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História Connected: BTS Fanfic - Covinhas


Escrita por: marolafics

Notas do Autor


Anyonghaseyo <3
Capítulo uma hora adiantado por motivos de: ninguém ia poder postar nove horas, então deal with it.
Comentem o que acharam =D

Capítulo 17 - Covinhas


Jung Hoseok POV

—– Você precisa prestar mais atenção, secretária Min – mordomo Lee repetiu. —  O jovem-mestre detesta que suas roupas fiquem mal arrumadas.

Concordei com a cabeça sem prestar muita atenção, o foco dividido entre a conversa deles e a tela da televisão. Estávamos no meu quarto e, como eu me recusara a sair para que os funcionários fizessem seu trabalho rotineiro de arrumar tudo, o burburinho de suas conversas atrapalhava o som do noticiário da noite.

—– Sem movimentos circulares, secretária Min! – a secretária Bak repreendeu.

—– Shh! —  o Mordomo Lee chiou, apontando com a cabeça para mim. —  O jovem-mestre está concentrado. Não falem alto.

‘’Parece que os jornais mundiais estão comentando sobre um assunto especial, repórter Shin’’ – uma repórter comentou e, de repente, a tela por trás deles ficou repleta de fotos minhas — ‘’A aparição de Jung Hoseok, herdeiro da multinacional Grupo Shinhwa, na lista de patrocinadores do próximo grande projeto da empresa, deu o que falar. O assunto apareceu na capa como matéria principal nos sites dos maiores jornais asiáticos, americanos e europeus.’’

—– Jovem-mestre – Mordomo Lee soou curioso. —  Estão falando de você.

Assenti, surpreso. Aparentemente, meu pai se esquecera de avisar que eu estava patrocinando algo. Bem, pelo menos agora eu sabia o que eram os papéis que eu havia assinado durante a reunião.

—– Mordomo Lee? – fiz uma careta, pausando o noticiário enquanto a repórter fazia um resumo sobre mim para os telespectadores. —  O que você achou dessas fotos?

O Mordomo Lee estudou a tela da televisão antes de falar, em dúvida.

—– Senhor, estou procurando suas asas, porque certamente o jovem-mestre parece ser um anjo.

Eu sorri diante do elogio. O Mordomo Lee adorava inflar meu orgulho, e eu gostava quando o fazia. Era um senhor de meia idade que trabalhava para a minha família desde que eu me dera por gente, e ele me vira crescer – já me tirara de muitas enrascadas, assim como me colocara em algumas.

Passos fez com que virássemos a cabeça para a porta.

—– Jovem-mestre, seu amigo está aqui – a secretária Jo anunciou, adentrando no quarto.

Taehyung seguiu atrás dela, jogando sua bolsa em cima da poltrona e se sentando ao meu lado no sofá.

—– Não importa quantas vezes eu venha aqui, é sempre a mesma coisa – revirou os olhos. —  Pelo menos pararam de me revistar a procura de armas.

—– Se te faz sentir melhor —  dei play no noticiário — , a minha mãe faz até os funcionários serem revistados.

—– Acredite, se eu fosse te machucar, não seria fisicamente. Tenho uns vídeos que te causariam tanta vergonha que você iria implorar pra eu te matar.

—– Isso só não me preocupa porque eu tenho tanto material pra te queimar quando você tem de mim.

—– Aliás, você é o hyung mais egoísta que eu conheço —  Tae cutucou a minha bochecha, e eu afastei sua mão com um tapa. —  Podia ter aproveitado qualquer que tenha sido o meio que encontrou pra apagar a sua matéria da Dispatch e tirado aquelas fotos minhas na festa da CL também.

Franzi a sobrancelha.

—– Apagaram a matéria?

—– Foi —  Tae tirou seu celular do bolso. —  O que quer que tenha feito, deu certo —  ele mostrou a tela. —  Parabéns.

“Sua pesquisa não encontrou nenhum documento correspondente.”

—– Mordomo Lee, desligue a televisão —  pedi.

—– Por favor —  Tae deixou que eu pegasse o celular de sua mão — , me diga que você fez aquela garota se apaixonar por você. Faz tempo desde a última vez que ganhei uma aposta do Yoongi.

Atualizei a página e nada. Procurei pelas matérias com o meu nome e a última publicada havia sido mês passado, em um evento beneficente. Nada sobre a festa na YG – nada sobre Lee Yuri. Nenhuma foto minha levando um tapa.

Por um instante, uma onda de alivio atingiu meu corpo.

Para, logo em seguida, uma onda de terror tomar seu lugar.

—– Mordomo Lee —  chamei. —  Você tem algo a dizer sobre isto?

O senhor de cabelos grisalhos abaixou os olhos para a tela do celular estendida em sua frente, como se não soubesse do que se tratava.

—– Não entendo porquê eu teria algo a dizer sobre isto, jovem-mestre.

—– Porque você acompanha todos os meus passos e os relata para a minha mãe. Sabe que não fui eu quem fez isso.

Ele semicerrou os olhos, respirando fundo.

—– Se me permite, jovem-mestre – fez uma reverência, dando alguns passos para trás — , eu preciso cuidar das plantas.

—– Temos jardineiros para isso.

—– Bem —  hesitou — , eu preciso cuidar do jardineiro para que ele cuide das plantas.

Tae abafou uma risadinha.

—– Acredito que já tem alguém sendo pago para fazer isso —  arqueei a sobrancelha. —  Mordomo Lee, você trabalha comigo há anos. Deve saber que meus modos de persuasão podem ser tão atrativos quanto os da minha mãe.

—– Jovem-mestre, eu não sei do que você está falando —  ele levantou o rosto, a culpa transbordando em suas feições.

—– Nossa, Mordomo Lee, o senhor mente bem mal para um capacho da Sra. Jung – Taehyung falou, não exatamente o ofendendo.

—– Eu realmente não... —  ele mordeu o lábio, hesitando diante do meu olhar. —  Tudo bem, me desculpe. Eu anotarei o número da Srta. Yu, da Dispatch. Ela explicará o que aconteceu.

—– Não vai se arrepender, tá trabalhando com o lado da vitória —  Tae estendeu a mão para um highfive, ao qual o Mordomo Lee respondeu alguns segundos atrasado, de um modo um tanto antiquado.

—– Ah —  minha voz soou decepcionada — , é tão fácil assim arrancar uma coisa de você, Mordomo Lee? —  soltei um muxoxo. —  Agora eu já sei como a bruxa descobriu quando eu fugi de casa aos 8 anos. 

Ele fez uma reverência.

—– Perdão, jovem-mestre.

—– Ora, vamos, vamos —  Tae empurrou seu ombro para cima, levantando-o. —  Não precisa disso. Aposto que ela te subornou.

Liguei a televisão novamente.

—– Não precisa se envergonhar, ela faz isso com todo mundo.

