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História Constelação - Casa assombrada


Escrita por: PatyNinde

Notas do Autor


27 dias depois, aqui estou.
Acho que vocês vão gostar do capítulo. Só um palpite.
:)

Capítulo 11 - Casa assombrada



Eu escuto barulhos
Despertado de meu sono
Estou assombrado pelos pensamentos que rastejam
[...]
Difícil acreditar
Que não está morto e enterrado
Eu quero acreditar que
Tudo está bem quando termina bem
Mas eu não consigo me convencer

(Ghosts- Banner)


Burocracias eram sempre burocracias, no mundo bruxo ou entre os trouxas. Ninguém em sã consciência faria trabalhos burocráticos sem antes reclamar um bocado e tentar terceirizar a função para todas as pessoas existentes na face da terra.

Hermione tentou persuadir quase todos os funcionários da prisão, mas ninguém estava livre para ir até a seção de controle portuário às sete e meia da manhã, em um domingo. Feggis tinha “negócios de Azkaban” para resolver, Cody não voltaria para a prisão tão cedo, e Delavick, o responsável pela condução das balsas, era amargo demais para se manter uma conversa que passasse dos triviais cumprimentos diários.

A burocracia da vez era a documentação portuária que daria a Malfoy a possibilidade de visitar a antiga casa de praia de seu avô no natal. Para isso ela deveria localizar a propriedade de Abraxas Malfoy, que não permitia o acesso de todas as embarcações no lugar que ele chamava de “sua ilha”, apenas as que ele escolhesse, o que dificultava ainda mais a busca.

Seria uma surpresa para o preso, e uma forma de ganhar a confiança dele. A ideia nasceu durante a noite, enquanto Hermione buscava estratégias para convencer Draco de que ele poderia se dar bem se fosse um preso cooperativo e começasse a falar.

A biblioteca particular que Hermione carregava em sua bolsa, por sorte, possuía o exemplar de “Nobres famílias do mundo bruxo”. O livro fora colocado lá por acaso, há muitos anos, quando achou que partiria com Rony e Harry para a missão secreta de Dumbledore, que no fim se revelou muito diferente do que ela imaginava. Agora, no entanto, o antigo volume da biblioteca de Hogwarts se mostrava de muita utilidade para sua pesquisa sobre a família Malfoy. Ele era pesado, robusto e muito, muito grande. Numa biblioteca comum ocuparia o espaço de pelo menos sete livros.

Hermione abriu a capa de couro, revelando páginas amareladas e cheias de poeira. O índice era precário, e ela precisou de alguns segundos para localizar o brasão da família Malfoy ao lado do lema “Sanctimonia Vincet Semper”. O nome do avô de Draco apareceu após o folhear cuidadoso de 30 páginas, e sua história ocupava menos do que a metade de uma folha.

Abraxas Malfoy foi um bruxo sangue puro. Fez parte do conluio que, em 1968, forçou o Ministro da Magia Nobby Leach (primeiro Nascido-trouxa a ocupar o referido cago) a deixar seu posto. Nada, entretanto, foi provado contra Malfoy.
Abraxas morreu de um caso de varíola de dragão, deixando muitas propriedades escondidas e outras protegidas de qualquer um que se atrevesse a possuí-la e não pertencessem à família Malfoy. Uma delas foi a Ilha de Allaine, que permanece escondida entre Inglaterra e França, pesquisadores acreditam que ela esteja situada no canal da mancha, sob a proteção de feitiços desconhecidos.”

Munida das pobres e genéricas informações do livro, Hermione foi arrojada ao decidir que cavaria o mais profundo que suas habilidades permitissem para descobrir a localização da Ilha e os possíveis feitiços protetores. O porto seria o melhor destino, e se estivesse em sua casa seria muito mais fácil aparatar até lá. Mas ela não estava em Hawkshead, nem na casa alugada pelo Ministério, pois as balsas não funcionavam durante a madrugada e, devido ao seu arroubo de curiosidade que a fizera voltar para Azkaban e questionar Draco acerca dos fatos novos sobre a pessoa dele , Hermione teve que passar a noite nos dormitórios da prisão. Lá pretendia ficar por pelo menos três dias, aproveitando para monitorar Malfoy. Ele não escaparia com facilidade, se era o que estava pensando. A reação do prisioneiro na madrugada de sábado para domingo não havia intimidado Hermione — muito pelo contrário, a instigara ainda mais a descobrir o que estava acontecendo.

Enquanto terminava de forrar a cama, ela deu uma última olhada no livro de famílias, colocado no chão para que ela pudesse organizar o quarto. Do lado dele também estava enfileirada uma pilha de jornais antigos que conseguira com Gina na última vez que tinham se encontrado no St. Mungus.

Havia postergado o momento de averiguar os acontecimentos do mundo bruxo enquanto vivia o seu luto e o período de reclusão, mas, como o sono não viera depois da noite conturbada e cheia de pensamentos, ela resolveu abrir a pasta com recortes e folhas inteiras do Profeta Diário.


Sendo assim, o livro e os excertos de notícias foram o passatempo da noite insone que rendeu bons frutos; Persuadir Malfoy com a possibilidade de uma propriedade para visitar nos feriados, e uma bela montagem de pedaços de jornal organizados em ordem cronológica num extenso rolo de pergaminho .

Hermione ainda estava agoniada com a história de Draco salvando Selma. Mas, agora, tinha um panorama de tudo o que havia acontecido na sociedade bruxa desde os primeiros sinais da guerra até o final dela. Pequenas notas de casamentos, falecimentos e nascimentos; manchetes e notícias que ficaram escondidas entre tantas outras e, claro, os artigos de Rita Skeeter. Ela sabia que, em algum momento, o salvamento de Selma seria citado.

A medibruxa terminou sua pequena arrumação e aproveitou para deitar um pouco e tentar descansar as costas que doíam pelas muitas horas que passara sentada defronte aos pedaços de jornais, tesoura e cola.

Poderia ter feito seu quadro de manchetes com magia, mas precisava esvaziar sua mente do encontro com Malfoy na madrugada anterior. Ele era um homem com problemas demais, bagagens excessivas e o peso da solidão empurrando seus ombros para o chão, e ela estava farta de lidar com pessoas assim, e por “pessoas” ela se referia a si mesma.

Deveria tomar um banho, estava suada e cansada. Correra tanto quando deixou o restaurante e Cody para trás, que suas roupas ficaram um pouco grudentas. Precisava, também, lavar todas as energias negativas e empurrar para bem longe o discreto sentimento de compaixão que começava a sentir pelo preso 106.789 depois de vê-lo tão alterado e emocionalmente desestruturado.

Hermione entrou no chuveiro, suspirando de prazer quando sentiu o primeiro jato de água quente saindo pela tubulação. Apertou com força o frasco de shampoo —quase vazio— que estava em cima da janela minúscula do banheiro e passou nos cabelos, massageando com delicadeza. O aroma de grapefruit e limão inundaram o ambiente, dando uma sensação de frescor e relaxamento.

Conforme sentia a espuma descendo pelo corpo, lembrava-se, involuntariamente, de Malfoy e a dificuldade que estava tendo em mantê-lo na linha de acordo com o que haviam combinado. Ele precisava cumprir sua parte no acordo, não dava para ter chiliques e reações estranhamente emocionais.

