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História Constelação - Ecos na escuridão


Escrita por: PatyNinde

Capítulo 2 - Ecos na escuridão


 

Porque meu eco

É a única voz a voltar

Minha sombra

É a única amiga que tenho

(Jason Walker – Echo)

              

A solidão era sua companheira diária.

Dentro da cela fria, repleta de dementadores desesperados por uma alma feliz, o jovem loiro, pálido e raquítico não era um prato cheio. Seu interior era vazio e obscuro, o antônimo da palavra felicidade; quem o conhecera em seu tempo de glória, se o visse nas condições em que se encontrava naquele momento — dentro de um ambiente tão vergonhoso e repulsivo —, diria que ali estava a sombra de alguém que um dia tivera tudo, mas, infelizmente, sempre estivera fadado ao insucesso.

Tanta ausência de vida o transformara num ser oco, sem qualquer emoção nas pupilas negras e dilatadas, restando apenas a opacidade de um homem corrompido e sem esperanças. E talvez este fosse o motivo de os guardas encapuzados ficarem tão nervosos quando se aproximavam da cela de número 106.789, onde repousava — nada tranquilamente — Draco Lucius Malfoy.

Aos 24 anos, dos quais seis havia passado na tenebrosa Prisão de Azkaban, o herdeiro dos Malfoy não era mais a mesma pessoa, e isso não guardava qualquer relação com uma sofrida mudança de vida, ou mesmo uma repentina redenção. Dizem as más-línguas — e as boas também— que a prisão tem o poder de transformar um homem, revelando tudo aquilo que ele seria se não houvesse optado por um caminho de erros. Mas com ele não fora assim. Não havia um dia em que não se regozijasse por seus feitos. Assassinatos, torturas e tramas complexas para afugentar o lado inimigo. Sua mudança, entretanto, se dera em virtude do decurso do tempo, que, infelizmente, corria apressado pela maré dos anos. O tempo nunca passava ali, no antro de perdição em que estava enfiado, mas os claros sinais de loucura, típicos de Azkaban, o contaminavam. Ele sabia que, dentro em poucos anos, cometeria suicídio. Ou pior, seria consumido pelos vermes que rondavam as frestas das paredes negras e úmidas de sua cela.

— x—

Junho, 1998

 Sua chegada em Azkaban fora marcada pelo frio cortante dos ventos do norte, e pela fragrância característica da maresia. As ondas quebravam-se suavemente na Ilha. Draco respirou, em um ritmo pesado, sôfrego, no que ele sabia ser a última vez que teria contato com tal atmosfera: os ares da liberdade.

 Ele detestava o cheiro do mar, dava-lhe náuseas e o fazia se lembrar de quando seus pais o levavam para as “reuniões agradáveis de família”. Nestas reuniões tinha o desprazer de encontrar seu avô, Abraxas Malfoy, que igualmente detestava o mar, mas mudara-se para uma Mansão medieval que ficava a 12,5 km do mar. Louco. Foi sentindo o cheiro do mar que viu o pai de seu pai morrer de varíola de dragão. Uma morte horrível, e, mesmo sendo uma criança de quatro anos, Draco nunca se esqueceu dos furúnculos gigantes, das manchas esverdeadas e das faíscas saindo pelas narinas do avô.

 No entanto, enquanto navegava silenciosamente pelo sossegado por encantamentos milenares, tendo a visão da temida prisão cada vez mais próxima de si, sentiu uma vontade insana — e bastante inconveniente — de chorar, quando se lembrou de que não sentiria o cheiro de qualquer coisa que não fosse a podridão da prisão bruxa à sua frente. Preferia o cheiro do mar se isto representasse sua liberdade.

— Inferno— ele exclamara baixinho quando a balsa tocou o solo arenoso.

— O que disse, Sr. Malfoy?— a voz de Thomas Delavick, o bruxo responsável pelas navegações até Azkaban, perquiriu.  O tom nada suave ou gentil, tampouco subserviente, como Draco estava acostumado.

 — Nada de útil para os seus serviços —, o jovem respondeu com o resquício de dignidade que ainda lhe restava e algumas notas de arrogância, que ele sequer sabia ainda possuir.  Era um Malfoy, afinal de contas, não seria solícito ou cooperativo com um bando de mestiços e sangues-ruins. Thomas era filho de um Bruxo e uma nascida trouxa. Sentia-se o dono do universo por estar realizando alguma função ridícula naquela prisão decadente — que seria seu lar pelos próximos anos ele fez questão de se lembrar.

Os procedimentos foram demorados. Uma quantidade absurda de poções lhe foi ministrada e sua varinha foi tomada, sendo partida ao meio logo em seguida. Alguns encantamentos foram lançados em torno do corpo pálido, que estava nu. Todas as suas roupas e anéis foram tomados, ele estava despido em todos os sentidos. Sua dignidade estava, aos poucos, sendo esmigalhada na presença de todos aqueles homens. Draco sentiu-se oco por dentro, como se não fosse necessário o beijo de um dementador para completar sua pena que, ele sabia, seria longa.

