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História Contra Legem - Capítulo Único


Escrita por: evilhyuckie

Notas do Autor


Olá, meus amores <3

Vamos a algumas considerações rápidas antes da leitura?

- Fanfic inspirada no MV de Lotto, porém, contendo apenas os principais traços do enredo deste.
- O couple principal é ChanSoo, o que não impede a interação dos demais personagens.
- Agradeço à ~yukk por surtar *ops* apoiar no processo de criação da fic haha <3
- ~Nahu, como sempre, me ajudou a criar alguns aspectos do enredo.
- Deixarei um desafio para os leitores ao final da fanfic, portanto, atenção às notas finais :3

Creio que isto seja tudo :3 boa leitura, espero que gostem <3

*Contra Legem: Costumes sociais opostos à lei, nos quais as normas costumeiras contrariam as normas de Direito escrito.

Capítulo 1 - Capítulo Único


Fanfic / Fanfiction Contra Legem - Capítulo Único

A vida é uma roleta-russa.

Fazer a aposta máxima em busca de satisfação pessoal ou acomodar-se com a sobrevivência medíocre? Eis a questão que rege nossa efêmera existência.

Nossas decisões diárias são permeadas por complexos sistemas de ordem ética. Mas qual é a garantia que obtemos ao optar pelas decisões moralmente aceitas? A moral é subjetiva, meus caros, e o que parece atrocidade para uns, é apenas uma forma de sobrevivência para outros. Portanto, ao analisar determinada situação, por favor, leve em conta os dois lados da moeda. Os fins justificam os meios, e nenhum dogma é livre de contestação.

O atalho para nossa satisfação é, na maioria das vezes, ilícito, e isso nos leva à reflexão de que o instinto humano não pode simplesmente ser domado por um conjunto de regras escritas por aqueles que nos pregam o bem. O que é o bem, afinal? Novamente, qual lado da moeda estamos analisando?

E como o homem é o lobo do homem, é um tanto óbvio que o que nos mantém longe do crime não são nossos valores ético-sociais, mas sim, o puro medo da sanção penal.

Mas, e se você cometesse um crime perfeito? Sem provas, sem rastros, sem indícios... Não se sentiria tentado a cometê-lo?

Já os adianto que sou um ser humano fraco e sim, eu cedi à vida fácil. Consciente das consequências improváveis, optei por aquilo que faria bem exclusivamente a mim.

Não se esqueça, o bem e o mal também são subjetivos.

 

 

174

Começou com um desencanto qualquer. Mais precisamente, com uma carta de demissão escrita à punho da secretária e assinado pela chefia do escritório. A causa é incerta. “Fora negligente em seus afazeres”, escrevera a secretária, como se estivesse a par dos acontecimentos.

“Mas eu não fiz nada” alegava, mas este era exatamente o problema. Passivo demais, como era de se esperar de um rapazinho de vinte e seis anos, pouco experiente, que agarrara a oportunidade de participar da rotina de um escritório de advocacia pela primeira vez. Sendo especializado apenas na área criminal, era um tanto óbvio que minha vida útil ali não seria das mais longas.

Portanto, lá estava eu: desempregado, carta de demissão em mãos, desesperado ao conceber a ideia da esposa e dos dois filhos à espera em casa.

Sendo minha decisão seguinte errada ou não, este não é o mérito: o importante é dizer que mantive-me omisso para minha família em relação à demissão.

E foi com um sorriso no rosto que cheguei ao lar naquela sexta-feira, disfarçando as lágrimas e o desespero. O verdadeiro homem de família não chora, e passa sobre todas as dificuldades para prover o sustento do lar.

Era este o meu papel, portanto? Analiso a situação amena do lar, beijo a esposa friamente e dou um abraço no filho mais velho antes de pegar nos braços o recém-nascido. Ele tinha meus olhos, mas era simplesmente perturbadora a semelhança com a esposa.

A aliança pesa em meu dedo, e coloco o bebê novamente no berço antes que eu pudesse passar mal. As escolhas de vida às quais me sentira pressionado a tomar pareciam ter o peso de um mundo sobre minhas costas. O ciclo natural da vida é aquele em que devemos nascer, crescer, nos reproduzir, envelhecer e morrer.

Pois bem, agora só me restava esperar pela morte, se meus cálculos estavam corretos.

Mas se engana se você pensa que sou do tipo que subiria em um banquinho e amarraria uma corda ao pescoço. Eu sou entediante demais até para esse tipo de coisa. Pelo contrário, naquela madrugada, enquanto todos dormiam, eu saí para uma caminhada sem rumo.

Não havia motivação alguma sobre meus passos cansados, e tampouco eu me sentia aliviado por estar em movimento, em contato com o ar frio noturno. Eu era apenas um idiota covarde tentando dar um tempo dos problemas familiares, mas que nem no silêncio da rua conseguia encontrar a paz almejada.

Já era hora de voltar, constatei ao checar o relógio de pulso. Uma hora de caminhada e eu não chegara à conclusão alguma que fosse diferente de minha completa incompetência. E de fato, já estava dando meia-volta quando o som de um tumulto me chamou a atenção.

Ali, na pouca luz de uma praça abandonada, um grupo de homens se aglomerava em torno de uma arena coberta por grades. Naquele espaço de confinamento, duas criaturas negras duelavam pela vida, como era exibido pelas marcas de sangue deixadas pelo plástico que forrava o chão de ladrilhos.

Briga de galos. Diversão cruel e ilícita para adultos que pode ser altamente rentável.

É claro que eu poderia passar por ali casualmente, cuidando apenas de meus próprios problemas, – que já eram muitos – mas algo ali me chamou a atenção.

Um sujeito que parecia estranhamente deslocado aos demais se mantinha um tanto afastado, observando a roda de homens brandir seus punhos em direção à arena. Não parecia preocupado com o resultado do duelo, e sua casualidade fez com que seu olhar se desviasse ao redor, invariavelmente me encontrando ali, inocentemente paralisado diante dele.

Meu instinto primitivo gritava para que eu corresse dali, para que me afastasse do ilícito e mantivesse minha dignidade intacta.

Mas o olhar daquele garoto falou mais alto, empreendendo poder de dominação sobre mim. Ele me examina de cima a baixo e se aproxima, o olhar predador parecendo condizer com a cor de fogo em seus cabelos. O corte que ainda exibia sangue sobre seu nariz também era um claro sinal de que eu deveria me afastar daquele rapaz.

Mas talvez fosse a misteriosa atração pelo perigo, ou simplesmente pelo corpo esguio e bem vestido do rapaz em chamas que fizeram com que eu ficasse parado ali, esperando que ele estivesse próximo o suficiente para que começasse a me interrogar.

-Nome? – ele questiona em tom inquisitivo, a voz rouca e grossa fazendo os pelos de minha nuca se arrepiarem.

-Do KyungSoo – respondo com sinceridade, me arrependendo logo depois por ter me exposto de tal forma.

-Muito bem, KyungSoo – ele também parece surpreso com minha óbvia sinceridade – Pode me chamar de Yeol. Veio aqui para apostar? – ele aponta para a arena improvisada, parecendo temeroso de que eu sequer soubesse o que acontecia ali. Mas eu não era tão ingênuo a esse ponto.