—– É verdade —  Tae assentiu. —  Semana passada ela me mandou um monte de roupas da coleção nova da Armani. Achei gentil da parte dela deixar eu ficar com tudo, apesar de não falar quem era a menina que deu o tapa na tão sagrada face do garanhão aqui.

—– Fala sério, ela aumentou pra quanto o seu salário? – perguntei, voltando o noticiário para analisar melhor as minhas fotos. —  Quantos mil wons?

Ele engoliu seco, ainda constrangido.

—– Cinquenta.

—– Eu também teria feito o mesmo no seu lugar —  Tae levantou os polegares.

Antes que eu falasse o quanto poderia tê-lo pago, senti meu celular vibrar em meu bolso.

Jung Shinhwa: Você viu a reportagem sobre você? Estou orgulhoso, os novos acionistas já demonstraram interesse em conhecê-lo.

Sorri, inflando o peito. Tae se esticou para ver a tela do celular ao mesmo tempo que uma nova mensagem chegou.

Jung Shinhwa: Sei que prometi estar em casa neste final de semana para pescar com você, mas aconteceu um imprevisto na minha agenda e estarei no Japão. Sinta-se livre para usar o jatinho neste final de semana, leve seus amigos para Helsinque ou Londres e fique em um dos hotéis da família Kim. Pode usar o meu cartão.

—– Oba! – Taehyung comemorou. —  O jatinho está liberado! Nada como a culpa de um pai pela ausência em casa para dar presente aos filhos.

—– Eu não estou a fim de viajar pra lugar nenhum, na verdade.

—– Você tá brincando, né? – se surpreendeu, não exatamente irritado. —  Sempre que ele deixa o jatinho ao seu dispor, você passa quase três semanas longe de casa. E comigo junto.

—– Não estou no clima, Taehyung.

Ele hesitou, e então soltou um suspiro. Colocou o braço em volta dos meus ombros.

—– Imaginei. Se quiser, eu posso te levar pra pescar. Sei que você estava animado pra isso.

Funguei, tirando seu braço de mim.

—– Obrigado, mas, imperativo do jeito que é, você iria espantar todos os peixes.

—– Bem, a gente pode sempre pescar mulheres, se você preferir. Eu, com certeza, prefiro.

Estendi meu dedo do meio para ele, que riu.

—– Agora, odeio tirar esse sorriso do seu rosto —  falou, alcançando sua bolsa na poltrona ao lado do sofá — , mas preciso de ajuda com o dever de matemática financeira. E você tem a obrigação de me ajudar. Aquele professor dificultou as coisas só porque você chegou. Fala serio, 80 questões? Ele quer matar a gente?

—– Ele obviamente tem muito tempo livre pra elaborar tudo aquilo.

—– Até parece que você não fez tudo antes de dormir. Eu te conheço.

—– Eu não vou te dar minhas repostas, Kim Taehyung – mudei de canal.

—– Ah, por favor! —  insistiu. —  Você me deve essa. Já me fez perder a oportunidade de ganhar a cueca do Min Suga. Vai me fazer reprovar também?

Revirei os olhos.

—– Não me culpe pelas falhas na sua vida.

—– Hyung! Eu nem quero todas. Eu já fiz as trinta primeiras antes de perceber que era uma completa perda de tempo e não conseguir me obrigar a fazer mais nada.

Suspirei.

—– Mordomo Lee, traga meu caderno de anotação nº 143 – pedi. —  Já vocês, secretárias Min e Bak, estão dispensadas.

Elas se reverenciaram antes de sair do quarto.

—– É a secretária Bak que é formada em fisioterapia? – ele perguntou.

—– Também.

—– Foi ela quem fez a massagem nos meus pés depois do treino de futebol nas olimpíadas da universidade?

Assenti, mudando de canal.

—– Secretária Bak! – chamou, se esticando no sofá. —  Não vá embora!

 

***

 

      — Eu não vou ficar aqui pra testemunhar confusões da sua família – Taehyung reclamou, tentando se libertar do meu abraço. — A gente é irmão até certo ponto.

Escutei o Mordomo Lee sair rapidamente do quarto, levando consigo o restante dos funcionários.

—– É apenas uma briga de casal, esqueçam que viram isto —  o escutei cochichar enquanto se apressavam pela porta.

Bem, talvez fosse o que parecia. Eu estava abraçado à cintura de Tae, impedindo-o de me deixar só para enfrentar minha mãe mais tarde.

— Você disse que estaria do meu lado para dar apoio moral!

—– É, bem, estava me referindo a Londres e Helsinque – revirou os olhos, batendo em mim com um travesseiro para me obrigar a soltá-lo. —  Não me entenda mal —  pausou, me empurrando — , eu te amo e —  desistiu do travesseiro e pegou a borda do sofá, puxando seu corpo para longe de mim —  vou te apoiar sempre.

—– Isso quer dizer que vai ficar?

—– Não. Quer dizer que vou te apoiar, só que de longe.

Dessa vez, quando ele me empurrou, nós dois caímos do sofá – porém, em vez de abraçado com a sua cintura, eu estava atrelado às suas pernas, enquanto ele batalhava para se levantar.

—– Na minha família —  ele se pôs de pé — , as brigas sempre acabam com alguém indo dormir num dos nossos hotéis, mas, na sua? —  deu um passo sofrido para frente, suportando todo o meu peso nas pernas. —  Teve uma vez que o seu tio ficou com tanto medo da sua mãe que reforçou o número de seguranças da casa dele.

—– Ela nunca faria nada contra você, ela te ama! Gosta mais de você do que de mim.

—– Mentiras! Entre ter controle na sua vida e eu, ela me comeria vivo! E não no bom sentido.

O soltei, enojado, e ele caiu no chão.

—– Cruzes, Taehyung, socorro. Como é que eu vou dormir com uma imagem dessas na cabeça?!

—– Se vira!

Ele começou a engatinhar em direção à porta, e eu me joguei em cima dele.

— Se você ficar ela vai me maltratar muito menos!

— Se eu ficar ela vai me maltratar também! E eu não tenho nada haver com isso.

Ele jogou seu corpo para trás, e seu peso fez todo o ar dos meus pulmões fugir momentaneamente.

— Eu prometo te ajudar a sarar as suas feridas, Jung Hoseok, mas não posso fazer isso se ela decidir me machucar também.

— Ela não é o Jay-Z ou algo do tipo. Ela trabalha com tortura psicológica, e uma coisa que você não tem é juízo. Não vai conseguir te atingir, fica calmo.

— Eu tô calmo, porra – ele me deu uma cotovelada, fazendo-me sair de cima dele.

Foi quando o som de salto alto se pôde escutar pelo eco do corredor para o meu quarto. Só podia ser uma pessoa. Nós dois estremecemos.

— Agora não estou mais —  sussurrou.

Levantamo-nos rapidamente. Tae arrumou meu cabelo e eu ajeitei a gola da sua camisa apressadamente.