Estando ali, ele tinha ciência de que não receberia visitas. Seus pais estavam mortos. Lutara pela proteção da já decadente família Malfoy, mas falhara miseravelmente, e isso culminara em uma derrota vergonhosa. Fora pego na Mansão, lamentando a recente morte de seus genitores, no dia em que completara 19 anos. Mansão esta que havia sido confiscada pelo Ministério.

Não sabia se aquilo era justo de alguma forma. Mas em seu julgamento alguém dissera que a família Malfoy passaria séculos compensando os prejuízos causados à comunidade bruxa, por toda a disseminação de ódio e repúdio a mestiços, trouxas e nascidos trouxas, e, mesmo assim, nunca se redimiriam por completo; a mansão seria o primeiro passo, ficaria em posse do Ministério e seria utilizada — pelo tempo que durasse a pena do jovem herdeiro Malfoy — como uma espécie de banco de sangue. Era a coisa mais irônica que poderia lhe acontecer, ele admitiu para si mesmo, com aquela queimação no ventre que lhe era familiar. Ódio.

 A utilização da sua casa se daria porque o Hospital St.Mungus estava com graves problemas de infraestrutura em decorrência da guerra. Alguns comensais, dentre os quais, ele, haviam atacado o local, destruindo aparelhos, leitos e salas especiais, incluindo-se na contagem a sala das transfusões mágicas— que, na época, ele nem sabia existir. Provavelmente Gibbon, comensal das antigas, soubesse, a maior parte do serviço no Hospital havia sido feito por ele.

Mais tarde, na sala de audiências do Ministério, Malfoy descobrira que em alguns casos, nem feitiços, nem poções eram suficientes para conter uma perda considerável de sangue. E para casos como estes servia o Posto Especializado em Transfusões Mágicas, ou PETMA. Ela lhe havia explicado no julgamento.

               Ela. Justo ela.

 A cúpula julgadora, quando na descrição dos crimes cometidos por Draco Malfoy, projetou no ar uma frase bastante familiar para o então réu:

‘Nós, comensais, temos uma aula curta sobre sangue. Sangue é vida. Diga-me qual é o seu sangue e nós definiremos se você vive ou morre.’ 

  Havia dito aquela frase um sem número de vezes. E naquele dia, em seu julgamento, ela lhe explicara, num monólogo sem fim, típico dela, que o sangue era vida — nisto, ambos concordavam. Mas na concepção da então doutora, sangue não definia o destino de ninguém; ‘você nasce, cresce e morre, não tendo seu sangue qualquer relação com a sua posição ou destino’. O líquido vermelho e viscoso somente seria importante quando se estivesse diante de alguma doença, ou acidente que comprometesse o funcionamento habitual do organismo, devendo ocorrer transfusões que definiriam se alguém viveria ou morreria.

               Draco manteve-se com a cabeça baixa durante toda audiência.

— x—

O cheiro de café fresco pedia licença para adentrar a modesta casinha branca de portões acinzentados, situada em Hawkshead, onde ruelas de paralelepípedos compunham o cenário da cidade, localizada em meio à farta natureza, no Lake District, a 150 km ao norte de Manchester.

Era um local simplório e muito pequeno. Uma cidade completamente desconhecida, fator que fora decisivo em sua escolha. Já haviam se passado três anos desde o fim da 2ª Guerra Bruxa, mas os reflexos desta se perpetuavam no tempo e ela podia sentir, em cada fibra de seu ser, todos os dias, a enxurrada de lembranças.

Hermione Granger, ou melhor, Dra. Hermione Granger, coava o café de forma artesanal, apreciando o perfume que se espalhava por cada cômodo.

 O corpo ágil se movimentava pela cozinha e os olhos buscavam os utensílios, guardados no armário verde-chá de madeira crua e levemente desgastada nas arestas. Duas xícaras já estavam em cima da pia, isso facilitava as coisas. Abriu as portas, que emitiram um rangido característico, e tirou as demais xícaras coloridas, que comporiam seu enxoval. Se tivesse se casado, é claro.

Harry e Gina apareceriam para um café, talvez até ficassem para o jantar, tudo deveria estar perfeito. Estava morrendo de saudades dos amigos, depois de tantos anos sem vê-los. Preferira se afastar deles por um tempo, fez bem para sua sanidade mental, pelo tempo que foi necessário. Agora, porém, era o momento de dizer 'olá' novamente àquelas pessoas, que mesmo sem compreender muito bem seu distanciamento, respeitaram-na e mantiveram contato constante, sempre muito atenciosos e preocupados.