-Hmmm... Vim.

Meu olhar quase desesperado corre para a arena, e não tenho certeza do motivo pelo qual disse aquilo. Talvez eu quisesse justificar minha evidente atração pelo evento.

Mas a pergunta era: me atraíra pelo evento ou pelo garoto de cabelos vermelhos?

Com um sorriso discreto, Yeol continua com as perguntas:

-Já apostou em alguma outra arena?

-Nunca. Nada – sussurro quase que pateticamente, incapaz de formular respostas mais complexas. Yeol apenas acentua seu evidente divertimento com a situação e faz um gesto para que eu o seguisse para mais perto da multidão.

-Não se acanhe, é normal ficar nervoso em sua primeira vez – e pela forma com que seu olhar se fixou sobre mim, malicioso, presumi que ele não se referia apenas àquele tipo de atividade – Bem, temos dois competidores aqui, certo? – ele aponta para os animais, que ainda duelavam em situação de igualdade – A luta só acaba quando um deles morre.

Apenas assenti, tentando não deixar transparecer o quanto a cena em si me parecia aterrorizante mediante a perspectiva do final do duelo.

-Este é meu galo, Exodus – ele aponta para um dos animais, parecendo extremamente frio em relação à situação deste – O outro é de Kai – meu olhar segue na direção em que me apontava Yeol, e distingui ali outro participante neutro demais para ser um mero apostador.

O moreno vestido em especial formalidade mantinha-se próximo da arena, encarando o duelo de forma calculista ao lado de um acompanhante, que me parecia íntimo demais para simplesmente ser um amigo. Mas quanto a isso, dispensei comentários, especialmente quando os olhos do segundo descrito acidentalmente se encontraram com os meus.

Ele avalia minha atitude curiosa e exibe desprezo diante da clara cumplicidade que mantenho com Yeol. Não é preciso muito esforço para notar seus traços de clara sensualidade e as roupas provocantes que vestia em seda negra, que pareciam causar a agitação de alguns presentes. Ele era atraente, e isto era indubitável.

  -Muito bem – continua Yeol, e o acompanhante sedutor desvia o olhar assim que percebe nosso diálogo, deixando-me momentaneamente hipnotizado com sua presença, mesmo que remota.

 -A aposta mínima é cinquenta mil won, sem máximo estipulado. Metade do valor da aposta vai para o proprietário do animal vencedor, o restante é dividido entre os apostadores ganhadores, proporcionalmente a seu investimento. Quer começar agora?

Encaro Yeol por alguns instantes, e meu olhar recai sobre a arena. Não faria mal tentar um pouco, certo?

-Confia no seu animal?

-Eu investiria – ele sugere, as mãos casualmente enterrando-se nos bolsos – Mas talvez eu não seja a opinião mais imparcial.

-Tudo bem, Yeol, estou convencido. Apostarei o mínimo – digo, abrindo minha carteira, e admito que estendi a ele a nota de cinquenta won de forma hesitante. Afinal, estava jogando uma quantidade razoável de dinheiro, confiando apenas na opinião de um desconhecido nada imparcial.

-Confia em mim? – ele parece sério ao examinar a quantidade relativamente grande de dinheiro restante em minha carteira. Concordo com um gesto positivo, e só me dou conta do que ele pretendia quando ele toma todo o dinheiro que havia ali.

Enfurecido e gravemente preocupado, apenas observo enquanto ele fazia meu recibo à mão. "Setecentos mil won. Exodus. Yeol".

Aprecio sua caligrafia elegante, um frio na espinha me dominando ao pensar que ficaria completamente enrascado caso perdesse a aposta, já que voltaria para casa com minhas economias inexplicavelmente desaparecidas.

Yeol volta sua atenção para a arena, parecendo contente com os sinais de fraqueza do inimigo mediante as agressivas investidas de Exodus. Minha atenção se desvia para Kai, e percebo que ele exibe claros sinais de desconforto. A multidão atrás do casal parece quase desesperada, e naquele momento, um sorriso surge nos lábios de Yeol.

-O que quer dizer? – faço um gesto para a arena, não entendendo o que aquilo significava.

-As pessoas daquele lado apostaram em Heracles. O galo está perdendo e a luta está quase no fim.

Olho ao redor, surpreso ao identificar um número muito reduzido de pessoas ao lado de Yeol.

-Mas...

Antes que eu pudesse perguntar, Yeol faz um sinal de recusa com a cabeça, apontando discretamente para o acompanhante sedutor do adversário.

– Byun oferece serviços extra em troco de apostas altas.

Não é necessária uma explicação posterior. Volto a encontrar o acompanhante com o olhar, que agora eu sabia se chamar Byun. O referido encosta-se mais de encontro a Kai, como em uma carícia, mas seus olhos estão longe, a atenção exclusivamente focada em Yeol.

Com o canto dos olhos, percebo Yeol evitar olhar em sua direção, criado um clima perceptivelmente tenso. Como o ruivo mesmo dissera, a luta mostrava seus primeiros sinais de término. Heracles mantinha-se acuado em um canto da jaula, enquanto Exodus o atacava ferozmente, ignorando suas próprias feridas que jorravam sangue. Algumas investidas a mais e a torcida diminuta de Yeol brandia em comemoração.

Desvio meu olhar assim que identifico o que seria o golpe final. Pela vibração, concluo que Exodus ganhara a luta definitivamente, mas sou incapaz de checar o adversário morto. A amargura pela morte do animal me toma como um todo, e revolta-me a forma quase imparcial com que Kai coloca-se dentro da arena para retirar o animal desfalecido, que ainda continuava a ser atacado pela fúria do adversário.

-O dever de arrumar o local é do proprietário perdedor – diz Yeol, sorrindo de forma puramente maligna ao observar o claro desconforto de Kai e os lamentos da torcida adversária.

-Isso é... Uma atrocidade – digo em claro sinal de repulsa. Já estava pronto para sair dali e voltar para o lar infeliz, no entanto; confortável, quando Yeol me impede ao segurar meus pulsos.

-Espere! Você tem uma pequena fortuna a receber.

Minha vontade é de renunciar à aposta e nunca mais voltar àquele local infame, mas por um segundo, reflito. Não era isto, de fato, o que eu precisava? Precisava de dinheiro, e uma renda que suprisse a de meu antigo emprego. Eu conseguira isso, afinal. Dinheiro fácil.

-Pode me agradecer depois – ele parece cheio de segundas intenções assim que percebe a mudança em meu semblante.

-Caramba, Yeol! – olho ao redor, eufórico, fora de mim enquanto me dava conta de que eu resolvera meus problemas, fazendo de Yeol meu novo salvador – Você ganhou!

-Não, nós é que ganhamos.

Ao redor, a multidão adversária se dissipava em meio a lamentos. Kai, tendo já recolhido os apetrechos da arena, colocava o sobrevivente Exodus em uma gaiola. A seu lado restara apenas Byun, que mantinha o olhar insatisfeito sobre a torcida adversária, no entanto, não se deixando abalar pela derrota.

