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História Contos que vão morrer com o tempo - Vermelho a cor que úne azul a cor que destrói


Escrita por: Luciuslestrange

Capítulo 7 - Vermelho a cor que úne azul a cor que destrói


Karina estava sozinha, no escuro do escritório de casa. Suas duas tias tinham entrado em um consenso (coisa que era lá muito rara), e resolveram ir a um barzinho, para deixar a sobrinha em paz. Antônio, o irmão da garota tinha resolvido sair com a namorada (aguentar as lamentações da outra não estavam nos seus planos de final de semana). Sendo assim, Karina estava só, a não ser pelo ódio que a perseguia. Lá estava ela, só, com seus dedos manchados do cinza do cigarro, seus cabelos grossos cabelos esparramados (tinha queimado todas as touquinhas), toda de preto. Toda a casa era iluminada apenas pela chama fraca do cigarro de amora e pela luz do computador; tá, os olhos castanhos (típicos de uma leonina com ascendente em touro) brilhavam, bastava saber se brilhavam de ódio ou d'água, que volta e meia resolviam encher como uma represa.  

 

Ela se enganava olhando os inúmeros anúncios de intercâmbio para a Argentina como se algum dia fosse largar tudo aquilo. A certo modo, era filha de Iansã, aquela coisa maluca de sofrer até a última gota de sangue, soltar até o último grito acalentado na alma e a última lágrima. Ela atualizava a página inúmeras vezes, para ver se Patrícia postava alguma coisa. É completamente estranho não é? Você ficar refém de uma informação de uma determinada notícia importante, de uma determinada pessoa que como dizia (sabiamente) Ângela Maria "que outrora foi seu bem". Ela ainda conseguia ouvir o riso gentil e o sotaque carregado de quem vem da região rural,  sentir os tapas, ora gentis ora mais fortes, mas  principalmente conseguia sentir  a mão dela de encontro a sua, de certa forma, quando os dedos estavam entrelaçados, Karina sentia que o mundo era apenas um eterno quarto branco com uma cama insuportavelmente arrumada para as duas deitarem. Mas agora,  estava sozinha e fumando o último cigarro da carteira (foi a terceira carteira no dia).  Agradeceu de não ter um carro, senão já tinha enfiado o mesmo num poste ou tia quebrado a barreira de alguma ponte estaiada (não existem muitas em Curitiba), só pra fazer a outra morrer de remorso.  

 

Tudo aconteceu de forma muito muito rápida para as duas.  

 

Karina a conheceu na fila do Xérox da faculdade. A verdade é que Patrícia reparava naquela menina sempre de preto, com seu rosto repleto de pequenas sardinhas e sua touquinha branca. Sempre tão animadinha, com inúmeros amigos ao seu redor. Ela era linda, de uma forma diferente, mas era linda. Patrícia estava na frente dela, Karina mexia desplicentemente no celular, suponho que ouvia musica e era algo bem leve, já que ela balançava a cabeça de forma ritmada, como uma coreografia. Patrícia, rápida como era, fingiu um desequilíbrio e caiu para trás. Estava feito a burrada. 

 

- Hey, menina você tá bem? -perguntou Karina recebendo a menina nos braços. 

 

- N-n-não...  

 Patrícia não fez curso de teatro, mas tem gente que nasce com o dom. 

- Quer que eu te leve pra enfermaria ou chame ajuda? - Eduarda estava visivelmente preocupada. 

- não, não precisa, eu só preciso sentar. 

 

Patrícia estava bem longe de ser linda. Era baixinha, loira dos cabelos cor de sol e de olhos cor d'água, tinha um nariz de batata e uma testa absurdamente grande. Todavia tinha algo de encantador. Talvez fossem os olhos ou a voz mansa, característica dos piscianos... Ou fosse a hipocrisia retificada com sonsice e dissimulação, também do signo. O fato é que todo mundo se encantava com ela, não existia uma só pessoa até então que guardasse da psiciana uma só magoa. Esse tipo de gente se esforça para passar ileso. 