— Eu te dei as respostas de matemática financeira! Sou seu hyung! Vai mesmo me deixar só?

— Vou.

Minha mãe bateu na porta antes de abri-la.

—– Traidor —  sibilei.

A Sra. Jung estava com um vestido preto com bolinhas brancas (ou seria branco com bolinhas pretas?) e não levantou os olhos do celular quando passou pela porta.

—– Recebi suas mensagens. Sobre o que quer conversar? Oh, Kim Taehyung, a que devo sua presença?

—– É um imenso prazer ver a senhora —  sorriu, e eu bufei.

—– Vejo que anda fazendo bom uso dos presentes —  apontou para a blusa que ele usava, um sorriso gentil no rosto.

—– Mas é claro! —  ele pegou seu celular no sofá. —  Mesmo se você me desse jujuba de presente, eu me sentiria o cara mais agradecido do mundo. Infelizmente, agora eu preciso ir.

—– Mas já? Você não está aqui há muito tempo; quando eu saí esta tarde você ainda não tinha chegado. Por que não janta conosco?

—– É, Tae —  coloquei a mão em seu ombro, convidativo. —  Porque não janta aqui?

—– Não posso, tenho um grande encontro esta noite —  ele sorriu sugestivamente, arqueando as sobrancelhas.

—– Oh —  o rosto da minha mãe se iluminou. —  E quem é a moça sortuda, se me permite perguntar?

Ele checou seu relógio.

—– O nome dela é Serena, e eu estou atrasado. Vou ter que correr, se quiser chegar a tempo.

—– Não acredito que vai me trocar por uma cadela —– guinchei.

—– Jung Hoseok! Não vou admitir que você desrespeite mulheres as chamando de animais. Peça desculpas!

Bufei.

—– Não se preocupe, Sra. Jung, eu entendo que hoje foi um dia estressante para o seu filho. Bem, eu já vou indo. Foi um prazer.

Ele fez uma reverência antes de sair do quarto.

Filho da puta.

Encarei minha mãe, respirando fundo. Eu já era um adulto, francamente. Tinha que aprender a lidar com ela de algum jeito.

—– E então? —  ela arqueou a sobrancelha, sentando-se na poltrona graciosamente.

— Eu liguei para a Dispatch.

Ela nem piscou.

— Eu sei. A Srta. Yu avisou-me sobre sua ligação. Era sobre isso que queria conversar?

Pensei antes de responder.

—– Eu pedi para que me deixasse lidar com aquilo sozinho.

—– Semanas se passaram sem que você fizesse algo —  ela deu de ombros. —  Fui tola pensando que você tivesse me chamado aqui para agradecer pela minha ajuda.

— Você espera que eu agradeça? Pelo quê, exatamente? Se intrometer aonde não foi chamada?

Ela suspirou, decepcionada.

—– Você espera que eu simplesmente fique parada quando a solução para o problema é tão simples quanto uma ligação?

—– É muito mais que uma ligação, mãe —  respirei fundo. —  Um dia alguém vai descobrir todos os seus podres e não vai ter suborno no mundo que limpe o seu nome.

—– Você é bem pessimista, não?

—– Eu sei que você não vai parar de agir da maneira que age, e não cabe a mim decidir sobre a sua moral. Mas, quando o assunto é o meu nome, eu não quero que você se envolva. Muito menos de maneira ilícita.

—– Está preocupado que alguém descubra que eu usei o suborno para tirar a sua matéria do ar? Porque não precisa se-

—– Eu não quero você se envolvendo nos meus assuntos, entendeu?

—– Aprenda a não fazer besteira em rede nacional, então. Acha que eu gosto de sujar as minhas mãos?

—– Você não parece se importar. Já deve ter se acostumado, há tanto tempo no ramo.

Ela se levantou, e eu notei só então o quão enfurecida estava.

—– Não vou admitir que fale de mim desta maneira! Eu sou sua mãe.

—– E eu sou seu filho, e, até onde eu sei, nos diplomamos no mesmo dia. Nem por isso eu saio por aí te dando ordens.

—– Você não faz ideia de quão tolo está soando agora.

—– Eu só estou pedindo para que me deixe lidar com os meus problemas da minha própria maneira!

— Você? – senti a ironia banhar seu tom de voz. — Hoseokah, eu já estou cansada das suas promessas vazias. Você não me engana mais.

Aquilo me irritou, me fazendo perder a paciência.

— Então por que não desiste de mim?

Ela fez uma careta ofendida.

— Eu nunca faria isso. Você é meu filho, não importa o quanto nós brigamos.

Abri a boca para falar algo que com certeza faria eu me arrepender profundamente depois – quando o seu celular tocou. Ela me mandou ficar calado enquanto atendia.

— Quer saber —  soltei a respiração, de repente me sentindo exausto — , eu só esperava ter uma conversa civilizada, mas sinto que isso tudo só serviu pra estressar nós dois. Não é a toa que papai quase não pisa mais em casa – falei, me levantando do sofá. —  Por favor, atenda essa ligação.

Reverenciei-me e saí do quarto a passos largos.

Ela balançou a cabeça negativamente, pondo o celular em seu ouvido.

— Ela não aceitou a proposta? Triplique o pagamento e só me ligue quando tiver o contrato assinado.

 

Marchei até a garagem rapidamente, avisando ao primeiro funcionário que vi que não jantaria em casa. Peguei a chave da Ferrari que estava pendurada na parede junto às outras e entrei no carro. Só liguei o motor depois de estabilizar minhas emoções, ocupando a mente com outra coisa para esquecer a raiva e a tristeza.

Dirigi por muito tempo, sem exatamente saber para onde ia, de mente vazia. As luzes das ruas passavam como vultos, e uma sensação nostálgica me atingiu. Não era a primeira vez que eu fazia aquilo; saía para uma volta após uma discussão particularmente estressante com a minha mãe. Perguntava-me se algum dia aquilo iria mudar. Em algum momento, parei pra prestar atenção em onde estava.

Olhei para os lados, percebendo que dirigia no rumo daquele restaurante. Como que para justificar aquele comando inconsciente, meu estômago roncou.

Não era uma boa ideia, evidentemente. Mas eu queria me distrair, deixar de me sentir um filho ingrato e mimado. Era mais confortável sair de casa – onde eu era Jung Hoseok, o herdeiro do Grupo Shinhwa.

Sai do carro sem esconder meu rosto, já não me importando com ser reconhecido.

Queria que todos olhassem para mim.

Adentrei no restaurante, assustando-me com o som estridente do sino que ficava na porta. O lugar estava vazio, com apenas duas mesas ocupadas. Olhei em meu relógio de pulso, que marcava 23h, sentando-me em uma mesa próxima da entrada.

Peguei o cardápio e folheei-o, mesmo que já tivesse decorado toda aquela sequência de refeições. Com o canto do olho, observei Lee Yuri conversar com Jeon Jungkook e Park Jimin. De uma forma inesperada, o sorriso dela era reconfortante, e eu senti os sentimentos negativos se esvaindo de mim enquanto a observava. Era interessante o suficiente para me distrair.

