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História Contos do Acaso - Segurança


Escrita por: 1000Hands

Notas do Autor


HELLO!!!
Boa noite, pessoal. Como vocês estão???
Voltei com mais um capítulo para vocês e ESPERO QUE GOSTEM!
E vamos ler essa poha logo né

Boa leitura!

Capítulo 21 - Segurança


Fanfic / Fanfiction Contos do Acaso - Segurança

Camila amarrou o roupão em seu corpo ao sair do banheiro e continuou enxugando seu cabelo com a toalha macia em suas mãos. Adentrou um pouco mais o quarto e caminhou até a sacada expondo-se aos raios de sol, esses que trouxeram um calor agradável naquela manhã fria, que possuí o céu azulado e completamente desnudo de nuvens, porém o dia permanecia com a temperatura baixa e com ventos frios, contudo estava um dia lindo lá fora.

Preferiu deixar que seu cabelo secasse naturalmente e assim voltou para o banheiro e colocou a toalha molhada junto às roupas sujas num cesto, sua barriga reclamou sonoramente indicando que estava com fome, então decidiu procurar algo para comer no andar de baixo.

Descia a escada da casa e na metade dela já podia ver o corpo de Lauren deitado no sofá maior que decorava a sala, ela parecia dormir profundamente, dali era possível ver apenas suas penas cobertas por uma grossa coberta na cor branca.

“Eu até gosto de você, sabia?”

Continuou descendo os últimos degraus da escada.

“Mas eu gostava de como você era antes, tipo, você sorria mais e eu gosto do seu sorriso.”

Sorriu ao lembrar-se da frase e pensar que Lauren, com certeza, imaginou que ela estava dormindo. Camila demorou a dormir naquela noite, realmente estava dormindo, mas acordou quando a Jauregui entrou no quarto com toda sutileza do mundo, para não dizer o contrário, porém fingiu dormir para evitar uma discussão que não queria ter e, talvez, aquilo tenho sido o melhor que poderia ter feito.

“Me desculpa mesmo por te dizer tanta merda, não só hoje, mas por todas as merdas que eu já te disse.”

Aproximou-se do corpo delgado deitado sobre o estofado e pôde perceber que a morena dormia bruços, apenas o cabelo longo cobria a pele alva de sua de suas costas, perfeitamente ondulado e bagunçado. O contraste tornava a visão tão sexy quanto a imagem que tinha da morena parcialmente escondida atrás da porta do banheiro de um hotel naquela noite chuvosa, quando Camila se permitiu desfrutar daquela visão, exatamente como fazia agora. Lauren parecia atraente.

Espantou o pensamento e deu atenção ao cheiro de álcool que preenchia sala, tinha duas garrafas pequenas em cima da mesinha de vidro, uma estava pela metade e a outra permanecia cheia. Ao que parece Lauren não havia bebido tudo que pretendia, porém alcoolizou-se durante a noite, restava saber se ela tinha se embriagado antes ou depois de lhe dizer tudo aquilo, provavelmente antes, pois Camila já percebera que Lauren não era mulher de expor nada que pensava ou sentia. O cheiro embrulhou um pouco seu estômago, mas Camila não deu atenção a isso.

Camila decidiu ir à cozinha e procurar algo para comer, estava com uma fome enorme, mas queria comer apenas uma coisa: Banana com mel.

Não pôde deixar de pensar que este seria um possível desejo de grávida, pois nunca havia comido sua fruta favorita com mel, mas estava com uma vontade gigantesca de comer isto. Pegou o pote de mel que ficava em cima de um pequeno balcão junto a algumas especiarias e temperos, depois foi à fruteira e retirou de lá as duas ultimas bananas que estavam solitárias ali, logo começou a preparar seu café da manhã.

Ouviu o telefone tocar na sala e esperou até que Lauren o atendesse já que ela estava mais próxima do aparelho, porém o som ainda ecoava pela casa avisando que ninguém atendera a chamada.

Camila bufou revirando os olhos, lógico que Lauren não acordaria, ela parecia uma morta no sofá. A latina chegou até a sala e viu que Lauren terminava de descer a camisa pelo corpo, depois à morena pegou o aparelho e o atendeu, ela ainda não tinha notado a presença de Camila atrás de si. A latina achou melhor voltar a preparar seu café e deixar que a morena atendesse quem quer que fosse do outro lado da linha.

Depois de alguns minutos Camila já estava finalmente saboreando sua sobremesa, enquanto estava sentada na banqueta com os cotovelos apoiados na bancada, sua atenção foi roubada quando Lauren entrou no cômodo. Camila a olhou e viu que Lauren lhe encarou por um momento como se estivesse surpresa, talvez não esperasse que a latina acordasse tão cedo, mas Camila continuou lhe encarando. Os olhos de Lauren estavam tão vermelhos, uma mistura de sono e ressaca, possivelmente.

O corpo da morena estava um pouco dolorido. Viu Camila lhe encarar e deu-lhe um breve aceno com a cabeça, indo guardar as garrafas que estavam em suas mãos.

— Bom dia — Camila a cumprimentou.

— Bom dia — Lauren respondeu surpresa, até onde sabia a latina havia ido dormir chateada.

Lauren pegou uma leiteira e a encheu de água, ascendeu uma das bocas do fogão e colocou a água para ferver, pegou o coador e colocou um pouco de pó de café dentro do mesmo, depois seguiu para o banheiro. Lavou o rosto, fez suas necessidades, penteou o cabelo. Só queria parecer menos decadente, não precisava se arrumar para ver a cara de Lucy e Verônica, voltou para a cozinha e Camila ainda estava comendo.

— Vou buscar Lucy e Verô no aeroporto — falou caminhando até a água que já fervia — Elas me ligaram pedindo para que eu fosse lá, parece que está movimentado por lá e não há táxi para todos — começou a passar o café.

— Eu pensei que a lua de mel delas não fosse mais acabar — Camila comentou divertidamente — Foi um mês ou quase, não é?

— Quem pode, pode — Lauren brincou.

Camila riu brevemente. Terminou de comer as bananas com mel e foi até pia lavar pratinho e a colher que havia usado.

Lauren colocou um pouco de café na xícara e escorou-se na pia, não queria sentar-se, pois estava com pressa. Queria beber logo o café e sair de casa, acabou queimando a língua.

— Ai caralho! — colocou a xícara em cima pia e cuspiu o líquido que estava na sua boca.

Camila até tentou se controlar, mas acabou rindo da cena e quando Lauren lhe olhou feio riu mais ainda.

— Sai da frente — a maior afastou Camila da pia e ligou a torneira enchendo a boca de água tentando parar a ardência em sua língua.

— Isso não vai adiantar — Camila ainda ria.

Ela pegou o pote onde estava guardado o açúcar e voltou para perto de Lauren.

— Coloca um pouquinho onde está doendo — a mais nova disse simplesmente.

Lauren a olhou como se ela fosse louca.

— Coloca — Camila a pediu quase ordenando — Vai melhorar.

Lauren pegou um pouco de açúcar, com a mão mesmo, e colocou na língua.