Diggy, a coruja branca, que comprara há algumas semanas, bicou sua janela, emaranhando- se nas flores que ficavam no parapeito. Prímulas, Violetas, Gerânios, todas enfeitando a entrada da casa de Hermione, todas florescendo e aromatizando o local. Exceto uma, que ganhara do Senhor XenophiliusLovegood, quando ele descobrira a paixão dela por jardins. Era uma planta engraçada, com longas folhas rijas e espinhosas, que nunca crescera. Hermione ficara sem graça quando o Sr. Lovegood lhe entregara o vaso redondo e colorido, mas não fez qualquer comentário sobre a planta exótica.

' Obrigada, Sr. Lovegood, é muito gentil de sua parte'

' Será a flor mais útil de seu jardim, Srta. Granger. Ela é, bem... Peculiarmente Mágica, e um pouco temperamental, ouso dizer. Trate-a com carinho e não permita que os balbonoticos se aproximem. Herbivicus é um feitiço poderoso, posso ensiná-la se quiser...'

Hermione não fazia ideia do que seriam Balbonoticos, apenas sorriu condescendente, fingindo compreender o homem que não parava de tecer recomendações.

 Diggy continuou batendo e Hermione parou sua observação

 — Olá, Diggy! 25 minutos até Londres?! Parece que temos um novo recorde! Vamos ver o que Harry e Gina responderam. Ah, sim... Tome aqui!— Hermione buscou em cima da pia de mármore a caixinha onde guardava os 'petiscos' de Diggy; estendeu a mão cheia de trouxinhas de carne que havia preparado na noite anterior, enquanto a coruja se aninhava carinhosamente em seus fartos cabelos castanhos. Hermione abriu a carta e começou a ler, o coração apertado e pulsando em ansiedade só de ver a letra de Harry.

Mione,

Estamos enviando esta carta para avisá-la que Gina e eu vamos nos atrasar. Tivemos um contratempo aqui na toca, envolvendo a pequena Vic. Ela está um pouco doente, com pequenas marcas amareladas na pele e febre altíssima. Para piorar, Gui e Fleur estão viajando em um congresso Internacional de "Procedimentos cambiais no mundo Bruxo". Vic só está aceitando a companhia de Gin, nem a Molly conseguiu dar um jeito na pobrezinha. Nenhuma poção está funcionando! Espero que entenda. Chegaremos para o café da manhã, mas não tão cedo como planejávamos. Sinto muito. 

Com carinho

 Harry.

 Hermione terminou de ler a carta apreensiva. Não pôde evitar a preocupação. Carregara Vic em seus braços quando a pequena não tinha sequer um mês de vida e nutria pela menina um sentimento quase maternal. Era a terceira criança que ficava repentinamente doente e com os mesmos sintomas naquele mês, talvez devesse procurar alguém do St. Mungus para realizar uma pesquisa aprofundada sobre o assunto. Epidemias no mundo Bruxo eram raríssimas, mas, justamente por isso, quase sempre eram fatais.

 Guardou a carta dentro do bolso da calça jeans surrada e continuou seu trabalho de arrumar a cozinha — não que houvesse muito trabalho, a cozinha era minúscula . Fechou a porta do armário que estava entreaberta e foi até a geladeira procurar algo bom para preparar aos seus amigos.

Apesar de ser uma bruxa, Hermione sempre apreciara a arte de preparar as refeições do modo mais trouxa possível. Quando decidira morar sozinha, ali em Lake District, não cogitara em momento algum a contratação de elfos domésticos, apesar da insistência de Molly Weasley, que não se cansava de dizer o quanto ela ficaria mais aliviada e poderia ter mais tempo livre para aproveitar sua juventude. Hermione tinha alguns motivos pelos quais não teria elfos em sua casa. Na época, Hermione escrevera uma lista classificando vinte motivos organizados em ordem alfabética e enviou aos amigos que lhe haviam recomendado a contratação. Mas acabou ficando com apenas três, eram mais do que suficientes.  O primeiro deles era porque não lhe agradava o fato de que os elfos apenas aceitariam trabalhar por muito pouco, isso quando ela encontrava algum que quisesse receber salário. Depois, tinha o fato de que Hawkshead era uma cidadezinha trouxa em sua maioria, e não seria muito normal a presença de criaturinhas estranhas circulando pelas ruazinhas. Os moradores criariam lendas e boatos por anos, para dizer o mínimo. Por último, tinha o fator 'tamanho’, afinal de contas, a casa era pequena, ela mesma daria conta dos serviços e ainda lhe sobraria tempo para trabalhar, ler os livros de sua lista infinita e assistir seus programas favoritos na Televisão. Seria uma besteira contratar elfos, ou mesmo uma empregada, como sua mãe sugerira semanas atrás.