Ele precisava ser Draco Malfoy, para que ela continuasse sendo Hermione Granger. Não podia ser aquele garoto assustado e cheio de atitudes controvérsias. Ela não queria acreditar que ele teria algum traço de bondade ou humanidade, pois não conseguia imaginar-se admirando algo que ele poderia ter feito, não achava justo que Draco merecesse o perdão por ter feito apenas uma coisa boa dentre tantas maldades. Simplesmente não era justo, pois Rony havia sido um bom homem a vida inteira e não tivera uma segunda chance. Por que Malfoy mereceria? Quando tudo o que havia feito em sua vida estava longe de ser louvável.

Hermione terminou o banho, enrolou-se em uma toalha e olhou para o espelho. Muitas olheiras para alguém tão jovem, algumas linhas de expressões na testa e uma nuvem de infelicidade no rosto inteiro. Ainda havia tanto a ser feito e ela estava tão perdida. Cerrou os olhos e tentou trazer à memória todos os motivos pelos quais ainda estava ali, num banheiro de Azkaban, às seis da manhã. Pareciam insuficientes, confusos, e às vezes indignos do sacrifício.

Visualizando os azulejos quebradiços, a porta de madeira com a pintura enegrecida, ligeiramente contaminada pelo mofo, e tudo o que o espelho refletia à suas costas, ela suspirou, abaixando a cabeça. Estava sozinha, apenas o seu reflexo lhe fazia companhia. Gostaria de estar em outro lugar, em outra vida. Se existisse um universo paralelo, conforme algumas teorias astrofísicas insistiam em afirmar, ela tinha esperança de que a outra Hermione Granger estaria agora em um banheiro limpo, perfumado e familiar, acompanhada de seu marido, que a olharia com devoção pelo reflexo de um espelho com arestas douradas e sem manchas não removíveis.

E no momento em que levantou os olhos para o espelho novamente, buscando a mudança de paisagem que tentara trazer com o fechar dos olhos, ela notou que, além dos azulejos e da porta, outra pessoa estava refletida no espelho, e a encarava quando, por um descuido, a toalha escorregou pelo seu corpo.

—x—

Como bem se lembrava, Draco não via uma mulher nua há​ seis anos. Daphne havia sido a última. Ele gostava dela, delicada, refinada, sangue puro e partidária de Voldemort. Tinha os atributos necessários para ser a mulher que um dia assumiria o papel de sua esposa, mãe de seu herdeiro e responsável pela preservação da Mansão Malfoy.

Não amava Daphne. Ela era adequada, tinha boa postura perante a sociedade, vinha de uma família tradicional e possuía uma fortuna considerável — não que ele precisasse dos galeões da família Greengrass, mas a união de propriedades era um bom negócio no mundo bruxo.

Quando completou 14 anos, Draco percebeu que irritar Harry Potter já não poderia ser considerado como a atividade mais divertida mundo, afinal, Potter já estava mais do que condenado à desgraça e Lucius estava preso, de modo que já somava problemas demais em sua via para preocupar sua bela cutis com o queridinho de Dumbledore.  Continuava odiando o garoto de testa rachada, mas passou a sentir necessidade de canalizar sua raiva e frustração em algo melhor do que alguns insultos e objetos destruídos em seu quarto: Sexo.

Ele já havia beijado três garotas nas saídas para Hogsmeade. Pansy, Astoria e Daphne. Sentia-se incomodado com a primeira, pois ela parecia ávida demais por um relacionamento oficial e cheio de palavras açucaradas, encontros marcados e frequentes, o que ele não estava disposto a oferecer, não com 15 anos e não com ela. Astoria não gostava dele de verdade, apenas o beijou por causa de um jogo imbecil que Nott comprara na Zonko’s. Uma pena encantada com o nome dos jogadores que definia quem beijaria quem. Bastava segurá-la e ela escreveria por conta própria no lugar que eles escolhessem. Na época eles não sabiam, mas aquele jogo poderia ser usado em brincadeiras de cunho sexual, se fossem aplicados os feitiços certos.

Daphne, irmã de Astoria, no dia do jogo não tirou os olhos de Draco. Ela e Pansy eram melhores amigas, mas não havia nenhuma lealdade entre elas. Sonserinas. Assim também funcionava com os garotos da casa, e isso não era um problema. A amizade nunca impediu que a primogênita das Greengrass olhasse para Malfoy, sorrisse timidamente e colocasse as mechas que escapavam da tiara azul para trás da orelha.

Até que um dia Draco a enquadrou na porta do escritório de Dolores Umbridge, no fim do quinto ano, após a descoberta da armada de Dumbledore. Potter havia sumido com Granger para revelar a suposta arma secreta do velho e foragido Diretor de Hogwarts. Crabbe e Goyle haviam sido enganados por Weasley e comeram uma das invenções dos gêmeos.

Todos haviam sumido, exceto Daphne que parecia preocupada demais com o que estava acontecendo na sala e foi atropelada pelos alunos que corriam em disparada para bem longe do escritório de Umbridge. Ronald Weasley pareceu ter sido o único a ampará-la de uma possível queda, o que Draco não deu muita importância naquele momento.

Ela estava fria e assustada, mas Draco também não se importou com isso. Tão somente a puxou, pressionando o corpo da garota contra a parede dura e ondulada, deixando a adrenalina fluir. Ela apoiou as mãos no pescoço dele, e mostrou que as olhadelas e sorrisos castos eram nada menos que um disfarce para uma pessoa completamente desenvolta e libertina.

Foi na sala de Dolores Umbridge que Draco descobriu o que era o sexo, por mais bizarro que aquilo pudesse ter sido. Não fora, é claro, a melhor das experiências, mas significou alguma coisa. E a partir desse dia, Daphne sempre ficava por perto, às vezes disputando com Pansy a atenção de Malfoy. Ele sempre preferiu Greengrass, pois era sofisticada, discreta e sabia fazer um homem feliz em todos os sentidos.

Não era como se houvesse um contrato de fidelidade entre eles. Malfoy dava suas escapadas com algumas garotas da sonserina, e com Pansy, que poderia ser uma pessoa à parte, pois era exagerada demais, gemia com falsidade para agradar Malfoy, e isso, na opinião dele, era nojento e humilhante. Daphne às vezes tinha essa mania, e ele sentia vontade de parar o que estava fazendo e chacoalhá-la para que ela entendesse o quão patético era aquilo. As pessoas deviam apreciar o ato, segundo ele. Os barulhos permitidos deveriam ser apenas os dos corpos e das respirações.

E, um dia, Malfoy se cansou das mesmas garotas. Da mesma cor de pele e dos mesmos olhos claros que ele encontrava em Pansy, Daphne, Astoria e Portia, a garota do quarto ano. Não se lembrava de fugir de seu  padrão estético e, o mais longe que chegara  de sair das sonserinas de pele anormalmente clara e olhos azuis ou verdes fora quando Amelie, uma aluna transferida de Beaubaxton, dona de longos cabelos cacheados e olhos castanhos ofereceu seu lugar numa das poltronas da sala comunal para que Draco se sentasse e planejasse — em segredo— a morte de Dumbledore.