— Eles estão falando sobre o Rap Monster, aquele rapper bonitinho.

Olhando para o lado, a mulher com o vestido florido me olhava com um sorriso.

Senti meu rosto ficar quente, tendo sido pego no flagra encarando Yuri novamente.

— Quem está falando sobre o rapper bonitinho? 

—– Tudo bem, eu acho que é normal você ficar de olho na sua paquerinha – disse, risonha. —  Muito fofo, na verdade.

Fiz-me de desentendido, esperando que ela seguisse a deixa e abandonasse o assunto.

—– Não sei do que está falando.

— Lee Yuri, a sua paquerinha – apontou, e então hesitou, olhando para o trio no balcão. Pensei que tivesse se arrependido da sua intromissão, percebendo o quão indelicada estava sendo, mas logo acrescentou: — Ou então eu li a situação errado e você prefere um daqueles meninos?

Meus olhos se esbugalharam.

—– Ãh, não.

Ela riu da minha reação.

—– É, você me parece bem hetero, mas nunca se sabe —  ela sentou-se na cadeira a minha frente. —  E então, como você conheceu Yuriah?

—– Hm, você parece ter entendido algo errado aqui, senhora.

— Park.

—– Perdão?

—– Os garotos me chamam de Senhora Park.

—– Ah, claro. Senhora Park.

Ela assentiu, entusiasmada.

—– Por que você não vai falar com ela? —  continuou.

Reprimi a vontade de revirar os olhos.

— Porque eu não estou afim dela.

— Então você é um stalker?

Eu fiquei mudo por alguns segundos.

Eu, Jung Hoseok, herdeiro de todo um império, stalker de Lee Yuri, garçonete no tempo livre?

Puff.

—– Você não parece um stalker —  ela continuou. —  Qual é o seu nome?

—– Jung Hoseok —  estiquei os ombros, na esperança de que ela me reconhecesse.

A Sra. Park assentiu, apontando para o cardápio na minha mão, obviamente sem noção nenhuma de quem eu era.

— Já sabe o que vai pedir, Jung Hoseok? —  o nome ganhou uma conotação carinhosa que me soou alienígena, por um momento. —  Se importa se eu te chamar de Hoseokie?

Eu fiz que não com a cabeça, pasmo. Porém, a sensação do apelido não me era desconfortável.

— Yuriah, querida! – ela acenou, chamando-a.

Eu fiquei boquiaberto, me sentindo traído.

— Não preci–

—– Sim, Sra. Park? – Yuri veio até nós sorrindo.

Foi um tanto cômica a maneira como seu sorriso murchou quando me percebeu.

— Você poderia recomendar um prato para este rapaz? – a mulher pediu. — Eu vou terminar de limpar as coisas na cozinha.

Então ela se retirou, deixando-me sozinho com Yuri.

Mas antes que ela falasse alguma coisa, Jungkook apareceu por trás dela.

— O expediente já está acabando – ele anunciou.

— Está querendo me expulsar daqui? – desafiei. — Mas ainda nem fiz meu pedido – falei, inocente.

Na verdade, eu estava exausto demais para comprar briga. Estava blefando; se me expulsassem dali, eu provavelmente sairia com o orgulho ferido, mas não revidaria. Não tinha energias pra um confronto naquela noite. Nem sabia por que tinha ido ali; só queria comer, olhar para Yuri – ela em si já era interessante o suficiente para tirar da cabeça os acontecimentos anteriores – e ir embora.

— O que está fazendo aqui, Jung Hoseok? – Yuri perguntou.

— Hoseok oppa – corrigi. — Ou então, sunbae. Você decide – dei uma piscadela.

—– Hoseokssi, nós não queremos problemas – Jungkook falou, sutilmente. —  Não aqui.

— Vocês são próximos? – questionei, referindo-me aos dois. —  Você é o namorado dela?

Jungkook hesitou antes de responder, olhando para Yuri.

—– Não acho que isso seja da sua conta —  ela semicerrou os olhos. —  Você está aqui por causa daquela matéria na revista? Porque eu já disse que-

—– Não precisa mais se preocupar com aquilo —  funguei. —  Já foi resolvido.

Ela hesitou.

—– Então por que está aqui?

—– Porque eu posso.

—– Mas aquele era o único motivo para-

—– Yuri, você é um tanto quanto cheia de si, não? —  abri o cardápio, explorando sua variedade de pratos. —  Talvez eu esteja aqui pela comida, e não por você.

—– Você realmente não se cansa de irritar as pessoas, ãh?

Concordei com a cabeça.

— É revigorante – confessei. — Você deveria experimentar, eu me sinto muito bem.

Ela balançou a cabeça.

— Faça logo o seu pedido e eu prometo que não cuspo no seu prato.

Apoiei meu queixo em minhas mãos, fazendo uma careta.

—– Não sei se vou conseguir comer depois dessa.

—– Uma pena, não é mesmo?

Jungkook abafou a risada.

— Bem —  a devolvi o cardápio fechado — , vou querer o mesmo que comi da última vez. Estava delicioso.

—– Vou pedir pra colocarem ainda mais pimenta —  ela sorriu. —  Talvez a sua língua exploda e você pare de voltar aqui.

 

— Eu fiquei com um pouco de pena, agora – fui surpreendido quando um prato pousou na minha frente suavemente. —  Está realmente muito apimentado.

— Oh, você se preocupa comigo. Que fofa – ameacei a apertar suas bochechas, fazendo-a se afastar.

—– Agora eu só quero mesmo é que você engasgue.

—– Não podemos deixar isso acontecer, não é mesmo? —  abri um sorriso presunçoso. —  Uma Coca-Cola, por favor. E vou querer num copo com gelo e limão.

Ela anotou no seu tablet, sua respiração forte.

— Mais. Alguma. Coisa? – disse, pausadamente.

— Carinho.

— Me poupe.

Dei um sorriso de lado, satisfeito, enquanto ela se retirava.

Nas primeiras garfadas, senti a sensação maravilhosa de ardência na minha língua. Eu jamais pensaria que a comida de um lugar tão popular fosse agradar ao meu paladar. Mas era incrível como o sabor era tão equilibrado. Aquela comida parecia mais caseira do que a da minha própria casa – de um jeito bom.

Diferentemente do que eu esperava, fui surpreendido quando a Sra. Park trouxe minha bebida.

— Você está gostando? – perguntou, entusiasmada. — Desde que eu abri o restaurante, muitos pratos saíram do cardápio, mas esse aí continua desde o início, firme e forte.

Assenti, pensativo.

—– É muito bom —  concordei. —  Uma pena que tenha uma clientela tão seletiva – falei, analisando o lugar. — Você já pensou em expandir o restaurante? Divulgá-lo melhor. Tenho certeza que depois de vir uma vez, as pessoas voltariam.