 A mesa de madeira marfim já estava arrumada, e a toalha xadrez posta nela. Hermione ainda precisava ir à feira local para comprar algumas coisas. Decidira preparar um bolo de chocolate e algumas iguarias da culinária trouxa que Gina ainda não conhecia.

 Foi então até a sala, que ficava logo ao lado da cozinha, e apanhou a bolsa, pendurada no cabideiro. Já alcançando a porta da sala e saindo, sentiu leves arrepios, trazidos pela a brisa gelada da manhã que só Hawkshead poderia oferecer.

A casa de Hermione ficava numa das muitas ruas estreitas, e era a mais isolada de todas. Algo que parecia impossível, já que Hawkshead era toda apertada e as casas pareciam ter sido forçadas a caberem num espaço limitado. Um quintal pequeno, cheio de enfeites e flores dividia sua casinha da rua de paralelepípedo, onde nenhum carro se atrevia a passar. O cheiro de chuva era bastante frequente, mas ela não se incomodava. Era o lugar perfeito para esquecer o que quer que fosse. E esta era a palavra de ordem em sua vida havia um bom tempo.

A feira local ficava relativamente perto, só precisava atravessar duas quadras. Apesar de ainda estar muito cedo, os moradores das redondezas já estavam negociando preços e fazendo as compras semanais. O barulho de crianças rindo e correndo era a prova de que estava chegando perto de sua barraca favorita. 'Coby Cody e Cidy - Frutas exóticas e muito mais'. Eram os trigêmeos idênticos de Hawkshead. Não havia uma pessoa na cidadezinha que não os conhecesse, mas Hermione sabia algo sobre eles que mais ninguém sabia: eram bruxos. A aparência idêntica—  algo raro, em se tratando de trigêmeos —  era fruto de uma anomalia genética causada pela magia da mãe, Sra. Laurene, uma mulher muito simpática que gerenciava o local de trabalho dos filhos. Vendiam frutas de todas as regiões do mundo, e o 'muito mais' previsto no slogan, nada mais era do que ingredientes para poções, colares encantados, feijõezinhos de todos os sabores e sapos de chocolate.

 —Olá, Cody. Como vai? — Hermione aproximou-se da barraca, cumprimentando um dos irmãos, que trabalhava freneticamente na embalagem de um objeto estranho e aparentemente, vivo.

—Hermione Granger! Como consegue? — Cody possuía um brilho divertido nos olhos levemente violeta.

—Consigo o quê?

—Saber quem é quem, oras! Nem os moradores antigos sabem distinguir. — Cody era o mais bonito, talvez porque fosse o mais simpático, Hermione pensou, mas não disse em voz alta.

 —É fácil saber quem é quem, se observada a personalidade de cada um, que é tão diferente quanto água e óleo. —Hermione riu da própria resposta, imaginando a reação do rapaz caso ela verbalizasse o primeiro pensamento.

Os longos cabelos de Cody, amarrados num rabo de cavalo feito às pressas, caíram-lhe sobre os olhos enquanto ele ria com gosto.

 — Uau! Você é realmente brilhante! O que vai ser hoje? Fiz umas encomendas para Hogsmeade, tenho um lote fresquinho de cerveja amanteigada...

 — Hum, acho que vou querer algumas... Mas primeiro preciso saber se você tem um daqueles livros de culinária trouxa. Vou receber uns amigos e quero preparar um bolo de chocolate. Não me lembro tão bem da receita.

 — Claro! Eu ainda tenho alguns daqueles que Mundungo vendeu para mim no mês passado. Estão inteirinhos. — Com um aceno de varinha discreto, Cody conjurou um livro até a bancada de sua barraca. — E fica por conta da casa.

— Oh não, Cody! Eu faço questão de pagá-lo. — Hermione protestou, constrangida. Tinha sérios problemas com a gentileza de Cody, que sempre insistia para que ela levasse alguma coisa “por conta da casa”.

 — Encare como um presente, pelo tempo que somos amigos e por sempre acertar meu nome.

 — Obrigada, Cody...Mas saiba que estou ficando mal acostumada—Hermione agradeceu, sorrindo levemente. — Prometo recompensá-lo trazendo um pedaço do bolo.

— Pode ter certeza que não esquecerei! Tenha um bom dia, Hermione!

— Você também!

   Hermione continuou seu percurso em busca de ingredientes para o bolo. Seguiu o fluxo de pessoas que caminhavam até o mercado principal, quando viu se aproximar uma figura que destoava dos moradores de Hawkshead. Um senhor de capa roxa aveludada e um chapéu engraçado em forma de um minúsculo e largo cone. Era o seu chefe, Sr. Agosis Pertindum.

— Dra. Granger, a senhorita poderia me acompanhar? — Hermione sabia que um pedido do Ministério da Magia estava longe de ser uma escolha. Logo, com 'Poderia me acompanhar' ele queria dizer: “Acompanhe-me ou perca seu emprego”. Não porque fosse um homem ruim, mas porque geralmente as requisições do Ministério possuíam este caráter obrigatório. Do tipo: “Estou pedindo, mas só para não parecer autoritário, ou indelicado demais. Na verdade, isto é uma ordem”.

