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História Contos do corpo - Sorry


Escrita por: peacefulover

Notas do Autor


oizinho corações.

Boa leitura, XOXO!

Capítulo 18 - Sorry


me desculpa.

você me disse, certa vez, não gostar do meu existencialismo frequente, da minha intensidade exagerada, do meu sofrer egocêntrico;

e de todas as coisas que você me disse não havia uma que eu já não esperava que você me dissesse. sabia que diria não gostar do que estava ouvindo, sabia que tentaria me mostrar todas as coisas bonitas do mundo, que me diria para tentar mais, que ser feliz é tão palpável e presente, sabia que julgaria e que chamaria de egocêntrico, que questionaria o porquê de tais sentimentos morarem lá dentro, tão fundo, na minha alma. mas não doeu, suas palavras soaram distantes e sua indignação compreensível, a inconformação e a impotência nos teus olhos foram como dedos grandes e pesados apontando para o rosto do meu vazio, como uma bronca de mãe que não é, de fato, dolorosa. me desculpa. poderia repetir todas as mil vezes que você me pediu para repetir, quando, depois, mudou de ideia, porque você merece que eu diga, eu entendo que é o mínimo que posso fazer por ti. me desculpa por estar romantizando, mais uma vez, o que sinto e o que aconteceu, porque não quero que pareça tão dramático e negativo como parece. não é. ao teu coração e mente simples pode soar enorme, mas não é. me desculpa por te deixar confuso. me desculpa por te fazer sentir impotente.

estou cansada de me explicar para mim mesma, querendo justificar o porquê de ainda viver, de continuar. é confuso. soa sem sentido. sempre que perguntam algo sobre mim sinto uma incontrolável vontade de dizer "não sei"; sobre meus desejos, meus planos, minhas ideias e paixões. como pedra de sabão estou me desfazendo na chuva, me transformando em espuma e sujeira; e se o sol vier... possivelmente um arco-íris (ou armadilha seca deslizante), mas não é como se eu soubesse quem sou. como você sabe? como tem tanta certeza de que é isso mesmo que quer e sente? definições recaem precipitadas aos meus olhos, pessoas pedindo por palavras ditas e escritas. certezas que não tenho, palavras que não sou capaz de pronunciar, me faltam forças para discorrer. não está de boa medida o que lhe escrevo agora? não é certo e definido, mas está explicado, ditado.

estou elaborando frases para consumo.

não parece triste?

me desculpa.

você merece todas as frases explicativas que eu estiver apta a usar e todos os artifícios de linguagem que eu for capaz de reportar para cá, longe de qualquer som dolorido produzido em cordas vocais. 

percebe como soa menos triste?

não é egocêntrico quando você não sabe. não é intenso e exagerado quando permanece em mim. não é passível de inconformação e impotência quando se mantém na tua possibilidade de desconhecimento.

me falta vida.

me falta vontade da vida.

não falta a você?

 

quando todas as coisas que me pediu para fazer, sentir e experimentar já estavam riscadas algumas vezes da minha lista de tentativas, concebi a insinuação de nunca me "curar", de ser, para todo o resto de mim, vazia. veja, em nenhum momento me considerei doente, inclusive às vezes me ocorre a ideia de que todos estão doentes, afogados no mundo, tentando, como pássaros, serem peixes. me sinto liberta em mente e presa em um corpo, agonizando. aceito minha condição de pássaro, com a plena consciência de que, como em um delírio de anos, isso pode passar, de que posso chegar a chamar tudo isso de "uma fase", de que logo quererei ser peixe.

estou tentando entender como o mundo funciona.

aceito isso.

estou tentando entender como a vida funciona.

e aceitando tudo isso.

é tudo que me resta a fazer.

nenhuma luta é realmente minha.

nada é realmente a mim.

nada sou eu.

ninguém.

estou aceitando que não há finalidade nessa infinidade de tudo que fazemos.

estou aceitando que não há bem ou mal e certo ou errado no final.

estou aceitando que não há o que realmente valha a pena.

estou aceitando que não há porquê viver. (ou morrer)

estou aceitando que nada é resumo prático e poético de tudo.

 

viver pelos outros não é lindo e corajoso como me incide ser?

viver para que os ínfimos propósitos alheios se cumpram e lhes dê a felicidade desabitada em mim não é um ato bravo e romântico como acredito ser?

viver tentando servir de escada e apoio manual para que possam obter toda a grandeza do seu mundo mundano não é agonizantemente solidário e altruísta como suponho ser?

me desculpa. quero sorrir e ajudar os outros. mas por um segundo, um ínfimo segundo, me permita sofrer a dor de não ter tais propósitos, a dor tão descomunal de carregar vazios antigos e obsoletos, a dor exagerada, que nem todas as minhas frases são capazes de descrever, do meu egoísmo e meu medo, dor vinda de todas as partes nada românticas ou altruístas de mim, querendo a cura mundana, querendo a vida normal, querendo fugir dessa angústia solitária, dessa monótona falta de propósito que sou eu. estou tentando não sentir, não me importar, não demonstrar.

 me desculpa.


Notas Finais


até o próximo, XOXO.


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