tomou seu banho e deitou na cama, encarando o lugar vazio ao seu lado. Não estava sendo fácil, e o pior de tudo era que começava a sentir a falta de Undy. Desejava vê-lo, nem que fosse para apenas conversar.

S&C

Ciel estava preso em uma jaula. Suas mãos sujas e feridas apertavam cada vez mais forte a grade já suja de sangue, enquanto observava desesperançado a tudo o que acontecia no grande salão. O altar de pedra era preparado para receber mais um sacrifício e, ao redor deste, varias pessoas vestindo roupas e máscaras estranhas comemoravam com gritos e gargalhadas toda vez que um inocente era sacrificado.

Ele viu quando o menino, que antes também lhe fazia companhia, foi posto em cima do altar, deitado na pedra e teve os pulsos e tornozelos amarrados por uma tira de couro vermelho. Ciel ficou apavorado. Uma a uma as crianças eram mortas e, não havendo mais nenhuma outra viva alem dele, ele sabia que logo chegaria sua vez.

O alvoroço intensificou quando o líder do grupo iniciou o ritual, lendo palavras desconhecidas em um livro de capa antiga, parecia um clamor. O homem se aproximou do garoto empunhando uma adaga e a ergueu na altura de seu peito, o perfurando no coração. O grito de Ciel não foi ouvido, pois os risos ensurdecedores tomaram conta do lugar. Todos pareciam sentir prazer com o ritual macabro.

Ele observou aterrorizado o sangue do garoto escorrer de cima de altar e se juntar ao de tantos outros que já haviam deitado ali, formando uma poça avermelhada no chão. O odor ferroso e podre do sangue coagulado se tornava cada vez mais forte. A cerimônia deu prosseguimento e todos os participantes passaram a clamar junto ao orador, formando um coro. Ciel não entendia por que estavam fazendo aquilo com crianças inocentes. Não entendia como conseguiam serem capazes de algo tão cruel.

Ele sentia medo, e acima de tudo, ódio por aquelas pessoas, tanto que sua vontade era de matar uma por uma e sem qualquer piedade, usando da mesma crueldade que eles usaram com as outras crianças. Pagaria na mesma moeda, ou talvez pior. Muito pior. Ele apertou ainda mais a grade, trincando os dentes. Dê que adiantaria aqueles pensamentos tolos se não havia ninguém ali que pudesse lhe ajudar. Ninguém para estender-lhe a mão. Ciel estava sozinho e a beira da morte. Até o diabo havia lhe virado as costas.

Ao passo que o falatório tomava fervor, todos pareceram entrar em estado de transe e a celebração chegou ao ápice. Repentinamente a temperatura esfriou e o ar ficou pesado, então a claridade se tornou fraca e uma fumaça negra se espalhou pelo chão. Alguém vinha andando e, o som de seus passos ecoando pelo salão, causou um calafrio em Ciel.

“Seja quem for... Me ajude!” Mentalizou, implorando por socorro.

“ELE APARECEU!”

“O DEMÔNIO ESTÁ AQUI!” Todos começaram a gritar e a fazerem seus pedidos. Riqueza. Poder. Vida eterna. Tudo o que a ganância humana pudesse desejar.

Foi nesse momento Ciel entendeu o que acontecia.

“Esse não... Esse não... Esse não...” O demônio se esgueirava entre as pessoas, analisando a alma de cada uma delas. Nenhuma lhe parecia interessante. “Ohh..” Foi então que ele sentiu uma presença que aflorou seus sentidos, agitando seu interior. Em meio a tristeza e a dor. O ódio e o desespero. Esta pessoa o invocava, implorando por socorro. Procurou por ela igual a um cão treinado para caçar e, quando finalmente a achou, se viu diante de uma criança com visíveis sinais de maus tratos. “É esse!” Sorriu com a ironia. Então era aquele pequeno que o chamava, agarrando-se firmemente a escuridão. Ergueu a mão para o menino e foi atendido sem hesitação. “Você já se sacrificou o suficiente, agora é a sua chance de escolher se quer ou não fazer o contrato com o demônio e ter seus desejos concedidos.” Sorriu, mostrando suas presas. “O preço para ‘cruzar o rio’ já foi pago.”