Camila guardou o pote novamente.

Conforme o açúcar ia dissolvendo em sua língua a dor ia desaparecendo.

— Como sabia disso? — Lauren perguntou assim que sua língua já não doía mais.

— Meu pai fez isso comigo quando eu era pequena uma vez — Camila disse abrindo o armário e pegando o cereal.

— Quando você era pequena? — Lauren falou ironicamente, segurando o riso.

Camila se virou para ela tendo plena certeza que a morena debochava de sua estatura.

— Sim, pequena — respondeu — Você nem é tão alta assim para rir de mim.

Camila despejou a o cereal numa tigela e o guardou.

— Mas sou uns seis centímetros maior que você? — Lauren perguntou retoricamente.

— Esses centímetros somem rapidinho se eu colocar um salto — Camila deu de ombros, levemente irritada por estar sendo chamada de baixinha. Abriu a geladeira para pegar o leite, em seguida.

— Deixa aberta — Lauren pediu se referindo a geladeira.

Camila fechou a porta e voltou para a bancada onde estava a tigela, derramou o leite sobre o cereal e o guardou na geladeira novamente, fechando a porta da mesma mais uma vez.

Lauren apenas a observou, não estava chateada, pelo contrário, estava rindo por dentro se divertindo com a irritação da menor, não havia mandando que ela risse de sua língua queimada. Abriu a geladeira e retirou de lá a jarra de suco, depois de colocar o liquido no copo, guardou-a novamente. Bebeu sem demora, pois não queria deixar as recém-casadas lhe esperando por muito tempo, logo escovou os dentes e vestiu um moletom para que pudesse sair naquele frio que estava fazendo hoje.

 

— Antes que você pergunte... Michael não sabe de nada — Camila explicou subindo a escada com Dinah em seu encalço — Ele não sabe que estou grávida.

— E quando pretendem contar? — Dinah pisou no último degrau — Não acredito que quase estraguei a surpresa, me desculpe Mila.

Dinah Jane havia chegado ali uns cinco minutos após a saída de Lauren. Camila agradeceu, pois não queria ficar sozinha naquela casa.

Camila caminhou pelo corredor até adentrar o quarto onde dormia e Dinah repetiu seu ato.

— Walz, você precisa cuidar desta gravidez, o pior pode ter passado, mas você precisa fazer um pré-natal e se cuidar. Se você quiser, eu te acompanho quando for, aliás, sua mulher trabalha? Eu sempre a vejo aqui em qualquer horário que eu venha te visitar.

Camila adentrou o closet implorando para que Dinah calasse a boca.

— Por falar na branquela, eu estou muito feliz por vocês estarem bem novamente, por você parar de ignorá-la. Eu não esperava te ver fora do quarto quando cheguei aqui ontem, mas eu fiquei tão feliz, eu me alegro por você estar se recuperando.

­— Obrigada, Chee — a menor chamou-a pelo apelido.

Camila começou a se trocar, tirando o roupão e procurando uma roupa.

— Vocês descobriram a gravidez de uma forma tão inesperada e chocante. Essa criança já chegou causando, vai ser das minhas. Eu ainda não parei para conversa com a projeto de nuvem, mas como ela está em relação à gravidez?

Camila não respondeu continuou vestindo uma roupa confortável e que lhe protegesse do frio que fazia naquela manhã.

— Mas que pergunta idiota, né? É lógico, que ela deve está boba com esta criança, ela é apaixonada por Sofia, Sabia? — Dinah lembrou-se.

Sim, Camila sabia, pois Dinah já havia lhe falado.

— Ela deve está animada, ainda mais depois de tudo... — a loira deixou a frase morrer.

Camila olhou-a esperando que Dinah continuasse, mas já sabia ao que Dinah se referia que, era a morte da tal filha que Lauren teve no passado.

— Você a conheceu? — Camila perguntou curiosa — A filha de Lauren — explicou.

— Sim, ela era linda. Tinha os olhos parecidos com o da mãe — falou lembrando-se das poucas vezes que a havia visto a pequena Keana — A inseminação foi feita com os óvulos da branquela? — Dinah mudou o assunto realmente interessada em saber.

— Foi — mentiu, sorrindo desconfortavelmente.

— Então sabemos que você vai parir um vampiro — brincou.

Camila riu da besteira que sua melhor amiga falou.

Dinah parecia tão animada com a gravidez que Camila perdia a pouca coragem que tinha de conta-la a verdade, não queria decepcionar outra pessoa em sua vida, mas não podia, ou melhor, não conseguia fingir que estava contente por ser mãe e saber que em meses seguraria um filho seu. O filho de um homem desprezível.

— O que foi Mila?

Dinah perguntou ao ver a testa enrugada de sua amiga, que parecia divagar em pensamentos.

— E se eu não quiser ser mãe, Dinah? — perguntou tão receosa.

Camila queria tanto contar o que havia se passado consigo, tudo que enfrentou e os motivos para estar nesta condição hoje, queria muito se abrir com alguém e confessar seus medos. Mas tinha tanto medo de ser julgada, pois sabia que parte da culpa de tudo o que sofreu era sua, nunca deveria ter saído de casa. Foi tão burra.

— Mas eu pensei que você quisesse — Dinah falou calma, sem julgamento em sua voz — Pelo que eu sei, você e sua mulher queriam um filho só acharam que não tinha dado certo, não é isso?

Dinah não conseguiu entender a mudança de planos de sua amiga.

— É... Isso mesmo.

Camila queria ter coragem para expor seu passado, mas expô-lo significava revive-lo e não sabia se estava pronta para isso.

— Então? — perguntou Dinah Jane sem entender o rumo da conversa.

— Eu... — hesitou sem saber o que falar — Eu só acho que não estou pronta para ser mãe.

Camila não mentiu, sentia-se despreparada para tal missão, mas não era apenas isso. O que tinha mais peso em todo este desconforto que a latina sentia em ralação a sua gravidez, era o fato de não querer aquele ser que havia sobrevivido em seu ventre.

Dinah suspirou soltando a respiração que havia prendido e sorriu.

— Mila — olhou nos olhos de olhos de sua amiga — Não precisa ter medo, certo? — puxou a latina pelos ombros e a abraçou — Eu sei que quando estiver com seu filho em seus braços, você vai saber o que fazer.

Camila suspirou contra o peito de Dinah, mas não de alívio, suspirou por desespero. Não lhe trazia alegria pensar que em breve teria “seu filho” em seus braços, isso não era algo bom, não para Camila.

— Eu também me senti perdida quando soube que teria a guarda da Sofi em minhas mãos — Dinah falou ainda abraçando a menor — Eu tinha só vinte e três anos.

Camila riu da forma desesperada que a loira falou.

— Minha idade.

— É Mila, sua idade — Dinah concordou — Sofia me tem como uma mãe mesmo sabendo que eu não sou a mãe dela — E já faz quase quatro anos que sou mãe e gosto disto.

— Eu quero vê-la, Dinah — Camila se afastou minimamente para olhar o rosto de sua amiga — Eu quero muito vê-la.

