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História Contos Queer - Velha Cadeira


Escrita por: wkd

Capítulo 2 - Velha Cadeira


Fanfic / Fanfiction Contos Queer - Velha Cadeira

Aquela manhã era familiar. No fundo tocava Damian Rice, um som ambiente que comia minha mente como costumava fazer, a cadeira velha da varanda balançava com o vento que ali passava, alguns pássaros até cantavam minha despedida e pela janela eu avistava a enseada coberta pelo laranja do céu. Era a última vez que eu estaria ali, eu sentia isso, eu sabia que seria meu último dia ali. Eu podia ouvir o bipes dos aparelhos fazendo a percussão da música, entre os soluços da minha mãe, eu podia ouvir. Eles não sabiam, mas aquele era o meu último dia ali e eu não tinha como avisar. Eu andei por aí, como uma vagante, andei por ruas vazias, vi todos os cenários que sonhava em ver. Andei por campos floridos, andei por cenários histórico. Toquei em estatuas gregas, senti o cheiro dos rios, mas eu sempre terminava o dia em casa, vendo a velha cadeira balançar. Tentei encontrar a garota por quem eu me apaixonei aos quinze anos, foi quando eu descobri o que escondia em mim. Foi quando eu renasci, não foi tarde, foi justo. Eu não a encontrei em lugar nenhum, todos os rostos desconhecidos e nenhum traço como o dela. Hoje era o meu último dia ali e eu não havia encontrado vestígios daquela garota, se eu pudesse pedir a minha mãe para procurá-la, bom, certamente eu não estaria deitada com tanta invalidade sobre aquela cama. A cadeira balançou e tudo ficou em silêncio, toquei na chaleira e servi um café, eu nunca gostei de café, mas o cheiro lembrava as manhãs em casa com minha mãe gritando para me acordar. Hora da escola, dizia ela. Eu levantava correndo, lavava o rosto e descia para comer pães com manteiga na chapa. O café era para o meu pai, eu me contentava com o chocolatado e leite para então ir à escola e fazer de tudo para falar com aquela garota, como simplesmente perder a borracha, o apontador ou qualquer coisa que me desse um motivo, um pequeno momento. Se eu pudesse dizer algo agora, eu diria para as pessoas pararem de se preocupar com toda essa gente reprimida que martelam a mesma hipocrisia diariamente. Se eu pudesse fazer algo, levantaria dessa cama, abraçaria minha mãe e contaria sobre todos meus amores, talvez ela fosse ficar chocada, mas tenho certeza, agora eu tenho certeza, de que ela amaria esse reconexão. Algumas coisas não mudam, são irreversíveis e se transformam em nó, às vezes esse nó vai além da alma, agarra o corpo e nos afunda direto no poço de arrependimento. Tão serena, eu finalmente encontrei, repousava a noite como uma criança em seu mais tranquilo sono. Eu não sei se eu realmente estava lá, mesmo que ela não pudesse me ver, ou se era fruto desse cenário bonito da minha cabeça, algo como uma recompensa pela insistência, mas ela estava lá. Eu não sei como tenho tanta certeza, ela era tão jovem e agora tão adulta. Estava em seus sonhos, só podiam ser seus sonhos, aliás não existe panda nessa região do globo, ainda mais pandas que conversam conosco. Agora eu me lembro de tudo, ela amava pandas e agora sonhara com eles e eu estava lá. Ela me viu, não sei como explicar, mas ela me viu e sorriu como se lembrasse de mim. Mais uma vez em casa, cadeira balançando e chaleira quente. Havia uma coisa diferente, o laranja do céu estava forte, brilhoso, quase não dava para ver a enseada. No som ainda tocava Delicate, com direitos à chiadas de mal contato, aquele brilho todo era simpático, hora de ir. 



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