Os olhos de Ciel brilharam intensamente e sua pupila dilatou deixando apenas um filete do azul profundo ao seu redor. Essa era a sua chance. A única oportunidade que teria de sobreviver e sair dali, e ele se agarraria a esse fio de esperança com todas as suas forças, mesmo que o preço fosse demasiado alto a pagar.

“Eu... Eu quero... Poder!” Seu desejo era exterminar todos os que um dia sujaram o nome de seus antecessores. Ele queria vingança! “Quero o poder de me vingar daqueles que desonraram o nome da minha família.” Ciel olhou bem para o ser a sua frente, não conseguindo ver com clareza suas feições em virtude da escuridão que o cercava. “Demônio... EU O CONTRATO!”.

“Está certo disso?” O demônio sorriu, ferino. Perguntava-se se aquela criança fazia noção do peso de sua decisão. “Uma vez que tenha rejeitado a fé, é impossível passar pelos portões do paraíso.” Alertou.

“E alguém poderia acreditar que foi Deus que te enviou?” Ciel respondeu afiado. Estava convicto de sua decisão. Para alguém que já estava a dois passos da morte, ele já não tinha mais nada a perder.

Ahh aquela determinação! Era extremamente excitante. Sem duvida entre todos ali, esse seria o melhor contratante que o demônio poderia escolher, apesar de se tratar de uma criança. “Então vos lhe pergunto mais uma vez: É vosso desejo firmar um contrato?”

“Basta!” Ciel grunhiu. “Firme o contrato e satisfaça o meu desejo.”

“Ótimo!” O demônio mostrou suas presas outra vez. A decisão estava tomada, não havia mais como voltar atrás. “Então marquemos nossos corpos com o selo do contrato. Quanto mais visível foi o selo, mais forte será o poder. Portanto, onde deseja...”

“Em qualquer lugar está bom.” Respondeu antes da criatura terminar de falar, pouco importava onde o selo ficaria, só o que importava era o poder que teria depois. “Quero um poder maior do que qualquer um!”

“Você é bastante ganancioso para seu tamanho.” O akuma se aproximou do garoto e o segurou pela cabeça, a empurrando para trás. Suas longas unhas negras afundaram nos cabelos acinzentados e sujos dele. “Bom, então... Colocarei o selo nesse seu olho grande, repleto de desespero.”

Dito isso o selo foi cravado no olho de Ciel, o fazendo agonizar. Mesmo somando todos os maus tratos que passou confinado ali, ainda assim não chegaria perto da dor que estava sentindo. O sangre desceu de seu olho esquerdo, traçando uma linha em sua bochecha. Sua alma agora estava acorrentada pela eternidade à existência do outro ser.

“Agora me ordene a qualquer coisa.” O demônio se afastou novamente, ansiando para saber qual seria a primeira ordem de seu novo contratante.

“Mate todos!” Ciel ditou firme, fazendo o símbolo do contrato cintilar em um tom púrpuro. Ele queria ver todos ali mortos.

“Como desejar!” Em meio à escuridão que o cercava, os olhos da criatura brilharam em um vermelho intenso, evidenciando sua identidade sobrenatural. O ambiente escureceu e penas negras começaram a voar. Então o demônio entrou em ação, obedecendo a ordem de seu mestre.

Ciel observou em meio à penumbra o vulto negro ceifar cada um dos que estavam ali, se movendo de modo tão rápido que era difícil acompanhá-lo. Ah aqueles gritos. Ciel podia sentir o terror em cada voz que clamava por socorro, implorando por misericórdia assim como outras crianças haviam feito antes de morrer. Toda aquela dor e sofrimento eram um balsamo para seu ser.

“Terminado.” A claridade voltou ao normal e o demônio caminhou para perto de seu mestre, notando um quase imperceptível sorriso em seus lábios. Esta criança humana sem duvida era interessante e daria um bom passatempo até consumir sua alma. “Qual o seu nome, mestre?”

“Meu nome é... Ciel.” O menino ergueu a cabeça, mostrando mesmo naquela situação deplorável em que se encontrava, a imponência de um nobre. “Ciel Phantomhive. Aquele que herdará a casa dos Phantomhive.”

O demônio sorriu, divertido com aquilo. Quanta asneira. “Então acho que terei que tomar a forma de um mordomo para estar a serviço de um conde.” E como um passe de mágica, ele mudou sua aparência, surgindo da escuridão um belo homem vestido com um fraque de mordomo.

