História Contos do corpo - Put on your mask

ando na rua. a pressa toma minha mente enquanto todos os relógios contam meu tempo. escasso tempo. não sei para onde deveria olhar. pessoas observam minha pressa sem abandonar as delas. estou intimidado. a música alta no fone cobre o som da multidão. meu peito aperta repentinamente num vazio. somos sozinhos. caminhamos juntos para o mesmo lugar. eu nunca te vi. o tique-taque nos tira a vontade de pensar. é isso que eles querem. números são tão solitários. já reparou? palavras perdem o sentido a cada segundo que são despejadas. sinto falta do que era real. ou do meu irreal. tudo parece tão falso e distante. olhares vazios procurando por algo. quando vamos encontrar? ninguém se entende. já parou para pensar? estamos desesperados por saber. somos degustadores de "eu sei"; "eu te avisei". vomitamos tempo porque queremos ser o padrão. é tudo uma mentira se desfazendo em morte. soa sombrio. é muito pior. se você pensar bem nem faz sentido. ciência e fé. essa guerra me destruiu. o sinal vermelho indica obediência. estamos submissos. isso é tudo.

ao finalmente entender o nada que é existir já não quero estar aqui. observo as pessoas em seus movimentos de repetição e os mesmos lugares que não mudam. diriam que estou doente, triste, mas eles quem estão! querem nos cegar, porque todos precisam de um sentido para continuar, não é? não penso, logo existo. porque se penso sei que não existo e por existir quero dizer ser, o sentindo mais pleno de ser. somos nada. minúsculo universo de sentimentos que ninguém nunca vai conhecer. somos sozinhos. fim da vida num planeta esquecido por Deus. somos maleáveis. mentiras contadas por conveniência. somos hipocrisia. estar apaixonado porque o amor não vale a pena. o amor não vale o guindaste! somos cegos por sentir e tudo se resume a isso. egoísmo escondido dentro de boas intenções. "amo você" porque é poético e meu ego gosta de ouvir você dizer. "não me importo" porque quero te ver provar o contrário. e soa dramático, triste, talvez até revoltado, mas não vejo outra forma de lhe contar que tudo é nada e a vida é trampolim da morte. 

não sou ninguém e pode parecer doloroso dizer, mas já não sinto. é como se eu fosse um livro de histórias, conto sobre os outros, mas não existe eu. não tenho sentimentos nem opiniões, somente informações mal-gravadas da experiência alheia. É monótono viver e passo meus dias a remoer ansiedade e vazio numa mistura que me faz querer vomitar. não posso falar com ninguém. estão todos limitados em seus sentidos: Vida Eterna, Felicidade, Dinheiro, Família, Carreira, Padrão, Coisas... querem enfiar seus sonhos breves em minha cabeça cheia. meu corpo está exausto. ele não é idiota e já entendeu meu cérebro confuso. nada faz sentido. então, de repente, tudo que me sinto capaz de fazer é dormir e pensar mais e mais procurando entender o que estamos fazendo(?), aonde queremos chegar(?). seus orgulhos me parecem pequenos e sua vitória é mal-vencida porque ninguém a valoriza, mas a culpa não é minha. 

estou tão longe e me importo tão pouco que é quase como se estivesse em uma atuação.

sou uma péssima atriz.