Daqui há alguns anos existirá uma garota. Ela se sente perdida, sozinha e extremamente faminta. No entanto, sua fome não é por comida,ou por sucesso; Elza anseia por algum propósito, algo em que possa se agarrar para se sentir completa.
Elza tem 19 anos, está na faculdade e não tem muitos amigos. Na verdade, ela não sente tanta falta deles, afinal, os poucos amigos que tem são bem distantes. Desde os 10 anos de idade as pessoas tendem a manter uma certa distância dela. Isso mexe muito com a cabeça de uma garota, principalmente quando se é uma criança e a única coisa que deseja é ter alguém com quem dividir qualquer coisa.
O dia está começando, exceto para Elza que passou a noite em claro concluindo um trabalho que deveria ser feito em grupo. Ela mora sozinha desde os 15 anos, nunca conheceu o pai e a mãe trabalha em outro país há quase 4 anos. Enquanto prepara o café, pensa em um milhão de coisas desordenadas, um furacão de ideias a distrai e volta apenas quando a fumaça do café atravessa a sua visão, que fixava determinadamente o nada pela janela da cozinha.
Hora de ir pra aula. Seu look do cotidiano é uma calça jeans surrada, all star preto e camisetas com estampas diversas. Hoje a estampa é sobre um seriado britânico mais antigo que seus pais.
"Droga, já tô atrasada."
Fechando a porta, descendo as escadas, passa pelo porteiro do prédio, deseja bom dia, não obtém resposta e enfim chega na rua. O sol de agosto não é muito diferente dos outros meses, afinal, continua quente e claro como sempre. A luz, em contato com a pele alva de Elza a torna perceptível a distância e mesmo assim, parece que ninguém nota a presença da garota. Pelo menos ninguém esbarra com ela quando está correndo desesperadamente para alcançar um ônibus. Parece que o motorista não a notou também.
"Acho que vou andando, não é tão longe"
Elza resolve fazer a caminhada, por um caminho totalmente novo, pensando em um milhão de coisas desordenadamente. Aos 10 anos a garota percebeu que era ambidestra, ou seja, que era capaz de executar funções eficientes com as duas mãos.Tinha muitos amigos, a mãe ainda morava com ela, era uma fase boa e cheia de pessoas a sua volta. Tudo mudou após essa descoberta. Todos se afastaram, sempre pareciam muito ocupados ou apenas a esqueciam. A garota habituou-se a passar os dias sozinha, viver por si mesma e procurar um propósito para tudo isso. Mas a sensação de abandono era algo que ainda doía e, embora parecesse forte por fora, estava aos cacos por dentro.
Passos largos, cabeça funcionando a mil, distraída da realidade, atrasada para a aula. Os devaneios faziam com que o mundo que tanto a ignorava fosse ignorado e apenas focasse em si mesma, nada poderia tirá-la do seu momento. Nem mesmo os pássaros, ou as árvores, ou os carros buzinando, ou a garota que não saia do seu caminho conforme caminhava.
- Ai! - exclamou Elza enquanto caia de bunda após colidir com a garota - M-me desculpa!
- Tudo bem! - sorriu a garota que também caiu de bunda no chão com o impacto - Eu estava mesmo distraída. Deveria ter prestado mais atenção.
Elza a encarou surpresa por instantes. Primeiramente, ela nunca tinha esbarrado com ninguém. Além disso, ninguém costumava responder suas falas, muito menos com tamanha naturalidade. E a garota diante dela parecia ter o sorriso mais lindo do mundo. Elza corou a bochecha e desviou o olhar para as pernas, que ainda estavam cruzadas.
"O que eu faço agora? Ela já tá me olhando estranho, mas não posso perder essa oportunidade. Preciso falar algo."
A outra garota se levantou, sacudiu a poeira da roupa, caminhou em direção à Elza e estendeu a mão para ajudá-la a se levantar.
- Prazer, me chamo Gláucia. Qual o seu nome?
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