Kai aproxima-se com a gaiola em mãos, e cordialmente a entrega a Yeol, com um gesto amigável. Relutante, Byun aproxima-se por mera obrigação social de cumprimentar os vencedores.

-Yeol, da próxima vez junte-se à torcida e aposte conosco – os olhos ofídicos de Byun brilham em direção a meu acompanhante, e observo Yeol passivamente ceder àquela provocação.

-Quando quiser, pequeno.

As palavras de Yeol parecem ter um forte poder sobre Byun. Ele estica-se todo, como se espreguiçasse, mas o movimento parece-me mais sexualmente manipulador do que um gesto de cansaço propriamente dito. Seu queixo pende para trás enquanto ele examina o céu profundamente negro, e um suspiro baixo escapa por seus lábios, o peitoral parcialmente exposto parecendo sentir o reflexo de tal ação.

Até mesmo eu não poderia deixar de maravilhar-me diante do jogo de sedução de Byun. E garanto que, se desviasse os olhos – coisa que jamais faria – daria conta de que todos os outros presentes mantinham-se com o olhar igualmente fascinado.

-Foi uma competição justa – declara Kai, parecendo não se dar conta das óbvias insinuações de seu acompanhante. Ele aperta a mão de Yeol e entrega-o um envelope branco e estufado, provavelmente com o dinheiro de suas apostas.

-Com certeza. É cada vez mais difícil vencê-lo – Yeol provoca em clara diversão, causando uma onda de risos a Kai.

-Aproveite a última vitória – e dizendo isto, despede-se de Yeol, seguindo Byun para as sombras que tangiam a praça. Mas não antes de fazer seu último comentário – Gostei de seu acompanhante – e riu.

Sinto meu rosto corar instintivamente. Afasto-me um passo de Yeol, e percebo que o ganhador parece divertido diante de minha crise de vergonha. E assim, mantive-me um tanto afastado enquanto observava o ruivo repartir o lucro com os apostadores, fazendo os cálculos necessários para tanto. Ele era experiente, rápido e preciso, tanto que duvidava que pudesse cometer injustiças.

 

 

240

E por fim, não tardou para que estivéssemos completamente sozinhos na praça, enquanto Yeol fazia a divisão final, um sorriso animado surgindo assim que ele me estende o que me era de direito. Manuseio sem jeito o bolo de notas, e não tenho a mínima ideia de quanto lucrara. Mas com certeza valera a pena, e não pouco.

-Voltarei a vê-lo? – Yeol pergunta, colocando sua própria parte no bolso interno do paletó.

-Hm, não sei – digo, subitamente envergonhado após a adrenalina do jogo e da vitória terem passado – Eu acho que preciso voltar para casa – afasto-me mais um passo, e estou pronto para deixar o local, quando algo me interrompe.

A expressão infeliz de Yeol.

-E se eu nunca mais for vê-lo? - ele diz quase em um sussurro, apesar de sua expressão não ser nem um pouco insegura, como estava sua voz.

-De que importa se eu nunca mais for vê-lo? – cedo, aproximando-me dele ao ponto em que nossos pés quase se tocassem, e a isso, Yeol pareceu reagir positivamente.

-Importa bastante para mim. Porque é um garoto adorável que acabo de corromper. E o que é um artista que não pode ver o resultado final de sua obra?

-Não sou um quadro a ser composto, eu já tenho minhas próprias cores – digo, tendo pouco sucesso em soar engraçado.

-Então me permita deixar minhas cores em você.

-Oh.

Minha respiração para mediante as palavras de Yeol. Não só as palavras, percebi, já que ele agora estreitava a distância entre nós, criando um clima de atração. Sinto o calor dominador de seu corpo sobre mim assim que os tecidos de nossas roupas se encostam. Seu perfume amadeirado pinica minhas narinas, mas a fragrância me parece embriagante.

O transe momentâneo apenas desapareceu quando ele efetivamente me toca, as mãos fortes encontrando meu queixo, o contato entre nossas peles fazendo meu rosto formigar em vergonha.

-Eu tenho uma família, Yeol. Eu tenho uma esposa. Eu tenho filhos – meu coração se aperta enquanto penso em meu lar distante, já que por mais que mantivesse um matrimônio por pura e simples aparência, eu ainda me sentia inseguro demais para deixar para trás toda a conveniência de uma família sólida para viver uma noite com Yeol.

 -Não minta – Yeol sorri levemente assim que percebe o quanto fico desconfortável com aquela acusação – Eu vi sua reação diante de Byun, e por mais que você possa negar, ele não é o sonho de consumo de qualquer homem. Ele apenas chama a atenção dos homens gays.

-Não sou gay – me defendo prontamente, mas as palavras simples parecem complexas demais para serem pronunciadas por meus lábios trêmulos. Fora pego na mentira, e isso era óbvio tanto para Yeol quanto para mim.

-Você mesmo sabe que isso não é verdade – Yeol acusa, e parece determinado ao proferir a frase seguinte – Deixe-me provar a você.

E antes que eu pudesse ter tempo para refletir sobre o que ele faria a seguir, seus lábios tomam os meus com determinação. Ah, e como fazia tempo que eu não me sentia bem daquela forma! Meus dedos procuram o colarinho de sua camisa e eu o puxo para ainda mais perto assim que sua língua pede passagem por meus lábios.

Eu o concedo, afinal, já cansara de lutar contra mim mesmo. O beijo de Yeol era sedutor demais para ser desperdiçado. E sobre minha concordância expressa, ele apenas riu, atrapalhando nosso contato por alguns instantes antes que eu colasse nossas línguas novamente, colocando-me na ponta dos pés para tanto.

Os braços firmes de minha tentação envolvem minha cintura possessivamente, e os dedos curiosos não perdem tempo ao encontrar a barra de minha camiseta. Ele toca meu abdômen com a palma de sua mão, e não me importo se minha pele estaria exposta à noite fria. Aliás, frio era uma sensação inexistente ali.

E quando ele ameaça se afastar, eu o impeço, selando seus lábios antes que ele me colocasse a poucos centímetros de distância para me encarar, um tanto surpreso.

-Quero mais – a confissão desajeitada me escapa sem qualquer tipo de censura de minha racionalidade. Yeol apenas assente, divertido, as mãos que se mantinham em meu corpo agora se arrastando até os bolsos traseiros de minha calça, onde ele afundou sua palma atrevidamente.

-Em um lugar mais reservado – Yeol me interrompe enquanto eu estava prestes a e aproximar para mais um beijo.

Olho para a praça deserta, tristemente me dando conta de que, apesar de tudo, ainda nos encontrávamos em um local público. Consinto, suspirando em pura decepção quando ele se afasta por completo, fazendo um gesto para que eu o acompanhasse em direção a um carro de cor preta estacionado a duas quadras dali.

-Para onde vamos? – pergunto assim que me coloco no interior do veículo, colocando o cinto de segurança e me perguntando se deveria confiar nas habilidades automobilísticas de Yeol.

-Para um lugar no qual gosto de ir nessas situações.