— Claro, Sr. Pertindum — Hermione assentiu, não fazendo menção às visitas tão aguardadas que receberia, torcendo para que a reunião de última hora não durasse tempo demais.

— x—

— Draco Malfoy, o senhor tem uma visita. Será recebida do lado de fora da cela. Comporte-se— a voz de Thomas, amplificada magicamente, fez-se ouvir em sua cela. Draco percebeu que os dementadores ficaram perturbados. Alguém estava realmente chegando, para sua surpresa. E, aparentemente, alguma boa alma, com boas lembranças e com uma vida feliz, ele observou, pela reação de seus guardas.

Uma mulher loira, com uma capa azul celeste e um vestido ocre — bastante justo, ele pôde concluir de sua observação — vinha caminhando em direção a sua cela. À medida que se aproximava, e a luz de seu patrono, um coiote enorme e prateado, iluminava todas as celas dos corredores, Draco percebeu o quão atraente ela era. Os olhos verdes eram ágeis, e o nariz, levemente arrebitado o fez se lembrar de Narcissa. Ela tinha um porte aristocrático, um jeito delicado de caminhar. Talvez fosse uma Veela.

Quando a mulher finalmente se aproximou, ele teve a certeza de que ela era a sua visita, principalmente quando o tratou pelo nome, com um sotaque arrastado e bastante pesado.

— Senhor Draco Malfoy, meu nome é Kayla O'Boyle. Trabalho para o Ministério da Magia Irlandês e estamos iniciando um projeto que visa melhorar as condições dos detentos de prisões Mágicas ao redor do mundo.

Ela falava como quem viera a viagem inteira decorando um texto, chegara despejando em cima dele, e talvez dos demais presos, as informações do maldito Ministério Irlandês.

— Não estou interessado—a voz fria e bastante áspera pela falta de uso não pareceu intimidar a mulher irresolúvel à sua frente, circundada pelo coiote, que andava em posição de ataque.

 Nem mesmo na possibilidade de recuperar a Mansão mais imponente de Wiltshire? E talvez de toda Inglaterra?

 Draco, que havia dado as costas para Kayla O'Boyle, virou-se repentinamente, espantado demais para disfarçar seu interesse. Tudo o que mais desejava, desde o dia em que descobrira que sua casa seria confiscada pela corja do Ministério, era poder colocar as mãos de volta nela.

 — O que sabe sobre isso? E como eu posso recuperá-la? Vamos, responda!—havia ordem no tom de voz de Draco, mas Kayla não pareceu se ofender.

 A jovem de porte elegante e quase mecânico olhou para Draco, ela tinha um meio sorriso, ele percebeu. Se não estivesse louco, poderia dizer que vira, na sombra dos olhos verdes e perspicazes, uma chance de finalmente sair daquele lugar.

 — Sabia que isto o interessaria, senhor Malfoy...

— x—

 Aos 18 anos, Hermione Granger se tornara a Medibruxa mais jovem dos últimos 50 anos. Ela trabalhara na guerra tratando doentes e, havia quem dissesse, tratando a si mesma, tamanhas haviam sido suas perdas.

Quando completara 21 anos, o chefe do departamento de cuidados médicos do Ministério da Magia a convidara para integrar o quadro de funcionários de sua ala hospitalar. Agosis Pertindum, um medibruxo Irlandês, que chegara à Inglaterra com ideias inovadoras, criara um programa bastante exótico e, com exceção de alguns 'bruxos tradicionais', o pessoal estava animado com a inovação. O programa consistia numa enfermaria dentro do próprio Ministério, responsável pelo acompanhamento e inserção nos cargos disponíveis daqueles que possuíam determinadas doenças ou anomalias, e em alguns casos, quando possível, aqueles pacientes internados na ala de danos permanentes do St. Mungus. Estes, passando por uma rigorosa triagem, a fim de mensurar os danos e avaliar se estariam em condições de assumir algum posto no Ministério, e, futuramente, em outras instituições da sociedade Bruxa.

Ela aceitara a proposta, é claro. Estaria trabalhando com profissionais importantes; teria a oportunidade de aprender muito com Medibruxos renomados, e o mais importante, trabalharia com o que sempre defendera. A inclusão daqueles que eram marginalizados e esquecidos pela comunidade bruxa — por doenças ou pequenas “avarias”.

Naquela manhã, quando Sr. Pertindum a chamara para uma “conversinha”, ela não imaginava que fosse receber notícias tão motivadoras.