— Ela vai ficar tão feliz em te ver — Jane sorriu largamente vendo o sorriso de sua amiga crescer — Ela não se lembra de você, mas ela tem todas as suas fotos e sempre pede para que eu conte algo sobre você. Ela morre de vontade de te conhecer.

— Eu nem acredito que ela cresceu tanto assim — Camila deu fim ao abraço — Quando você me mostrou aquelas fotos, eu quase não acreditei, ela está enorme!

Camila tinha a memória de sua irmã recém-nascida em seu colo, quando a pequena bebê apenas balbuciava coisas desconexas e chorava querendo mamar, na verdade, a latina teve contato com sua irmã durante os primeiros oito meses de vida da mesma, foi quando se revoltou com mãe e fez a pior merda de sua vida.

— Sofia não vai ser nanica igual você, sua anã — provocou.

Camila bateu forte no braço da maior, que pareceu não sentir nada e ainda segurou os braços da latina roubando-lhe um selinho, em seguida. Este gesto de carinho era costumeiro e natural entre as duas, na adolescência, como uma demonstração do afeto que tinham uma pela outra, sem segundas intensões, ou teor sexual.

— Sai Dinah — Camila a empurrou se afastando do beijo.

— O que foi prefere os beijos da Jauregui? — brincou vendo a amiga sair do closet.

— O que posso fazer se ela beija melhor que você, ué? — a latina perguntou em deboche.

Camila correu quando Dinah ameaçou batê-la.

 

Lauren dirigia sem pressa e tinha Lucy ao se lado, no banco do carona. Verônica estava no banco traseiro e usufruía de todo espaço para deitar-se, atrevidamente.

— Fica com a gente lá em casa, Laur? — Lucy puxou assunto depois de um tempo em silêncio.

Lauren iria concordar imediatamente, mas tão rápido quanto concordaria, descordou. Fez isso ao lembrar que deixou Camila sozinha em casa e desde que a latina descobriu a gravidez de risco, nunca havia ficado sozinha, sempre esteve acompanha por Dinah ou pela morena. E Lauren não queria demorar sabendo que ela ainda corria riscos na gestação e, também, sabia o medo que Camila tinha de estar completamente sozinha nos lugares, mesmo que a latina nunca houvesse lhe dito, exatamente.

— Eu prefiro ir para casa, Lucy — respondeu por fim — Mas obrigada, além do mais, além vocês acabaram de chegar e eu...

— Não tem problema nenhum, Laur. Você pode nos fazer companhia e assim matamos a saudade — Lucy a cortou.

— Deixa pra outro dia, não que eu não esteja com saudades de vocês, mas prefiro deixar que vocês descansassem — a morena respondeu gentil.

— Verdade — Lucy logo concordou — Eu pretendo dormir o dia todo hoje — olhou para as ruas em movimento, pela janela do carro.

— Eu pretendia aproveitar melhor o fim da nossa lua de mel, amor — Verô comentou sugestiva para sua esposa.

— Vai se foder, marida — Lucy riu do apelido que achava bobo. Fora sua esposa quem o inventara.

— Só se você vier junto — Verônica riu mais alto.

— Aquietem essas xanas de vocês — Lauren interrompeu-as, não era obrigada a ouvir essas coisas.

— Eu não tenho culpa se a latina bunduda não quer te dar — Verônica provocou.

Sim, Lauren já havia contado que Camila ainda estava morando com ela e que agora estavam na antiga casa da morena, mas não contou para elas os recentes acontecimentos.

— Não fale assim, Vê — Lucy repreendeu sua mulher — Está há esse tempo todo com uma tentação daquelas na sua casa e até agora não houve nada entre vocês? — perguntou a sua prima.

Lauren olhou surpresa para sua prima.

— O que? Você acha que ninguém repara no corpo dela? — Lucy continuou.

— Você deixa a sua mulher falar assim? — Lauren perguntou à Verônica, encarando-a pelo espelho retrovisor.

— Mas ela está falando a verdade — Verô concordou com a esposa.

— Não é possível que não se sinta atraída por ela, nenhum pouquinho — Lucy olhou incrédula para sua prima — Logo você que é tão galinha.

— Eu galinha? — ofendida Lauren desviou a atenção da rua para encarar sua prima — Você está pior do que a retardada da sua esposa.

— Marida — Verô a corrigiu e riu junto a Lucy.

Lauren revirou os olhos para tanta idiotice, não queria, mas estava irritada com as provocações das duas.

— Me desculpe, Laur — Lucy pediu sinceramente — Mas você realmente não a acha atraente? Ela é linda. Pelo que você disse vocês passam o dia juntas e isso há dois meses, não? Ou é mais tempo?

— Dois meses — Lauren a respondeu.

— E está fiel esse tempo todo, Jauregay? — Verônica riu.

Lauren sabia que ela estava apenas provocando, mas não conseguia se importar menos, pois esse fato realmente lhe incomodava. Deu-se conta de que estava há tanto tempo sem sexo somente agora.

— Desde quando ficou solteira, você não se importou em ter uma mulher por semana, ou dia. Você despirocou o cabeção, Lauren, e agora que tem uma gostosa dando uma de tua noiva, você sossega a raba? — Verônica falou seu ponto de vista — Isto é tão estranho... — insinuou.

Lauren já estava irritada com o rumo da conversa.

— Você nunca a olhou diferente? — Lucy agora perguntou mais séria.

Lauren não iria responder, mais uma vez, porém notou que até mesmo Verônica esperava uma resposta sua.

— Já.

Lucy resolver deixar sua prima em paz. Ao ver que ela lhe respondeu de forma curta entendeu que a morena não queria prolongar o assunto.

— Desde quando você ficou tão banana, Jauregay?

— Vai se foder, Verônica — falou grossa.

Verônica apenas riu.

“Se eu fosse uma banana, com certeza, Camila já teria me comido.”

Pensou divertida ao lembrar-se da paixão que a latina tinha por esta fruta, por falar nisso, precisava comprar mais bananas.

— Olha o que a falta de sexo faz com o ser humano — Verônica comentou risonhamente ao ver um sorriso curto e contido no rosto de Lauren depois haver lhe xingado.

— Já chega, Verô — Lucy olhou séria para ela.

Verônica cessou a risada.

Lauren bufou disfarçadamente.

— Será que Camila vai ser a única a resistir aos seus encantos, Jauregui?

— Verônica, que fique bem claro que eu não quero ir pra cama com Camila, entendeu? — Lauren a olhou pelo retrovisor — Entendeu?

Imediatamente Lauren se lembrou da noite em que voltaram do casamento das mulheres em seu carro, quando Camila e ela quase trasaram, mas não deixou que esta lembrança transparecesse em seu rosto.

— Entendi, Jauregay — Verônica sentou-se corretamente no banco — Mas saiba que a burra aqui é você — falou e viu a amiga lhe lançar um olhar matador, então se explicou — Eu sei que o namoro de vocês de é de mentira. O noivado — se corrigiu  —  Mas não custa aproveitar um pouco, você está solteira e ela também...