Nos mantemos calados enquanto Yeol dá partida no carro, dirigindo suavemente pelas ruas desertas. A conversa só surge alguns minutos depois, quando ele começou a questionar mais sobre minha família.

-Tem quantos filhos?

-Acho que não devo dar esse tipo de informação a pessoas como você – digo, tentando quebrar a clara desconfiança das palavras com uma risada leve. De fato, por mais que eu me sentisse completamente atraído por Yeol fisicamente, eu não me sentia à vontade para expor esse tipo de detalhe a ele.

-Então você os ama – ele conclui, parecendo neutro quanto à minha recusa.

-Não é só porque não amo minha esposa que não devo amar meus filhos, certo?

-Você não “deve” nada – Yeol ri sem humor – Estou fazendo uma pergunta, mas você se esquiva em respondê-la!

-Porque é uma pergunta que não sei responder.

Yeol permanece calado, e tento não refletir sobre aquele assunto enquanto seguíamos nosso caminho pelo centro da cidade. Não adiantaria nada agora se eu mantivesse a imagem de meus filhos rondando em minha mente. Eu estava ali para esquecer de meus problemas, e era isso que faria.

Quando enfim Yeol estaciona seu carro à frente de um chalé na beira da estrada, meus pensamentos já não mais estão em minha família. O ruivo vira-se para mim com a expressão calma, analisando meu estado de humor após a breve conversa.

- Que lugar é esse? – pergunto, apreciando o chalé gracioso, apesar de imerso em sombras. Ali, apenas uma lâmpada mantinha-se acesa, próxima à porta de entrada – Sua casa?

-Não exatamente – ele sai do carro, e eu apenas o sigo em direção ao interior do imóvel – É um local em que gosto de vir para relaxar, apenas.

Ele destranca a porta e acende a luz, revelando os cômodos pequenos e aconchegantes do chalé, que parecia perfeito para trazer tranquilidade a quem ali estivesse.

Yeol atira a chave sobre qualquer móvel, mas estou maravilhado demais com os pequenos detalhes do cômodo que mal percebo enquanto ele se aproximava às minhas costas, apenas percebendo sua proximidade quando seus braços envolvem minha cintura por trás, me fazendo fechar os olhos em puro delírio enquanto seus lábios úmidos e macios acariciavam minha nuca, eriçando meus pelos naquela região.

-Vamos falar apenas sobre nós agora, ok? – a voz de Yeol ressoa baixinho, próxima a meu ouvido, e o beijo leve que recebo ali, no lóbulo da minha orelha, faz com que meu corpo reaja em uma súbita onda de calor. As mãos de meu companheiro invadem minha camisa novamente, mas dessa vez ele não hesita ao arranhar meu abdômen, os dedos intrusos encontrando uma folga qualquer à frente de minha calça para que ele alcançasse meu membro.

Assim, respondo Yeol à base dos gemidos. A sensação era nova, por mais que eu já tivesse recebido aquele tipo de carícia vinda de indivíduos do sexo feminino. Mas tentar aquilo com Yeol, sentindo seus dedos longos e finos se apertarem em torno de meu volume, era completamente novo e excitante.

O que comprovava, de uma vez por todas, que eu gostava mesmo era de homens.

Yeol usa a mão livre para retirar minha camisa, e com minha ajuda, eu estava livre daquela peça incômoda, arfando enquanto o sentia apertar minha cintura com força.

Meu corpo pende para frente, e encontro apoio sobre uma das paredes, o aperto em minha calça ficando insuportável enquanto o sinto investir contra meu quadril, simulando uma penetração.

-Yeol! – minha voz sai quase como um grito, e enfim ele decide abrir o zíper de minha calça, retirando minha roupa restante por completo e me aliviando de todo o aperto.

Chuto minhas roupas para qualquer lugar, pouco preocupado se chegaria todo amarrotado em casa enquanto sentia-o masturbar meu membro com mais intensidade, os gemidos me escapando tão frequentes quanto minha respiração acelerada.

-Vamos para a cama – Yeol sugere, suas mãos firmes em minha cintura me guiando até que eu achasse o cômodo correto sem dificuldade. Pouco tenho tempo para admirar a decoração do cômodo, já que Yeol vira-me rapidamente em seus braços, e agora posso apreciar seus olhos profundos e negros enquanto ele me guiava de encontro à cama, colocando-se acima de mim e recebendo a ajuda de minhas mãos trêmulas para retirar suas roupas.

Por baixo de toda a encantadora seda negra, Yeol consegue ser ainda mais sensual. Com suavidade, ele se desfaz de todas suas peças de roupa, e meu rosto se avermelha diante da perspectiva de ter um homem tão sedutor com um olhar predador sobre mim. Minha pele se arrepia por inteiro, e não contenho um tremor de puro prazer enquanto ele se abaixa sobre mim, os lábios encontrando a base de meu pescoço, com certeza marcando-me ali devido à pressão de seus dentes na região.

Meus olhos se reviram por baixo das pálpebras e luto para que minha respiração se mantenha constante enquanto ele desce a carícia de seus lábios para minha clavícula, continuando seu trajeto até meu peito, onde ele se deteve sobre um de meus mamilos, passeando sua língua por ali. Talvez um gemido incontido tenha escapado de mim naquele momento, não me lembro, apenas me lembro de que a sensação era realmente enlouquecedora.

Ele apenas hesitou quando enfim seus lábios tocaram minha virilha. Com outro de seus sorrisos pervertidos, ele me encara, provavelmente se dando conta de como eu deveria parecer quase insano de ansiedade.

-Tem alguém aqui querendo ser chupado – o olhar predador de Yeol atraiu-se para meu membro ereto, e pude jurar que presenciei suas pupilas se dilatando diante da visão. Ele umedece os lábios com a língua enquanto prepara-se. Minha cabeça pende para trás até os lençóis, já que eu permanecia envergonhado demais para presenciar a cena, apenas sendo capaz de sentir quando seus dedos macios correram o comprimento de meu membro, para que logo depois a umidade de seus lábios me envolvesse completamente. Um grito rouco escapou por minha garganta ao senti-lo abrigar meu membro repetidas vezes em um vai-e-vem viciante e irritantemente lento.

Minha cabeça rodava com aquela overdose de sensações tão novas. Meus olhos se reviraram por detrás das pálpebras fechadas, e agora eu não era mais capaz de controlar os gemidos de extremo prazer que me escapavam e pareciam fazer com que Yeol continuasse sua ocupação com ainda mais dedicação. Sua boca abandonou meu membro para que sua língua passeasse sobre minha glande, sua respiração quente entrando em choque com minha pele sensível e úmida com sua saliva. Tremi, sem conter minha vontade de ter sua boca novamente por inteiro em mim.

Yeol, porém, sorri, sentando-se sobre o colchão e chamando-me à sua companhia com um gesto rápido enquanto mordia seus lábios. Sem dar tempo à vergonha se manifestar, aproximo-me, trêmulo e me abaixo sobre ele, envolvendo seu próprio membro entre meus lábios, ouvindo um suspiro abafado por parte de Yeol enquanto eu o torturava ao mover-me por seu membro com exagerada lentidão, vez ou outra me afastando para distribuir selares em sua virilha e sua glande, espantando-me com o sabor extremamente doce de seu pré-gozo ao meu paladar.

