Pensando bem, qual a saída? A vida é uma caixa retangular e grande com furinhos tão pequenos que apenas o mindinho passa. Estamos dentro de caixas retangulares e às vezes sentimos a verdadeira sensação de estar lá, estamos presos para sempre, sem saída, sem escape, como prisão perpétua. O sol não precisa nascer quadrado para saber que tem algo errado, que não é você quem dirige seu carro, sua vida. É tão miserável o sentimento de estar condenado a uma existência e isso ser tudo, como um livro de mil páginas que só diz "Fim." . Por quê você dorme a noite? Por que precisa lavar a louça? E se eu quiser comprar uma garrafa de vodka barata? Passar o dia deitado no sofá, olhando a chuva cair do lado de fora? Se eu quiser chorar e deixar o cheiro de bebida tomar conta da casa? Não faz diferença, faz?
"Ei, Joana, para com essa baixa auto-estima, você é tao dramática" - suas risadas ecoando pela sala branca e fria. Isso tudo é uma piada para você, mas eu não me importo. Quer dizer, na verdade eu queria não me importar, da maneira que você faz.
Ontem conheci um garoto e conversamos a noite toda, como alma gêmeas se juntando nos beijamos e agora, em casa, não consigo dormir, algo em mim está perturbado pela sensação de que não faz sentido querê-lo, a sensação de que não vai dar certo, de que nunca vai dar certo. Com ninguém. Passei a madrugada em claro tentando entender a mim mesma, tentando entender o mundo, mas se ninguém conseguiu, por que eu, uma menina apaixonada, conseguiria? "Joana, garotos não amam" - costumavam me dizer, mas eu sempre soube que era mentira. Quem não ama sou eu, quem não ama é minha cabeça que pensa, pensa e pensa. Estou sufocada por algo que sinto não ser real, por mim mesma. Eu não construí a grande caixa que a vida é pra mim, sempre estive lá dentro. Tenho asma. Aqueles buraquinhos nunca são suficientes para respirar, estou morrendo. Às vezes coloco meu dedo mindinho para o lado de fora, dentro dos buraquinhos, e sinto o ar fresco leve na minha pele fazer com que todo o meu corpo se arrepie. "Como deve ser o lado de lá?" - vivo por essa pergunta. Definho imaginando a resposta. Olhando para o teto da sala de estar me sinto esvaziando de algo que precisava ter dentro de mim. Me remexo, incomodada. Levanto, acendo um cigarro, mas apago na metade e fico olhando para o céu nublado, tão parado, tão sem vida. Tem alguma coisa muito errada e estava tudo muito menos confuso antes daquele garoto me despertar aqueles sentimentos. Um pouco de vida é melhor do que um monte de vazio.
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