— E você se perguntou se Camila quer aproveitar também? — dessa vez foi Lucy quem perguntou a esposa — Pare de contaminar a mente da minha prima com suas ideias pervertidas — disse fazendo sua esposa repensar o que havia falado — Não vai pela cabeça retardada da minha mulher, Laur.

— Eu nunca me aproveitaria de Camila, a não ser que ela queira tirar proveito da nossa situação também, pois uma transa casual não faz mal a ninguém — Lauren continuava olhando para o caminho.

— É... Foi isso que eu quis dizer — Verônica sorriu para a morena.

— Você é uma idiota, Verônica — Lauren disse irritada, porém sorrindo.

 

— Mila, eu quero muito saber onde você esteve por todo esse tempo — Dinah confessou nervosa, entendia o lado de sua amiga, mas não podia controlar o sentimento que invadia seu peito neste momento — Eu sei que você não se lembra, Lauren me disse que você não se lembra de várias coisas, mas eu fico pensando em mil situações que possam ter te acontecido e não me sinto bem pensando essas coisas, enquanto me pergunto o tempo todoo que aconteceu com você, ou me pergunto por onde esteve.

Elas estavam sentadas num dos sofás da sala. Por muito tempo falaram sobre coisas banais, nada que tivesse importância, em meio a brincadeiras e etc. Mas Dinah, agora, confessava algo que a perturbava desde o dia em que havia reencontrado sua amiga, se não, antes disto.

— Você não se lembra de nada do que houve nesses últimos anos mesmo? — perguntou sem obter resposta — Desculpe insistir, Mila, mas é que... Sei lá — suspirou — Qual sua última lembrança do passado?

Camila mantinha seu olhar baixo tentando esconder as lágrimas que se formavam em seus olhos, as quais ela se esforçava para não deixar cair e descer por seu rosto, também olhava para baixo porque não conseguiria mentir olhando para sua amiga.

— Me lembro de sair de casa — disse com a voz embargada.

— Você perdeu a memória, isto deve ser devido a algum tipo trauma, você pode ter batido com a cabeça, algum acidente — suspirou alto — Eu não sei.

Todas as dúvidas que Dinah guardou durante esses anos, toda preocupação, todas as buscas frustradas. Tudo isso invadia o peito da maior de maneira que ela não podia controlar, precisava saber o que Camila esteve fazendo por tanto tempo. Durante anos viveu com a dúvida de saber se sua amiga estava viva ou não, uma espera angustiante por alguém que não sabia se veria novamente, as buscas fracassadas, os choros, o arrependimento de Sinuhe Estrabão, a mãe de Camila, os primeiros dias do desaparecimento. Era tanta coisa guardada, tanta coisa pesada, a espera foi dolorosa demais e tudo que mais queria agora eram as respostas.

— Sua mãe se arrependeu tanto de te dizer aquelas coisas... — a loira continuou mais calma — No começo nós pensamos que você estava se escondendo para dar um susto na sua mãe, mas nós procuramos nas casas das nossas amigas e eu liguei para todos que conhecíamos, até fui na casa da sua namorada — Dinah relembrava o desespero dos primeiros dias sem Camila — Sua namorada disse que você tinha voltado para casa aquela noite, mas você nunca chegou em casa, Mila — não conseguiu mais segurar o choro.

Camila também chorava, pois lembrava exatamente o que tinha acontecido após deixar a casa da sua namorada aquela noite, era apenas o inicio de seu pesadelo. Dinah nunca lhe contara essas coisas com exatidão, nunca havia desabafado, Camila podia sentir o desespero na voz da melhor amiga.

— Foi quando eu percebi que você não estava brincando, nem se vingando — Dinah enxugou as lágrimas — Alguma coisa tinha acontecido com você — buscou os olhos da amiga — Seu pai ficou tão mal, ele mal comia e — inspirou fortemente controlando o choro — E a sua mãe, Mila... —  abaixou o olhar negando com a cabeça — Eu pensei que ela fosse morrer de tanto arrependimento. Tudo o que ela mais queria era o seu perdão...

— Dinah — Camila se jogou contra o corpo da amiga desesperadamente — Por favor...

Camila chorou por vários minutos, no começo seu choro era desesperado, depois chorava por não conter tamanha dor dentro si, seus soluços eram altos e assustavam a loira, que lhe amparava e afagava seus cabelos permitindo que a latina chorasse tudo que quisesse chorar.

Agora Camila chorara silenciosamente tendo a cabeça repousando no colo de Dinah.  Culpava-se por não conseguir contar a verdade, se repreendia por ter tanto medo, assim chorava sentindo-se impotente diante da situação.

Dinah não lhe fez mais perguntas, apenas esperou pacientemente até que a menor quisesse falar novamente, não forçaria mais nada. Sua amiga não se lembrava do que lhe tinha acontecido e, talvez, fosse melhor assim. Quem sabe se o que ela passou não a traumatizou a tal ponto de fazê-la apagar da memória tanto desgosto e angústia? Dinah não queria pressioná-la, nem coagi-la, se Camila não se lembrava do que houve com ela nesses anos, é porque seria melhor assim, não tinha porque lembrar-se. Dinah já tinha sua amiga perto, já havia a reencontrado, não havia motivos para querer voltar no passado. Este era o melhor a se fazer, esquecer tudo que passou e viver a alegria de ter Camila novamente tão perto de si, iria cuidar pra que ela nunca mais estivesse tão longe. Não se perdoaria se perdesse Camila mais uma vez.

Deu-lhe um abraço apertado sentido o corpo menor relaxar gradativamente em seus braços, esperou até que Camila estivesse mais calma, percebeu a respiração da menor se normalizar e deduziu que ela já não chorava mais.

— Desculpa — Dinah pediu ainda abraçando sua amiga — Eu não quis te pressionar.

Camila respirou fundo e se afastou do abraço de Dinah.

— Tudo bem.

Dinah limpou os resquícios das lágrimas no rosto da latina.

Camila tinha os olhos um pouco inchados e o rosto vermelho, sua garganta doía, mas não por causa do choro. Era a verdade não dita que estava presa ali e pronta para ser exposta, porém permanecia bloqueada pelo medo, pela insegurança e pelo ódio que tinha de seu passado.

— Eu queria pedir perdão a minha mãe e ao meu pai por tudo que disse a eles.

— Mila, eles já te perdoaram — segurou as mãos de sua amiga — Pode ter certeza. Eles moveram céus e terra para te encontrarem e...

— E não conseguiram — mais lágrimas caíram de seus olhos enquanto encarava a amiga.

— Infelizmente, mas eles não estavam chateados com você — Dinah limpava as novas lágrimas no rosto da amiga — Eles morreram, mas te perdoaram por qualquer coisa antes disso, sua mãe não guardava nenhum remorso.

Dinah tranquilizava a amiga, mas sabia que Sinuhe havia morrido com grande peso na alma por ter se arrependido de todas as coisas más que falara para sua filha, pois Sinu ainda se culpava pelo desaparecimento da filha.

— Quem ficou mal por um bom tempo também foi sua namorada — Dinah mudou o assunto para espantar os próprios pensamentos — Ela sempre ficava por dentro das buscas e ajudava como podia, mas ela ficou muito mal.