Os dedos intrusos de Yeol enlaçaram-se em meu cabelo, forçando-me a acompanhá-lo em um ritmo um tanto mais acelerado. Com a mão livre, Yeol vagava com os dedos por minhas costas até que chegassem às minhas nádegas. Não pude controlar um gemido abafado por seu membro em minha boca quando senti que ele agora rodeava minha entrada com os dedos hesitantes.

Meu corpo involuntariamente se contrai. Yeol apenas pede para que eu relaxe, seus dedos massageando aquele ponto em mim com cuidado até que meus músculos enfim relaxassem, permitindo que ele me violasse com apenas um dedo.

Minha cabeça pendeu para trás, abandonando o membro rígido de Yeol, o incômodo tornando-se quase insignificante se comparado às novas e devastadoras sensações que ele despertava ao me tocar daquela forma, movimentando-se com calma em meu interior.

Com um pouco mais de esforço, outro dígito de Yeol escorrega para dentro de mim, causando-me outro desconforto passageiro. Meu corpo se contrai novamente sob seu toque, enquanto a vergonha e o deleite travavam uma intensa batalha em meu ser. Cubro meus lábios com minhas mãos, contendo alguns gemidos de prazer, mas Yeol usa a mão livre para desimpedir meus lábios.

-Grita o meu nome.

E assim, eu o obedeci. Deixei que nada fosse poupado em minha garganta, nem ao menos contive meu grito de dor quando ele deitou-me de costas sobre a cama, ficando acima de mim para que enfim me penetrasse com seu membro de forma rápida, deixando-me nauseado de dor por alguns instantes.

Mas dor nenhuma poderia ser capaz de tirar o êxtase daquele momento. Meu corpo se acostumou a ele em tão pouco tempo que perguntei-me se aquela deveria mesmo ser a sensação para um homem virgem como eu. Puramente prazeroso.

Nossos corpos deslizavam um sobre o outro, molhados de suor enquanto rolávamos acima da espaçosa cama, em uma guerra constante e um tanto desajeitada por minha parte para escolher quem ficaria acima, o ritmo de nossos corpos se intensificando gradualmente, nossas mãos trêmulas tentando buscar pontos sensíveis um no outro, os lábios não podendo permanecer separados por muito tempo.

-Yeollie... – exausto, deixo que Yeol coloque-se acima de mim definitivamente enquanto eu segurava meus joelhos de encontro a meu abdômen, as investidas de meu parceiro fazendo com que meu corpo por inteiro correspondesse a seus movimentos, implorando pelo ápice que se aproximava.

Meus olhos encontram sua figura, que me parece turva em meio ao prazer. Seus olhos estão semicerrados devido ao esforço, e o cabelo cor de fogo mantém-se deslumbrante mesmo enquanto os pigmentos artificiais escorrem por sua face devido ao acúmulo de suor, marcando suas têmporas de vermelho vivo.

O orgasmo me atingiu subitamente, levando minha consciência ao limite do êxtase, meu líquido sujando o espaço entre nossos corpos enquanto eu gritava seu nome descontroladamente, em meu momento de prazer.

O prazer de Yeol derrama-se em mim poucos instantes depois, meu corpo se arrepiando em uma última reação de prazer diante das investidas finais de Yeol.

Ele se retira de mim com um sorriso cansado, vindo aninhar-se de encontro a meu peito, como se pedisse carinho. Porém, enquanto os efeitos do orgasmo se dissipavam, a racionalidade me atingia juntamente com a sonolência.

-Yeol, preciso voltar – declaro, à beira do desespero ao constatar que já havia passado das seis da manhã, e logo minha esposa estaria acordada sem minha companhia na cama.

-Não precisa, se não quiser – ele sorri, claramente observando minha indecisão enquanto seu corpo se enroscava mais ao meu, pedindo por mais prazer.

-Pode ao menos me dizer seu nome real?

Ele considera o pedido por alguns momentos, e enfim cede, enquanto seu corpo se coloca acima do meu novamente, sendo prontamente correspondido.

-Park ChanYeol. Prazer em conhecê-lo, Do KyungSoo.

-O prazer é todo meu.

E assim, eu fiquei.

 

 

 

 

 

 244

Eu abandonei tudo.

 Eu abandonei minha família por ele.

E agora não mais me importava em fingir ser alguém que nunca fui. A nova forma de sustento da esposa e dos filhos, o que pensariam de mim... Nada importava. De fato, eu não me preocupava se eles me considerariam um ausente ou um sequestrado.

Apenas esperava que não pudessem me encontrar em um dos bairros mais afastados da cidade, vivendo em uma pequena habilitação que funcionava também como um cassino altamente luxuoso no subsolo de um bar, estabelecimento este que era cautelosamente guardado pelo proprietário do boteco, um rapaz muito solícito que insistia em ser chamado como Chen. E era com este simpático rapaz que eu passava boa parte de meus dias, enquanto Yeol estava fora para tratar de negócios pessoais. Encantavam-me suas histórias de vida, e a forma engraçada com que narrava até mesmo os acontecimentos mais tristes que vivera.

Eu nunca saía à rua, e o bar de Chen era o mais próximo que eu me mantinha dos olhos da sociedade. Assim, eu ficava às sombras, observando ao longe o raro movimento da rua enquanto conversava com o alegre proprietário.

Assim, Chen controlava a entrada e a saída de apostadores, funcionando como o olheiro perfeito para nossas atividades. Em troca de seus serviços de fiscalização, este recebia todos os benefícios de proteção de Yeol, além de uma satisfatória recompensa em dinheiro.

E por falar em recursos econômicos, eu aos poucos esvaziava as economias que fizera com a família ao longo dos anos, cautelosamente para não deixar rastros, e oferecendo tais recursos como um investimento para Yeol. Como uma troca, ele me oferecia afeto e proteção, e eu o fornecia o que tinha.

E não deixara de viver minha farsa de casamento e “família feliz” apenas por Yeol e o apego à minha verdadeira identidade sexual. Eu o fazia pelo prazer de participar das apostas, sendo como apostador ou lucrando ainda mais como aquele que dava as cartas.

Os negócios de Yeol não se limitavam apenas a apostas de variados tipos. Ele criara uma extensa rede de contatos criminosos, parecendo beneficiar-se de toda e qualquer atividade ilícita que ocorresse no território sob seus domínios. Nunca quis entrar em detalhes sobre suas atividades menos nobres. Interessava-me a briga de galos e o cassino ilegal sob o subsolo em que habitávamos. E assim, eu assumi seus negócios no que dizia respeito às apostas, o que parecia agradar meu companheiro por conta de algo que alguns podem chamar de sorte, mas que eu prefiro chamar de previsibilidade dos jogos.

Não me importava também com as profundas feridas em minha pele que a briga de galos por vezes me causava. Era o tipo de aposta que mais me excitava, e eu não deixaria de praticá-la por conta de algumas cicatrizes, causadas pelos animais mais ferozes.