— Oh, muito gentil da sua parte dizer isso —  ela sorriu, orgulhosa. —  Mas, bom —  hesitou — , eu já pensei nisso. No entanto, as coisas já estão dando certo da maneira que estão. Eu não quero investir em algo que pode não trazer lucros. É algo que eu não posso me dar o luxo de fazer.

Eu parei de comer, analisando o que ela havia me dito.

— Eu tenho uma proposta para você, Sra. Park – falei, seriamente. — Você já pensou em ter um sócio?

— Sócio? – repetiu, apreensiva. — E você tem quantos anos? 

Eu dei um sorriso de lado.

— Deixe eu me apresentar – estendi minha mão para ela, que me olhava curiosa —: meu nome é Jung Hoseok, herdeiro do Grupo Shinhwa.

Ela arregalou os olhos, virando a cabeça de lado.

—– Isso é algum tipo de brincadeira?

—– Não, de fato, não. Eu estou interessado em fazer negócios com você.

— E eu deveria aceitar porque...?

—– Tenho certeza de que você não vai se arrepender.

—– Este não é um argumento muito válido —  ela fez uma careta. —  Você já trabalhou com restaurantes?

—– Bem —  hesitei — , não. Mas eu estudo administração e compareço às reuniões da empresa sempre que posso.

Ela arqueou a sobrancelha.

—– Não estou convencida de que deveria torná-lo sócio do meu estabelecimento, na verdade. Mas, obrigada pela proposta. Foi bem aleatório.

—– Sra. Park, eu posso voltar aqui amanhã para discutirmos este assunto melhor? Prometo que a farei mudar de ideia.

Ela hesitou, respirando fundo.

—– Por que você quer se tornar sócio do meu restaurante? Se for para impressionar uma de minhas funcionárias, seria realmente imprudente da sua parte. Um restaurante – qualquer estabelecimento – vêm com uma carga de responsabilidade tremenda. E Yuri não é do tipo que se impressiona por dinheiro.

—– Não, eu não pensei nela quando fiz a proposta —  prometi.

—– Então por que quer se tornar sócio daqui?

—– Bem, eu realmente gosto de administração —  comecei. —  E eu acredito no potencial deste restaurante. Quero dizer, eu só experimentei um dos pratos, mas o restante dos clientes parece muito satisfeito; o atendimento é bom; a localização é favorável, uma vez que é perto de várias lojas e de outros restaurantes; a rua aqui na frente é espaçosa e tem bons lugares para estacionar. A estrutura é, de certa forma, reconfortante; quase como uma casa, só que formal o suficiente para um estabelecimento. Acredito que o que falta, realmente, é um diferencial – algo que faça as pessoas se lembrarem deste restaurante antes de qualquer outro. E, claro, de uma divulgação adequada. Talvez, se nós-

—– Mãe, estou indo para casa —  a voz de Park Jimin me interrompeu. —  Você vem comigo?

—– Em um minuto, filho —  ela respondeu.

Ele assentiu e, quando nossos olhares se cruzaram, ele sorriu. A gentileza no olhar que ele me dispôs me desarmou, considerando tudo que ele passara sob o meu nome (se bem que eu mesmo não tivera nada haver com o cartão vermelho dele).

—– Bem, Jung Hoseok —  a Sra. Park chamou — , por que você não volta amanhã para conversarmos melhor? —  ela semicerrou os olhos, sorrindo. —  Se você me convencer com as suas propostas, podemos ir adiante com o contrato.

—– Será um prazer —  sorri, estendendo minha mão para ela apertar.

Nos despedimos, e eu peguei meu celular para começar as minhas anotações. Trabalharia mais quando chegassem em casa. Tirei fotos do restaurante – aproveitei e tirei uma foto de Yuri enquanto ela estava distraída limpando uma mesa – e do cardápio, fazendo observações diante do que poderia ser melhorado.

Percebi, então, que convencê-la era muito importante para mim. Eu não a conhecia, ela não me conhecia. Se eu conseguisse provar a um desconhecido o meu valor profissional, o quão orgulhoso meus pais ficariam? Era uma motivação ridícula, mas não era a única; eu queria por todos aqueles anos de estudos a prática. Provar meu valor a mim mesmo.

Aquele parecia ser o lugar ideal para que eu usasse todo o meu conhecimento.

 

Eram 01h. Eu ainda estava sentado na mesma mesa —  agora limpada por Yuri — , mexendo no celular. Cometi o erro de tirá-lo do modo avião para pesquisar algo específico na internet sobre restaurantes, e, de repente, várias notificações bombardearam a tela. 30 chamadas perdidas da minha mãe, do Mordomo Lee e de Taehyung. Meu Kakao estava lotado de mensagens de Tae.

Tae: E aí?

Tae: Ainda não acabou?

Tae: Hyung, você não ficou realmente zangado por eu ter ido embora, ficou?

Tae: Hyung, por acaso a sua mãe te matou? Ou você desligou o telefone só pra me deixar preocupado?

Tae: Você tá no jatinho, não está?

Tae: Liguei pro Mordomo Lee. Ele disse que você pegou a Ferrari e não voltou. Quer dormir aqui em casa?

Tae: Liguei pra Cassidy, ela disse que você não apareceu em nenhum dos hotéis Kim. E você não está na casa do Jin e nem na do Yoongi. Está tudo bem? Estou realmente preocupado.

Hoseok: Estou vivo e bem. Relaxa.

 

O restaurante estava vazio. Jungkook foi o último a ir embora – ainda hesitante em deixar Yuri sozinha. Eu nem pretendia ficar tão tarde ali, mas também não queria voltar para casa ainda. Além de que tinha muito material para trabalhar antes da minha reunião no próximo dia com a Sra. Park.

Levantei os olhos quando Yuri soltou um gemido de esforço, carregando pratos demais ao mesmo tempo. Ela caminhou lentamente até a porta da cozinha, e eu não pude mais vê-la.

Balancei a cabeça involuntariamente, sentindo que algo ruim iria acontecer.

No exato momento que a porta fechou, o silencio absoluto anterior foi interrompido por um arquejo surpreso seguido de um estrondoso barulho de pratos quebrando. Levantei-me com rapidez, assustado, sentindo a adrenalina nas veias.

— Yurissi?!

Abri a porta da cozinha com cuidado, afastando com o pé os pedaços de prato que atrapalhavam a abertura da porta. Yuri estava no chão, agachada, com um olhar extremamente culpado trajado no rosto.

— Você está bem? – perguntei, andando até ela desviando dos cacos.

Toquei suas costas, que se arquearam com o contato.

— Estou bem, eu acho.

— Você acha?

Com uma mão em seu ombro e a outra em seu cotovelo, ajudei-a a se levantar.

Assim que ficou de pé, nós dois avaliamos seu corpo a procura de ferimentos. Ela tirou alguns cacos de seu avental, limpou os joelhos e esticou os braços. Esperei que ela terminasse sua auto avaliação antes de falar algo.