“Agora tire-me daqui.” Ciel disse fraco, tomando ciência novamente de seu desgaste físico.

“Certamente.” O akuma o pegou no colo e caminhou para fora do casarão.

“Destrua tudo.” Ciel ordenou assim que chegaram a saída. Queria poder queimar junto com aquela casa, todas as torturas que viveu durante o tempo em que passou nela.

O demônio não contestou. Colocou novamente Ciel no chão e foi até umas das elegantes lamparinas que havia na entrada do casarão, estendeu sua mão sobre o fogo, e este logo se espalhou pelas paredes, tomando em poucos segundos conta do lugar.

“Feito!” Observou em silêncio o modo como o menino parecia hipnotizado pelas chamas, curioso para saber o que se passava pela cabeça dele.

“Eu tenho três pedidos a fazer.” Ciel quebrou o silencio. “1.Quero que você me proteja e nunca me traia até que eu obtenha minha vingança. 2.Você deve me obedecer incondicionalmente. 3.E por último, nunca minta para mim.”

O akuma ficou surpreso com o quanto aquela criança era esperta, pois todos aqueles pedidos certamente seriam difíceis de realizar enquanto estivesse bancando o papel de um mordomo elegante. “Como desejar, mestre.” Colocou a mão no peito em reverencia.

“Alguém tentou destruir a linhagem dos Phantomhive.” Ciel continuou. “E tia Francis disse que a melhor oportunidade para atacar é quanto se está sendo atacado. Meu antecessor perdeu esse jogo, no entanto, eu não perderei. Como chefe da linhagem dos Phantomhive, eu juro que não perderei.”

O demônio abafou com sua mão uma risada, escarnecendo-se das palavras do garoto. Como humanos eram tolos!

“Qual a graça?” Ciel o olhou friamente.

“Você me disse para não mentir, no entanto, você me parece um mentiroso.” O demônio alfinetou, recebendo um olhar tão penetrante que voltou a ficar sério novamente. Ele pressentia que a convivência com aquele humano não seria fácil, porém, mesmo que o contrato durasse a vida toda daquela criança, ainda assim para ele não passaria de um breve instante. Portanto, se pudesse matar o tempo e obter uma boa refeição, ele estava de acordo em levar o tempo que fosse preciso. “Muito bem, mestre. Agora, voltemos à mansão!” Sorriu, simulando simpatia.

“Eu não sei a localização.”

“Ahn?” O mordomo não poderia estar mais surpreso.

“Eu não faço a mínima ideia de onde estamos agora. Eu não costumo sair por aí.” Ciel explicou. Como sempre teve uma saúde frágil, ele raramente saía de casa. “Eu tenho um parente no hospital, então vamos para lá primeiro.”

“Como ordenar.” O demônio se virou na direção do hospital, desfazendo a expressão simpática para uma de total decepção. No final das contas, acabou servindo um menino criado em berço de ouro. Que patético!

“Demônio, espere.” Ciel o puxou pela ponta do fraque. “Qual é o seu nome?”

“Aquele que meu mestre desejar.” Ele novamente fingiu simpatia, afinal, agora deveria se portar como um mordomo elegante.

“Então...” Ciel pensou por um momento. O mordomo era alto e se vestia com roupas negras, lhe lembrando aquela besta que sempre vivia no seu pé. “Sebastian. A partir de agora o seu nome será Sebastian.”

“Certamente. Então, por favor, me chame de Sebastian de agora em diante.” O akuma colocou a mão no peito em sinal de respeito. Pelo menos o nome era bonito. “Era esse o nome do seu mordomo anterior?”

“Não.” Ciel balançou a cabeça, tristonho. “Era o nome do meu cachorro.”

Apesar de continuar com um sorriso no rosto e o qual era totalmente falso, por dentro o demônio sentia vontade de esganar seu mestre. Ele se corrigia, no final das contas, acabou servindo um garoto terrivelmente desagradável.

***

Abruptamente o cenário mudou e Ciel agora estava deitado em uma grande cama, vestindo uma camisa social como pijama. Os moveis de madeira escura e bem talhada. As cortinas e lençóis de tecido nobre. A decoração refinada. A cama de dossel. Era o mesmo quarto com o qual sonhava antes.

“Bom dia, bocchan!” Sebastian abriu as cortinas, portando o mesmo sorriso de todas as manhãs.