Camila limpou o resto das lágrimas e respirou pesadamente.

— Como ela está agora? — não pode evitar a curiosidade.

— Nós não temos contato — Dinah olhou sincera para sua amiga — A  última vez  que a vi foi no começo do ano e ela estava noiva.

— Noiva? — Camila sentiu uma pontada de ciúme, mas logo se recompôs.

— Você também está até onde sei — Dinah lembrou-a ao perceber que Camila não gostou do que ouviu.

Camila deu de ombros.

— O que foi isso, Mila? — Dinah estranhou a atitude de sua amiga.

— Vem me buscar amanhã? — Camila pediu vendo a expressão confusa de Dinah e se explicou — Eu quero ir para casa, quero ver Sofia, quero ficar com você...

— Eu estou com você Mila — Dinah a cortou — Posso trazer Sofia aqui ou te levar lá, mas por que você quer ir morar com a gente?

— Por favor, Dinah, eu...

— Mila, você não precisa me pedir isto — mais uma vez interrompeu a fala da mais nova — Sabe que eu nunca lhe negaria isso e até gosto da ideia, mas não entendo o porquê — foi sincera — Você brigou com a branquela?

Camila suspirou e arrumou sua postura. Abriu a boca para falar, mas foi interrompida.

— Espera! — Dinah a assustou com a fala repentina — O que ela fez pra você Chancho? Olha, eu juro que vou... — fez uma cara ameaçadora.

— Ela não fez nada, Dinah, pelo contrário... — Camila a interrompeu dessa vez.

— Eu ainda falei pra ela que se ela não...

— Como assim? O que você falou pra ela? — Camila perguntou realmente interessada em qual besteira sua melhor amiga fez dessa vez.

— Eu só falei pra ela cuidar bem de você, ué — respondeu despreocupada — Ou cortava os dedos dela — sussurrou.

— Dinah! — Camila lhe repreendeu.

— O que foi? — se fez de sonsa — Está com medo de perder seus brinquedinhos?

Camila revirou os olhos negando com a cabeça.

— Pois eu disse a ela que cortaria e eu corto mesmo — se levantou — Vamos Mila, me diga logo o que ela fez.

— Dinah — chamou alto roubando a atenção da maior — Nós não brigamos.

— Está falando sério? — Dinah perguntou cruzando os braços.

— Estou sim, na verdade, nós estamos muito bem — tentou ser convincente — Eu a amo, Dinah.

A loira sentou-se novamente ao lado da amiga.

— Então não entendo por que você não quer ficar aqui com sua noiva?

Camila desistiu de parecer apaixonada e decidiu contar logo a verdade para Dinah, assim ela calava a boca e parava com essa insistência.

— Lauren não é minha...

— Camila! — Lauren chamou ao entrar em casa — Camila!

Camila calou-se ao ouvir a voz rouca chamando por seu nome.

Lauren deixou a porta aberta ao entrar, pois carrega uma caixa de pizza numa não e na outra algumas sacolas, chamou a latina porque queria sua ajuda com as outras sacolas que ainda estavam dentro do carro.

— Dinah? Que bom que está aqui — falou ao vê-la no sofá, sentada ao lado de sua noiva — Pega as sacolas que estão lá no carro.

Dinah se levantou cruzando os braços com uma cara séria.

— O que você fez pra minha amiga?

Camila revirou não acreditando no que Dinah estava fazendo.

— O que eu fiz? — Lauren uniu as sobrancelhas sem entender.

Camila levantou-se e deu selinho em sua noiva para chamar a atenção de Dinah e, ao mesmo tempo, calar a boca de Lauren para que ela não insistisse em saber do que sua melhor amiga falava, em seguida, pegou a pizza que ela segurava e colocou em cima da mesa de centro.

— Você não fez nada, Laur — atuou, sorrindo para a mais velha — Eu ajudo você. Vamos.

Camila segurou a mão da morena dos olhos verdes e a puxou para fora de casa. Lauren apenas deixou as sacolas que segurava no chão e deixou que Camila a conduzisse até entrada da casa.

— Dinah é muito protetora — a latina soltou a mão de Lauren ao chegarem o lado de fora — Me desculpe — se referiu ao beijo.

Camila agora caminhava a frente de Lauren.

— Afinal, do que ela estava falando? — Lauren perguntou realmente curiosa.

Camila estava olhando para o paisagismo que decorava de forma bela a fachada da casa, com aquelas plantas que combinavam perfeitamente com a arquitetura colonial da construção atrás de si, que era até moderna de certa forma. Ashlee fez um bom trabalho ali.

— Ela acha que nós brigamos — respondeu — Isso mostra que estamos realmente parecendo um casal — brincou virando-se para olhar Lauren e sorriu.

Lauren sorriu por educação, apenas para responder ao sorriso sincero que Camila lhe deu, mas sua mente voltou ao dia anterior.

Tirando as sacolas do carro e entregando algumas á Camila, Lauren lembra-se da discussão que teve com a latina onde disse coisas que não queria, passou a se perguntar por que motivo Camila não estava chateada consigo, se ainda ontem havia lhe ignorado completamente após o almoço, também se perguntou o que ela disse à Dinah para que esta suspeitasse que estavam brigadas.

— Ashlee fez um ótimo trabalho aqui — comentou Camila pegando as duas sacolas que Lauren dava — Eu gostei.

Antes a frente da casa tinha gramas secas e mal cuidas junto a espaços vazios, que eram formados por terra e nada mais, deixavam a casa com aparência de velha. O estilo da casa já parecia um pouco antiquado por ser colonial, não que fosse feio, pois Camila até gostava daquela arquitetura, entretanto, estas plantas que agora enfeitavam a entrada da casa davam mais valor à construção. 

— Juno é boa — Lauren concordou fechando o porta-malas.

— Uau! Esta moto é sua? — Camila estava impressionada com o estilo da moto.

— É sim — Lauren olhou para sua Harley-Davidson com nostalgia.

— É linda — Camila elogiou ainda impressionada.

Lauren apenas acenou e preferiu mudar o assunto.

— Eu comprei pizza porque não estou a fim de fazer o almoço.

— Eu estou louca para comer aquela pizza — confessou Camila voltando para o interior da casa e deixando Lauren sozinha do lado de fora.

Comeram a pizza juntas ali na sala mesmo, enquanto assistiam a um filme na TV, ou melhor, nem assistiam ao filme. As três davam bem mais atenção à conversa descontraída que fluíra naturalmente entre elas do que aquele filme, cujo gênero não sabiam, mas era o que haviam escolhido.

— Quer mais refrigerante, Dj? — Lauren perguntou, sentindo-se mais íntima de Dinah, ao ponto de dar-lhe um novo apelido.

— Por favor — respondeu gostando do novo apelido.

Lauren se levantou, mas Camila a impediu de andar.

— Deixa que eu pego.

— Pega um pra mim também, por favor — a de olhos verdes pediu.

Camila apenas acenou e saiu.

