1. Spirit Fanfics >
  2. Contos de Fadas?! >
  3. Pior que um tapa

História Contos de Fadas?! - Pior que um tapa


Escrita por: Cass_YK

Capítulo 4 - Pior que um tapa


Nunca pensei que tirar férias poderia ser tão entediante, quando era pequena não me aguentava de ansiedade esperando que as férias de verão chegassem para que eu pudesse brincar até não poder mais. Não tirava férias desde meus dezoito anos quando entrei na faculdade e comecei a tratar dos negócios da empresa, acho que devo ter esquecido de como fazer isso. A única coisa boa nisso era que agora dormia pelo menos o mínimo aceitável de horas por dia.

Bem, então podemos dizer que a semana que passei em casa resumiram se em mim trancada no escritório lendo um livro atrás do outro e Sett fazendo sei lá o que o dia todo. É claro, passamos um tempo juntos para que os empregados não desconfiassem de nós: à noite, dormindo. Todas as manhãs dizia bem alto na mesa durante o café que tinha muitos problemas da empresa para resolver tentando dar a entender aos empregados que infelizmente não poderia passar o dia com o meu tão querido marido, e claro, para alertar mais uma vez a Sett que não me incomodasse, dizia isso tudo com minha melhor cara de chateada e com uma voz bem chorosa dando a entender que sentia muito por tudo isso. Estava muito orgulhosa de mim mesma, acho que minha encenação de esposa apaixonada e patética melhorava a cada dia. A cada instante que passava com ele perdia um pouco mais de minha dignidade, mas pelo menos melhorava minhas habilidades de atriz. Ai, ai, como eu sou sortuda.

Estava tão feliz que segunda-feira tinha chegado que acabei acordando mais cedo do que de costume, tomei uma ducha gelada para acordar e comecei a rebocar meu rosto para esconder minhas olheiras, que aliás ainda não tinham sumido por completo. Sett ainda dormia tranquilo quando saí do banheiro envolvida em meu roupão felpudo. Não sei como ele conseguia ser tão relaxado e cabeça fria assim, será que ele não estava ansioso por finalmente sair dessa prisão luxuosa, que era esse apartamento, e voltar o mais tarde possível colocando a culpa no trabalho? Porque eu estava.

O guarda-roupa do quarto guardava apenas pijamas e coisas do tipo para que fossem mais fáceis de apanhar após o banho, por ficarem praticamente ao lado da porta do banheiro, as roupas de verdade ficavam no closet. Segui para lá logo após sair do banheiro.

Tirava o quinto par de sapatos consecutivo de meus pés quando Sett entrou no closet dando um longo bocejo enrolado em uma toalha, eu realmente esperava que ele estivesse usando uma cueca por baixo daquilo. Seus cabelos ainda estavam molhados por causa do banho e um cheirinho refrescante de limão preencheu o recinto no momento em que ele o adentrou. Ele parecia não ter muita pressa nem vontade de escolher uma roupa, na verdade ele era até calmo demais. Mais um bocejo.

-Eu pensava que princesas precisavam de seu sono da beleza – ele começa a provocação em meio a seu tom de brincadeira de sempre, como isso me irritava.

-E eu que elas tinham seu “felizes para sempre” – rebato com um tom seco de escárnio. Sei que responder suas provocações só me igualava ao seu nível, fazendo-me parecer uma criancinha, mas sua presença me irritava ao ponto de eu não conseguir me controlar, sentia que se não fizesse algo que o rebaixasse ou desprezasse não conseguiria aguentar a vontade que tinha de soca-lo a cada vez que via seu rosto.

-Bem, não é como se o seu príncipe não quisesse isso – ele sussurra com uma voz mais grave e aveludada em meus ouvidos fazendo com que um arrepio percorrer meu corpo. Não me entenda mal, não é como se eu gostasse disso eu só não estava acostumada com toda essa proximidade, nada mais que isso.

-É por que a princesa não quer ele mesmo.

-Veremos – ele beija minha bochecha. Apenas ouço um estalo forte e sinto minha mão arder. Em seu rosto surgia uma marca vermelha latejante.

-Acho que já deixei isso bem claro para você, mas vou refrescar sua memória: encoste um dedo sequer em mim novamente e faço você se arrepender de ter nascido. Se quiser continuar a brincar de casinha vá procurar um outro alguém para participar desse seu jogo imbecil, aposto que há várias garotas lá fora que adorariam brincar com você – o encaro por alguns segundos com um olhar gélido antes de sair. – Coloque um pouco de gelo nisso, você vai precisar desse rosto se quiser arranjar uma nova participante para sua brincadeira imbecil.

