História Conjugue Amar - Capítulo Único - Conjugue Amar

O Ensino Médio era realmente difícil, mas não era algo com o que eu não conseguisse lidar. Minha vida era resumida em muito estudos e muita dedicação para que, um dia, eu pudesse entrar na faculdade dos meus sonhos. Para isso, eu precisaria aprender outra língua além do coreano. A direção da escola disse que colocaria o programa de línguas oferecidas no mural, mas por enquanto nada. Estou aguardando por isso quando o burburinho começou.

As meninas se amontoavam nos cantos dos corredores, abrindo passagem para ele e seus amigos. Cho Kyuhyun era bonito, esportista, inteligente e extremamente simpático. Ele conquistava as pessoas com seu sorriso e seu jeito legal de ser, já que ele não era arrogante como os outros de seus amigos. Isso o fez tornar-se popular muito rápido, principalmente entre as garotas. Era óbvio que, se eu tivesse que ter alguém como meu primeiro amor, não seria alguém como ele. Alguém inalcançável. Alguém que jamais iria olhar para mim.

Claro que meu coração não achava a mesma coisa.

Eu não era imune ao charme de Kyuhyun e, quando eu percebi, estava nutrindo uma quedinha por ele. Ok, uma queda enooorme. Mas não é como se eu fosse correndo atrás dele, afinal de contas. Nós havíamos nos falado algumas vezes pelos corredores, já que ele era meu colega de classe, mas era basicamente sobre provas e alguns trabalhos da escola. Eu tinha quase certeza de que ele nem sabia o meu nome.

Ele escorou-se na outra parede, de frente ao mural, o que fez com que eu virasse e ficasse olhando para o mural vazio. Eu provavelmente estava fazendo papel de boba (ou estava parecendo alguém muito ansiosa para a lista), mas não me importei. Logo percebi que nossa coordenadora estava vindo com a lista. Ela a colocou no mural, e alguns dos alunos vieram para o meu lado para lê-la. Inglês, japonês e chinês esgotariam em poucos minutos. Eu já havia feito algumas dessas aulas, mas dessa vez eu queria algo... diferente. Alguns alunos saíram correndo para conseguirem vagas nas línguas mais disputadas, enquanto eu fiquei ali lendo o resto da lista.

Espanhol era uma língua legal, mas eles falavam muito rápido. Eu sentia que, mesmo se morasse na Espanha durante anos, nunca entenderia o que eles falariam. Fiquei curiosa quanto ao alemão, mas lembrei de uma vez que havia visto um vídeo em alemão. Eles pareciam estar xingando o tempo todo, o que me fez dar uma pequena risadinha com a lembrança. O corredor estava quase vazio agora; eu percebi que precisava me decidir logo. Então eu li: português. Lembrei de quando minha prima havia viajado para o Brasil. Ela havia gravado duas amigas conversando. As duas conversavam e riam o tempo todo, o que me fez pensar em um povo feliz. Português era difícil, mas pensei que, com esforço, eu conseguiria. Sorrindo, eu me virei. Kyuhyun ainda estava ali, o que me fez tomar um susto. Ele deu uma risadinha.

- Já sabe o que escolher?

Acenei com a cabeça positivamente.

- Estou em dúvida ainda sobre o que escolher. Você pode me ajudar? - ele perguntou, saindo de sua posição original e parando ao meu lado. Ele leu a lista, e eu fiquei lendo junto. Ele ponderava cada uma das possibilidades.

- Inglês, japonês e chinês estarão lotadas. Os alunos devem estar se estapeando agora mesmo por uma vaga. - ele virou-se para mim, sorrindo, o que me fez sorrir também. - O que você escolheu?

- Português. - eu disse.

Ele acenou com a cabeça.

- Português... Brasil, Portugal, certo? São países interessantes. Sem dúvida uma grande língua. - ele colocou as mãos nos bolsos, levantando um pouco os ombros no processo. - Então, nos vemos lá.

Ele estava virando-se para ir embora, mas ouvi minha voz perguntando.

- Espera. Você vai fazer português também?

- Por quê não? - ele disse, virando-se e dirigindo mais um de seus sorrisos para mim. - Se eu tiver dificuldade, posso te pedir ajuda, certo? - ele virou-se novamente e saiu. Esse pensamento me fez sorrir, mas eu realmente precisava ir me inscrever logo.
 

xx
 

Algumas aulas depois, eu sentia que estava pegando o jeito. Existiam coisas extremamente difíceis, como os verbos, mas eu já arriscava algumas frases completas. Meu professor havia morado durante muito tempo no Brasil, o que me passava segurança na hora de aprender. Eu realmente me dedicava: via aulas on-line e baixava pela internet alguns livros de literatura brasileira. Havia alguns complicados para iniciantes como eu, então meu professor me emprestou alguns livros que ele tinha em coreano e português. Meu professor era bastante prestativo. Ele me indicou alguns sites que eu pudesse estudar, o que me ajudou bastante. Dentro de meses, eu já estava bastante avançada.

