"Você está sonhando", essas foram as últimas palavras que eu ouvi daqueles lábios tão atrativos. Eu somente abri a boca, sendo impedida por ele. As vezes ele sabia ser esperto, sabia que um questionamento naquele instante poderia estragar o momento. Eu quis ficar acordada, quis questionar o que era aquilo que estava acontecendo com a gente. Mas não consegui, não consegui manter meus olhos abertos quando carinhosamente (o que é bem estranho por sinal) ele voltou a acariciar os meus cabelos de forma lenta.
E quando eu abri os olhos novamente, estava sozinha, somente de calcinha e com uma dor muscular horrível. Consequência dos "exercícios" que fiz com Alexandre na cozinha. A noite já caía através da janela aberta, o vento forte que entrava pela mesma me deixava com os pelos arrepiados.
- Eu tô ficando louca! - sussurro para mim mesma. - Bem louca! - me levanto lentamente pegando um roupão em cima da poltrona. Eu precisava arrumar aquela bagunça que fizemos na cozinha da minha mãe.
....
Depois de arrumar tudo, eu subi, tomei um relaxante muscular e apaguei novamente. Acordando só na manhã seguinte com o toque estridente do meu celular.
- Pois não?! - atendi sem ao menos olhar o visor. - Quem incomoda?! - me estiquei na cama, com os olhos ainda fechados.
- Giovanna, sou eu! - abri os olhos imediatamente, era ele.
- Porra, precisava ligar tão cedo? - resmungo fingindo desdém na voz, somente para não perder o costume mesmo.
- Eu não vou poder te buscar hoje! - falou rápido, sem se importar com a minha implicância. Franzi a testa, me sentando na cama rapidamente. Como assim ele não vem?
- Não vem? - a pergunta sai mais para mim, do que pra ele. - E por que não?
- É..eu vou precisar resolver um problema com meu pai! - seu vacilo ao me responder, me deixou desconfiada. Ele tá achando que eu sou idiota! - Tem como você ir com a Amora só hoje?!
- Por que não me avisou antes? Pô Nero, vem avisar as coisas em cima da hora.
- Ah desculpa, foi de última hora.. oh, faz assim.. é hoje que seu patrão chega de viajem, não é?
- E o que isso tem haver?
- É hoje ou não? - sua impaciência as vezes me irritava.
- É, é hoje sim!
- Depois das aulas, você me espera no estacionamento, eu vou te levar no escritório! Agora eu preciso desligar, tchau.
- Tchau! - respiro fundo ao ouvir o barulho da chamada sendo encerrada.
Eu sabia que essa sua desculpa era pra fugir da conversa que precisávamos ter sobre o que aconteceu ontem. Eu sabia que ele iria adiar aquela conversa o quanto pudesse. Eu sei que hoje poderia ser o nosso último dia como "namorados". Ele quebrou a regra mais importante do trato, regra essa, que ele mesmo criou.
Me joguei na cama e subi minhas mãos até meu rosto; Que merda você faz comigo, Alexandre Nero. Respirei fundo algumas vezes e comecei a pensar em qual roupa colocaria. Era meu primeiro dia de trabalho depois de duas semanas, não poderia fazer feio.
Me arrastei até o banheiro, tomando um banho longo e quente. Deixando todas as minhas preocupações com Alexandre escorrerem pelo ralo enquanto aquela água batia em mim lavando meu corpo.
....
Abri meu armário e fiquei um tempo analisando, até que optei por uma calça rasgada preta, uma blusa branca que ia um pouco abaixo do umbigo, deixando assim a altura do meu ventre descoberta, é um salto alto preto finalizava o luck.
Fiz uma maquiagem não tão forte, mas não deixei apagada. Passei um pouco de uma sombra branca iluminadora e fiz um traço fino com o delineador na pálpebra superior. Delineei a linha ďagua com um lápis preto e dei uma esfumada. Para terminar passei bastante rímel e um batom de cor vermelho mais puxado para o laranja.