— Dói alguma coisa? — perguntei.

— Não.

Ela suspirou com pesar, olhando para a pilha de pratos quebrados no chão. Andou cuidadosamente até uma despensa e voltou com sacolas de lixo e uma pá.

— Você precisa de ajuda?

— Vá pra casa, Hoseok.

Pisquei, surpreso com sua resposta.

— Yuri, você- Você está sangrando! — apontei para o seu braço, horrorizado.

Ela olhou para a ferida, surpresa, e suspirou.

— Foi superficial.

— Você precisa lavar — reclamei, olhando ao redor; tantas prateleiras. — Onde fica a caixa de primeiros socorros?

— Hoseok, não precisa se preocupar. Eu vou ficar bem. Vou limpar esses pratos e então vou pra casa fazer-

— Deixe esses pratos, amanhã alguém os tira daí. Você precisa-

— Não, faz parte do meu trabalho limpar tudo para o dia seguinte.

Ela abriu a pia para lavar sua mão.

— Precisamos fazer um curativo, pelo menos — insisti.

— Farei um quando chegar em casa.

— Não, deve ter uma caixa de primeiros socorros aqui em algum lugar. Você procura enquanto eu cato esses cacos.

— Hoseok, eu não preciso da sua ajuda.

— Mas eu quero ajudar.

— Francamente, vá pra casa.

— É assim que você age quando uma pessoa quer te ajudar? – perguntei, impaciente.

Ela me ignorou, concentrada na tarefa em mãos.

Seus olhos estavam marejados, e uma sensação de desconforto se apoderou de mim.

— Deixe-me dar uma olhada nisso — me aproximei.

Ela me empurrou com o cotovelo – machucou mais emocional do que fisicamente.

— Eu não preciso da sua ajuda.

— Qual é o problema? Por que está chorando?

— Eu só quero ficar sozinha.

Hesitei, sem saber o que deveria fazer.

— Tem algo acontecendo? – insisti.

— Hoseok, eu realmente não quero que você me ajude.

— Por quê?

— Porque eu não quero dever algo para a pessoa que maltratou os meus amigos.

Minha boca ficou seca.

— Eu posso ter criado o cartão vermelho há muito tempo atrás, mas não fui eu que dei o cartão para Park Jimin.

Ela fechou a pia, pegando uma vassoura e voltando sua atenção para os pratos.

— Não estou falando só de Park Jimin — ela hesitou antes de continuar. — Ninguém que ganhou aquele cartão ridículo mereceu o que recebeu, e só de pensar que você se divertia com toda aquela ideia de superioridade me enoja.

— É por isso que você me odeia? – perguntei.

Provavelmente porque minha voz soou tão magoada, ela virou seu rosto para mim.

— Eu provavelmente vou me arrepender disso depois, mas, já que perguntou, vou te responder honestamente — falou seriamente. — Você pode não ter reparado, Jung Hoseok, mas a sua personalidade é altamente egocêntrica.

Franzi o nariz, sem interrompê-la.

— Sua boca suja, seu jeito arrogante de andar, seu rosto comprido e você se achar o cara mais importante do mundo – continuou. — Tudo o que você fez até agora te torna uma pessoa arrogante, e me lembram de alguém que eu realmente quero distância.

Ela fechou o saco de lixo e o jogou numa lixeira debaixo da pia.

— Não vou cometer o mesmo erro de confiar em gente como você duas vezes.

 

Lee Yuri POV

 

—– Então ela disse que vai comprar um pra você. Isso não é ótimo?! Unnie? Yurissi?

Só quando Jinhee estalou seus dedos na minha frente, eu me toquei que estava no meio de um dialogo.

—– Me desculpe, do que você estava falando?

Jinhee arqueou as sobrancelhas.

— Sua mãe disse que vai comprar um carro para você. Ela falou que nós podemos comprar com ela quando chegar de viagem.

Eu arregalei os olhos.

— Omo! Que coisa maravilhosa!

— Eu estou falando sobre isso há um tempo, já — Jinhee dobrou a cabeça, pensativa. — Sobre o que você estava pensando? Estava tão distraída.

Eu fiquei muda por alguns segundos, cogitando a ideia de mentir para minha dongsaeng.

—– Nada.

Ela abriu a boca, não convencida, e logo a fechou, assentindo. Ela me daria espaço, se eu quisesse. Ah, a doce culpa martelou meus ouvidos.

— Na verdade... — comecei, fazendo-a virar o rosto para mim. — Jung Hoseok conseguiu apagar as fotos da festa do Nam–

Repreendi-me mentalmente, lembrando que Jinhee não sabia dessa história. Espiei-a com o canto do olho, que assentia, não exatamente surpresa.

— Você está falando da matéria na Dispach? A sra. Jung deve estar longe do país, para as fotos terem ficado tanto tempo no ar.

Eu a encarei, perplexa.

—– Enfim – engoli seco –, ele conseguiu apagar as fotos da Dispatch. Mas, mesmo assim, ele não para de me perseguir. Ontem ele apareceu, novamente, no restaurante da Sra. Park.

—– Uau. Ou ele gostou mesmo de encher o seu saco, ou está muito desocupado. Sinceramente, eu nunca sei o que passa na cabeça dele.

—– Eu queria saber o que passava na sua cabeça para ter sido amigas daqueles garotos.

Jinhee travou, comedida. Quando respondeu, sua voz estava dois tons mais baixo.

—– Eles são bons amigos, quando os ares estão favoráveis.

Eu revirei os olhos.

—– É difícil de imaginar, me desculpe.

Ela assentiu.

— Depois de tanto tempo, até eu acho difícil de imaginar.

Abri a boca para fazer mais perguntas, mas a fechei. Jinhee ainda não estava confortável diante do assunto, então eu procuraria evitá-lo.

Eu levei mais um pedaço waffle para minha boca, saboreando-o. 

—– Como vai a faculdade, unnie? – questionou. —  Logo você, hater do F4, senta do lado de um deles na sala de aula.

Eu dei uma risada.

—– Seokjin é legal, diferentemente daqueles amigos dele. Ele é um oppa preocupado e humilde.

— Você certamente não falou desse jeito sobre ele semana passada.

— É, bem, a gente tinha brigado. Mas eu me senti mal por ter jogado tanta coisa ruim na cara dele que fui me desculpar depois, então já somos amigos de novo.

Jinhee olhou para mim com uma expressão confusa.

—– Então, você está apaixonada por Kim Seokjin? 

Eu mostrei a língua para ela.

—– De onde você tirou essas conclusões?!

— Bem. Nada de bom vem em se envolver com o F4, então o meu conselho é: se não puder evitá-los, tenha cuidado para não se apaixonar.

— Eu não me apaixono facilmente, Jinheeah.

Ela deu de ombros, dando uma última garfada na sua comida.

