História Contos do corpo - To friends who weren't here, with love

"Eu costumava colocar palavras em suas bocas, mas sei, hoje, que isso não era certo. Não que as coisas que eu fiz tenham justificativa, mas é que vocês estavam sempre quietos, sempre observando e julgando com gestos e olhares, e eu precisava saber o que estava acontecendo, precisava justificar o que vocês não justificavam. Eu não aprendi a amar com as pessoas, aprendi sozinho e isso pode não ser o que querem ouvir, mas é tão difícil acreditar que é um sentimento que vale a pena quando tudo que se tem do amor é o que você sentiu. Tipo, será que era mesmo amor? Aprendi que os sentimentos não são fáceis, as pessoas não são fáceis e vocês tornaram tudo muito mais assustador. Precisei do seu amor e não parecia ter, era tão aparente, como um vidro onde a luz atravessa, a luz nunca voltava, passava reto e só o seu lado aquecia-se. Eu quero que me perdoem por tudo, pelas brigas que provoquei com meu jeito explosivo de agir, pelas mágoas que criei, pelas lágrimas que causei, pelas pessoas que pisei. Permitam-me justificar, estou aqui, aos seus pés me desculpando, mas nunca ficarei em paz enquanto não ter a chance de lhes contar o porquê.
 Começou alguns meses atrás, eu não estava em uma fase boa da vida, nada poderia ser mais confuso do que aquele momento, me lembro tão claramente das sensações, dos calafrios, de sentir algo vazamento em meu peito, como sangue coagulando no coração, lembro-me da constante sensação de perdição, de indiferença, da falta de amor no olhar das pessoas. Naquela época eu me sentia como se fosse o Universo, não que me sentisse importante, mas imenso, haviam tantas coisas em mim, coisas inexplicáveis, além da minha própria capacidade de compreensão, eu não conseguia me alcançar de tão profundo que chegava a ser, então eu olhava para as pessoas e elas estavam ali, comigo, inteiramente ali, seus olhos brilhavam tão pouco que eu não conseguia me reconhecer nelas, suas palavras tão sutilmente óbvias que eu não conseguia entendê-las. Vocês estavam todos distantes, muito longe mesmo, vocês eram um Plutão em uma das minhas imensas galáxias e não que isso signifique que eu era importante, mas que vocês mesmo estando em algum lugar por aqui, eu não os encontrava e eu precisava que fossem uma galáxia inteira para mim, eu precisava que fossem, mesmo que pouco, uma parte maior de mim, mas vocês não foram o suficiente, nada era, me perdoem se eu os magoei, se tudo aquilo os feriu, mas vocês também me feriram, mesmo não sabendo, mesmo ninguém sabendo, eu me sentia machucado, esquecido, como o Peter Pan na Terra do Nunca sem os seus amigos, sem Tinker Bell. Me perdoem se não pude ser mais importante para vocês, mas vocês também não foram tão importantes para mim. Sei que minhas justificativas não mudam o passado. Sei que não deveria ter pré-julgado seus atos e pensamentos. Mas é o que eu faço, é o que eu sou. Vocês queriam alguém que estivesse ali para vocês, mas eu também, só que eu entendo que estávamos em outra sintonia, tudo bem, eu vim para me desculpar, eu passei por aquilo sem vocês e isso me deixou mais forte e me mostrou que nem sempre nossos melhores amigos serão significado de apoio.

Com carinho,
              Um amigo que (acha que) já amou vocês..."