Eu também adquiri uma nova identidade. Chamavam-me de D.O, e assim é como eu passara a ser conhecido no cassino, como um grande administrador e também apostador. Apenas os mais íntimos conheciam meu primeiro nome, ou parte dele, e somente Yeol conhecia todos os aspectos de minha personalidade, bem como minha história.

Assim, adquirindo status no mundo criminoso, um romance um tanto estável com Yeol e o dinheiro fácil que o ilícito me trazia, eu não precisava me preocupar com mais nada, certo?

Engana-se.

Meu problema tem nome, sobrenome e olhos brilhantes de luxúria: Byun BaekHyun, o que descobri ser o real nome de Byun, o baixinho com exponencial poder de sedução.

Logo descobri que Byun e Kai eram bons frequentadores dos domínios de Yeol, e que estes eram um dos principais contatos de meu namorado. Se é que é devido descrevê-los desta forma, os dois formavam a chefia do território vizinho, e mantinham um pacto de respeito e cooperação com Yeol.

Porém, tal respeito não parecia se estender em relação a mim. Kai, de fato, sempre mantinha-se neutro em minha companhia, sendo por vezes até simpático, mas Byun não era capaz de conter seus instintos de competição evidentes em relação a Yeol, e isto presumo pelo fato de que meu companheiro parecia ser o único a não cair pelos encantos do prostituto.

Mas o aparente desinteresse de Yeol não era o suficiente para manter a despreocupação longe de meus pensamentos. E o ciúme quase irracional fora causa de várias discussões com meu parceiro. Quando enfim ficávamos sozinhos após as noites movimentadas do cassino, eu o abordava aos gritos, exigindo que proibisse a entrada de Byun em seu domínio. Com calma, ele apenas me explicava a impossibilidade de meu pedido, e estressava-se com minhas acusações de traição.

As discussões geralmente acabavam em noites de amor, e talvez eu as visse como uma forma de conquistar atenção em momentos de carência, admito.

Yeol sempre cedia, e eu já me habituara à sua forma de pensar: primeiramente, os negócios. Logo após, eu. E isto não me incomodava em nada, aliás, me era um elogio.

Mas, em uma noite em especial, a provocação foi além dos limites de meu ciúme, e desencadeou em mim a mais incontrolável sede de vingança.

 

 

 

147

Era um fim de noite – leia-se: o sol despontava ao horizonte – quando restavam no cassino apenas ChanYeol e Kai, em sua última rodada de pôquer do dia, valores cada vez mais altos sendo postos em mesa à título de aposta.

E é claro que o Byun acompanhara Kai, e eu apenas observava-o ao outro extremo da mesa quadrada, enquanto ele levantava-se da cadeira, ameaçando observar as cartas de Yeol, causando a ira do mesmo.

-Docinho, eu não preciso do seu jogo sujo pra vencer – Kai ri diante da evidente malícia de Byun, mas o mesmo não parece convencido pelos pedidos do amante e nem mesmo pela fúria de Yeol. De fato, aquele comportamento poderia ser até mesmo engraçado, se não estivesse levando em conta todos os milhares de dólares sendo colocados em jogo.

E mesmo que os garotos agissem de forma tranquila, eu sabia que aquiles valores eram "um pouco demais" até mesmo para eles.

-Byun, eu juro que te coloco pra fora a tapas se não se sentar corretamente – não me contenho, e pela primeira vez acabo por ameaçar o baixinho que tanto causava meu tormento.

Byun interrompe-se imediatamente, assustado por conta de minha explosão súbita. Era um tanto óbvio que eu não o apreciava nem um pouco, mas creio que ele não esperava por uma afronta direta. Até mesmo Kai retira os olhos das cartas, parecendo mais curioso do que preocupado com Byun.

-D.O, já falamos sobre isso - Yeol não desvia sua atenção do jogo, desprendendo mais uma carta à mesa - Deve tratar Byun com respeito.

-Um tanto difícil tratá-lo respeitosamente quando ele age como uma cadela no cio por cima de você.

Yeol deixa suas cartas escondidas de encontro à mesa, e observo Kai fazer o mesmo, os dois obviamente censurando minha atitude. Mas pouco posso notá-los, já que minha atenção está toda sobre Byun. Após alguns momentos paralisado, ele solta uma extensa gargalhada, que ecoa por todo o grande salão vazio.

-Soo – ele quase geme meu nome, o corpo esguio se esticando por toda a curta mesa, até que ele tocasse meu ombro – Não sabia que tinha ciúmes. Você pode me ter também – a última frase é dita em um sussurro, e é a causa de um súbito frio em meu estômago. De aversão ou expectativa, no momento pouco me importa.

-Você é deplorável – atiro-lhe as palavras, afastando de mim suas mãos frias, que se arrastavam por meus ombros.

-Basta – Yeol parece extremamente irritado agora, em sua advertência final.

 -Parece que mais alguém está desconfortável – Byun sorri diante de Yeol, e parece pouco se importar com a discussão anterior comigo enquanto passava uma de suas pernas sobre as coxas de meu namorado, sentando-se em seu colo. Extremamente insinuante, percebi, enquanto Byun rebolava de forma pouco contida.

Examinei a situação, percebendo que Kai continuava com o olhar neutro sobre suas cartas e Yeol mantinha os olhos fechados, as mãos cerradas em punho ao lado do corpo. Aquilo havia passado dos limites. Não era uma simples brincadeira, era realmente um teste para ver até onde eu aguentaria sem explodir. E o momento havia chegado.

 Minha cadeira cai para trás com um estrondo quando me coloco em pé abruptamente, a mesa estremecendo enquanto esbarro no móvel para alcançar o colarinho de veludo do infeliz, puxando-o de tal forma que o obrigasse a sair do colo de Yeol, caindo de bunda no chão e à minha frente.

-Filho da puta – eu quase grito ao perceber que ele continuava sorrindo mesmo diante de violência – Vamos ver se mantém o humor quando eu fatiar esse seu rosto aos pedaços!

-Muito bem, o jogo acabou – Yeol enfim se pronuncia, levantando-se com ares de assunto encerrado.

Kai deixa suas cartas sobre a mesa e recolhe o dinheiro apostado. Despede-se de Yeol com um breve aceno de cabeça e não demora mais que um minuto para que ele e seu companheiro vadio estejam para fora do cassino.

Observo Yeol dar a volta na mesa, os olhos fixos sobre o tampo, e a onda de ira em mim apenas se renova ao perceber seu estado despreocupado.

-Vai ficar quieto como se nada tivesse acontecido? Queria que eu visse você ficar duro com aquela cadela em cima de você? – Yeol apenas levanta a palma da mão em sinal de calma e checa as cartas que pertenciam a Kai.

-Filho da puta – agora é a vez de Yeol xingar em tom levemente alterado. Ele exibe as cartas a mim, mas pouco posso declarar mediante minha falta de conhecimento no pôquer – Ele estava perdendo. Foi um truque. Byun colocou fim ao jogo te usando como isca.

Não havia o que declarar acerca de meus sentimentos. Não havia vingança ao nível que equilibraria minha ira, mas creio que eu causara certo impacto psicológico ao mandar-lhe uma cabeça de galo decepada via correio, com os pequenos dizeres em um papel ensanguentado:

"Afaste-se dele".