 

Foram as duas para o jardim de inverno, lá Karina acomodou a e menina loira numa das cadeiras de lá, depois foi atrás de água com açúcar e quando a "adoentada" fez o show todo, não pode deixar de notar o quanto a outra era linda. 

 

- Muito muito obrigada mesmo. - Disse Patrícia sorrindo. Até eu, que conheço as pessoas teria caído naquele sorriso resplandecente. 

- Qual seu nome? Sempre te vejo aqui, caminhando em nuvens pelos  corredores da facul... 

- Karina Bandeira Lorencetti. - disse ela corando de leve. - E o seu? 

Patrícia. Odeio meu sobrenome então me chama só de Patrícia. 

 

Karina sentiu ao lado da outra. As duas em silêncio, a loira e a morena. Mas o silêncio das duas falava mais do que qualquer outra coisa. O destino ali mesmo, naquele jardim de inverno. (In) felizmente. 

 

Dentro de algumas semanas elas já eram grandes amigas, daquele tipo que levanta com um bom dia e vai dormir com  boa noite, ambos cheios de carinho e coraçõezinhos azuis (flerte tem de ter coraçõezinhos azuis). Elas não se desgrudavam mais, se viam no intervalo, conversavam durante as aulas vagas... Era como se fossem amigas a décadas. Mas não todo mundo acreditava cegamente nesse amor platônico... 

 

- Você conheceu ela como mesmo? - perguntou um amigo uma vez. 

- Ah.. foi de uma forma bem doida, sabe? Ela estava passando mal e tudo mais... Ai eu a socorri. 

-  Entendo... - disse ele com um olho direito aberto e o esquerdo genuinamente fechado, Típico  da personalidade dele, a respeito de quando alguma coisa estava errado. 

- Você não tá se envolvendo demais com essa menina não? 

Ela fez uma cara de muito ofendida, mas ele sequer se importava. 

- Não! 

- É da sua personalidade cair de cara nas coisas amore. E infelizmente se decepcionar com os resultados depois da merda feita... 

- Cara, nós dois estamos tendo essa conversa por quê mesmo? Ela é só uma amiga. 

- Ai Karina, eu já vi esse filme antes e não faz muito tempo, você sabe disso. É a mesma situação que foi com a Kar... 

Ela saiu antes dele terminar a frase. Falaram-se pouco depois disso. 

 

Enquanto tudo isso ia acontecendo, Patrícia estava radiante. Ela, que veio dos "rural", tinha conseguido a atenção total da outra. E Patrícia adorava, porque tinha a outra na mão, sempre que estivesse uma merda, sabia que Karina a amaria incondicionalmente. As vezes a gente precisa mesmo, de um idiota que diga sempre que está do nosso lado. E para Patrícia, Karina não passava disso. 

 

- A mãe ligou -disse o irmão com quem ela morava, enquanto arrumava a mesa do jantar- disse que o Jorginho ficou noivo da Renata.  

 

Que mãe liga para a filha avisando que o amor da sua vida vai casar com a garota com quem ele te metia um par de chifre?  

 

nossa, ela fez isso por que? Meu aniversário é amanhã e esse foi meu presente?   

Talvez ela ainda não tivesse superado o fato de ter sido traída pelo que ela achava que era seu grande amor. Talvez ela até tivesse sentimentos por outras ''personas''.  

 

No quarto de dormir, depois de muito tempo, a menina conseguiu chorar. Era estranho para ela, que se vangloriava do duro coração, ver-se ali, com os cabelos desgranhados e o rosto fino inchado de tanto chorar. Não queria preocupar o irmão, que vivia fazendo cálculos para cortar gastos para poder mantê-la na faculdade; e no fundo ela só tinha ele mesmo... Mais ninguém conhecia a Patrícia de verdade, só aquela coisinha tão pequena que ela atuava. 

Mas logo ela recebeu uma mensagem, que mudou a sua vida: 

 

''E se eu dissesse pra você, que eu posso ser o amor da sua vida, só basta vocẽ deixar?'' 

