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História Contra todas as probabilidades - Quem ama, liberta


Escrita por: Mallagueta

Capítulo 32 - Quem ama, liberta


– Eu sei que não é comum a garota tomar iniciativa mas... eu queria dar essa chance para nós dois! O que diz, Do Contra?

– Eu digo que não!

Ela ficou em choque por alguns segundos e voltou a falar, meio confusa.

– Hã... espera... mas... isso é um “não” que quer dizer “sim” ou...

– Eu sou o Do Contra, Mônica. E gosto de tudo ao meu modo. Como posso topar você chegando assim, decidindo tudo? Até o momento de começar o namoro?

Seu rosto ficou zangado, mostrando indignação com aquela mudança súbita.

– Espera! Espera! Você fez de tudo para afastar minha atenção do Cebola! E teve o passeio no shopping! E aquele clima romântico aqui na sua casa! E agora...

– ...E agora eu não quero mais. Quer dizer, hoje não. Quem sabe outro dia?

Ela não quis falar mais nada e saiu dali furiosa, soltando fogo pelas ventas.

– VOCÊS MOLEQUES, SÃO TODOS LOOOOOCOS!!!!

Depois que ela saiu, algumas lagrimas brotaram em seus olhos.

– Os sacrifícios que fazemos em nome de nossas filosofias de vida...


Depois daquilo, Mônica tinha se fechado totalmente para ele. Todas as vezes que ele iniciava uma aproximação, ela o cortava educadamente. Eles continuavam amigos, ela o tratava como amigo e não permitia que ele fosse além da boa amizade. Ela mesma havia dito que ele não ia ter outra chance, embora ele não tivesse levado a sério naquela época.

Sentado no banco da praça, DC ia pensando em tudo aquilo. Ao relembrar do dia em que ela propôs namoro, pela primeira vez ele começou a sentir uma ponta de arrependimento por ter dito não. Mas que coisa, ele tinha sua filosofia de vida e precisava ser fiel a ela! Não era justo abrir mão dos seus princípios por causa de ninguém, nem mesmo pela Mônica!

Ao pensar naquilo, a conversa com Toni voltou a sua mente, lhe fazendo ficar irritado e aborrecido.

“Deixar de fazer algo só porque todos fazem é a mesma coisa que fazer só porque todos fazem. De qualquer forma, você está indo pelo que os outros fazem e não pelo que você quer realmente.”

E ele queria mesmo ter dito sim... mas e seus princípios? Pela primeira vez, ele ficou confuso consigo mesmo. Por causa da sua forma de ser e pensar, ele abriu mão de todas as chances de ficar com a Mônica. Seus princípios continuaram intatos, mas seu coração...

Do Contra jamais iria admitir aquilo para ninguém, mas no fim das contas ele acabou percebendo que era realmente igual ao Cebola. Ambos tinham neuras e complicações, ambos colocavam obstáculos para ficar com a Mônica, não se aproximavam dela e nem deixavam que ela seguisse em frente. Felipe não. Ele queria ficar com ela e ficou. E desde que eles ficaram mais próximos, Mônica mudou, passou a fazer coisas diferentes e inusitadas, repensou seu relacionamento com o Cebola e se abriu para novas possibilidades.

“E ele fez com que ela esquecesse o Cebola...” aquilo também o incomodava. Havia outro motivo também para ele não ter aceitado o namoro com a Mônica: sua fixação pelo Cebola. Era preciso que primeiro ela se entendesse com ele, depois DC faria sua aproximação. Como Felipe foi capaz de fazê-la esquecer de algo que vinha se arrastando por anos, desde a infância? E por que diabos ele não pensou nisso? Talvez porque ele fosse Do Contra, que sempre rejeitava o senso comum. Mas de uma coisa DC sabia: ele era complicado demais para namorar com alguém. Da mesma forma que não era justo deixar a Mônica sozinha por causa das neuras e inseguranças do Cebola, também não era justo deixá-la sozinha por causa das suas próprias complicações. Ela não tinha nada a ver com os problemas psicológicos de ninguém.

“Droga, eu devia ter ficado quieto! Por que eu fui mandar aquela porcaria de e-mail pro Cebola?” embora não se considerasse culpado por tudo, DC sabia que tinha contribuído muito para os fatos. Cebola só teve tempo para planejar algo porque tinha sido avisado com antecedência. “Agora não adianta chorar o leite derramado, mas acho que posso ajudar a consertar as coisas.” Ele sentia que devia aquilo a Mônica.

Ele até podia ser igual ao Cebola em muitos aspectos, mas havia uma diferença importante entre eles. E era por essa diferença que ele ia ajudá-la, mesmo que isso significasse vê-la com outro. Ao contrário de Cebola, ele estava disposto a libertá-la para que ela pudesse seguir sua vida com quem quisesse.