E ele sentiu que quebraria o padrão. Teve a sensação de que levaria a doce e bela aluna transferida para seu dormitório. Mas isso não aconteceu, porque o sexto ano foi conturbado, cheio de desafios e sofrimentos. A pressão de ser iniciado como comensal da morte o impediu de tentar conversar com Amelie, e ela voltou para a França, pois, segundo comentários, seus pais temiam o estouro da guerra, que ganhava força a cada dia.

Na época, os colegas de Draco, ao notarem sua mudança de comportamento, como bons sonserinos e inconvenientes que eram, não perderam a oportunidade de fazerem chacota com a aparência de Amelie.

Nott era quem mais importunava, sempre por perto para insinuar coisas que Draco preferia morrer a ter que sequer pensar na possibilidade de acontecer. E não demorou para que “Granger” passasse a ser a piada do momento, visto que ela tinha as características ideais, de acordo com as suas recentes preferências.

Ao longo de toda a sua existência em Hogwarts e fora de Hogwarts, a ideia de ficar mais do que um metro de distância de Granger jamais se atrevera a passear por seus pensamentos. Por isso, Malfoy ameaçava de morte quem ousasse fazer esse tipo de comentário. Nott parou na enfermaria duas vezes, sob as ordens de Draco que, terceirizando o trabalho sujo à Crabbe e Goyle, nunca era punido.

Tantos anos depois, muita coisa havia mudado, mas ele ainda era um homem. Draco não via uma mulher nua há muito tempo, e numa prisão, onde seus familiares, amigos de escola e toda a comunidade de sangue puro não podia enxergá-lo, ele se permitia algumas fugas mentais, como imaginar Hermione Granger sem as habituais roupas de trabalho, ou vislumbrá-la mentalmente dentro de uma banheira perfumada e quente, tendo apenas as bolhas de sabão como cobertura do corpo nu e molhado.

Era domingo e o nublado natural de Azkaban estava mais evidente do que nunca naquela manhã de setembro. O ar parecia rarefeito, quase sólido, sufocante. Draco sentiu frio e, por conseguinte, sua perna começou a doer novamente. Sem muito alarde ele acendeu a chama que Feggis lhe dera há algumas semanas, e o homem surgiu no corredor, carregando um saco feito de estopa, puído e, aparentemente, muito pesado para uma pessoa da idade e condição física de Feggis carregar nas costas.

— O que tem aí? — Draco perguntou, curioso demais para cumprir as formalidades sociais que consistiam em cumprimentos e perguntas convencionais.

— Não estou autorizado a falar, garoto. Você me chamou, certo? Diga o que quer, pois preciso voltar ao trabalho. — Feggis respondeu com rudeza, um comportamento atípico em se tratando dele.

— Quero dar uma volta para aquecer minha perna. — Malfoy, num movimento rápido e sagaz simulou uma careta de dor muito exagerada. — A medibruxa recomendou.

Ele mentiu. Hermione não havia recomendado nada, sequer prescrevera alguma poção ou método alternativo para melhorar os picos de dor quando o frio chegasse. Mas Anthony acreditava nele, isso lhe dava certa vantagem.

Feggis colocou o saco de estopa no chão, que produziu um som forte e conhecido aos ouvidos de Draco, que fingiu desinteresse com o conteúdo, mas poderia jurar pela alma de seus pais que aquele era o impacto de um corpo humano tocando o solo, não só pelo som dos músculos e da carne chocando-se contra a pedra crespa, mas pela aparência amolecida e pelo espalhar involuntário dos membros —braço, pernas e cabeça— como se, quem quer que estivesse ali dentro jazesse morto. Se tivesse um pouco mais de luz, poderia afirmar com certeza.

— Deixarei você atado a uma pulseira, e sob a vigilância de um patrono. — Feggis falou enquanto massageava o pescoço e toda a região lombar e fazia uma carranca de dor. — Não faça nenhuma besteira. Ouviu bem? Não saia deste corredor, você só pode andar por ele até o final. Não se atreva a passar daquela porta, tampouco suba as escadas.

Anthony Feggis apontava de um lado para o outro, indicando o pequeno espaço de cinco metros, começando da cela onde Draco dormia até o final do corredor da ala B, espaço no qual ele estava autorizado a circular.

Quando sua cela foi aberta, Malfoy sentiu um tremor no fundo do estômago. Adrenalina corria em suas veias, e o fato de que nenhum dementador estava por perto — e se algum estivesse, o patrono de ovelha de Feggis o protegeria— fez com que ele experimentasse uma sensação de segurança.

Bastaram alguns minutos fora da cela para que Malfoy compreendesse que já não sabia mais o que era estar preso. De repente o sabor da liberdade vigiada do hospital aguçara o seu desejo de sair de Azkaban. Sua alma gritava por ar puro e rostos saudáveis. Draco jamais imaginara que ver outros seres humanos pudesse ser tão necessário à sua sanidade; se alguém perguntasse qual era a sensação, ele com certeza diria que era a de existir, ser uma pessoa digna de respeito e de um nome, pois, com a exceção de Feggis, Hermione e Kayla, ninguém o chamava pelo nome em Azkaban, ele era o número.

Kayla, a bela e esquisita mulher que parecia querer tirá-lo dali a qualquer custo, fora bem específica quando dissera que ele deveria sair de Azkaban o mais rápido que pudesse. E como estava longe da influência dos dementadores, pareceu um pouco mais ágil e saudável, de modo que não foi difícil pensar numa solução para ter Granger em suas mãos.

Precisava achar o dormitório da medibruxa. Se ela tivesse esquecido algum pertence, documento, ou pista, qualquer coisa que pudesse ser útil para ele.Feggis lhe dissera que poucos passavam a noite ali, com a exceção de Hermione Granger, Leon Dixon e ele mesmo, ninguém permanecia em Azkaban por um período maior do que o estritamente necessário.

Não se orgulhava da cena que fizera na madrugada. Ainda estava atordoado com a quantidade de informações que haviam sido jogadas em seus braços

Ele precisava ser Draco Malfoy, enxergado como tal, para que Hermione Granger não tivesse sobre ele o olhar de piedade e surpresa. Não queria nada dela, e isso incluía a admiração escondida na carícia disfarçada de toque —barreira que ela havia derrubado como se não estivesse dentro do próprio corpo. As roupas que ela vestia ainda eram as mesmas do suposto encontro que teria com o amigo. Ela estava suada, descalça e esbaforida. Correra uma maratona para chegar até Azkaban, para ter certeza de que ele era inocente, pelo menos em alguma coisa.

Quem era aquela mulher? Havia Granger, e havia aquela pessoa completamente desconhecida, ávida por saber se ele era mesmo um monstro, ou só a moldura vazia de um quadro pintado por uma família tradicional que o abandonara, involuntariamente, o deixando sob a custódia de uma vida medíocre. Essa pessoa também era Granger, e tal fato se mostrava assustador. Sangue ruim, imunda, escória. Mas era a única que, mesmo dizendo que queria fazer uma troca de favores, não se preocupou com outra coisa, senão com a possibilidade de ainda haver algo de bom em sua alma quase condenada. E essa era outra dívida.

Draco fez força para se convencer de que ela fazia aquilo porque Grifinórios eram criaturas estúpidas que criam cegamente na redenção e no lado bom de todos os seres humanos.