Kyuhyun ia em todas as aulas. Ele sentava no fundo da sala - como sempre fazia - e isso me deixava um pouco nervosa. Pretensão ou não, eu me sentia sempre observada por ele. Nos finais das aulas, sempre trocávamos algumas palavras, mas eram comentários sobre a aula, nada além disso. Conversar com Kyuhyun sempre deixava meu coração batendo mais forte.

No fim de mais uma aula, ele veio conversar comigo.

- Você escolheu uma língua bem difícil para mim, não? - ele disse, sorrindo.

- Foi você quem falou que queria! Eu não falei nada. - eu respondi, olhando para baixo.

- Ya! Eu só estava brincando. - ele continuou. - Querendo ou não, eu estou com dificuldades. Lembra quando você disse que iria me ajudar?

- Na verdade, você disso isso. - falei, olhando para ele.

- Você é um dicionário? Aish, tão literal! - ele deu uma risada, e me peguei rindo disso também. Não era a primeira vez que eu ouvia isso. - Então, você vai me ajudar a estudar?

- E-eu? - perguntei, perdida.

- Claro! - Ele colocou seu braço em volta dos meus ombros, como se fôssemos amigos. Eu fiquei paralisada. - Você e eu, parceiros de estudos, rumo ao Brasil! - ele fez uma cara fofa ao me olhar. - Diz que sim?

- C-claro! - eu disse, ainda um pouco encolhida (e surpresa!) por causa do contato repentino.

- Ótimo! - ele disse, batendo as mãos uma única vez. - Vamos nos encontrar todos os dias depois da escola, certo?

- Todos os dias? - eu parecia um gravador. O que há de errado comigo? Apenas tente manter uma conversa normal.

- Sim. - ele abriu um sorriso gigantesco. - Eu quero muito aprender português. - Virando-se, ele saiu, mas continuou falando. - Todos os dias! Rumo ao Brasil!

xx

Eu estava muito nervosa. Eu falava para mim mesma que tudo não passava de dois colegas de classe estudando juntos. Kyuhyun estava apenas sendo aberto e me pedindo ajuda. Mas meu coração gritava outra coisa, e isso me enlouquecia.

Nas aulas, ele parecia interessado e concentrado. Quando éramos só nós dois, ele parecia descontraído, mas concentrado da mesma forma. Ele evoluía rapidamente nos estudos, e saber que eu havia feito parte disso me deixava orgulhosa.    

- Agora vamos para os verbos.

Ele revirou os olhos.

- Os verbos são difíceis.

Nós dividíamos sanduíches e refrigerantes que ele havia trazido para nossa aula particular. Estávamos no jardim da escola, onde havia grandes mesas e cadeiras para que os alunos pudessem estudar ao ar livre. Eu adorava aquele lugar. Kyuhyun havia me levado para uma mesa mais afastada, já que toda vez que tentávamos estudar do lado de fora, éramos interrompidos por algum de seus amigos ou alguma de suas várias fãs.

- Pelo menos aqui não seremos incomodados, então é mais fácil. - eu disse, enquanto pegava o livro.

Ele deu um sorriso, mas não era o sorriso normal dele. Ele parecia... nervoso. Coloquei minha mão em cima da dele, tentando passar conforto.

- Não fique nervoso. Eu não sou professora, também estou aprendendo. - eu disse, dando um sorriso. - Os verbos são difíceis no começo, mas depois você se acostuma.

Ele continuou me olhando, então achei que era um sinal verde para que eu continuasse.

- Os verbos em português têm três terminações: -ar, -er e -ir e podem ser conjugados em vários tempos, mas vamos começar com os mais fáceis. As terminações em -ar são mais fáceis de conjugar. Por exemplo, o verbo amar.

- Amar é um verbo transitivo direto. - ele disse, como se tivesse esperado o tempo todo para dizer isso. Eu sorri com o esforço dele.

- Isso! Agora, conjugue "amar."

- Eu te amo. - ele falou. Meu coração bateu um pouco mais rápido e descompassado ao ouvi-lo falar essas palavras de forma tão séria e... honesta. Eu baixei a cabeça, olhando para o livro.

- Eu já ouvi assim, mas acho que o correto é "eu amo você". - eu disse, tentando desesperadamente não ficar vermelha na frente dele.

- Seohyun. - ele chamou, e eu levantei os olhos para encará-lo. Ele estava muito perto de mim. Eu engoli em seco e ele fez o mesmo. - Eu te amo - ele disse, dessa vez em coreano. E me beijou de uma forma tão gentil e amorosa, que achei que iria me derreter ali mesmo. Ao separar nossos lábios, ele olhou diretamente nos meus olhos. - Eu venho te observando há tanto tempo, e eu te amo. 

- Eu também te amo, Kyuhyun. - Eu sorri, e nossos lábios se encontraram novamente.

Ele me abraçou. Era tão boa a sensação de estar nos braços dele.

- Parece que eu vou te levar ao Brasil, afinal de contas.

Nós dois rimos.

É, parece que você vai, sim.