História Contraste - Promessa

Não sabia dizer se Jongin estava bravo, irritado ou apenas tirando uma comigo, mas o dia havia terminado bem se é que posso dizer que não ter visto mais o rosto do moreno depois de discordarmos duas vezes é algo bom. Era claro que não podia me sentir confortável com a dúvida sobre falar com o mais novo ou deixar tudo como está afinal eu não sabia nem o que este estava sentindo.

O dia amanheceu e eu mal consegui levantar da cama, eu estava me sentindo péssimo, mas não fisicamente e sim surgiu um peso na consciência, talvez fosse eu mesmo me dando conta apenas agora que algo estava errado e a culpa era minha por sempre rejeitar Jongin.

O pior de tudo era que eu entendia que o que mais me deixava mal era a falta do moreno e embora ele estivesse na mesma casa que eu tinha medo de tê-lo magoado de forma que não sei como reverter.

O despertador havia tocado as seis e já haviam passado duas horas que estava apenas rolando na cama e me corroendo. Eu deveria estar trabalhando em vez de não fazer minhas tarefas e nem mesmo resolver o que tanto estava me angustiando.

Sentei-me na cama em um conflito interno entre ter de lidar com o moreno e continuar sem fazer nada e nunca saber o que este estava sentindo.

–Você é um medroso Kyungsoo. –disse baixo quando alguém bateu à porta.

–Kyungsoo? –era a voz do moreno e meu coração acelerou por um momento. Iria me levantar quando este abriu a porta. –O que está fazendo?

–Eu estou bem, já estou indo. –disse me levantando de rompante o que fez minha visão ficar preta, parei por uns segundos e fui até o armário pegar minhas roupas.

–Vai se trocar? –ele disse sem expressão. Eu me perguntava o que ele queria.

–Vou.  –talvez eu tenha piorado tudo não fazendo o que eu sempre faço.

–Tudo bem. –Jongin se sentou na ponta de minha cama e ficou me observando como se me esperasse para algo.

Retirei minha camiseta do pijama um tanto receoso e coloquei-a calmamente sobre a cama e com a outra já e mãos levei um susto quando o moreno se levantou em um rompante e me empurrou pelos ombros até que minhas costas se chocassem contra a parede. Um leve som saiu pela minha boca por conta do choque que me deixara sem ar.

Minha camiseta em minha mão foi pega e jogada sobre a cama, meus olhos foram de encontro aos castanhos do mais alto. As mãos deste se espalmaram na parede me deixando encurralado. Eu estava assustado e o moreno parecia triste.

–O que foi? –disse quase que em um sussurro.

–O que há de errado? –ele disse baixo franzindo o cenho. –Você mal saiu do quarto e... –dizia confuso levando uma de suas mãos à minha cabeça afagando meus cabelos enquanto que a outra permanecia espalmada. –você vai ficar assim? Eu não aguento mais.

–O que está dizendo? –eu estava aflito, o moreno parecia sentir algo angustiante.

–Eu quero você, mas você parece não saber o que quer. –sua mão afagava meus fios. –Eu queria uma escolha, alg-

–Jongin. –o interrompi abraçando-o enquanto este permaneceu imóvel. –Por favor, não diga mais nada. –permaneci alguns segundos em silêncio. –Me desculpe... Desculpa. –abracei-o ainda mais forte, porém o máximo que obtive foram os braços do moreno me abraçando como se não tivesse realmente me perdoado.

–Você pede desculpas, mas não é isso... –o moreno me empurrou para olhar em meus olhos. –O que vai mudar?

–Eu não queria provocar isso. –estalei a língua, já irritado com o fato da expressão do moreno não melhorar. –Acho que vou ter que deixar de usar as palavras.

Terminei levando minha mão ao seu rosto onde acariciei sua bochecha e puxei-o pelo queixo para que pudesse alcançar seus lábios. O moreno puxou-me pela cintura, era como se me sentisse mais calmo também por estar ali. Abracei-o quando pedi passagem com a língua que foi cedida aprofundando o beijo.