O patrono continuava a rodopiar em volta de Draco, e ele sentia os pés tocarem o chão áspero, com algumas elevações e buracos. A cada movimento alternado dos pés, uma brisa vinda da ponta final do corredor congelava o ambiente. Ele estava desobedecendo a ordem de Feggis, ultrapassando o limite imposto e chegando o mais próximo da escadaria que levava para as salas privilegiadas, onde os funcionários de Azkaban descansavam quando a balsa ficava inacessível.

Draco parou por alguns segundos, hesitando antes de colocar um dos pés no primeiro degrau. Se encontrasse alguma coisa ali, ainda que fosse uma cama macia para descansar as costas, já teria valido a pena, mas se não achasse qualquer coisa digna do risco, ele poderia fingir que havia desmaiado e não sabia como procurar ajuda. Simples.

O espaço entre um degrau e outro era grande, o que demandava um esforço descomunal para erguer a perna machucada. Draco não podia mais voltar, estava agora no décimo, faltavam apenas mais cinco. E ele precisava continuar, porque, a despeito da dor, a sensação de estar livre quase machucava de tão nostálgica, prazerosa e curta.

Os degraus ficaram para trás e ele percebeu que o andar dos dormitórios era enorme. Não em comparação com sua Mansão, mas quando colocado lado a lado com sua cela minúscula. Ali os feitiços de calefação eram fortes, de modo que o ar era confortável e aconchegante. Doze portas mal colocadas entre os batentes úmidos, com placas de pedra lisa pregadas no topo de cada uma delas, conferiam​ ao ambiente uma semelhança assombrosa com o caldeirão furado.

Draco teria que tentar a sorte para descobrir onde era o quarto dela. Não tinha muito tempo, pois Feggis poderia voltar a qualquer momento e notar sua falta, descobrindo, então, que Malfoy não seguira suas orientações e que a perna dele não estava tão ruim assim, já que ele conseguira subir 15 degraus sem pestanejar. Anthony era um bom homem, mas não tolerava ser enganado, muito menos dar a alguém um voto de confiança e ser decepcionado.

Assim sendo, Malfoy apertou o passo, e chegou até a primeira porta. Em sua cabeça uma estratégia já havia se formado, não era de longe a mais inteligente de todas, mas era o melhor que conseguiria. Olharia pela fechadura, viraria a maçaneta devagar e tentaria, pela fresta da porta, ver se o quarto estava ocupado, antes de entrar e dar de cara com alguma situação inesperada como Dr.Dixon lavando suas cuecas numa bacia de água morna.

Ao girar a primeira maçaneta notou que estava trancada, e isso se repetiu pelas próximas seis portas. Draco expirou profunda e ruidosamente. Estava irritado por ter as coisas fugindo de seu planejamento. Não podia perder mais tempo do que já tinha despendido ali. Ainda faltavam mais quatro portas e ele não desistiria agora, mas não podia esconder de si mesmo o medo das eventuais consequências por estar tão longe de sua cela.

Draco caminhou até o fim do corredor, sentindo a perna rígida e uma vontade incontrolável de se deitar. Segundo a rotina diária, os dementadores logo começaram  a ronda matinal, o que significava que  eles passariam por ali, e, com um patrono corpóreo andando pela prisão na companhia de um preso, não seria muito difícil imaginar que eles tomariam aquilo como uma ofensa particular. Dementadores não possuem alma, ou sentimentos, mas funcionam mais ou menos como criaturas sádicas e cheias de caprichos.

O som rangente e agonizante de um dementador deslizando pelo corredor se fez ouvir. Lutando contra a própria fraqueza e aproveitando-se da adrenalina que fluía como um jato de feitiço pelas suas veias, Draco correu até a última porta, torcendo para que ela estivesse aberta e vazia. Puxou a maçaneta e não teve tempo de checar o lugar onde entrou. Seu peito parecia não acomodar o coração. As batidas aceleradas e o medo de ser encontrado por um dementador aumentaram exponencialmente sua frequência cardíaca, de modo que seus pulmões também encontravam dificuldade em oxigenar o sangue e eliminar o dióxido de carbono do corpo tenso de Malfoy.

A única coisa que seus olhos viram foi o espelho. O espelho sujo e ainda embaçado pelos vapores de um banho recente. Não houve uma preparação para o que Draco viu naquele lugar que, ele não precisou de muito tempo para descobrir, era um banheiro.


Hermione Granger.


Hermione Jean “sangue ruim” Granger com os lábios entreabertos e uma expressão de absoluto pânico e descrença.

A toalha jazia no chão, e Draco desejou, do fundo de sua alma, apagar a imagem da medibruxa completamente nua, mas infelizmente ele possuía uma coisa chamada: memória fotográfica.

Ou felizmente. Ele ainda não conseguia se decidir.

—x—

Hogwarts, 1994

Era Hermione.

Mas ela não parecia nadinha com a Hermione. Fizera alguma coisa com os cabelos, não estavam mais lanzudos, mas lisos e brilhantes e enrolados num elegante nó na nuca. Estava usando vestes feitas de um tecido etéreo azul-pervinca, e tinha uma postura um tanto diferente — ou talvez fosse meramente a ausência dos vinte e tantos livros que ela normalmente carregava às costas. E sorria — um sorriso um pouco nervoso, era verdade — mas a redução no tamanho dos dentes da frente era mais visível que nunca.

[...]

Parvati mirava Hermione com depreciativa incredulidade. E não era a única, tampouco, quando as portas do Salão Principal se abriram, o fã-clube de Krum que fazia ponto na biblioteca passou, lançando a Hermione olhares de profundo desprezo. Pansy Parkinson boquiabriu-se ao passar com Malfoy, e mesmo ele não pareceu capaz de encontrar uma ofensa para atirar a Hermione. Rony, porém, passou direto por ela sem sequer olhar.[1]

                                                                      

—x—

Das mil coisas que uma mulher poderia descrever como humilhante, ser vista nua por seu inimigo capital de infância e adolescência poderia estar catalogado numa seção onde uma etiqueta vermelha berrante indicasse “Situações vexatórias em que é permitido o homicídio a fim de aplacar a sensação de vergonha extrema”.

Hermione conhecia Draco desde seus onze anos de idade, mas foi no segundo ano que ele passou a tratá-la como um grande pacote de dejetos. O motivo ela sempre soube: pressão familiar, egoísmo, inveja, e claro, uma questão de sangue. Pureza de sangue.

Ele era cruel. Fazia piadas horríveis a respeito de sua aparência e ela fingia não ligar. Tentava reforçar para si mesma a importância de estar sempre por cima e nunca descer ao nível de uma pessoa tão medíocre como ele. Mas a verdade era que doía, que importava sim. Uma garota não consegue ser indiferente a insultos  sobre sua aparência. A sociedade cobrava, suas tias cobravam; até mesmo seus pais cobravam— mesmo que indiretamente— quando insistiam para que ela iniciasse um tratamento ortodôntico.

Uma hora ou outra ela sentia a pressão, o cansaço e a cobrança, ainda que silenciosa das pessoas que a rodeavam. Isso incluía seus amigos. Ela sabia o que Harry pensava da aparência dela, e o que Rony não pensava, pois sequer a percebia como garota.

