1. Spirit Fanfics >
  2. Contos do corpo >
  3. I'm (not) fine

História Contos do corpo - I'm (not) fine


Escrita por: peacefulover

Notas do Autor


oizinho bolinhas de algodão!
perdi a noção de quanto tempo tinha passado sem postar, desculpas.

Boa leitura, XOXO.

Capítulo 17 - I'm (not) fine


Há pequenas coisas que você não sabe sobre mim, mas tudo bem, porque há várias coisas grandes que você também não sabe. Bem, sou G pelas pequenas coisas, sou apenas uma junção de pedacinhos e... eu acho que entre as poucas coisas que posso afirmar sobre mim com certeza suficiente, essa é uma delas. E acho que exatamente por eu ser tantas coisas, tantas pequenas coisas, você nunca me conhecerá e ninguém lamenta mais que eu (ninguém lamenta). G está e logo não mais. Quando você diz seu nome em voz alta não parece muito mais real? Tipo "caralho, sou eu." Será que é por isso que inventamos apelidos? Pra fugir da sensação de realidade que nossos nomes trazem? É por isso que dizemos o nome inteiro de alguém quando estamos bravos? É como dizer "acorda pra realidade, me escuta!"? Acho que às vezes esquecemos o quanto isso - estou objetificando a vida, me perdoe - é real e temporário, entramos no automático e acho que é porque dói menos do que quando lembramos de que existimos mesmo e que tudo vai acabar e nossos propósitos não têm um propósito. Que loucura né? É como você preparar o café da manhã para alguém sabendo que a pessoa não vai comer porque está com hora marcada para se jogar do penhasco que fica na saída da cidade. "Nem um pedaço de bolo? É de chocolate!" e essa é a única coisa que sabíamos sobre esse alguém. Enfiamos bolo na vida, mas ela não vai precisar daquilo e nós trabalhamos tanto para comprar e fazer aquele bolo. Faz tempo que não me chamo pelo meu nome. Faz tempo que não tenho essa sensação de "caralho, sou eu.", não que eu saiba quem sou, mas sei que "existo". As aspas são ênfase para que você não seja literal ao ler isso (sei que não vai ler). Às vezes acredito nem precisar dizer meu nome porque sinto a vida sendo real (acho que sinto), mas me acho uma espectadora, olhando para a vida dos outros e conduzindo meu corpo para onde querem que ele esteja. Sempre querem algo do meu corpo. E às vezes da minha mente. E bem mais que às vezes eu minto, muito mais vezes do que você considera "às vezes" eu finjo. Às vezes é divertido, às vezes não. G vive pelos outros. G acredita nisso. E como espectadora da minha própria comédia trágica, não sei se acredito tanto quanto ela. Por que falar na terceira pessoa é mais fácil?

Todo meu corpo treme e tentando vasculhar meus sentimentos acho que não tenho nada a descrever. Nada a sentir. Talvez as lágrimas que quero tanto chorar venham de algum lugar dentro de mim que dói. Ou sou só eu tentando tornar tudo mais dramático? Por que me sinto afogada em um exagero doloroso? Por que sinto que estou romantizando meu vazio? É meio simples: não sinto. E dói mais vezes que às vezes, porque quero sentir. E dói muito mais porque machuco os outros. Tudo que queria no começo e quero continuar a querer é não machucar os outros. Quero que os outros façam o café da manhã e acreditem que a vida vai sentar para comer o bolo de chocolate que ela dissera gostar (mesmo tendo sido a única coisa que ela disse) e eu quero ajudar a pôr a mesa, porque, mesmo sabendo que é em vão, alguém vai estar feliz e ter um propósito por um tempo; veja, "um tempo" é muito relativo, pode durar segundos ou anos - a diferença entre os dois ainda é ínfima se pensar bem -, e mesmo tão relativo é bem específico; ponto e vírgula é para pausa dramática, porque quero que preste atenção no que está prestes a ler. "[...] e mesmo tão relativo é bem específico;" vai durar o tempo que durar. Entende? É tão óbvio que chega a ser complexo. Não sabemos que horas a vida estará pronta para descer as escadas e colocar a gravata, mas ela não costuma se despedir e mesmo assim é divertido te ajudar a arrumar a mesa, é bom te consolar quando queima o bolo. Eu te ajudo a fazer quantos outros você quiser! As pessoas precisam mais desse bolo do que a vida... e é por isso que me sinto tão irreal. Não sinto que preciso de propósito, nada me vem à mente com essa palavra, na verdade me vem muita coisa à mente, mas estaria mentindo se dissesse que quero todos esses propósitos, que são meus. Enfim, no meio dessa crise existencial tão dramática e provavelmente insuperável, na qual - estou tentando obedecer a ortografia formal - tenho a sensação de que sempre carregarei comigo e sempre carregarei sozinha, me encontro (perdida) conformada. Tá tudo bem. Mora no meu peito a sensação familiar como se eu tivesse nascido assim. Defeito de fábrica. Não estou preparando bolo de chocolate pra vida. Estou numa poltrona, tentando parecer melancólica enquanto tomo um uísque qualquer que não me importa a idade misturado ao café. São 7h da manhã. O silêncio é perturbador, mas tudo bem, eu gosto. G é pequenos detalhes que ninguém quer conhecer... e é melhor assim. Até agora ninguém entendeu o jeito confuso como monto meu quebra-cabeça; as peças estão claramente encaixadas de forma errônea! - só não quero rimar - mas eu quero formar outra imagem e não essa mesma que todos fazem. "Por quê?" Posso te responder que não sei? Responder uma pergunta com outra te irrita?

Enquanto repito para mim mesma que está tudo bem ter nascido com defeito, que não tem problema saber que é vazia desde os dez anos, me torturo com a imagem de cada vida que precisa e merece estar preenchida. Não quero ser (parecer) egoísta. As pessoas merecem ser feliz. Mas não acredito que valha para mim. E tudo bem.

Se eu repetir o suficiente que está tudo bem, você vai acreditar?

Mesmo que eu esteja mentindo, você promete pra mim que acredita? Sei que não é difícil aceitar o que dizem e todo o papo de "troca" e "reciprocidade" só é falado por quem não está sendo ouvido. Todos querem falar. Eu não. Palavras, quando não escritas, saem erradas, eu sou um monstro em palavras. Prefiro escutar, atentamente, absorver histórias que não são minhas. E só estou te contando porque você não vai ler. G quer ajudar aos outros porque já não pode fazer por si mesma e não vale a pena (não vale nem todas as coisas mais pesadas que uma pena).

E tá tudo bem!


Notas Finais


euzinha de novo haha
os G's que coloquei são abreviação pra um nome e como forma de fazer com que tenha um sentido mais alegórico pra personagem.
****Somos especiais ou meros defeitos de fábrica?****
espero que tenham gostado,
até o próximo, XOXO.


Gostou da Fanfic? Compartilhe!

Gostou? Deixe seu Comentário!

Muitos usuários deixam de postar por falta de comentários, estimule o trabalho deles, deixando um comentário.

Para comentar e incentivar o autor, Cadastre-se ou Acesse sua Conta.


Carregando...