Afastei nossos lábios deixando um selinho sobre os do moreno. Eu estava afirmando que não agiria mais com indecisão, por mais que para mim era claro que sempre quis Jongin. O mais alto sorriu e voltou a me abraçar agora apertado e eu o envolvi com meus braços em sua cintura.

–Eu também gosto quando você não usa as palavras. –ele riu soprado acariciando minha cabeça.

♚✣♔

Posso lembrar-me de meus pensamentos cheios de dúvidas sobre o que seria de nós depois que cedesse ao moreno, mas como um sonho idealizado tudo parecia nos conformes: eu estava tomando conta da casa só que com Jongin se preocupando toda hora –do seu jeito– se iria me machucar ou coisa do tipo. Mesmo ainda juntos seu temperamento continua às vezes insustentável, mas nada que já não estivesse habituado.

É normal que todo fim de ano as pessoas se preocupem com o que irão fazer para o Natal e para quem tem negócios com os planejamentos para o ano novo. Eu em especial não estava muito interessado em assuntos de fim de ano, muito menos coisas vermelhas espalhadas para todos os lados e árvores de plástico cheias de enfeites que enroscam em seus galhos por cima.

–O que vamos fazer? –os olhos atentos do mais novo pareciam animados repentinamente.

–Não sei. Do que está falando? –disse sem entender a pergunta que parecia aleatória.

–O Natal está ai, nessa época as pessoas costumam montar a árvore, enfeitar a casa e na véspera comer algo diferente. –eu realmente não estava animado com aquele assunto que lembra confraternização e família. –Por que está fazendo essa cara? Eu queria montar a árvore, você não vai me ajudar? –sua expressão já parecia um pouco brava.

–Não sabia que você era desses que gosta de montar árvores coloridas, espalhar coisas brilhantes e luzes pela casa e que no final da decoração não pode ficar sem colocar a estrela na ponta da árvore. –disse dando ênfase ao “espírito natalino” o zombando.

–Não é bem assim. –o moreno parecia sem graça. –Vamos logo montar a árvore ali na sala, ou quer ficar assistindo televisão? –aquilo parecia mais uma ordem do que um pedido.

–Tudo bem.

É estranho pensar que uma pessoa solitária como o moreno goste de datas como o Natal, mas pelo visto apenas quem não gostava muito dessas coisas era eu. De qualquer forma, eu estava vendo-o sorrir com toda aquela decoração em mãos, mesmo tudo estando muito empoeirado.

Demoramos um bom tempo para terminar, até porque parecia que fazia anos que nada ali era usado, mas vendo como Jongin parecia animado e feliz não parecia tão ruim decorar a casa. Minhas ideias permaneciam confusas em relação a mim mesmo.

Sentia-me cansado, não só por termos nos enroscados nas luzes da árvore e derrubado todos os enfeites da árvore no chão, mas naquele momento estava cansado de viver naquela situação de total desconhecido, afinal nada ali naquele lugar me pertence. Datas assim continuam lembrando-me família.

–Não gosta de datas comemorativas? –Jongin disse enquanto permanecia sentado no chão junto a mim em frente à árvore.

–Talvez não muito. –o moreno olhou-me surpreso. –Mas você gosta, não é? –sorri.

–Na verdade não. –agora eu olhei-o surpreso. –Eu me sinto estranho nessas datas porque todos parecem muito felizes enquanto que sempre estive aqui. Nunca senti vontade de comemorar porque sempre me senti sozinho, além do mais, tudo isso sempre me lembrou família.

Todos nós temos problemas com suas famílias, mas em especial Jongin e eu parecíamos termos lembranças realmente ruins. Podia ver o que sinto no moreno e sabia que meu problema não se assemelhava com o deste já que é algo que o deixou uma marca eterna.

–Então você faz tudo por obrigação? –disse ainda olhando a árvore com suas luzes piscando.

–Eu nunca fiz, não enquanto estive sozinho, mas agora que você está aqui Kyungsoo... É como se o motivo para comemorar algo estivesse bem ao meu lado.

Um alívio tomou conta de mim, eu não estava sozinho e mesmo que minha família de sangue atormentasse meus pensamentos, ela estava longe e a que realmente me fazia bem é apenas uma pessoa, mas está perto de mim e ninguém pode tirar de mim.