“Acho que eu tenho que conversar com algumas pessoas hoje...”

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“Droga, ela não atende!” ele pensou frustrado após ligar para ela pela quinta ou sexta vez. “Será que ela não quer falar comigo? Também, quem mandou eu ser vacilão?” Felipe colocou o celular no bolso e continuou andando. Luísa tinha lhe falado para dar um tempo a Mônica e apesar de ter passado apenas dois dias, ele não queria esperar mais. Esperar para quê? Para que ela o esquecesse e acabasse ficando com outro garoto? Nem pensar! Ele sabia muito bem que Cebola, Toni e DC estavam de marcação cerrada, só esperando uma chance para atacar. Ele não queria dar essa chance.

Ele ligou para a casa dela, vencendo toda vergonha e medo de ser maltratado. Não, ela não estava lá. No parque ela também não estava, então sobrava o shopping. No meio do caminho ele encontrou DC, que vinha em sua direção, e ficou em guarda. Por acaso aquele sujeito estava ali para puxar briga?

– Tchau, cara. Segura a onda aí que eu vim em paz.

– O que você quer? Eu tô ocupado agora!

– Você está indo procurar a Mônica?

– Não é da sua conta.

– É sim. Ela é minha amiga.

– Amiga? Fala sério, você em um jeito meio estranho de mostrar amizade!

– Pode ser, só que dessa vez eu quero mesmo ajudá-la.

Felipe parou para prestar atenção ao rapaz, que estava muito sério.

– Eu não vou fazer muitas perguntas, só o necessário. O que eu quero saber é: você por acaso terminou com a Mônica por causa de algo que o Cebola te falou ou mostrou?

– Olha, eu não...

– Não precisa dizer o que ele fez, responda apenas sim ou não.

– Tá bom. Sim, foi por causa de algo que ele me mostrou.

– Foi o que eu pensei.

– Você sabe algo sobre isso?

DC foi para a calçada e encostou-se a um muro, sendo imitado por Felipe.

– Tudo o que sei é que diferente de você eu conheço o Cebola há anos, desde crianças. E desde que eu o conheço, ele sempre tem armado diversos tipos de planos contra a Mônica. Os mais absurdos que você pode imaginar.

– O cara sempre foi sem noção mesmo?

– Sempre. E se tem uma coisa que eu aprendi observando todos esses planos malucos foi que em se tratando do Cebola, nem tudo é o que parece ser.

Felipe virou o rosto e ficou olhando para a cara dele demonstrando não ter entendido.

– O Cebola usava disfarces, inventava histórias, criava personagens e situações. Quando interessava, ele mentia e manipulava para conseguir o que queria. No caso da Mônica, nunca colou e no fim ele sempre apanhava. Só que no seu caso, parece ter funcionado.

– Você não sabe o que aconteceu, como pode dizer que foi só armação? – ele perguntou imaginando que era pouco provável que aquela foto fosse alguma montagem.

– Vindo do Cebola, as chances de ser uma mentira são grandes. A Mônica gosta de você, te escolheu e ficou contra toda a nossa turma para te namorar. Acha mesmo que ela ia jogar tudo isso fora assim sem mais nem menos?

– Talvez em troca de ter os amigos de volta...

DC olhou para ele com cara de quem não gostou nem um pouco de ouvir aquilo.

– Eu estou fazendo porque a Mônica gosta de você, mas você está mostrando que não a merece.

O rapaz se indignou.

– Como você fala isso se nem me conhece?

– O primeiro passo para merecer a Mônica é confiar nela, coisa que você não fez. O segundo passo é conhecê-la o suficiente para saber que ela jamais se prestaria a esse tipo de coisa.

– ... – ele abaixou a cabeça, envergonhado.

– A Mônica sempre foi uma pessoa com personalidade forte. Quando quer algo, raramente, muito raramente, desiste. Ela é a pessoa mais persistente, para não dizer teimosa, que eu conheço. Ela jamais teria jogado o namoro de vocês fora só para voltar para a turma.

– Então... você tá dizendo que existe uma chance de tudo ser uma armação do Cebola?

– Sim e eu acho que você vacilou demais ao confiar mais nele do nela. Olha, se for para ser assim, então acho melhor você não procurar a Mônica nunca mais. Ela merece coisa muito melhor.

– Eu posso ser melhor!

– Então prove aprendendo a confiar.

Ele apertou os lábios com força, sentindo raiva de si mesmo. DC estava certo, seu maior erro foi não ter confiado nela e tentado resolver aquilo com uma conversa séria e civilizada.