Lauren havia oferecido bebidas alcoólicas para Dinah, mas loira negou, alegando que ainda iria dirigir e passar o resto do dia brincando com Sofia, pois prometera à pequena. Lauren, então, preferiu não beber nada além de refrigerante.

— Eu acho que nunca perguntei como vocês se conheceram — Dinah pensou alto — Como você a conheceu? — perguntou à Lauren.

— Balada.

— Festa — Camila respondeu junto à Lauren.

Lauren olhou para Camila se perguntando para que ela foi abrir a boca.

— Festa ou balada? — Dinah intrigada, olhou de Lauren para Camila.

— Era uma festa balada — Camila caminhou até a amiga entregando-lhe a latinha de refrigerante.

Só então Lauren reagiu.

— Era a festa de um amigo meu e eu a conheci lá.

— Sim, e depois passamos a nos encontrar frequentemente — Camila completou entregando o outro refrigerante a Lauren.

— Você se lembra disso, Mila? — Dinah ainda estava intrigada.

— Sim, me lembro — Camila sentou-se no colo de sua noiva mesmo, que estava na poltrona — Mas me lembro vagamente.

— E onde foi isto? — Dinah agora estava curiosa para saber onde, ao menos, um lugar onde Camila esteve.

— Foi em Londres — Lauren disse brevemente, depois encheu a boca com o liquido que segurava.

Camila olhou incrédula para Lauren, não acreditava que havia dito isto. Olhou-a intrigada.

— Você esteve em Londres? — Dinah perguntou a Camila.

Rapidamente Camila desviou os olhos de Lauren para a loira.

— Parece que estive... — sorriu fracamente.

— Aos poucos Camila se lembra — Lauren interrompeu a troca de olhares entre as duas — Não é pequena? — Lauren roubou um beijo de Camila, inesperadamente.

Ao terminar o beijo, Camila mordeu o lábio inferior de Lauren com mais força do que deveria, irritada com o apelido que a morena usou.

— Com certeza — respondeu forçando um sorriso.

Lauren sorriu largamente.

— Você vai melhorar logo, Amor — deu um selinho nos lábios da latina.

Camila intensificou o beijo colocando uma das mãos na nuca de Lauren e puxando, disfarçadamente os fios de cabelo presentes ali, de forma que doesse.

Lauren, agora, tinha certeza que irritar Camila havia se tornado o seu passatempo preferido.

— Vocês são estranhas — Dinah se levantou — Não sou obrigada a ficar aqui segurando vela.

— Já vai Didi? — Camila se afastou de Lauren, em seguida, levantou-se do colo da morena.

— Eu prometi brincar com Sofi o dia inteiro — justificou sua saída — Ela disse que estou saindo muito — riu junto a Camila.

— O que acha de trazer ela aqui no fim de semana? — Lauren perguntou se levantando também.

Camila encarou a noiva com um sorriso enorme no rosto, exatamente o sorriso que Lauren gostava.

Despois de haverem se despedido de Dinah e voltarem para dentro de casa fechando a porta novamente, Camila caminhou até a escada desejando chegar ao quarto e se jogar na cama, estava tão cansada.

— Camila — Lauren a fez parar no primeiro degrau — Eu queria conversar com você.

Camila virou-se totalmente para Lauren esperando que ela começasse a falar. Havia ficado curiosa.

— Eu queria me desculpar com você — disse finalmente.

Camila falaria algo, mas Lauren não deixou.

— Não só por ontem — Lauren continuou — Eu queria me desculpar pela forma que eu impus este acordo entre nós — estava um pouco nervosa, não era muito de se desculpar — Eu andei pensando e eu queria fazer as coisas do jeito certo. Eu quero perguntar se você topa fingir que é minha noiva por mais um tempo, Sabe? Até que meu pai melhore ou desencane dessa ideia de que eu preciso ter alguém comigo para ser feliz. Estou perguntando se você me ajuda com isso por livre e espontânea vontade, não da maneira forçada que te obriguei a entrar nessa. Eu fui arrogante com você e peço desculpas, por isso.

Surpresa era pouco para descrever como Camila estava. Realmente nunca esperaria algo assim, não mesmo, mas Lauren estava se desculpando totalmente sóbria a sua frente. Era um ato de pura estranheza.

— Des-Desculpo — gaguejou um pouco por ainda estar surpreendida com o ato repentino e inesperado de Lauren.

— Então, eu preciso fingir para o meu pai que estou noiva, porque assim ele acredita e é assim que ele quer me ver. Você me ajuda com isso?

Camila realmente estava pasma com a atitude de Lauren, pasma com a capacidade da morena de reconhecer quando errava, e agora Lauren lhe pedia educadamente sua ajuda. É certo que por algumas vezes Lauren a magoara com palavras, mas neste momento ela estava se desculpando e propondo um recomeço entre elas, isto era no mínimo curioso.

— Se você me ajudar, eu prometo ser mais amiga — Lauren sorriu tentando convencê-la — Vou ser uma boa noiva — brincou.

Camila então percebeu que Lauren ainda esperava uma resposta. Decidiu entrar na brincadeira também.

— Você está me pedindo em noivado? — colocou a mão no coração fingindo estar emocionada.

— Com anel e tudo.

Lauren tirou do bolso o anel que já havia lhe dado antes e colocou no dedo anelar de Camila, que lhe estendeu a mão. Riram brevemente da encenação idiota delas.

— Eu vou me deitar um pouco, estou cansada — Camila começou a subir a escada novamente.

— Eu vou fazer alguma coisa também — Lauren disse vendo-a subir.

[...]

No início da noite Lauren entrou no quarto e ouviu alguns sons estranhos, percebeu que esses sons vinham do banheiro, que tinha a porta entreaberta. Entrou e viu Camila abaixada próxima ao vaso sanitário, não foi difícil adivinhar o que ela fazia, então se aproximou no mesmo momento em que a latina se levantou.

Camila deu descarga e caminhou até a pia, passando por Lauren com a cabeça baixa.

— Enjoo? — a morena perguntou.

— Umhum — respondeu com um som nasal por estar escovando os dentes.

— É normal — Lauren se aproximou novamente.

Camila lavou o rosto para esconder as lágrimas, de certa forma.

— Eu sei — falou secamente — Vou tomar banho — saiu do banheiro.

Lauren percebia a maneira fria como Camila tratava sua gestação, não era como se a latina escondesse, não de Lauren. E a morena sentia que Camila não estava bem com isso, podia notar no olhar e nas atitudes da latina, e na forma alterada em que ela ficava quando falavam de sua gravidez, que Camila não estava feliz por ser mãe, era como se ela não quisesse trazer aquela criança ao mundo.

Quando estava grávida de Keana, Lauren esbanjava felicidade, sua alegria preenchia sua alma e transbordava em seu olhar. Camila não estava nem de longe assim e Lauren não podia ignorar esse fato. Era no mínimo curioso e isto não poderia estar ligado somente ao fato de Camila não se lembrar de seu passado, na verdade, Lauren tinha quase certeza de que ela se lembrava, ao menos, de algumas coisas. Isto fazia a dúvida de Lauren crescer dentro de sua cabeça, pois havia a possibilidade de Camila ter sido realmente estuprada e lembrar-se disto, mas não querer dizer.

