Josival morava numa casinha humilde localizada no sertão, esse mesmo, o do Nordeste brasileiro. Não conhecia quase nada sobre a geografia do próprio país, seja por experiência ou por leitura. Nunca frequentou a escola, logo não sabia ler. Não compreendia geometria espacial ou plana, álgebra e muito menos física. Sabia mal mal o português, e no inglês arriscava um “ai”, mas só quando sentia dor. Contudo, Josival conhecia muito da sua região, da seca principalmente. Não sabia o nome do bioma, caatinga, mas sabia quando chovia, sendo sua época favorita do ano. Adorava sentir a água caindo do céu, ressuscitando a terra morta. Sabia os animais que habitavam: sapo cururu, ararinha azul, asa-branca, péa, gambá, tatupreba. Sabia onde achar os xique-xique, juazeiro e mandacaru. Sabia só de fechar os olhos a cor da terra, branca como a neve e seca como inferno. Conhecia muito bem a desgraça de onde vivia, mas o que desejava saber era: Quando o sofrimento do povo ia acabar? Josival estava cansado de ver criança morrendo de inanição, jovem morrendo de velhice e o gado de sede. Ia ser sempre assim ou Deus ia abrir uma luz de esperança e bondade que não queimasse a pele? Na verdade, Josival preferia ter a alma queimando do que mais um dia sendo roubado pela tristeza que só o sertão sabia gerar. Resolveu ir pra uma encruzilhada, numa madrugada. Acabou tendo a alma queimando mesmo, mas numa casinha de frente pro rio, onde tinha muito peixe pra assar junto com ele.
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