—– Geralmente pessoas que não se apaixonam facilmente tendem a se apaixonar por quem mais odeiam.

—– Eu e Jung Hoseok – fiz uma careta enjoada. —  Vou começar a odiar o G-Dragon para ver se tenho chances.

—– Eu não citei nomes – ela levantou a sobrancelha, brincando. —  Se você considerou a possibilidade…

—– Cala a boca, Choi Jinhee!

Ela riu. Terminamos nossos sucos em silêncio.

—– Jung Hoseok... — ponderou. — Por incrível que pareça, ele era um oppa legal.

— Hm.

Revirei os olhos como que desinteressada, mas com os ouvidos atentos.

—– Teve uma vez... na segunda série. Um garotinho puxou o meu cabelo e o Hoseok fez ele se desculpar. Ainda fez com que ele comprasse uma boneca nova pra mim.

Fiz uma pausa antes de pensar numa resposta.

—– Ele deve ter dito “se você não fizer o que eu mando, seus pais vão se mudar para a Coreia do Norte” – imitei sua voz, fazendo Jinhee rir.

—– Mais ou menos isso.

Hesitei.

—– Jinheeah... Não precisa responder se não quiser mas, hum. Por que vocês não se falam mais? O que aconteceu?

Ela mordeu os lábios.

—– Acho melhor falarmos de um assunto mais empolgante – sugeriu. —  Vamos assistir Animais Fantásticos e Onde Habitam depois das aulas?

 

***

 

Com um baque, o professor fechou o livro.

—– É isso. Por hoje estão dispensados.

—– Graças a Deus, essa foi a aula mais demorada de toda minha vida – resmunguei para Jin.

—– Pense pelo lado bom: só tem mais duas aulas dele amanhã e mais nada pelo resto da semana — ele guardou seu livro na mochila. —  O que você vai fazer hoje?

—– Vou para o cinema com minha dongsaeng – respondi. —  Mas provavelmente vou ter que esperar por ela no restaurante onde trabalho.

Ele concordou com a cabeça.

—– Quer carona?

Eu me surpreendi com sua proposta, mas a neguei gentilmente.

—– Eu vou com um amigo. Mas, obrigada pelo convite. Foi muito gentil.

Ele deu um sorriso largo, afastando para que eu passasse pelo corredor entre as carteiras.

—– Sabe – comentei —, não entendo como você faz parte do F4.

—– Sabe – retrucou —, não fomos nós que criamos esse nome.

— O que?

— F4. Nós não começamos com esse apelido.

— Ah.

Andávamos lentamente pelo corredor, seguindo em direção às escadas para o primeiro andar.

— Quem foi que criou, então?

— Ninguém sabe — deu de ombros. — Acho que tinha um mito na escola sobre a gente, então alguém criou um nome. Mas, antes de tudo, somos apenas bons amigos.

—– Inclusive Jung Hoseok? – franzi o cenho. —  Ele não parece ser bom pra nada.

Jin riu, pegando um chiclete no seu bolso.

—– Principalmente ele – falou. —  Foi ele quem nos uniu.

Ele me ofereceu, e eu recusei com um X no ar.

—– Oppa! – uma menina chamou, correndo até nós. —  Vamos ao Karaokê depois daqui, você quer ir conosco? 

Ele arqueou a sobrancelha para mim, me convidando, e fiz outro X no ar.

Assentiu.

—– Vou falar com ela – sussurrou. —  Sei que você as odeia.

— Bem, eu não diria exatamente que gosto, mas odiar é uma palavra forte.

— Hai, hai.

Ele se despediu.

 

 

O sino tocou quando entrei no restaurante.

Andei até o balcão, onde Jungkook e Jimin estavam sentados. Aproximei-me por trás, bisbilhotando o vídeo que eles assistiam no tablet.

—– Oh, Twice! — reconheci.

—– Shh, é a parte da Sana – Jimin nem piscou. 

Eu coloquei minhas duas mãos na cintura, rindo deles.

—– Na na na na na na na — Jungkook cantarolou.

—– Kotnoraega naodaga nado mollae — Jimin completou, afinando sua voz.

Puxei o celular da mão deles.

— Ya! É minha fonte de energia diária — Jimin resmungou.

—– Vamos logo, antes que eu bata em vocês.

—– Nossa, noona – Jimin resmungou. —  Que insensível.

— Você nem está trabalhando hoje — Jungkook falou.

— Vocês mesmos falaram que se eu os pegasse enrolando era pra brigar — mostrei a língua. — Ou já terminaram o seminário?

— Isso aí é com o Jungkook, eu nunca atraso nada.

— Estou quase acabando a minha parte — ele respondeu, se espreguiçando. — Hoje à noite eu termino.

Assenti, sentando ao lado deles.

— O que foi isso no seu braço? — Jimin perguntou, passando para o lado do balcão onde ficava o caixa.

— A sua mãe não te contou? Eu quebrei um monte de pratos ontem à noite.

— Ah, então as caixas na despensa devem ser pratos novos. 

— Ela já comprou?! — me levantei de súbito. — Eu falei que iria reembolsá-la.

— Ora, não precisa. Acidentes acontecem o tempo todo — Jimin fez uma careta.

Jungkook puxou meus ombros para baixo para que eu voltasse a me sentar.

— Eu quebrei mesmo muitos pratos. Uma pilha deles.

— Bem, se te faz sentir melhor, eu também já quebrei vários — Jimin relatou. — Não todos de uma vez, mas um bocado.

— O machucado foi muito feio? — Jungkook pegou meu braço levemente, virando-o para olhar o curativo.

— Foi superficial, apesar de ter doído muito depois. Ainda arde.

— Você quer o restante da pomada que a Sunhee noona me deu para machucados? Sobrou bastante, e é ótima.

Meu celular tocou.

— Oh, é a Jinheeah. Tenho que ir, vamos ao cinema. Vocês vão estar aqui quando eu voltar? Nós vamos jantar aqui, e depois vou cobrir o meu turno.

 

 

 

Quando voltamos ao restaurante, depois do cinema, fomos surpreendidas pela quantidade exagerada de pessoas que ocupavam as mesas. Hoseok estava sentado no balcão conversando animadamente com a Sra. Park, e suas fãs estavam nas mesas ao redor. Assim que nos viu chegando, ele acenou com a cabeça e, claro, foi ignorado.

A Sra. Park se levantou para nos cumprimentar.

—– Esse garoto é um anjo.

—– O diabo também era um – sussurrei para Jinhee.

— Tantas amigas vieram aqui perguntando por ele! — continuou. — Os negócios estão a todo vapor.

Jungkook acenou para mim, levantando a cabeça do seu projeto da universidade.

Ao meu lado, Jinhee arquejou quando um Jimin sorridente a abraçou por trás, pegando-a de surpresa.

— Como foi o filme?

— Foi ótimo. Você tem que ver.

—– Yuri, querida, você pode ir servir um copo de água para o Hoseokie?

