História Consternação - Capítulo Único

Fechei a porta atrás de mim e joguei meu casaco no sofá. A casa estava silenciosa, eu só podia ouvir minha respiração e meus movimentos.

E era disso que eu estava precisando.

Silêncio.

Me alojar no meu mundo enquanto me revirava em quem eu realmente era, a pessoa que poucos sabiam da existência. A agonia gritante no meu peito guiava meus pensamentos quando eu pensava na vida que eu estava levando.

Era uma mentira.

Eu fazia as pessoas rirem. Eu fazia as pessoas se divertirem. Adotava uma personalidade que nem se comparava a pessoa que eu sou, mas acreditavam. O fato era que todos acreditavam na imagem que os passavam. Eram como os homens na caverna de Platão. Enxergavam apenas as sombras, e estavam tão acostumados com elas que não tentavam ver além disso.

Mas eu não poderia reclamar sobre isso, eu movimentava as sombras como marionetes, iludindo as pessoas e mostrando o que eu queria que elas vissem. Eu era o culpado de tudo.

Joguei meu corpo no sofá e soltei um longo suspiro, sentindo meu peito queimar.

Eu cuidava das pessoas, eu tentava as fazer felizes, eu as fazia rir, eu ria com elas. Mas por que eu não me sentia feliz?

Não gostava de mostrar como realmente me sentia, senão a imagem de Kim Namjoon que elas tem seria totalmente destruída.

Kim Namjoon, a pessoa inteligente. Kim Namjoon, a pessoa que todos amavam.

E eu não encontrava motivo para esse tal afeiçoamento que diziam sentir por mim. Afinal, era apenas eu. O eu que chegava em sua casa e seguia direto para algum lugar que poderia deitar enquanto as inseguranças e pensamentos melancólicos consumiam seu corpo lentamente, numa mastigação dolorosa que duraria a noite inteira. E então, pela manhã, me regurgitariam para mais um dia. Mas continuariam ali, apenas esperando e me observando, rindo de mim enquanto eu fingia ser quem eu não era.

Enquanto eu fingia ser feliz.

Eu era um hipócrita. Tinha todos os motivos na minha frente para me sentir feliz, mas nenhum deles captava minha atenção. Eu os apreciava, conseguia ver todos os motivos, mas eu não me sentia merecedor deles. Eu não me sentia a pessoa adequada para essas tais razões que deveriam me fazer querer viver, mas apenas me destruíam mais e me afundavam na náusea que era estar vivo.

E eu me odiava. Me odiava por esses pensamentos, me odiava por ver todos os motivos mas não conseguir digerir nenhum, me odiava por ser eu, me odiava e me odiava. Eu me sufocava no meu próprio ódio. E isso me fazia odiar mais.

Eu era decepcionante. Nojento e decepcionante.

Isso é o que eu sou, diferente do meu disfarce. As pessoas já tinham muitos problemas para se preocupar com alguém como eu, talvez elas precisassem ser mais felizes. Precisavam de alguém para as fazerem sorrir, e não as intoxicar. E era o que eu queria fazer. A felicidade que eu não conseguia sentir, eu queria fazê-las sentirem. E isso me satisfazia. Elas se divertiam, mesmo que eu não fosse engraçado. Talvez riam de mim por ser do jeito que eu sou, mas elas se divertiam.

E eu ficava satisfeito.

Elas estavam bem. Eu fingia estar bem.

E quando virava as costas, deixando-as para trás, fechava a cortina escura e me escondia atrás dela, deixando-me ser.

Kim Namjoon.

Sufocado em agonia, sangrando decepções e gritando inseguranças.

Kim Namjoon.

Sendo corroído pelo ódio.

Kim Namjoon.

Eu.

Sufocado.

Sangrando.

Gritando.