Então ela se destacava naquilo que nunca perecia. Sua inteligência. Lutava por aquilo que ela acreditava, sem deixar que o revirar de olhos das outras pessoas a incomodasse quando ela manifestava seu interesse pelas causas consideradas de menor importância, como o F.A.L.E.

Aos catorze anos, tudo o que ela queria era a oportunidade de ser enxergada. Porque era importante mostrar para Rony Weasley o que ele ainda não conseguia ver.

Ela passara boas horas arrumando o cabelo, maquiando-se e escolhendo a melhor roupa. Ainda não sabia o porquê, mas sentia que precisava impressionar. Não era sobre Vitor Krum, nem a necessidade de honrar o convite que recebera do melhor jogador de quadribol da geração. Era sobre ela e seu desejo de ser alguém, de ter sobre si os olhares das pessoas, não por interesse nas tarefas, pesquisas e redações que só ela conseguia fazer, mas para a garota Hermione.

Dez anos depois, ali estava ela, e ele. Não havia um Rony para impressionar. Não havia vestido para se preocupar. Tampouco a maquiagem e o cabelo estavam impecáveis. Hermione não removera a maquiagem do dia anterior, o que lhe dera a aparência de quem estivera chorando debaixo do chuveiro.

Ela estava, literalmente, despida de tudo. Sua reação instintiva foi cobrir o corpo com as mãos, mas não conseguia esconder muito. Então, abaixou-se, cuidando para não deixar partes de seu corpo muito visíveis, e pegou a toalha, enrolando-se numa velocidade digna de premiação.

—O que você está fazendo aqui? — Hermione rosnou sem olhar diretamente para o invasor. O fato de ela não ter gritado tornou a pergunta ainda mais ameaçadora.— RESPONDA, MALFOY!

Ela gritou, enfim, para recuperar sua dignidade e autoridade.

Draco ficou em silêncio, observando Hermione apanhar a toalha e se enrolar apressada. Ela não sabia o que estava se passando pela cabeça dele. Sentiu o rosto formigar e podia jurar, mesmo sem virar para contemplar o próprio rosto no espelho, que suas bochechas estava tão vermelho quanto um lembrol.

—Eu vou fingir que você nunca esteve aqui. Mas se eu souber que anda me espionando, Malfoy, eu juro que te levo pessoalmente para o dementador mais próximo. —Hermione voltou a ameaçar. Pela primeira vez sentindo-se pronta para cumprir a promessa. — Agora saia daqui, antes que eu me arrependa de ter te ajudado.

Hermione voltou-se para o espelho novamente, respirando entre tremores e suportando a ardência nos olhos que prenunciavam uma crise de nervos que explodiria em forma de lágrimas. Notando pelo espelho que Draco ainda estava no banheiro ela o encarou através do reflexo. Ele, que até então, estava olhando para o lado oposto, fitou os olhos dela com  estranha profundidade.

—Eu não vou sair. — atestou. — De acordo com as minhas suspeitas, neste momento está acontecendo uma ronda de dementadores aqui no corredor. Eu não serei pego só porque te vi sem roupa.

— Você entende a gravidade do que acabou de acontecer aqui, Malfoy? Consegue compreender que eu tenho sua vida em minhas mãos? — ela meneou a cabeça, indignada, pressionando as têmporas como se isso fosse imprescindível para o funcionamento de seus neurônios. — Não se trata de “ver Hermione Granger nua”. Trata-se da audácia por ter saído de sua cela quando tínhamos um acordo de total obediência às regras e você violou.

—Então me inflija algum castigo. Ou mate-me, e eu levo comigo tudo o que sei. Adicionalmente você perde a chance de me regenerar, levando-me para o lado da luz.— Draco imprimiu todo o escárnio ao mencionar a possibilidade de uma redenção. Ele sabia que aquilo estava o mais longe do impossível de acontecer. Era mais fácil Voldemort retornar, se casar com Dumbledore e ambos adotarem Dobby como filho.

—Eu não vou perder nada. Talvez eu já tenha tudo o que eu preciso. —ela mentiu— Você é irrecuperável. Eu jamais perderia meu tempo com uma causa perdida feito você.

Ela não estava mais gritando, pois não queria a presença de dementadores por ali. Ele, em contrapartida, não disse mais nada, nem esboçou qualquer reação. Não teceu comentários a respeito da nudez de Hermione. Não fez piada com a situação, muito menos lançou o famoso pacote de expressões desdenhosas — lábios contraídos em hipérbole, olhar de esguelha e sobrancelhas levemente contraídas.

Ele ficara confuso, pessoalmente ofendido, quiçá desorientado, e se Hermione conseguisse interpretar mais do que maldade na íris prateada de Malfoy, arriscaria o palpite de que ele também tivesse experimentando algo completamente novo e inapropriado: fascínio, tentação. Traços de devoção.

E ela não se sentiu incomodada, com isso e com os olhos que repousavam sobre ela como se seu corpo fosse uma pintura complexa e carregada de significados.

Os olhos. O castanho e o cinza haviam cruzado a mesma linha, e Hermione, futuramente, questionaria-se sobre o arrepio que eriçou os pelos úmidos do braço. Não era frio, porque naquele momento seu corpo estava imerso numa bolha invisível de calor e pressão.

E sem dizer uma palavra, Draco virou as costas saindo como se precisasse fugir. Tão rápido como uma lembrança, como se Hermione tivesse feito uma rápida visita ao universo paralelo de que pensara antes, mas com algumas distorções.

Enquanto os passos no corredor sumiam, ela continuava olhando para a porta, atordoada, envergonhada e confusa.

Confusa.

Desapontada.

—x—

Draco refez o caminho. Suas mãos suavam como no dia em que ele fora preso. Os dementadores ainda não estavam lá fora.  Ele contara uma mentira grande e cabeluda para poder ficar naquele banheiro  por um motivo, que ele esperava do fundo de sua alma ser plausível e que não tinha nada a ver com o fato de que ele estava excitado, surpreso e culpado.

Há 6 anos não via uma mulher. Hermione tinha o corpo que ele jamais imaginaria. Não que ficasse pensando como seria, mas, por muitas vezes, ainda que secretamente, durante os anos de estudo em Hogwarts, ele se questionara a respeito do corpo da sangue ruim que insistia em se destacar perante toda a escola. Em diversos momentos, quando sozinho, preso ao desenrolar automático dos pensamentos, ele a imaginava nua. Não por desejo, mas curiosidade. Para aplacar sua culpa por dedicar, ainda que um pouco, de seu pensamento a uma pessoa daquela estirpe, ele acrescentava algo cômico à cena criada, como um par de orelhas de duende é um nariz de trasgo.

Mas Granger era uma mulher. Curvas, seios, pernas e quadris bem alinhados. Nada espetacular, ele diria, mas satisfatório, se pensasse que era a primeira depois de tanto tempo. Draco não pode evitar a excitação.

Ao menos ele tinha material para sua imaginação. Não era a melhor das imagens, mas, dada a sua situação, ficaria bem servido por alguns meses. Daphne já estava esmaecida de suas memórias. Não se lembrava mais de como era a textura da pele dela, nem a frieza das mãos podiam ser sentidas. Pensar na Hermione culpada por ceder aos seus atributos masculinos e sendo levada ao êxtase, necessitando dele e pedindo para que ele não parasse, era muito mais excitante. Era dominador, e esse era o único domínio que ele poderia exercer sobre ela.