Através de uma chave de portal, Hermione e Agosis Pertindum chegaram num prédio antigo e mal cuidado que adentraram, e Hermione, tão logo pôs os pés no recinto, reparou na decoração caprichada e contrastante da aparência descuidada que o prédio possuía para quem olhasse somente a fachada.

— Sente-se, por favor —Sr. Pertindum falou, indicando a cadeira de estofado impecável, tão amarela que poderia cegar quem olhasse por muito tempo — Kweet, traga-nos um chá, querida!

Uma elfa muito franzina de nariz longo e largo e olhos amarronzados apareceu trajando um vestido cor de rosa, cheio de flores brancas, muito bem alinhado.

—Bom dia, meu senhor! Kweet estava preparando os bolinhos de abóbora e mel que Srta. Penny me pediu. Espero que não se incomode. Kweet já vai preparar o chá.

— Ora, não fique se desculpando, Kweet. Estamos de acordo que Penny é prioridade nesta casa. Não estamos? — O homem sorria para a elfa, como um pai sorri para uma criança pequena em fase de aprendizado, achando graça de cada frase dita.

— Sim senhor! —Kweet olhou sem graça para o seu senhor, um pequeno sorriso despontando em seus lábios enrugados e levemente tortos. Com um estalar de dedos, aparatou para a cozinha.

 — Nunca deixarei de me impressionar com o tratamento que dedica aos seus elfos domésticos, Sr. Pertindum. —Hermione estava deslumbrada, como sempre ficava quando observava a forma com que o chefe tratava seus criados, com muito cuidado e, em alguns casos, muito carinho. Seus elfos comiam à mesa e vestiam roupas muito bem alinhadas, recebiam um bom salário e se desejassem, possuiriam suas próprias casas. A maioria não aceitava a casa, achavam demais, até para os padrões de um elfo moderno.

— A Srta. Sabe a minha preocupação com aqueles quenão possuem direito a voz na comunidade bruxa. Sempre me dediquei à luta em prol da igualdade de todas as criaturas, sejam bruxos, sejam elfos, anões, gigantes... Enfim! E foi por isso que a contratei. Quando li seu histórico em Hogwarts, o F.A.L.E, e toda a sua preocupação com os menos favorecidos, me fizeram enxergar em você a pessoa perfeita para o projeto que eu tinha em mãos. — Kweet chegou com a bandeja de chá e Pertindum parou de falar por alguns segundos, bebericando o líquido e fechando os olhos, como se estivesse apreciando muito a bebida.

— Pois bem — continuou — Nestes dois anos que a Srta. esteve conosco, o projeto cresceu assustadoramente. Mais de 250 bruxos foram recolocados em posições que lhes haviam sido tiradas em virtude de alguma doença. O Ministério está atuando com muito mais eficiência, uma vez que temos mais funcionários, e, como um adicional,a ala hospitalar especial também tem servido para o apoio daqueles que precisam ser atendidos emergencialmente e não se encontram em condições de aparatar. Como pode ver, obtivemos muito sucesso.

Hermione assentia levemente. A respiração estava suspensa, mas ela ainda não tinha se dado conta do fato. Então era isso, pensou, seria demitida, já que o trabalho havia terminado e o projeto ia de vento em popa com ou sem ela.

— Srta. Granger? —Pertindum chamou, percebendo que Hermione havia se perdido em alguma longa parte de seu discurso— A Srta. está de acordo?

— Perdão

— A senhorita está de acordo com a sua readequação no programa

 “Readequação?” Pensou, nervosa.

— Quais os termos? Desculpe, eu estava distraída. —Hermione corou, constrangida. Sr. Pertindum sorriu, não pareceu se importar com aquilo.

—Bem, a senhorita sabe que, de acordo com o projeto inicial do nosso programa, nossa pretensão sempre foi a inclusão de bruxos debilitados em todas as instituições bruxas. Todas mesmo. Portanto, numa reunião com meus colegas, decidimos que a senhorita preenche todos os requisitos para chefiar esta nova etapa do programa. Gostaria de saber se existe interesse de sua parte.

—Sr. Pertindum, seria uma honra! Apenas preciso saber onde, quando, e como será essa nova etapa... Mas adianto que a proposta me interessa muito— Hermione estava eufórica. Esperava uma demissão e recebera uma proposta praticamente irrecusável. Talvez fosse seu dia de sorte.

— Bem, a princípio, a senhorita passará por um estágio probatório no Profeta Diário. Eles estão muito empolgados e já foram avisados da sua chegada, caso a senhorita aceite. Posso adiantar que todos ficaram lisonjeados por poderem trabalhar com uma heroína de guerra.

Pertindum, aparentemente, havia encerrado as explicações, mas seu ajeitar desconfortável na poltrona de Mogno talhado com pequenas cabeças de Texugo indicava que havia algum detalhe que ele não mencionara. Um que parecia particularmente delicado, se Hermione pudesse arriscar um palpite pela expressão insegura de seu chefe.