Eu não tinha como saber se atingira o alvo esperado, certo? Correto.

De fato, só confirmei o recebimento da ameaça dias depois de tê-la enviado. E ele esperara o momento mais oportuno para tanto. Quando eu me encontrava sozinho no cassino, em uma tarde em que Yeol saíra para resolver assuntos profissionais.

Fora uma surpresa receber visitas àquela hora, e de fato me surpreendi quando um atordoado Chen aparecera à porta, dizendo que havia um garoto um tanto peculiar desejando conversar comigo. E pela forma com que ele mantinha-se sem ar, eu já sabia de quem se tratava, tanto que não foi surpresa alguma ver o conhecido garotinho espiar pelo cassino deserto, sorrindo maliciosamente, como de costume, ao encontrar-me sozinho ali.

-É cedo demais para apostas – declaro, porém sabendo que ele não viera ali para apostar.

-Meus propósitos são outros – ele aproxima-se, observando o sofá de um lugar em que eu me mantinha sentado e fazendo um bico descontente – Estou aqui porque você me magoou profundamente, sendo que sou o único aqui que está tentando te ajudar.

-Poupe-me – digo simplesmente, pressionando os dedos contra as têmporas devido à dor de cabeça que me causava o perfume doce de Byun que parecia empestear todo o ambiente. Ele cheirava a chocolate meio amargo, e isso não é um exagero de minha parte – Diga logo o que precisa e caia fora.

Byun permanece em silêncio, e pela primeira vez o vejo retrair-se, hesitando. Aquela era uma atitude muito incomum, obviamente, o que me fez ficar desconfiado de que ele tinha algo realmente importante a tratar comigo a ponto de esperar o momento perfeito para que eu estivesse sozinho.

-Não se deixe levar pelas aparências, Soo – ele coloca-se e sua postura superior novamente, aproximando-se de mim e, de forma previsível, aninhando-se sobre meu colo, como fizera com Yeol há dias atrás – Quem você mais odeia pode ser seu único amigo.

-Yeol é o único em quem posso confiar – tento afastá-lo, mas Byun parece determinado a manter aquela distância. E realmente, eu estava muito confortável daquele jeito. O peso de Byun parecia insignificante sobre minhas coxas, e era agradável a forma com que sua pele macia se encostava à minha.

-Esse cara te conquistou com promessas e sexo – Byun ri, como se estivesse desacreditado – Não te culparei, Yeol é ótimo na cama.

Se antes eu me sentia confortável, agora meu corpo todo se contrai, tentando repelir as palavras de Byun enquanto este apenas ria, mas agora sem o mesmo entusiasmo de sempre.

-Não estou falando de um passado distante – Byun deu de ombros, agora parecendo mais sério – Aconteceu ontem, para ser mais exato.

Examino com cuidado seus olhos profundos, mas não vejo ali indício de mentiras. Mesmo assim, a situação me parece tão absurda que não me ocorre a veracidade do que ele dizia.

-Você é louco, Byun, por que acreditaria em você?

O garoto suspira, parecendo derrotado, e busca no bolso traseiro da calça o aparelho celular, ali digita o código necessário para desbloquear sua tela e busca seus arquivos de áudio.

 

“Você acha que KyungSoo será um problema?” risos, e a voz me é dolorosamente familiar “Ele é meu prisioneiro, meu querido, e apenas isso. Deixe-me apenas extorqui-lo como posso, e logo será fácil apagá-lo”.

 

Meus olhos permanecem fixos sobre o aparelho de Byun. Percebo que as mãos do garoto tremem. Mas isso se devia apenas ao fato de que eu próprio estava descontrolado em tremores, fazendo com que o garoto acima de mim tremesse igualmente.

Yeol queria me matar.

Queria que eu fosse útil a ele, e quando não o fosse mais, ele se livraria de mim.

-Nunca duvide de um amigo, Do KyungSoo – Byun ri baixinho, alheio a meu estado caótico. E acho que se aproveitou de minha plena incapacidade para depositar um beijo morno sobre meus lábios. Não reajo, afinal, nada mais parece fazer sentido à minha volta – Acho que já está na hora de eu ir embora. Kai está me esperando, creio.

E se levanta com naturalidade, caminhando sensualmente como usual até a porta, detendo-se apenas enquanto estava prestes a deixar o cômodo definitivamente.

-Eu realmente gosto de você, Dyo – ele deposita um demorado olhar sobre mim – Por isso é que estou aqui, te avisando. Fuja enquanto há tempo. Você merece mais do que isso.

Byun deixou o cassino, batendo a porta com suavidade atrás de si.

Um segundo em silêncio. Minha mente parece um caos desordenado, a tormenta de sensações pesava sobre meus ombros, e naquele momento eu não sabia se o que tomava conta de mim era a raiva, a mágoa, o desespero ou o choque.

Outro segundo em silêncio. Minha visão se embaça diante das lágrimas e um soluço escapa por entre minha garganta como um grito sufocado. Meu corpo todo treme, e minha mente parecia estranhamente livre de pensamentos. Eu agia por impulso.

Outro segundo apenas sob o som de meu choro baixo. E é então que uma explosão em meu subconsciente dá origem a um verdadeiro caos incontido. Levanto-me e pouco assimilo o que estou atirando de encontro às paredes. Cadeiras, vasos ornamentais, baralhos de cartas, gaiolas vazias... Apenas parecia descarregar minha raiva enquanto o barulho dos objetos se espatifando contra os tijolos atingia meus ouvidos de forma agressiva.

E quando meus músculos falharam, caio de joelhos sobre o piso, a visão turva constatando que eu colocara o cassino de cabeça para baixo. Sorrio diante de minha pequena obra de arte, mas fico chateado por um daqueles objetos agora inúteis não fossem um Yeol desfalecido em minhas mãos.

Ah, eu poderia matá-lo. Literalmente matá-lo com minhas próprias mãos.

Mas não seria o suficiente, certo? A pena de morte pode ser um tanto injusta, já que não podemos saber se o que espera o delinquente no além não se trata de um prêmio ao invés de uma punição.

Eu precisava de mais do que isso. E Yeol mexera com o profissional errado.

Um sorriso surge em meus lábios, e contenho uma gargalhada diante do que pensara.

Apenas interrompo a onda de êxtase que tal planejamento me causara quando ouço a porta se abrir atrás de mim. Assustado com a possibilidade de Yeol ter chego mais cedo do que o usual, coloco-me em pé em um salto.

E dou de cara com um Chen muito assustado.

-Eu entendo, o baixinho é osso duro de roer – ele ri, agora divertido ao perceber que eu não mais oferecia risco à sua integridade física – Precisa de ajuda para arrumar isso?

 

 

148

Cinco horas e meia da madrugada. Os últimos clientes deixavam o salão completamente embriagados, falidos ou premiados, parecia pouco importá-los no momento. Eles apenas se despediam de Yeol amigavelmente e deixavam seus domínios com promessas de que voltariam em breve para uma revanche.