Por enquanto seria o máximo que teria, e um homem privado de sua liberdade, propriedades e do sexo, precisa aprender a sobreviver com as migalhas. Granger poderia ser sua migalha, pelo menos até ele sair dali.

—x—

Hermione chamou Thomas Delavick, um dos funcionários mais conhecidos de Azkaban, responsável pelas balsas. Ele era amargo, frio e insensível. Um de seus olhos havia sido cruelmente arrancado em uma briga de bar, segundo os comentários dos aurores na semana de inspeção. O homem usava um chapéu que cobria-lhe os cabelos longos e boa parte do buraco onde outrora estivera um de seus olhos ameaçadores. Delavick era a personificação das histórias macabras contadas em acampamentos. Era uma pessoa de estrutura forte, ombros largos e musculatura bem definida no alto de seus 32 anos, usava roupas escuras e encardidas, não deixando os braços à mostra porque tinha uma coleção de cicatrizes e mais alguma coisa que ele sempre tentava esconder quando puxava as mangas da camiseta em direção ao punho. Uma chave grega tatuada como se fosse um bracelete.

—Essa ronda está atrasada. Onde todos esses dementadores estavam?— Hermione pensou alto enquanto entrava na balsa. Foi fuzilada pela carranca de Delavick, que era um homem de poucas palavras, de mínimas perturbações e tolerância nenhuma para conversas triviais.

—Azkaban dorme com seus mistérios. Não a perturbe — Thomas respondeu secamente, manobrando a pequena e rústica balsa de madeira, que só poderia atravessar o revolto mar do norte através de magia. Delavick controlava os remos com aptidão e segurança e sem muito esforço. Apenas um toque de varinha e feitiços na sua língua natal, que Hermione percebeu ser búlgaro.

As balsas funcionavam assim. O responsável pela sua condução criava o feitiço de guia. Um trabalho árduo e muito demorado, por isso, o balseiro dificilmente deixava seu posto.

Um voto perpétuo os mantinha ali. Muitas vezes um preso se submetia a esse encargo só para poder contemplar a luz do sol, mesmo que para isso tivesse que gastar sua vida nas cansativas viagens para a prisão escura e solitária de Azkaban.

O caminho foi percorrido em um silêncio sepulcral, e Hermione aproveitou a estabilidade da balsa para escrever em seu bloco de notas algumas ideias que pudessem resultar no avanço de sua pesquisa quase abandonada sobre as folhas de mandrágoras. Embora o artigo já tivesse sido publicado, ela sabia que ainda havia muitas propriedades medicinais não descobertas.

No momento em que a balsa tocou a ponta do cais, Thomas puxou uma corda negra jogada nos pés de Hermione e começou a ancorar. A medibruxa só desceu quando sentiu que estaria em total segurança. Não gostava do contato com o mar, embora o admirasse e apreciasse sua grandeza. Achava que as águas imprevisíveis eram mais poderosas do que quaisquer outras forças da natureza. E ela não sabia nadar, o que a tornava vulnerável, desprovida de domínio e controle.

Delavick empurrou a balsa para mais perto do cais, de modo quando Hermione pudesse alcançar a terra firme sem molhar os pés. Ela entendeu aquilo como um ato de gentileza fora de pretendentes em se tratando de Thomas Delavick. Por isso, sorriu gentilmente para o homem carrancudo, que acenou desinteressado.

Da ilha onde estava, Hermione ainda precisava andar por pelo menos mais cinco quilômetros para encontrar a filial de apartação do Ministério, o único lugar onde era possível aparatar seguramente. Qualquer um que violasse as regras corria o risco de ter a alma sugada pelos dementadores.

— Posso seguir sozinha, Delavick. Se tiver algo mais importante para fazer. — Hermione falou, enquanto afastava os galhos das árvores que impediam a passagem.

—Não. — ele respondeu, colocando-se na frente de Hermione.

O restante do caminho foi, como de costume, trilhado em silêncio. Vez ou outra Thomas empurrava para longe um galho espinhoso e cedia passagem à Hermione, deixando que ela tomasse a frente por um segundo, logo retornando a dianteira quando verificava que ela estava segura.

— Este lugar é hostil. Muitos ficaram perdidos aqui por meses, tentando afastar os galhos. Confusos demais pela semelhança da vegetação deixavam-se perecer. Alguns corpos foram encontrados recentemente, mas já estavam perdidos há décadas.

—Eram fugitivos? — ela questionou, imaginando como deveria ser horrível ficar perdido numa ilha onde o efeito dos dementadores se mostrava tão intenso.

—Eram seres humanos. — Thomas respondeu com rispidez. — Esposas, filhos e pessoas que se importavam com os prisioneiros, mesmo quando ninguém mais se lembrava deles.

Hermione sentiu a provocação, mas não baixou a cabeça. Continuou o percurso, seguindo Delavick, cuidando para não pisar em nenhum espinho ou coisa pior. Ele devia ter seus motivos para agir de forma grosseira, ou não conseguir manter um diálogo civilizado. Todos têm motivos. E uma hora eles expunham seus motivos, tentando torná-los justos, mostrando que talvez, em alguns aspectos muito peculiares, fossem dignos de alguma piedade.  

“Todos possuem motivos. Até mesmo Malfoy.” Ela pensou, traída pelo próprio subconsciente.

Estivera evitando pensar nele, mas ao contrário do que os comandos neurológicos ordenavam, algumas partes do corpo pareciam se negar a esquecer a fina e quase imperceptível expressão de ansiedade e admiração, interrompidas apenas pelo estalo que acordou Malfoy de seu torpor, e o fez notar quem era o objeto de sua observação no banheiro sujo e quase assombrado de Azkaban.

Hermione se despediu de Thomas quando chegou ao seu destino, a central de aparatações, e o homem acenou bruscamente com a cabeça. Rumando para um lugar reservado ela reparou que ele respirou profundamente o ar da região e virou as costas para Hermione, voltando pelo mesmo caminho.

Da central de aparatações Hermione imaginou o seu destino, não sem dificuldade, pois estivera lá apenas duas vezes. O porto bruxo ficava em Harwich e, apesar de estar no mesmo local onde funcionava o porto dos trouxas, seu acesso era por via submarina.

Ninguém gostava de ir à Zona portuária, pois bruxos quase nunca usavam embarcações, salvo quando precisavam fazer viagens a países distantes e tinham pouco dinheiro para contratar um bom sistema de chave de portal.

Hermione apresentou sua identificação de funcionária do Ministério e entrou sem que o guarda fizesse muitas perguntas. A entrada era um alçapão no chão do Porto de Harwich. O cheiro de peixe vindo dos containers era forte e Hermione sentiu o estômago reclamar. Ainda não tinha comido, pois não tivera tempo de pensar em alimentar-se quando precisava sair o mais rápido que conseguisse de Azkaban, e livrar sua mente do rosto de Malfoy refletido no espelho.

—Senhorita, quando chegar lá embaixo puxe a alavanca no lado esquerdo da parede. —o guarda falou assim que Hermione começou a descer os degraus de madeira rangente.