— Mas... —Hermione emendou, sabendo que, pelas feições de Agosis Pertindum, haveria um “mas”, e ele seria um bocado indigesto.

Pertindum sorriu, pensando que de fato ela era muito inteligente. Ele não planejava contar o restante agora, enquanto estavam em negociações preliminares. Mas talvez fosse melhor abrir o jogo, se a coragem Griffinória fosse realmente uma realidade, Dra. Hermione Granger aceitaria o desafio.

— Senhorita Granger—, começou, analisando milimetricamente cada movimento da jovem Doutora.—Após o estágio probatório no Profeta Diário, a Senhorita visitará inúmeras instituições, e... Bem... Quando digo 'todas', são todas mesmo, inclusive a Prisão de Azkaban, que será seu último local de trabalho. Temos alguns Medibruxos que foram afastados nos primeiros meses do pós Guerra, pois, por ordem do Ministro, na época, os presos não teriam direito à assistência médica. Em virtude deste afastamento, alguns doutores, afundados no ócio, resolveram ajudar no combate aos Comensais foragidos, e muitos foram severamente machucados, por não possuírem a experiência em duelos que os Comensais possuíam. Enfim, o resto da história a senhorita pode imaginar. Acumulamos vários Medibruxos competentes gravemente debilitados, sem um ou outro membro do corpo, além de profundos traumas psicológicos, desperdiçando seus talentos porque a comunidade bruxa não acredita na utilidade deles.

Hermione se deixou estarrecer. Os braços caíram pesadamente no colo. Não queria ir para lá. Lutara contra muitos que estavam ali, inclusive perdera pessoas queridas por culpa de bruxos que cumpriam suas penas naquele lugar horrível. Isso, é claro, sem mencionar os dementadores, que seriam a “cereja do bolo”.

Agosis Pertindum fitava Hermione com apreensão, envolvendo uma mão na outra, ajeitando a postura a cada cinco segundos. Até que ela começou a falar.

— Sr. Pertindum, devo confessar que lá no fundo já esperava por algo do tipo, mas não imaginei que a responsabilidade fosse recair sobre mim. —Hermione respirou fundo, como quem busca nas partículas de Oxigênio presentes no ar, a coragem que lhe faltara por todos esses anos para tocar no assunto. —Depois de ficar encarregada da organização do Banco de sangue Bruxo na Mansão Malfoy, projeto que o senhor também encabeçou, imaginei que a única vez que pisaria ali seria no dia da inauguração, que coincidiu com o julgamento do preso n° 106.789.

Hermione não queria continuar, não seria saudável, estivera longe demais, estava confortável em sua reclusão mental. 

— Mas o senhor sabe, assim como toda a comunidade bruxa, que, dentre todas as mortes que ocorreram na última guerra, a de Ronald Weasley, para mim, foi o maior dos golpes.—Hermione respirou fundo pela segunda vez. O assunto havia ficado adormecido nos recônditos de sua alma, era uma tarefa árdua acordá-lo. — Eu não me sinto confortável em trabalhar num local onde o possível responsável pela morte dele possa estar.

               Nunca acharam o culpado pela morte de Rony. Nos dois primeiros anos, Harry ficara insano, utilizara toda sua influência como Auror para descobrir maiores detalhes sobre a morte do amigo, mas fora, aparentemente, o crime perfeito.

Com o passar do tempo, Harry assumiu que, talvez, o responsável tivesse sido preso juntamente com a grande leva de comensais que haviam sido capturados. Não tinham desistido, muito pelo contrário, as buscas continuavam, mas não consumiam mais a vida da Família Weasley, de Harry ou Hermione.

Após algumas tentativas frustradas de iniciar o que Hermione pensou ser o ensaio de algum pedido de desculpas, Agosis Pertindum resolveu pôr fim ao silêncio incômodo e tenso entre ele e sua funcionária.

— Eu entendo o seu ponto, Srta. Granger... — Pertindum falou baixinho, em tom de resignação. —Acredito que a senhorita tenha todos os motivos para negar nossa oferta. E aproveito para pedir desculpas pela indelicadeza, eu deveria ter pensado no Sr. Weasley e em todas as implicações que o fato de estar ali, num lugar cheio de criminosos, poderia trazer.

— Está tudo bem, Sr. Pertindum. Eu não me senti ofendida... Apenas lhe peço um prazo para pensar. Quanto tempo eu tenho para decidir sobre a proposta? —Hermione indagou, insegura, e o homem arregalou os olhos em absoluta surpresa.

— Ora, sim... Isso é, bem, inesperado. Eu gostaria de lhe dar um tempo maior, mas a Senhorita sabe, não é? O Ministério não pode colocar um projeto em pauta e mantê-lo parado por mais do que duas semanas, então, infelizmente, este é o tempo que posso lhe oferecer.