Tudo corria como eu havia planejado. Restavam ali apenas os clientes de sempre: Kai e Byun, prontos para a costumeira aposta do final de expediente, na qual os maiores valores eram colocados em mesa.

-Nini – Byun passa o braço sobre os ombros do companheiro, bocejando audivelmente – Não se alongue, por favor, estou tão cansado!

Ele apoia-se sobre os ombros de Kai, e seus olhos vagam até mim, parecendo tristonhos. Desde nosso breve encontro a sós, ele estivera muito mais contido com relação a mim. Eu sabia que Byun havia sido sincero quanto à sua consideração para comigo, e também desejava que ele fosse poupado do que eu planejara para a seguir. Então, fiz uma última tentativa.

-Por que não vai dar uma volta lá fora? O ar frio é ótimo para se manter acordado – sugiro, cortês, tentando conter a clara advertência a Byun.

-Não, obrigada. Eu gosto de embaralhar as cartas – ele sorri, agora estendendo os dedos ansiosos sobre o baralho – Sempre trago sorte.

Engulo em seco em meio a meu nervosismo. Yeol e Kai parecem alheios à conversa, apenas concentrados nos movimentos que as cartas descreviam nas mãos de Byun. Suspiro, tentando conter meus tremores de ansiedade e repasso mentalmente o que planejara durante uma semana inteira.

Estava na hora.

-Com licença, senhores, preciso ir ao toalete.

Ouço murmúrios em concordância e deixo a mesa da forma mais contida possível. Assim que deixo o salão do cassino, não deixo de conter minha atitude hesitante. Não posso pensar no que estou prestes a fazer, afinal.

Busco o celular de Yeol no meio do caos dos pertences de nosso quarto, e o próximo passo é trancar-me no banheiro. O faço, trancando a porta pelo lado de dentro e atirando a chave descarga abaixo pelo vaso sanitário.

As gavetas do cômodo guardavam o elemento final que me ajudaria em uma melhor atuação. Busco ali algumas pílulas para tratar resfriados e engulo três delas sem dificuldade, esperando parecer letárgico em poucos minutos.

 Observo minha imagem refletida no espelho acima da pia. Retiro a maquiagem de forma apressada e já disco o famoso número de emergência no celular de Yeol enquanto despenteio meus cabelos.  

-911, qual sua emergência?

-Estou com problemas – sussurro, feliz por minha voz parecer falhada - Meu nome é Do KyungSoo e estou sendo mantido em cárcere privado.

Assim, passo mais alguns segundos ao telefone descrevendo uma história de maus tratos à atendente. Passo-a o endereço e desligo a ligação, sentando-me sobre o piso gelado e encolhendo-me ali, sentindo-me ficar cada vez mais letárgico em razão dos medicamentos.

Um minuto, dois minutos. Tempo em que permaneci com o celular de Yeol, certificando-me de que excluíra qualquer evidência de minha participação em seus negócios. Sorri, mesmo diante de tantas incertezas. Se eu caísse, arrastaria Yeol comigo, e isso seria o suficiente.

Instantes depois e a gritaria começa. Um tiro é disparado, e rezo para que não os tenha atingido. Como eu dissera, a morte seria uma punição branda demais, e não me satisfaria.

No meio do caos, ouço passos se aproximando. Minha consciência já está falha, mas sou capaz de presenciar o momento em que a porta do banheiro é brutalmente arrombada pelos agentes militares.

-Do KyungSoo, acalme-se, agora está a salvo.

Sou pego nos braços de um dos agentes e agradeço-o mentalmente, estando enfraquecido demais até mesmo para caminhar para fora dali sozinho.

E enquanto sou carregado para fora do cassino, minha visão falha ainda é capaz de observar a cena que se desenrolava no salão principal.

O trio de rapazes permanecia de joelhos, totalmente rendidos pelo uso de algemas, enquanto mais de uma dúzia de agentes mantinham armas apontadas para suas cabeças.

Kai encarava o chão, o cabelo negro caindo por sua face me impedindo de decifrar seus sentimentos, mas presumi que se mantivesse calmo, a julgar pelos músculos relaxados de seu corpo.

A seu lado, Yeol mantinha os olhos fixos sobre mim, completamente boquiaberto. A ele, direcionei um breve sorriso, evidenciando o plano perfeito em que havia se tornado minha vingança.

Mas quem realmente chamou minha atenção foi o último deles. Byun tremia descontroladamente, o corpo pendendo à frente enquanto era ainda mais ameaçado pelos agentes para que não se movesse. E de seus lábios trêmulos, ouço um grito descontrolado tomar forma.

-TRAIDOR!

O garoto lança-se para a frente como pode diante da prisão das algemas, conseguindo colocar-se em pé, furiosamente buscando vingança contra mim. Eu não o culpava, afinal. Ele era o único que me quisera bem ao ponto de me alertar sobre o perigo de manter uma relação com Yeol. Eu o dera a chance de ser poupado, e realmente lamentava o que aconteceria a seguir.

O disparo não o pegou de surpresa, e ele não se deteve nem ao menos quando o grosso projétil o acertou em cheio nas costas. Ele me tocou, segurou minhas mãos, sujou-me com seu sangue e fitou meus olhos enquanto eu observava seus próprios orbes tornarem-se foscos e sem vida.

Byun BaekHyun, meu sincero amigo, merecia o que o destino o impunha. Como eu dissera, a morte, assim como a vida, é uma roleta-russa. E pelo bem de Byun, eu sinceramente o desejava o melhor em sua jornada seguinte. Pelo menos, algo melhor do que aguardava os dois outros garotos atrás das grades.

Meu coração se aperta enquanto observo que Chen também fora rendido, estando de joelhos sobre o cimento da calçada. Dezenas de viaturas estacionam-se ali, tingindo o fim de noite com as cores azuis e vermelhas, colorindo os rostos agora desfocados que apareciam em minha visão.

Dentre eles, reconheço o de minha esposa. E apesar de tudo, eu ainda me sinto confortável quando suas mãos encontram meu rosto, acariciando-me enquanto sou colocado às pressas em algo que julguei ser uma ambulância.

Está tudo bem agora. Respiro aliviado, deixando a inconsciência me atingir reconfortantemente.

Reconfortante. Assim como voltar para o tedioso, mas reconfortante lar.

Pelo menos, levo comigo o doce gosto da vingança.


Notas Finais


A quem chegou até aqui, espero que tenham gostado do desfecho. Que fique claro que Baek é meu personagem favorito nessa fanfic hahah.
Como sempre, agradecerei críticas/sugestões/comentários em geral :3

IMPORTANTE!

Notaram a divisão numerada dos trechos, aparentemente desconexa do enredo? Pois bem, aqui os deixarei um desafio!
Enviarei um pôster fanmade do EXO para o leitor que primeiro acertar o significado destes números (enviarei para todo o Brasil, sem custo algum para o ganhador). Então, reflitam sobre as características do personagem principal, talvez nem seja tão difícil quanto pensam :3 caso tenha a resposta, deixe-me uma mensagem privada ou um comentário aqui embaixo <3 Boa sorte~

Beijinhos da Ana, e até mais~~ *3*


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