História Contos do corpo - They're gone

Espaços. É tudo o que as pessoas ocupam em nós. É aonde depositamos tudo que somos e sentimos. Quando seu melhor amigo muda de cidade e você se esforça em dobro para que ele ocupe o mesmo espaço, mas ele não cabe mais ali. Não faz ao menos sentido que as coisas mudem tão rápido, que alguém ocupe tanto espaço dentro de você sem nem merecer. Quando alguém que você acredita amar te diz coisas que te fazem questionar o porque dessa pessoa estar tão bem acomodada no seu coração. Quanta gente espaçosa, que toma conta de tudo que é nosso, que rouba nossa alma, mas finge que ainda é nossa. Nenhuma parte sua ainda é sua. Você doou seu corpo para um homem que precisava de consolo numa noite fria ha algumas semanas, emprestou seu coração para uma garota que conheceu na adolescência, presenteou sua alma aos amigos e ex-namorados porque eram todos boas pessoas, pessoas incríveis, dignas do seu amor. Mas todos foram embora, todos eles recolheram suas cadeiras, apagaram suas velas e se retiraram do teu teatro. Então, nesse exato momento, quando o portão metálico se fecha e tudo ali dentro fica escuro e frio, você se sente sozinho e vazio. E é porque realmente está! Todas as coisas perdem o sentido, você se preenche com puro mártir e chora mais e mais, incansavelmente, mas a água ocupa muito menos espaço que um corpo e isso nunca vai mudar. Seu coração é vazio. Sua alma foi esfolada. Seu corpo dói. Você agoniza. Tudo por aqui está diferente e você se apega a sensação de que nunca vai voltar a ser como foi uma vez, não que goste de acreditar nisso, mas apenas sente que é assim, que seu coração nunca mais vai se jogar de um penhasco sem proteção alguma. Nunca mais vai se entregar sem um pé atrás. E isso dói tanto. Minha intensidade não me permite sentir menos que isso. Tudo que não é ocupado por amor é ocupado por dor.

Por que sinto tanta dor?

O que restou é o cansaço. A fadiga causada por tantos espaços ocupados sem merecimento, por tanto esforço para manter pessoas que já não deveriam estar ali. Que nunca deveriam ter sequer passado por aqui. Mas sempre há um grande problema, o maior deles: a poeira. Isso mesmo, a sujeira e a bagunça que fica depois que saem, gotas de cera endurecida espalhadas pelo chão. A mancha das memórias. A poeira das lembranças. Como se tira isso tudo daqui? Toda essa bagunça causada por toda essa gente. Eles foram embora! E quando você se dá conta de verdade do que isso significa, tudo fica ainda mais triste, mais perdido. Ninguém vai ajudar a limpar a sujeira. Ninguém vai tentar tirar essas manchas. Ninguém tá nem aí. É tudo por sua conta. Só você sente isso, só você entende, só você pode arrumar essa confusão. Sempre será. E demora, mas só porque você pensa não ser capaz por tempo demais, se martiriza e sofre. E mesmo sendo tão ruim é tão bom, tão fácil que você já não quer que as coisas se resolvam, não quer se reerguer.