Saiu do banheiro indo atrás da latina e a encontrou no quarto retornando para o banheiro, ela carregava uma toalha e algumas roupas nas mãos, Lauren pôde ver seus olhos e eles pareciam avermelhados.

— Eu te encontrei naquela estrada há dois meses e alguns dias, por aí, e este é o tempo em que você está grávida, praticamente, se eu bem me lembro — Lauren expunha suas suspeitas enquanto encarava os olhos de Camila — Eu me lembro, muito bem, de o médico ter levantado a hipótese de algum abuso sexual contra você, mas você não quis ser examinada — a morena sentia seu sangue quente, pois pensar num absurdo desses causava-lhe raiva, era inaceitável demais para ser verdade, porém sabia que no mundo existiam pessoas desumanas ao ponto de foçar um ato sexual com outras pessoas mais indefesas e fazerem até coisas piores — Eu não gosto de pensar nisso, mas ultimamente uma dúvida perturba minha cabeça e — hesitou um pouco ao ver que Camila não tinha reação — E eu sei que você não se lembra do que houve, mas, por favor, me responda esta pergunta — tomou coragem para perguntar — Camila você acha que violentaram você?

Camila estava completamente paralisada. Quando Lauren começou a falar as primeiras frases, sem fazer introduções e sendo direta, contando o que pensava, Camila pôde deduzir onde a morena queria chegar. Ouviu Lauren continuar a expor seus pensamentos e sentiu seu corpo gelar como se estivesse petrificando ali na frente da morena, ficou parada na mesma posição prendendo até sua respiração, inconscientemente, enquanto pensava em algo para dizer que tirasse aquela suspeita da mente de Lauren, qualquer coisa em que Lauren pudesse acreditar. Mas ao ouvir a pergunta feita pela mulher de olhos verdes tão preocupados e compadecidos, não pôde segurar as lágrimas que desciam por seu rosto, ainda que seus olhos permanecessem paralisados tentando segurar, inutilmente, as lágrimas.

— Você suspeita que de alguma forma possam ter... — não terminou a frase por não saber como completar sua pergunta.

Lauren via ao lágrimas que desciam timidamente dos olhos castanhos, enquanto Camila permanecia imóvel.

Era o medo de uma reação negativa, rejeição, medo de pré-julgamentos que impediam a latina de dizer a verdade. A insegurança por não saber o que Lauren pensaria quando soubesse a verdade, o pânico de relembrar toda brutalidade, a culpa que colocava em si mesma por estar em tal situação. Não podia contar. Não podia, mesmo que não suportasse mais guardar tal segredo, não podia.

— Por que você está me perguntando isso? — perguntou num tom alto, tendo a reação negativa que a outra já esperava — Por acaso acha que foi isso que aconteceu naquele dia em que me socorreu?

Lauren precisaria ser mais insistente.

— Você não quis fazer os exames — relembrou — Você se lembra ou não se lembra do que aconteceu?

— Não me lembro! — gritou Camila — Eu não me lembro de nada e eu não teria como saber o que houve.

Camila a empurrou e tentou passar por ela, mas Lauren foi mais rápida e segurou o braço da latina, que tentou puxa-lo, mas a morena não soltou e se manteve segurando-a firmemente.

— Me solta!

Lauren sabia que ela iria surtar, mas preferia que ela surtasse e dissesse logo a verdade que sabia que a latina escondia, do que ela guardasse todo esse sofrimento para si. Sabia que guardar este segredo não seria saudável para a latina, era tortura. Podia ver, agora.

— Me solta agora, Lauren!

Camila deixou a toalha e as roupas caírem no chão ao tentar soltar-se de Lauren. Fazia força tentando entrar no banheiro e se trancar lá dentro, mas Lauren a segurava pela cintura impedindo-a de sair correndo dali.

— Calma — Lauren pediu — Por que está gritando?

Camila parecia desesperada como se tentasse fugir de algo, mas Lauren sabia que ela não podia escapar dessa lembrança, também imaginava quão atormentada ela poderia estar.

— Eu não vou machucar você, Camila — Lauren tentou trazê-la para mais perto de si da forma mais suave que o momento permitia.

A morena dos olhos verdes sabia que qualquer momento a menor surtaria, como naquela noite em que ainda estavam na casa de seus pais e Camila havia desabado ao recuperar uma lembrança que parecia dolorosa. Lauren tinha certeza que era esta tal lembrança que vinha atormentando-a recentemente. Para Lauren, Camila havia recuperado todas ou alguma das suas lembranças naquela noite, mas continuava fingindo não lembrar-se, na verdade, a morena colocara em sua mente que Camila havia se lembrado, exatamente, do que tinha lhe acontecido naquele fim de tarde chuvoso em que se conheceram de tal forma horrenda e tudo que Lauren queria era fazer com que ela se liberasse de tudo isso, fazer com que Camila se libertasse do que a derrubava.

— Lauren, por favor... — Camila tinha lágrimas nos olhos que timidamente escorriam por seu rosto — Eu não quero — sua voz estava embargada. Estava mais calma e olhava para morena implorando que ela não fizesse falar.

Já havia entendido que não podia esconder certas coisas de Lauren, pois de algum modo ela conseguiu perceber que algo lhe atormentava, mas não queria confessar para a morena. Para ninguém, aliás.

Lauren não queria que Camila se abrisse com ela e contasse tudo o que se lembrava, ou tudo o que sabia, ou tudo o que sentia. Lauren, apenas, queria que ela colocasse para fora a angustia que permanecia presa em seu olhar nos últimos dias. Sabia que estava sendo invasiva e que estava pressionando demais a latina, mas sabia que a mais nova se sentiria aliviada depois que se permitisse expor pesadelos, Lauren sabia de tudo isso. Lauren já havia passado por isso.

Num ato inesperado e repentino Camila se jogou contra Lauren num abraço desesperado e chorando fortemente. Um choro intenso e cheio de soluços que cortavam sua garganta dolorosamente.

Lauren a abraçou na mesma intensidade. Envolveu o corpo da latina e a sentia tremer em seus braços, sentia as lágrimas molhando seu ombro, mas não se importava com isto.

Camila estava tão quebrada, sentia-se machucada e chorava nos braços de Lauren de forma tão vulnerável, estava frágil. Agarrou-se à Lauren não se importando se estava apertando-a demais, não queria saber se suas unhas estavam cravadas na camisa da maior, só precisava de algum suporte. Não se importava com o choro alto próximo ao ouvido de Lauren, apenas queria colocar para fora o aperto em seu peito, só conseguia isto chorando. Queria tanto que sua dor passasse. Sua cabeça doía, estava se sentindo fraca, não aguentava suportar o próprio peso somado ao fardo de seu silêncio.