– Eu só não entendo uma coisa. Você gosta da Mônica, não gosta?

– Muito. Se não gostasse, não estaria aqui.

– Então por que tá me ajudando?

– Eu não estou te ajudando, estou ajudando a Mônica. E ela gosta de você, por isso achei que talvez você merecesse uma chance de reconquistá-la. Enquanto Cebola e eu estávamos preocupados com nossas neuras e deixando a Mônica sozinha, você teve coragem de se arriscar e aproximar dela. Isso deve querer dizer alguma coisa.

– Quer dizer que eu gosto dela pra caramba!

– Eu também gosto, mas...

DC abaixou a cabeça, dando um triste suspiro.

– Mas esse seu lance de ser sempre do contra atrapalha tudo, não é?

– É a minha filosofia de vida e não quero abrir mão dela. Isso complica as coisas e agora vejo que não é justo deixar a Mônica sozinha por causa dessas minhas complicações. Acho que eu preciso resolver minha vida primeiro.

– Por que não deixa essa mania de lado? Cara, isso só tá te ferrando!

– Para você pode ser só uma mania, mas para mim é uma forma de viver. Não é algo que se joga fora como um trapo velho. E eu gosto de viver assim e por enquanto, não estou preparado para abrir mão disso.

– Se você gosta, beleza. Fala a verdade, foi mesmo por causa disso que você deu o fora na Mônica?

– Sim, foi. Seguir minha filosofia exige alguns sacrifícios.

– E você acha que valeu a pena? Essa escolha te deixou feliz e satisfeito?

Aquela pergunta fez com que DC mordesse os lábios sem saber o que responder. Não, ele não tinha ficado feliz quando viu Mônica saindo da sua casa, furiosa e talvez magoada pela sua rejeição. E naquele momento, ele também não se sentia feliz ao imaginar que talvez nunca mais pudesse ter outra chance com ela.

– Eu fico pensando se vai ser sempre assim na sua vida, sempre rejeitando coisas boas só pra ser do contra.

– Se for preciso...

– Beleza. Eu prefiro ser livre.

– Eu sou livre!

– Não é não! Você vive só em função dessa sua “filosofia” e não para pra pensar se isso te faz bem. Quer dizer, se um navio estiver afundando e todo mundo for pros botes salva-vidas, você vai ficar de fora só pra ser do contra?

– Eu... eu... – novamente sua cabeça ficou confusa.

– Pra mim, você é escravo dessa sua neura, rapaz. Vive só em função disso e não para pra pensar se suas decisões vão ou não te fazer bem! Você fala que é feliz, mas uma pessoa feliz de verdade não se deixa aprisionar por essas neuras. Ela vive de acordo com o que faz bem.

– Como você pode ver, eu tenho muitas complicações que preciso resolver antes de querer namorar a Mônica ou qualquer outra garota. Enquanto isso, não é justo exigir que ela fique sozinha só esperando que eu me resolva primeiro. É por isso que estou aqui.

– Legal da sua parte, cara...

– Então lute por ela, faça por merecer e cuide bem dela. Não a deixe escapar.

– Não vou deixar mesmo, valeu! – Felipe foi tomado por uma energia nova e saiu dali correndo, pois precisava tirar algumas coisas a limpo. Ele afastou-se um pouco e parou, de costas para DC.

– Que foi?

– Na boa? Se quer mesmo ser diferente de todo mundo, então não viva sua vida de um jeito só igual milhões de pessoas fazem pelo mundo afora. Como Raul Seixas diria, “eu prefiro ser uma metamorfose ambulante do que ter aquela velha opinião formada sobre tudo”.

Com aquilo, DC acabou abrindo um largo sorriso. Felipe tinha razão. Ao se apegar de maneira ferrenha a sua filosofia de vida, ele estava apenas agindo como a maioria das pessoas, que se apegavam aos seus hábitos velhos e mofados. Ainda assim, soava estranho deixar de ser do contra para continuar sendo do contra. Antes de mais nada, ele teria que repensar muito sua vida e colocar as idéias no lugar.

– Valeu por isso. Mas por que você está tentando me ajudar? Não tem medo de que eu resolva minha vida e vá atrás da Mônica? Não se esqueça de que eu ainda gosto dela!

– Eu me garanto, véi! Não vou deixar a Mônica largada por aí pra qualquer mané botar a mão nela. Hahaha! Fui!

Dito aquilo, ele se afastou rapidamente deixando DC com uma pequena carranca. Aquilo não durou muito e logo o rapaz acabou rindo da situação e foi executar a segunda parte do seu plano. Estranhamente, ele se sentia muito mais leve depois daquela conversa.


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