Franzi o rosto diante do apelido.

—– Deixa que eu faço isso, mãe – Jimin propôs.

—– Oh, não, Jiminie — ela riu. —  Ele vai adorar que seja nossa Yuriah.

Eu olhei para Jungkook, como se falasse: “Eu vou me matar”. 

Ele sussurrou um “fighting” e levantou os punhos no ar.

Saí da cozinha rapidamente, caminhando a passos rápidos até Hoseok.

—– Sua água – falei, estendendo o copo.

Ele se surpreendeu ao me ver, semicerrando os olhos para a água.

—– Como posso saber se você não cuspiu aqui?

Eu dei de ombros. Ele estendeu o copo na minha direção.

—– Dê um gole – pediu.

Dei um gole rapidamente.

Ele pareceu satisfeito, bebendo logo em seguida.

— Garota esperta — piscou o olho. — Acabamos de nos beijar indiretamente.

 

 

***

 

Após o fim do expediente, tranquei a porta do restaurante e testei duas vezes para ter certeza de que estava fechada corretamente. 

Mas, logo após dois passos, algo me surpreendeu:

— Lee Yuri! – uma voz feminina desconhecida chamou, me pegando desprevenida.

Estava tarde – por volta de uma da manhã –, e, apesar de ainda passarem carros pela rua, normalmente ninguém esperava por mim.

Guardei a chave no bolso e me virei, procurando pela dona da voz.

— Qual é o tipo de relacionamento entre você e o Hoseok oppa? — perguntou.

Virei a cabeça na direção da voz, e um trio de garotas andava até mim. Estremeci, apavorada – uma delas (a dona da voz) segurava um taco de baseball que me pareceu extremamente ameaçador. Eu não sabia se deveria correr, mas elas pareciam ainda mais jovens que eu – vestiam uniformes escolares do ensino médio.

— Você não vai me bater com isso, não é? — perguntei, sorrindo nervosa. — Eu nem te conheço.

— Quem você pensa que é? – a mais alta questionou. — Para se envolver com Jung Hoseok?

— Vocês entenderam errado. Eu e ele não-

Elas pararam na minha frente, me cercando na porta do restaurante.

— Foi você quem deu o tapa nele na festa na YG, não foi?! — vociferou uma delas.

— Fique longe dele, está me ouvindo?

— Olha, eu realmente- Por favor, não toque em mim, eu não quero pro-

A menina empurrou meu peito, e eu bati minhas costas com força na porta atrás de mim.

— Você não é ninguém! — guinchou. — Se alguma vez voltar a sequer olhar para ele, eu vou ser obrigada a tomar medidas drásticas, está me entendendo?

Estremeci diante da ameaça. Ela deu um soco na porta exatamente ao lado do meu rosto.

— Está me entendendo?!

— Sim! Sim, estou — meus olhos iam do rosto dela para o taco de baseball que ela carregava nas mãos.

Então ela me empurrou para o lado, e eu me desequilibrei, caindo aos seus pés. Apoiei-me com as mãos, e senti meu machucado arder. Outra dor, porém, chamou mais minha atenção – algo duro e gelado empurrando minha cabeça para baixo. A ponta do taco de baseball.

— Você não vai-

— O que vocês pensam que estão fazendo? — uma voz masculina se aproximou.

Observei os pés das garotas darem passos em falso para trás, surpresas, para então saírem correndo. Quando levantei o olhar, observei-as se distanciarem rapidamente, cobrindo os rostos com os braços para que Hoseok não as reconhecessem. 

Sapatos masculinos apareceram na minha linha de visão.

— Eu sei que você disse que não quer minha ajuda – Ele colocou uma mão no meu ombro e a outra no meu braço, sustentando meu peso enquanto me puxava para cima. — Mas acredito que a culpa desse incidente seja minha. Eu devia ter previsto que algo assim iria acontecer. Sinto muito.

Eu segurei sua mão, temendo que minhas pernas falhassem.

— Obrigada — falei com a voz comedida.

— Você quer prestar queixa na polícia? — ele perguntou.

— Eu não... sei. Quero ir pra casa.

— Meu carro está- Ei, ei, Yuri. Não precisa chorar, elas já- elas já foram e, bem, eu estou aqui. Hm, tome. — Ele me estendeu um lenço.

— Obrigada – agradeci novamente, enxugando as lágrimas com mãos trêmulas.

Lenta e desajeitadamente, ele afagou minha cabeça, esperando eu me recompor.

— Fale alguma coisa — pedi.

— Perdão?

— Faça-me pensar em outra coisa. O que você estava fazendo aqui até agora?

— Ah. Ah, bem. Eu não sei se a Sra. Park te contou, mas estamos conversando sobre eu me tornar sócio do restaurante.

— Sócio daqui? Você?

— É. Eu tenho umas propostas bem legais para o estabelecimento, e, você sabe, era sobre isso que estávamos conversando hoje.

Ele estendeu a mão para mim, e eu a segurei. Deixei que me guiasse até o seu carro, estacionado no fim da rua.

— Eu estava anotando umas ideias no meu celular para mandar para um amigo. Queria a consulta dele, já que ele tem mais experiência no ramo que eu.

— Você está sério sobre isso ou quer se tornar sócio só para poder me encher o saco?

Ele riu, mantendo uma distância confortável entre nós.

— Estou sério. Quero por em prática aquilo que venho aprendendo desde sempre.

— Administração? Pensei que você só trabalhasse com empresas.

— Bem, um restaurante é uma empresa. — Hoseok abriu a porta do passageiro para mim, e correu até o banco do motorista. — Cada área utiliza termos diferentes, então me consultei com esse meu amigo. O fuso horário de onde ele está é bem diferente do daqui.

Me distraí momentaneamente da nossa conversa, agradecida pelos aquecedores estarem ligados.

— Hm, aliás, onde você mora? — perguntou, dando ré com o carro.

— Ah — eu sorri, dando-lhe o endereço.

Dirigimos em silêncio.

— Obrigada de novo — agradeci. — Não sei o que teria acontecido se você não tivesse aparecido.

— Eu sei que foi culpa minha – falou. — Peço desculpas por isso.

— Eu não sabia o quão doente essas garotas poderiam ser — soltei a respiração. 

— Não acontecerá de novo – ele estendeu seu dedinho para mim. — Eu prometo.

— Como você pode prometer algo assim?

— Porque eu não deixarei você sozinha – falou, seguro de si.

— E isso era pra me confortar?

— É tão difícil assim estar na minha companhia?

— Você é estranho — cruzei nossos dedinhos.

— Não tem absolutamente nada de estranho em mim.

— Não sei se prefiro quando você é gentil ou quando é irritante. É confuso.

Ele sorriu, satisfeito.

E, apesar de estar escuro, notei uma covinha surgir na sua bochecha.

Era fofo.


Notas Finais


Alguém notou algo?
Tipo
O início de algo?


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