Lauren a trouxe para cama e em momento algum Camila tirou o rosto da curva do pescoço da morena. Lauren se sentou na cama e surpreendeu-se quando a latina se aninhou ao seu corpo, sentando-se em seu colo e colocando as pernas ao redor de seu quadril, ainda abraçando-a intensamente e soluçando em seu alto. Lauren trouxe as próprias pernas para cima do colchão e continuou envolvendo Camila num abraço acalentador, enquanto acariciava suas costas carinhosamente, só queria confortar Camila e se possível amenizar sua dor.

Camila sentia-se segura dentro daquele abraço, Lauren novamente havia lhe passado segurança, a latina sentia-se com coragem para contar o que tanto lhe tirou a paz nesses dias.

— Eu não quero esta criança, Lauren — confessou sem medo de ser repreendida, sentia que a maior não faria isso — Mas eu não tenho coragem de tirá-la, não quero matá-la.

— Tudo bem — foi tudo que Lauren conseguiu dizer. Ainda estava abalada com a informação, mas escondeu bem a surpresa em sua voz.

Camila tinha vergonha de levantar o rosto, não conseguia falar essas coisas olhando para Lauren, também não queria deixar que ela visse suas lágrimas.

— Esse bebe não vai ser amado porque eu não consigo amá-lo — admitia sonoramente as coisas que tanto rodeavam sua mente — Eu não o quero, mas eu sei que ele não tem culpa se nada, ele não deveria vir ao mundo dessa forma — soluçou — Eu não tenho coragem de tirá-lo, Lauren, mas ele não vai ser querido por mim se nascer — confessou sentindo-se segura a fazer isso — Mas ele insiste em sobreviver, e eu não vou conseguir sentir algo de bom por ele, eu sei. Eu sei que vou me lembrar daquele monstro quando olhar para esta criança e ele não merece ter um ser tão nojento como pai, também não merece o meu descaso. Esta criança não vai ser feliz. Eu não vou ser feliz, eu não quero descontar nele as minhas angústia e lembranças doloridas, eu o quero...

— Calma — Lauren a interrompeu quando percebeu que a latina já se alterava novamente — Não precisa pensar nisso agora. Só tenta ficar calma.

— Como eu vou olhar para ele sem me lembrar do que aconteceu?

Camila tornou a chorar, porém mais contida e menos desesperada que antes, agora sentia-se menos pesada.

Lauren, ao menos, sabia o que dizer, aliás, não sabia nem o que pensar. A situação era tão complexa e delicada. Tentava ao máximo entender o lado de Camila e arranjar alguma solução para acabar com o dilema da mais nova, também não era a favor do aborto, mas forma como esta criança foi gerada não foi a das melhores. Lauren já podia entender o que aconteceu com Camila que a traumatizara tanto.

Camila chorava mais calmamente agora. Ela tirou o rosto da curva do pescoço de Lauren e deitou a cabeça no ombro da morena, de forma que ela não pudesse lhe ver ainda, mas não desfez o abraço que lhe confortava. Estava com vergonha de mostrar-se tão frágil.

— Eles pensaram que eu estava morta e me deixaram jogada na estrada — confessou lembrando-se de tudo.

Em sua mente, as imagens do acontecido passavam como flashes rápidos que Camila tentava espantar, mas não conseguia. Sua cabeça batendo no carro, a pancada, o carro estacionando...

Lauren a apertou mais no abraço. Só conseguia pensar numa coisas: Eles? Mais de um?

— Foram quantos? — perguntou com receio.

Camila se sentia estranhamente segura em contar essas coisas para Lauren, não tinha medo de dizer o que houve, sentia que podia confiar este segredo à ela. E precisava tanto falar.

— Tinham três no carro, mas foi apenas um que... — soluçou chorando um pouco mais alto.

— Tudo bem, ok? — Lauren acariciou seus cabelos — Não precisa falar mais.

Camila precisava falar tudo agora que se sentia determinada a fazer isso, ou nunca falaria.

— Eu estava andando o mais rápido que podia, eu juro, só queria chegar em Merton logo e encontrar a paz — começou a falar descontroladamente sentindo vontade de contar tudo de uma vez — Mas a estrada nunca acabava, eu juro que não pedi carona á ninguém, eu não parei nenhum carro — precisava colocar tudo que sentia para fora — Eu não pedi carona, mas eles pararam o carro. Deve ter sido minhas roupas que chamaram a atenção deles, eu nem tinha roupas descentes, só as que... — hesitou, ainda podia se revelar por inteiro — Eu tentei correr quando o carro parou, mas ele me pegou e me bateu, quando eu abri os olhos eu estava no carro e eles estavam rindo e gritando, eu estava tonta e confusa, eu tentei fugir e... — chorou mais alto agora, voltando a ficar agitada.

— Esta tudo bem agora — Lauren tentava acalma-la, mas nem sabia o que falar.

— Existe algo de errado em mim. Por que essas coisas acontecem comigo? SEMPRE COMIGO! — Tentou sair do colo de Lauren, mais a morena não deixou.

Lauren a segurava firmemente apertando mais seus braços em volta da cintura fina de Camila, mas a latina empurrava os ombros da mais velha tentando afasta-la de qualquer maneira. Lauren, agora, podia ver o rosto molhado de Camila e nele havia uma expressão de raiva, a morena podia ver revolta nos olhos castanhos da latina.

— É SEMPRE COMIGO! QUAL É O MEU PROBLEMA? — Empurrava os ombros de Lauren — O que eu fiz pra merecer isso?

Lauren tentava segurar Camila, que tentava sair de seu colo. Ela estava tão alterada que Lauren temeu pelo bebê em sua barriga. Estava difícil contê-la.

— Por favor, Camila, se acalme.

— É culpa minha — Camila falou mais baixo, desistindo de tentar afastar a morena de si — Eu sempre faço tudo errado, sempre — entregou-se ao choro novamente — Eu mereci isto.

Lauren sem crer no que ouviu segurou o rosto de Camila forçando-a a olha-la.

— Nunca mais, está me ouvindo? — Lauren olhou em seus olhos — NUNCA repita isto novamente.

Camila apenas fez que sim com a cabeça e voltou a descansa-la em Lauren.

— Você não tem culpa de nada que te aconteceu, Camila — Lauren controlava sua voz, contendo a revolta que crescia dentro de si — Você não mereceu nada disso. Você não tem culpa, nem fez nada errado, então  para de se culpar — tentava convencer a menor de suas palavras — Você não mereceu nada disso.

Agora Lauren tinha certeza de que Camila realmente foi estuprada naquela noite e estava tão atordoada com isto. A morena estava se culpando por tê-la obrigado, de certa forma, a ser sua noiva por todo esse tempo e ainda cogitou dar ouvidos à sua amiga, Verônica, e tirar proveito de toda situação. Nunca pensaria de tal forma se soubesse disso tudo antes.

— Desculpa — Lauren pediu ao pensar nessas coisas.

Camila estranhou o pedido de desculpas, mas não a questionou, somente continuou apreciando o alívio que estava sentido por ter tirado tal peso de si.


Notas Finais


Perdoem-me pelos erros na escrita.
Eu, realmente, espero que vocês tenham gostado.
Até o próximo.
Um beijo e um xero no cangote.


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