Como não havia lavado o cabelo, ele já estava seco, o que facilitaria muito. Apenas penteei e prendi minha franja para trás com uma presilha. Meu Deus, eu consigo ser gostosa quando quero.
Passei perfume no pescoço e na parte de dentro dos pulsos e pronto. Estava pronta.
Peguei meu celular em cima da cama ligando para Amora, hoje eu iria com ela. É claro que tenho que me preparar para a enxurrada e perguntas que ela irá me fazer. Não sei se estou pronta pra falar que transei com ele, mas sabia que ela não me deixaria em paz até dizer tudo. E quando eu digo tudo, é literalmente tudo, tudo mesmo.
...
A manhã seguiu arrastada, o que me deixava a cada minuto mais inquieta. Eu precisei me controlar pra não roer minhas unhas, elas estavam tão lindas, não poderia acabar com as minhas bichinhas por causa do idiota do Neto, não mesmo.
Ao meio dia em ponto, eu saí do prédio da faculdade encontrandoo carro de Alexandre já parado a minha espera. Menos mal, ele não me fez andar até a puta que parou hoje. Entrei no carro o mais rápido que consegui, jogando minha bolsa tira-colo no banco de trás. Nos dois suspiramos fundo, casa um perdido em seu pensamento. Ele abriu a boca pra falar alguma coisa, mas pareceu desistir depois de fechá-la.
- É impressão minha, ou tu tava me evitando? - quebrei o silêncio que se instalou depois que entrei no carro.
- Por que faria isso? - rebateu com outra pergunta, e eu o encarei com obviedade no olhar.
- Ainda pergunta? - revirei os olhos, suspirando fundo antes de voltar a falar. - Tu transou comigo, disse que tava apaixonado, e depois saiu enquanto eu dormia pra não ter que me encarar. Sem contar que me deu uma desculpa super esfarrapada de manhã.. só consegui falar contigo agora! Quer que eu pense o que?
- Ah Giovanna! - dessa vez quem revirou os olhos foi ele. - Eu não te evitei, só precisei ir resolver um problema da empresa com o meu pai, apenas!
- Aham, uhum.. vou fingir que acredito! - cruzei os braços, no mesmo tempo em que ele arrancou com o carro.
- Será que podemos falar sobre isso depois? - perguntou com a voz calma, eu sei sa ombros olhando pra janela. - Eu sei que te faço uma explicação, mas..
- Ainda bem que tu sabe que me deve uma explicação! - cortei o que ele falaria, voltando a encará-lo ganhando um olhar breve da sua parte. - Eu não estava dormindo, ouvi muito bem o que tu disse!
- Eu sei que você ouviu! - suas mãos apertaram o volante com certa força, seu peito, subiu e desceu lentamente com o suspiro fundo que ele deu.
- Você quebrou nosso acordo! - eu não consigo ficar rodando muito. Precisava falar logo, queria esclarecer aquilo o quanto antes.
- Quebramos! - disse num tom áspero. - Até onde eu sei, não transei sozinho, você facilitou bastante abrindo as pernas pra mim.
- Olha lá como fala comigo! - bufei, sentindo vontade de dar na cara dele. Como ele pode ser tão estúpido? - Você quebrou o acordo, você disse que tava apaixonado! - meu tom também saiu firme. Se é gritando que ele quer, é gritando que vai ser. - Qual é a sua, Alexandre? Você diz que tá apaixonado por mim, me deixa dormindo depois de transar comigo, me evita com a desculpa que precisava ajudar seu pai não sei com o que.. sim, porque eu não acreditei nessa disculpinha esfarrapada que tu inventou. E agora vem todo áspero, me tratando como se eu fosse essas putas iludidas que tu come por aí? - as palavras saem rapidamente, sem que eu tenha controle delas.
Ele me olhou friamente, freiando o carro com força. E, se não fosse o sinto de segurança que estava preso ao meu corpo, minha testa teria conhecido de um jeito nada legal o vidro do carro.
- Tá maluco? - arfei com o susto. - Caralho Alexandre, qual é o teu problema?
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