Não sei se tenho sorte ou azar pelo motivo de eu estar aqui nunca ter sido questionado, mas eu ter me lembrado dele fez-me querer aproveitar a companhia e todo aquele lugar, afinal era fim de ano e se tudo ocorrer como o imaginado talvez eu não tenha muito tempo.

Já era tarde, mais especificadamente de noite e o clima denso que estávamos se foi quando Jongin me deu a oportunidade de esquecer-me dos problemas e me perder em sua pele morena e seus toques.

Nós estávamos juntos finalmente, não que nunca estivemos antes, mas daquela forma, quando vi os olhos do moreno se fechando e as gotas de suor escorrendo pelo seu corpo pude ver que ali fizemos uma promessa.

O tempo brincou comigo enquanto estive naquela casa, tudo parecia tão luxuoso e foi nesta hora que me senti perdido e o calendário aparentava ter sessenta e dois dias cada mês. Mas os tempos ruins às vezes se iam e o tempo voltava a passar rápido.

Apesar de várias vezes eu sentir que minha indecisão e irritação não passariam e meu ano seria longo, vivi não apenas sentimentos ruins, mas o moreno mesmo com sua bipolaridade me proporcionou momentos bons, mesmo que apenas agora os valorize.

♚✣♔

A campainha tocou, levantei-me rapidamente e com a visão escura fui até a porta e acendi a luz. Jongin franziu o cenho e aos poucos abriu os olhos.

–O que aconteceu? –seus olhos estavam inchados.

–A campainha tocou. –disse pegando as roupas espalhadas pelo quarto rapidamente e as vestindo.

–Sério? –mesmo assim o moreno não parecia muito aflito. –Mas nem nos perguntaram se podiam entrar.

–Acho que a portaria tentou avisar, mas dormimos demais. –puxei o lençol que cobria o corpo ainda nu do moreno.

–Não precisa ter pressa, eles fazem as coisas erradas e nós temos que arcar com tudo? Devem ser pessoas de negócios, eles que esperem já que eu dou as regras. –este pegou as roupas que coloquei sobre a cama e começou a vesti-las.

Enquanto eu já estava vestido há tempos, –mesmo que todo amassado– Jongin parece ter feito questão de demorar muito. Mesmo que fossem pessoas inferiores a ele em relação ao cargo delas, não achava certo agir dessa forma, porém certas coisas não seriam possíveis mudar no mais novo.

Depois da espera, o moreno abriu a porta e paralisou. Eu estava quase que me escondendo já imaginando que a visita nada tinha a ver comigo, porém Jongin olhou aflito para trás me buscando e tornou a avistar a pessoa na qual não sabia quem era já que não podia a enxergar.

–Quem é você?

–Eu sou o pai de Kyungsoo, você é... o Sr.Kim?

A voz era mais do que familiar, era meu pai e apenas por tê-lo ouvido meu coração estremeceu e voltou totalmente acelerado, era incrível o efeito que este tem sobre mim, minha cabeça parecia girar e tive que me segurar para não cair e chamar atenção.

–Kim Jongin. Algum problema? O que o senhor deseja? –era clara a forma como Jongin pareceu se colocar em forma de respeito ao meu pai, mesmo que de sua forma.

–Posso entrar? Preciso tratar de um assunto e é com você também.

–Sabe o que é?... A portaria não nos avisou que o senhor viria então não estava esperado visitas. –meu coração estava me matando, eu estava muito nervoso e a possibilidade de Jongin não o deixar entrar mesmo que tola ainda me esperançava. –Mas entre.

–Desculpe invadir sua casa assim, mas é que pelo jeito você dorme até tarde, não? –a voz de meu pai permaneceu do mesmo jeito impenetrável depois desses tempos sem o ver.

–Não, sente-se. –ouvi sua risada soprada. –Não vejo problema em dormir o bastante, até porque receber uma pessoa que nunca vi é algo não programado, certo?

O moreno parecia não ter gostado de meu pai, não sei se isso tornava tudo pior. Apenas queria poder sumir ao invés de ter essa tal conversa. Não sabia o que meu pai iria dizer, mesmo já imaginando qual seria o assunto. Minha presença naquela casa estava em risco.