No dia seguinte na faculdade, dia do aniversário de Patrícia, todos tiveram o deleite de vê-las juntas, aos beijos e abraços no jardim de inverno, onde tudo começou. Entre as carícias mútuas, Karia parou um dos incontáveis com um selinho e disse: 

 

- Eu sei que você tinha dito nada de presentes... mas eu não pude evitar! Na realidade, eu já ia te dar antes de nós duas começarmos a... Enfim – disse ela pegando da mochila uma caixinha de papel dourada com uma fita vermelha. 

 - Que diabo é isso Ka? 

- Abra e descubra. 

Quando a loira abriu, viu que era uma das coisas mais lindas que já tinha ganho: Era uma correntinha dourada com uma pequena figa.  

- Eu não posso aceitar... É tão... Lindo – Quando viu já era tarde, as lágrimas escorriam dos olhos lindos da outra. Era lindo ver Patrícia chorando, que seus olhos, já claros, tornavam-se ainda mais líquidos, e pareciam mercúrio.  

 

Quando o amigo soube do valor que Karina gastou naquilo, resolveu não se meter mais. Existem coisas que só com a cara rachada se resolvem. 

 

As coisas mudaram quando Karina faltou uma semana, uma gripe forte tinha a atacado. Porém, recuperada em partes, resolveu fazer uma surpresa para a namorada, levando-a em um restaurante japonês (que ela nunca tinha ido). Mas na hora ''H'', a surpresa quem teve foi foi ela. Num beco desses escuros, ela teve  o imenso desprazer de ver ''o amor da sua vida'' trocando beijos com outro. Ela não gritou nem nada, até demorou um pouco para cair a ficha daquilo tudo. Quando Patrícia abriu os olhos e viu seu par ali, ela fez o primeiro movimento obvio. Foi correndo e a abraçou. Karina por sua vez, sequer mudou o movimento, só empurrou a outra com força, que acabou se desiquilibrando e caindo no chão. Ela sabia que a dor que sentiu com o impacto, foi bem menor do que a namorada sentiu ao vê-la com outro. O fato era que ela só fez aquilo para que Karina não ficasse sabendo de toda a ''vida'' que ela teve antes de conhecê-la. Nunca a frase de Cazuza ''Se eu te escondo a verdade baby, é pra te proteger da solidão'', fez tanto sentido. 

A partir daí as coisas desandaram tremendamente. Todos os amigos de Karina contaram que já sabiam das traições a tempos (sim, foram mais de uma), só que se tivessem contado ela não acreditaria. Ela não chorava mais escondido apenas, aliás era bem comum vê-la no banheiro feminino chorando horrores. Fazia questão de  quando via Patrícia (cada vez mais difícil, já que a outra mal aparecia) de não lhe olhar na  cara. Foi triste. 

 

 

Karina atualizou mais uma vez, e quando viu, o perfil tinha sido apagado. Provável que a vadia tivesse a bloqueado, além de tudo. 

 

Logo em seguida o celular vibrou, sabia que era ela, porque o vibrador era personalizado. 

 

 

Querida Du, sei que nesse momento você deve estar me odiando, e se ter serve de consolo, eu estou. Não sei conviver com todo o mal que te fiz, não sei conviver com o fato de te ver e você me lançar esses olhos de satanás, de ver você choramingando pelos cantos escuros da Facul. Eu só sei que você é o meu grande amor, você é a pessoa que eu sempre esperei, a pessoa que ia mudar a minha vida. E você mudou; só que eu não soube aproveitar você, o seu beijo, os seus olhos, todos os momentos que passamos juntas... Não sei o porquê de ter feito o que fiz, mas sei de duas coisas:  

1-  Eu prefiro morrer a ter de viver com a sua indiferença. 

2- Eu te amo, e sempre te amarei. 

 

 

 

 

No dia seguinte o irmão de Patrícia ligou para Karina. A menina tinha se matado na banheira. Karina não foi ver a ex morta com a boca entreaberta, mas sofreu e ainda sofre. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

                 

 



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