Como se tivesse sido jogada em uma cisterna, o oxigênio parecia raro naquele lugar. Hermione estava num buraco, literalmente. A alavanca estava onde o guarda dissera, e ela puxou, esperando algo surpreendente acontecer.

Tal qual um elevador em descida, o chão começou a ser empurrado para baixo e ela notou que estava se locomover do para debaixo da água. O caminho era desconhecido, pois era como se estivesse presa numa comprida caixa de madeira lacrada em todos os lugares.

Um solavanco indicou que ela havia tocado em algo sólido é bastante sinuoso, e o local onde estava a alavanca transformou-se em uma porta branca com pequenos peixes amarelos mal desenhados.

Parecia um lugar morto, embora não fosse feio. As pessoas não tinham motivação, executavam os trabalhos mecanicamente e se pudessem ser desagradáveis teriam prazer em agir dessa maneira. Alguns barcos apareciam de vez em quando, mas o que predominava eram as balsas de carregamento alimentício de Azkaban e produtos bruxos que vinham de longe.

Segundo a placa de cortiça, flutuando sob o céu que na verdade era o mar, contido por uma redoma de vidro, que Hermione sabia ser um feitiço de redoma muito complexo e cheio de detalhes, duas estações de informações ficavam à 300 metros de distância. Estavam tão escondidas no fundo do porto que Hermione precisou pedir ajuda a dois carregadores não muito dispostos a conversar.

A mulher que ficava responsável pelas informações era esquisita demais para ser real, mesmo de acordo com os padrões bruxos. Ela vestia um macacão rosa bordado com escamas de peixe, uma tiara de barbatanas secas e um colar de conchas. Era a própria Luna Lovegood com o humor de Argo Filch.

—Bom dia— Hermione cumprimentou.— A senhora poderia, por gentileza, dizer onde fica o setor de controle portuário?

A mulher olhou Hermione de cima a baixo, e de baixo para cima, até a situação se tornar mais embarcaçosa do que já era a princípio.

—Vire à direita, entre no container de anchovas e peça para descer.

—Obrigada — Hermione agradeceu, as a mulher já havia destinado sua atenção para um tabuleiro de xadrez bruxo.

O container cheirava tão mal quanto se poderia esperar de um lugar onde se guardavam anchovas, e Hermione começou a lamentar a péssima decisão de ir ao setor de controle portuário.

O escritório era um pouco maior do que as celas de Azkaban. Barquinhos de papel deslizavam por um tubo cheio de água e caíam na mesa do homem atarefado que carimbava pergaminhos e envelopava requerimentos portuários. Ele não parava de colocar os documentos um armário de alumínio que não parava de abrir e fechar suas gavetas com força.

Ele estava de costas, mas Hermione reconheceria seu amigo a quilômetros de distância. Aquele era Harry Potter, trabalhando em um dos piores e mais insalubres lugares do mundo bruxo.

—Harry?— ela chamou.

Harry virou-se bruscamente ao ouvir a voz familiar. No movimento deixou cair vários pergaminhos no chão.

—Céus! Hermione!— ele exclamou— O que faz aqui?

—Bom, eu te faço a mesma pergunta. O que faz neste buraco?

—Trabalhando, sendo punido, injustiçado.—Harry respondeu desanimado — Quer almoçar comigo? Depois que comecei a trabalhar aqui adotei uma nova dieta que exclui os peixes do menu.

Hermione sorriu, mas deixou que a expressão morresse em seu rosto. Lembrou-se, de repente, do que estava acontecendo com Gina e a história de Kayla. Gostaria de resolver essa questão o quanto antes, pois custava acreditar que seu amigo fosse aquele rato traidor que Blaise Zabini insistia em afirmar que era.

—Você irá ao memorial amanhã? — Ele perguntou quando notou o silêncio constrangedor.

—Sim — Hermione respondeu, já não tão animada. — Quero honrar a memória dele da melhor forma possível. Espero que não peçam por discurso, pois não aguento mais falar sobre o campo de refugiados. A história, quando vivida, é muito menos romantizada do que eles fazem parecer.

—Você foi uma heroína, Mione... Muito mais do que qualquer outra pessoa. — Harry  dirigiu um olhar carinhoso para a amiga. — Eu não sei o que seria do trio de ouro sem a bruxa mais inteligente que eu conheço.

Era impossível ter raiva de Harry, assim como era impossível imaginá-lo sendo um canalha. Por isso, Hermione voltou a contemplar o amigo com os mesmos olhos de sempre. Acariciou o dorso da mão direita dele, sentindo o contorno irregular da pele onde Umbridge deixara um cicatriz permanente.  “Não devo contar mentiras”


Harry não podia estar mentindo.


—Tem visto Gina? — Ele perguntou, tomando a mão da amiga entre as suas. O toque era desesperado e suplicante.

—Ela ficará em casa, só por um tempo... Até vocês se acertarem. — ela falou, tentando não imprimir em seu tom de voz o medo que tinha de que os amigos jamais se acertassem, buscando consolar Harry da melhor forma que conseguisse. — Vai ficar tudo bem, Harry. Eu confio em você.

—Ela acha que eu a estou traindo. Eu, que a amo como nunca imaginei que fosse possível amar alguém. — ele falou desesperado. — Você acredita em mim, não é Hermione? Sei que Rony acreditaria...

—Zabini deixou algumas fotos com Gina. — a medibruxa falou. — Eu quero muito acreditar em você, mas não tiro a razão da sua esposa. Fotos são fotos, Harry.

—Aquele desgraçado está tramando alguma coisa, ou tentando encobrir algo. — Harry afirmou com revolta. — Eu enfiarei aquele lá no corredor mais imundo de Azkaban, onde nem mesmo o corpo nojento dele restará para contar história.

— E Talvez eu possa te ajudar. — Hermione sugeriu. A ideia veio em sua mente como um tiro. — Mas você também terá que me ajudar.

— Você precisa de quê? — o amigo perguntou interessado.

—Preciso de uma ficha com os relatos de todas as viagens que aconteceram neste porto desde 1989. Quero tudo o que você encontrar sobre esses anos, Harry.

— E será que eu posso saber qual a finalidade da sua pesquisa? — ele perguntou desconfiado.

— Malfoy. Ele pode não ter perdido exatamente tudo. Tenho fortes suspeitas de que as propriedades de Abraxas Malfoy estejam intactas. Ele não era muito fã do Ministério da Magia, por isso, blindou todo o patrimônio e escondeu as propriedades com feitiços muito complexos para os aurores. Sem ofensas...

—Tudo bem— Harry deu de ombros — Não é como se eu ainda fosse um auror. Mas, minha dúvida ainda permanece: Qual a finalidade? Custo a acreditar que você esteja fazendo isso pelo bem de Malfoy.


—Toda informação que você puder me dar eu quero, porque existe algo de errado nesta história de assassinatos e enigmas entre pessoas que não deveriam sequer conhecer umas as outras. E, bem, eu ainda sou Hermione Granger.

—E quando isso deixou de ser sobre Rony, e se tornou “O que há de errado com Malfoy”? — Harry perguntou. — Quando você começou a se preocupar tanto com aquele imbecil?

— Apenas consiga o que eu preciso, e te explicarei o meu plano para resolver toda essa bagunça... De uma vez por todas. —Hermione desconversou, deixando o amigo em seu balcão com os pergaminhos e todas as burocracias tão odiosas que, graças a Merlin ela não teve que enfrentar.