Ciel sentou na cama, espreguiçando-se.

Para o seu desjejum temos Earl Gray, torta de amoras com raspas de chocolate e sconnes.” O demônio serviu a refeição.

“E quais as obrigações de hoje?” Enquanto comia, Ciel observava disfarçadamente seu mordomo. Havia algo diferente em seu comportamento. Talvez fosse algo em seu olhar, ou em seu modo de falar... Ou talvez fosse apenas impressão sua e estivesse prestando atenção demais em seu servo. Afastou o pensamento, era inadmissível.

“Em sua agenda de hoje consta apenas papeladas e contratos da Phantom... E a visita de lady Elizabeth hoje à tarde.” A voz do demônio sofreu uma leve entonação, ficando mais grave...

***

E então o cenário mudou outra vez, e outras vezes seguidas. Veio um baile. Um beijo. Um chalé. A picada de cobra. A entrega de seu corpo. O prazer. As brigas. As pazes. O flagra. A chantagem. O casamento. A decepção. O plano. A morte. A gravidez. A ordem da rainha. O sequestro. Um demônio. O alvo de sua vingança. Um tiro. O final do contrato e a despedida.

***

Ciel fitou os olhos do akuma, depois os lábios e cada detalhe de sua face. Queria memorizar cada pedaço de Sebastian, mesmo que depois de sua morte todas essas lembranças deixassem de existir.

“Sebastian... Eu nunca cheguei a te falar, pelo menos não abertamente... Mas eu sempre... Te amei.”

S&C

Ciel acordou. Caía um temporal do lado de fora e os fortes trovões faziam o chão estremecer. Ele olhou em volta, estava apavorado. As lembranças de sua vida passada se misturavam as lembranças atuais e davam a impressão de haver um furacão dentro de sua cabeça, deixando tudo confuso. Seu coração batia forte, chegando a doer. Era impossível. Era totalmente impossível. Ele deveria estar morto. 

Morto!

Enterrou as mãos nos cabelos, sentindo uma dor de cabeça lancinante, parecia que seu crânio explodiria a qualquer momento. Era irreal o que estava acontecendo. Aquele era seu quarto, sua cama, sua casa, mas ao mesmo tempo parecia ser um lugar totalmente desconhecido. Era como se de um minuto para o outro, tivesse sido jogado para outra dimensão, como se em questões de segundos ultrapassasse dois séculos. E isso não fazia o menor sentido.

Foi então que ele se tocou. Só havia uma pessoa que poderia explicar o que estava acontecendo.

“Sebastian, venha até aqui. É uma ordem.” O quarto permaneceu em silêncio, sendo quebrado apenas pelo barulho dos trovões. Isso irritou Ciel. “Venha, Sebastian! É UMA ORDEM!” Dessa vez as palavras saíram do fundo de seu âmago.

Nesse instante a luz do abajur começou a piscar, até que o quarto entrou na completa escuridão. O ar se tornou denso e uma presença sobrenatural arrepiou todos os pelos de sua pele. O cheiro inconfundível impregnou suas narinas, dilatando-as na intenção de capturar mais daquele aroma. 

Como não percebeu antes? Como não lembrou? Agora Ciel entendia porque sua ligação com aquele homem era tão forte desde o dia em que o conheceu. Era como se uma venda tivesse caído de seus olhos. Um relâmpago clareou o céu, iluminando o quarto e permitindo que uma silhueta fosse vista perto da janela. 

“Eu não pensei que um dia diria isso, mas eu senti falta desse comando... Bocchan.”


Notas Finais


Enton gente é isso o que temos para hoje! Acho que todo mundo já sabia que uma hora isso iria acontecer né, então acho que não foi nem surpresa rsrsrs.
Misturei as lembranças com os fatos da primeira temporada, pq ne, é meio óbvio kkkk
Por falar nisso, caraio já estou com o c* apertando para ver logo o novo cap de kuro, já vai ser o niver do shieru e do seu irmão Ciel e consequentemente a noite da tragédia. O que será a Yana aprontará dessa vez?????

Ps: se eu quero me matar? Sim ou claro?! Meo Deos, acabei de revisar, e o cap tava com tantos erros que puta que paril. Só eu mesmo senhior! Se pelo note eu já não sou essas coisas, pelo celular eu sou uma bosta kkkk


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