X.X.X

O prédio Vanderwall era o mais alto da cidade e cada pessoa que passava por ele podia perceber a grandeza e imponência que o prédio emanava.  De suas portas saiam e entravam inúmeras pessoas, o fluxo não parava um minuto sequer. Pessoas importantes, empresários de alto escalão e até meros subordinados, pessoas assim, pessoas como eu. Gente que passaria toda sua vida entrando e saindo, verificando e carimbando papéis, analisando e resolvendo problemas, entregando toda sua vida para o trabalho, como se ele mesmo fosse sua vida. A única diferença entre mim e eles era que não estava aqui pelo dinheiro ou até por que gostava disso tudo, estava aqui para fugir. Fugir do estereótipo que a sociedade havia criado de mim e agora pelo mais novo motivo: fugir de Sett, fugir de minha nova vida. Sabe, o trabalho era como que um refúgio para mim, quando tinha algum problema eu me escondia nele, quando algo me incomodava me concentrava nele. Qualquer coisa poderia estar acontecendo em minha vida, mas ele sempre estava lá com pilhas e pilhas de documentos esperando para serem analisados por mim, como uma porta de escape da minha vida. Será que isso me fazia estranha?

Quando adentro a porta do edifício todos parecem parar por um momento e olhar para mim com um ar de admiração ou respeito, como se dissessem algo como “Olhe lá, essa será a nova dona de nossas vidas” ou algo do tipo, às vezes penso que todos estão apenas tirando um pouco com minha cara. Mesmo que essa cena tenha se repetido pelos últimos oito anos acho que ainda não me acostumei com isso. Atravesso o enorme hall de entrada olhando sempre para frente, as pessoas ainda me encaram um pouco e abrem caminho para que eu possa passar, até saem do elevador quando entro nele, até hoje penso que eles exageram um pouco com isso. Aperto o 59º botão e espero até que o elevador chegue a meu destino. O 59º andar era o penúltimo andar do edifício, e o próximo andar era onde ficava o rei desse grande império, no momento eu ainda era uma princesa nesse lugar, mas logo sentaria naquela grande mesa que o rei Vanderwall sentava todos os dias e comandava seu pequeno grande mundinho do dinheiro. Um pouco assustador, não acha?

-Abram alas para a nossa mais nova recém-casada! – Uma voz irrompe assim que as portas do elevador se abrem. Jean. Ele era como o vice-vice-presidente da empresa, ele ficava no meu lugar quando não estava e resolvia os problemas de que eu não tinha tempo de cuidar, ótimo profissional e ótimo amigo. Ou melhor: único amigo. E o único, além de meu pai, que sabia sobre a fraude que se tornou minha vida. – Como vai, Sra. Volkan?

-Argh, nem me lembre desse nome, só de ouvi-lo já sinto ânsia de vômito.

Ele solta uma gargalhada e continua a falar:

-E aí chefinha, como foi sua tão doce lua-de-mel? – Ele pergunta, enquanto coloco minhas coisas sobre a mesa, com uma cara tão curiosa que não posso deixar um riso escapar.

-Bem, digamos que eu deixei uma marca nele – tecnicamente isso não era uma mentira comparado ao que aconteceu hoje mais cedo, mas quando olho para ele vejo um sorriso cheio de malícia espalhado por seu rosto. Pervertido. – Não é nada disso que você está pensando. Pode tirar esses pensamentos depravadas de sua cabeça já – digo brava. Ele tinha que dar um jeito naquela cabecinha perversa.

-Mas que pena, pensei que minha querida Alice tinha finalmente saído das fraldas – ele diz fingindo desapontamento.

-Ah, vai arrumar o que fazer Jean! – Ele ri. Rio também.

-Só mais uma coisa: o casamento estava lindo, principalmente aquele bar. Você já viu tantos tipos de bebidas antes na sua vida? Aquilo deveria ser levado para um museu e declarado como patrimônio nacional, porque meu deus! – Rio novamente, só ele para me fazer rir tanto em tão pouco tempo. – Mas não foi apenas a bebida que me atraiu, você também foi uma linda noiva Alice.

-Você deveria ter visto depois da festa – digo sarcástica.

-Podia até imaginar a cena, mas acho que você me bateria se o fizesse – ele estava absolutamente certo, esse cara... – Foi uma pena que não foi de verdade.

-É, uma pena...

Quando cheguei em casa já era tarde da noite, todos na casa já estavam dormindo, tinha arrumado trabalho para ocupar minha cabeça e adiar o máximo possível a hora de voltar para casa, não queria olhar para a cara dele ainda. Pelos próximos dias comecei a sair para o trabalho mais cedo que o habitual e voltar quando todas as luzes já tinham se apagado. Fiz isso até o dia em que não aguentei mais e tive que voltar mais cedo para casa e descansar. Me surpreendi quando abri a porta do quarto, pronta para me atirar na cama e tirar uma longa soneca, quando vejo várias malas meio feitas espalhadas pelo quarto.

-Ah, você já voltou – Sett sai do closet, com uma pequena pilha de camisas em suas mãos, tirando minha atenção da bagunça de malas e roupas pelo quarto. – Que bom, estava me perguntando se deveria arrumar a sua também.

-Hã? Do que você está falando? – Pergunto um pouco confusa por causa do cansaço.

-Arrume as malas Princesa, nós vamos para a praia! – Ele anuncia animadamente com seu sorriso de sempre. Ainda não consigo assimilar as palavras direito, ele tinha dito vamos à...

-Praia?!


Notas Finais


E aí, que acharam?


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...