—x—  

Segundo os relatos históricos, Ekrizdis, antigo morador da fortaleza que se transformou na prisão de Azkaban, criara uma construção que confundiria quem entrasse sem autorização. Posteriormente, Damocles Rowle refinou os métodos anteriores e criou os corredores em labirinto. A ideia visava impedir a fuga dos que já estavam lá dentro cumprindo pena e a entrada de quem, mal intencionado, resolvesse arquitetar a fuga de um preso. Eram, portanto, justificáveis, mas para Hermione continuava sendo o mecanismo mais arcaico e próximo à ineficácia de que tivera conhecimento.

Sendo assim, os corredores pareciam ser a matéria prima de Azkaban. Hermione já havia passado por pelo menos cinco diferentes em menos de dez minutos.

Após algumas voltas, nas quais só enxergara os famigerados corredores, a medibruxa estava certa de que já passara pelo retrato de Agosis Pertindum vezes demais para estar no caminho certo, o que atestava o que ela odiava admitir: estava perdida. Feggis insistira para que ela o esperasse, mas Hermione precisava conversar com Malfoy o quanto antes para interrogá-lo e extrair o maior número de evidências sobre o círculo em que ela estava inserida, Rony, Harry, Blaise Zabini, Kayla e outras pessoas ainda desconhecidas.

No lugar mais escuro de sua alma, ela desejava estar perto dele para provar a si mesma que as coisas não estavam mudando bruscamente no que dizia respeito ao caráter de Malfoy. Ela ainda queria que ele pagasse pelos seus crimes; ainda desejava castigá-lo por seu comportamento arrogante, mesquinho e preconceituoso.

Hermione precisava provar que ele não merecia perdão, pois quando as pessoas se tornavam dignas da redenção, a situação mudava. E ela precisava odiar Draco Malfoy, só não sabia dizer a partir de qual momento na linha do tempo a situação se invertera de tal forma a ponto de ela ter que se forçar a isso.

Após o encontro nada agradável com Malfoy na madrugada anterior, e no banheiro da prisão já na manhã subsequente, as conversas provocativas, o comportamento estranho e a falta de disposição para mexer numa história aparentemente sem fundamento, que mais parecia um capricho, ou uma tentativa de dar sentido à morte de Rony, Hermione decidira, por fim, uma abordagem incisiva, mas não invasiva, embora a ideia de ler a mente de Draco Malfoy houvesse passeado por sua mente. Ela apresentaria o poder. A possibilidade real de reaver o que era seu por direito poderia torná-lo mais maleável. Malfoy era inteligente, jamais recusaria uma oportunidade dessas.  

De acordo com as contas da brilhante Hermione Granger, era agora a sexta vez que via o rosto sorridente de Agosis Pertindum, em seu terno amarelo berrante e um anel com uma cabeça de Texugo. Resolveu entregar os pontos e chamar por Feggis. Retirou o patrono de seu colar e mandou que a lontra prateada revelasse que o maior defeito de Hermione era não ser boa em guardar coordenadas.

Conforme o fio de luz emitido pelo patrono desaparecia na escuridão do milésimo corredor que ela via naquele dia, Hermione sentiu necessidade de realizar alguns feitiços de proteção; não queria ser pega de surpresa por algum dementador faminto. Com a varinha em punho, proferiu os feitiços de proteção e, quando terminou, sentindo o formigamento da barreira invisível que a guardaria, acendeu também a varinha,pois detestava ambientes escuros.

Um barulho, porém, chamou a atenção da medibruxa que, sentada no chão de pedra fria e irregular, sentiu as costelas sendo pressionadas contra o peito e uma vontade incontrolável de vomitar. Seu seio esquerdo começou a arder como se estivessem em contato com um marcador de gado.

Hermione tentou se levantar, mas o corpo permaneceu colado ao chão. A dor que sentiu ao procurar equilíbrio nas paredes fez com que ela rastejasse. O solo parecia querer expulsá-la, e as paredes comprimiam-se como um compactador de lixo.

E então, tudo silenciou. As dores cessaram e Hermione conseguiu se colocar em pé, respirando pausadamente, deixando que os pulmões se abrissem para captar o oxigênio necessário ao seu funcionamento.

Quando ouviu um som ininteligível, pensou que finalmente Feggis estivesse se aproximando, mas enganou-se. Um choro fraco e infantil vinha de uma fenda fétida, que se abrira em algum momento entre as movimentações da estrutura da prisão.

Hermione caminhou, seguindo o choro e, à medida que ele se intensificava, a fenda abria, revelando um novo corredor. Este era diferente, muito parecido com um cômodo de uma casa assombrada, cheio de ervas daninhas nas paredes, o forte cheiro de carne em decomposição subindo do solo escorregadio em fumaças finas e esverdeadas. Havia um lodo negro no chão, e Hermione não teve coragem de olhar para o fundo, onde os sons aumentavam e a movimentação parecia suspeita o suficiente para afastar qualquer pessoa dotada de bom senso. A medibruxa custava a acreditar em suposições que não estivessem firmemente embasadas em provas e fatos, mas quando confiava em sua intuição era muito raro estar enganada. Desta vez ela tinha a forte e insistente certeza de que não gostaria do que encontraria naquele lugar.

Ela pensou em voltar. Tentar sair o dali e procurar ajuda por conta própria, já que seu patrono não obtivera êxito em sua busca por Feggis. Mas a curiosidade é um anjo mau que atiça todos os sentidos do ser humano até que ele aniquile sua dúvida. Naquele momento Hermione se consumia pelo desejo de olhar para a movimentação no fundo do corredor que se abriu diante dela formando um pequeno cômodo.

Cabeças fora do corpo e mãos penduradas nas paredes davam ao ambiente o aspecto do terror, como um recado de boas vindas às avessas ao intruso que resolvesse se aproximar. Contudo, nada superou o horror de contemplar corpos perambulando pelo chão escorregadio, pisando em vermes de variadas espécies. Os corpos se assemelhavam aos  dementadores. Tinham grandes e descarnadas bocas pútridas, ausência de olhos e odor insuportável, mas possuían aparência humana. Homens, mulheres e apenas uma criança. Um garoto com vestes de Hogwarts carregando entre os dedos desintegrados o caldeirão de estanho padrão dois.

Ele olhou para Hermione, pois era o único que possuía olhos, e ela poderia jurar que ouvira a voz dele. Um som fino e choroso escapou dos lábios dilacerados, com a carne decomposta e o odor insuportável de todos os compostos orgânicos que caracterizavam o cheiro da morte.

“Corra, Margareth!”

“Corra, Margareth!”

Então, um grito de pavor rasgou o ar, e Hermione saberia que o som excruciante havia saído de seus pulmões e garganta, se não tivesse perdido o fôlego, desmaiado e caído sobre o lodo, ao lado de todos os corpos errantes.



[1] Harry Potter e o Cálice de Fogo – J.K Rowling.

                                            


Notas Finais


Personagens novos não aparecem por acaso.
Só uma dica 😘

**Eu vi Dramione nesse capítulo? CLARO QUE EU VI !!!
Muita calma nessa hora, meus queridos. Estamos só começando. 😈**


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