— Está certo! Se o senhor não tiver mais nada para me dizer...

— Oh, não! Finalizamos por aqui. Aguardarei ansiosamente a sua coruja, Srta. Granger! Eu a acompanho até a porta.

Ambos caminharam até a porta e despediram-se. Hermione olhou o relógio e suspirou pesadamente. “12:45! Espero que Harry não tenha chegado ainda.” pensou com preocupação. O que havia começado como um dia excepcionalmente feliz e otimista, estava se mostrando uma maré de notícias difíceis. E este era só o começo.

— x—

Quando chegou em casa Hermione notou que Loian, a Coruja castanha de Gina, havia acabado de chegar com uma carta em seu bico. A moça estranhou, pois Loian não fazia mais entregas, estava aposentada há um bom tempo, tanto que utilizavam Diggy para os serviços. Hermione dirigiu-se até a porta da casa, equilibrando o livro que ganhara de Cody com algumas garrafas de cerveja amanteigada em uma das mãos, enquanto a outra procurava a chave dentro da bolsa.

Ao entrar na sala, apanhou a carta de Loian e colocou-a na gaiola de Diggy, para que pudesse descansar e se alimentar. Começou a leitura, apreensiva, aparentemente Gina havia escrito com pressa, a julgar pela letra corrida e esticada.

Mione,

Estou lhe escrevendo para pedir desculpas. Não poderemos ir à sua casa. Mas os motivos são justos, pois, além de Vic estar hospitalizada e com uma piora severa em seu quadro clínico, tenho uma notícia bastante delicada para lhe dar. Não gostaria de estar falando por carta, mas não há lareiras por aqui.

Harry não havia mais tocado no assunto desde quando todos nós decidimos por enterrar esta história. Mas recentemente um memorando chegou até ele sobre possíveis investigações realizadas na Ilha de Man. Hermione... Foram encontrados indícios de que o responsável pela morte de Ron possa estar lá. Harry me contou apressadamente sobre algo como “Movimentações bancárias suspeitas” e “Comensais de outros países”.

Eu não tenho muitas informações ainda, mas Harry partiu para o local indicado no memorando, que também trazia o nome de dois presos de Azkaban. Estou apreensiva demais, Mione! Nunca havíamos chegado tão perto de uma pista. Sei que você precisa continuar sua vida, mas, você é minha melhor amiga e eu achei que gostaria de saber.

Mais uma vez, me desculpe pela ausência

Com amor

Gina

 

Hermione sentou-se na poltrona mais surrada da sala. O tecido de algodão cru que forrava o estofado rasgado tocava a ponta de seus dedos, que repousavam sobre o assento, junto de sua perna. O ambiente girava e as cortinas balançavam freneticamente, em razão da ventania que começara de repente. Sentiu na língua um gosto amargo, e no coração uma agonia violenta. Como se estivesse diante de uma penseira, suas memórias vieram na velocidade de um maremoto, descontroladas e destruidoras. Ela se lembrou do quanto estava perdida.

Os ventos de Hawkshead não foram bem recebidos, e pela primeira vez, depois de muitos anos, Hermione Granger sentiu-se abraçada pela fumaça negra da solidão.

Sometimes when I close my eyes I pretend I'm alright

But it's never enough¹

Precisava fazer algo. Tinha nas mãos a oportunidade de desvendar o mistério que havia tirado seu sono por anos. Desta vez ela não se esconderia nos muros que permeavam todo o território de Lake District; desta vez ela faria aquilo que já devia ter feito há muito tempo, usar sua inteligência para vingar a morte de seu grande amor.

Ainda na sala, Hermione acendeu a lareira e esperou que seu chefe estivesse pronto para atendê-la naquele momento.

— Senhor Pertindum? —Ela começou, as mãos tremiam e o corpo queimava em adrenalina. Nunca tomava decisões impulsivas. Nunca. Mas este era o momento pelo qual ela esperara desde o dia em que Rony morrera em seus braços. Não podia titubear.

— Olá, Dra. Granger. Não esperava um contato da senhorita pelos próximos 14 dias. — ele riu, enquanto coçava as têmporas lentamente, aguardando Hermione lhe contar o porquê da chamada.

Após um breve minuto de espera, Dra. Hermione Jean Granger tomou a decisão que, ela sabia, tinha o potencial de causar uma mudança assombrosa em sua vida. Resolveu não pensar muito, pela primeira vez em sua vida, e algo lhe dizia que não seria a última.

— Eu aceito a proposta. E meu desejo é começar em Azkaban.

— Excelente! Sabia que a senhorita não me decepcionaria. — Os olhos do homem brilharam em excitação.

...

Porque meu eco

É a única voz a voltar

Minha sombra

É a única amiga que tenho

 

 


Notas Finais


¹ Às vezes quando fecho meus olhos, finjo que está tudo bem, mas nunca é o bastante.


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