História Contos do corpo - In vain

Já é tarde e meu peito começa a romantizar a escuridão, tragando para a mente seu cheiro embriagante. O luar é cúmplice de todos os suicídios e veneramos a Foice que seu brilho carrega. Há magia no escuro, onde a tristeza escorre pelos olhos e os amantes se encontram, onde o relógio congela e pernas agitadas se divertem em alienação. Sangue lavando os pulsos de alguém sujo de Mundo. Ninguém se pergunta qual o tipo sanguíneo. E se fosse O-? Que desperdício! Apenas ouço o lamento de vozes chorosas perguntando-se do porquê de algo que ao menos entendem. Pobres pulsos abertos, pobre alma rasgada, nunca compreenderão seu dramático sofrimento. Ínfima dor expandida em quem sente demais. Pele e água se chocam num ruído de beleza enquanto algo lateja dentro dos ossos. Moço, você não é oco. Menina, você não é vazia. Estamos desesperados; o corpo sente e a mente não entende, como claustrofobia em estar dentro de si mesmo. 

-me deixe sair- 

Estamos perturbados e é quase erótico dizer "nós", porque o amor é uma piada. As Estrelas tentam nos dizer alguma coisa que valha a pena com sua luz enquanto o Universo nos cobre com uma camada de nada a cada noite, elas tentam nos confortar com a ideia de exclusividade sem saber da nossa inteligência, da nossa capacidade de entender que não somos nada em relação a elas e ao Universo. Mas que mesmo assim nos sentimos especiais e superiores a qualquer um. Que ironia, ego maior que a própria existência caber perfeitamente em alguns metros abaixo do chão. Pobres Estrelas apaixonadas por romances repetitivos e cenários fajutos, por finais trágicos e felizes-para-nunca-mais. Então, por alguns momentos, com o copo de uísque em equilíbrio ao meu lado em cima do muro, tudo parece em vão, todo e qualquer esforço para sentir e não sentir, todo o amor dado a nada e ninguém, após a última tragada não quero mais estar sozinho nesse muro ao lado de uma bebida cara e sem valor; no entanto, onde mais eu poderia estar?

Estou prestes a sangrar.