História Contrato selado - "Trato feito"

E aqui estava eu, deitada na cama olhando para o teto branco enquanto pensava na proposta que Alexandre havia me feito a algumas horas atrás. Assim que cheguei em casa subi direto para o quarto, precisava colocar as ideias em ordem. Nunca pensei que ele seria capaz de me pagar 50 mil só por gostar de uma garota. A proposta era tentadora, mas eu não me imaginava namorando com Alexandre nem mesmo de mentira, isso é bem estranho para mim, e creio eu que pra ele também. Nós dois, namorando? Não né!

- Gio.. - minha mãe coloca somente a cabeça para dentro do quarto, tirando-me de meus devaneios.

- Mãe, oi! - balancei a cabeça, olhando para ela. - Que foi?

- O Nero tá aí embaixo querendo falar contigo! - ela diz, arregalei os olhos diante daquela ousadia. Qual a parte do "Eu preciso pensar" esse infeliz não entendeu? - Ele me disse que tinha uns assuntos pendentes da faculdade pra falar com você! - oi? Assuntos da faculdade? Esse idiota tá pensando que minha mãe é trouxa? - Engraçado.. pensei que você fizesse jornalismo e ele artes cênicas.. Que cês tão aprontando hein, Giovanna?!

- Ai mãe, sem perguntas difíceis.. - murmuro, revirando os olhos. Eu não podia falar nada para ela. - Pode mandar ele subir por favor?

- Giovanna, Giovanna.. - resmunga desconfiada, antes de descer as escadas me deixando sozinha novamente.

Respiro fundo diversas vezes, fazendo um coque mal feito nos cabelos antes de me encostar aos travesseiros na cama. Uns dois minutos se passam até que a porta do quarto se abre, e ele entra sem ao menos pedir licença. Típico troglodita que ele era, apenas reviro os olhos. Ele entra lentamente, olhando tudo em volta. Ok, esse garoto é mesmo maluco.

- Que porra você tá fazendo aqui? - cruzo os braços na altura dos seios, encarando-o com a testa franzida. - Qual a parte do "EU PRECISO PENSAR" tu não entendeu?

- Pensei que seu quarto fosse diferente! - coçou o queixo, não pareceu dar a mínima para o que eu havia acabado de dizer. - Pensei que tivesse um montão de postes e homens pelados. Cê faz a linha piranha. - se sentou na minha cama, de frente para mim.

- Hã? - olhei em volta assim como ele fazia, indignada por ter sido chamada de piranha dentro da minha própria casa. - Tu me chamou do que? 

- Esse lugar é broxante, eu acho que não conseguiria te comer aqui! - falou pensativo, sem prestar atenção em mim. - É, certamente não conseguiria...

- Cê veio aqui pra reparar na decoração do meu quarto? - bufei sem paciência, ele age como se fosse conseguir alguma coisa comigo algum dia. Como diz Amorinha "NUNCA PENSEI". - Aliás, o que você tá fazendo aqui? Eu disse que precisava pensar!

- Eu sei que você vai fugir Giovanna, eu quero uma resposta agora! - diz firme, me encarando com o olhar incrivelmente negro. - Sim ou não?

- Quem tu acha que é pra entrar na minha casa me intimando assim? - levantei da cama, fuzilando-o com o olhar. - Vai pra tua casa, agora! - apontei para a porta, ele nem se moveu, continuou me encarando com a expressão indecifrável. - Tu tá, surdo?

- Eu não vou embora até você me responder o que eu quero saber! - como ele consegue me irritar tanto? Parecia que essa função era só dele, ninguém conseguia me tirar do sério assim.

- E se eu dizer não? - voltei a me sentar na cama, sabia que ele não iria embora enquanto eu não respondesse.

- O azar é seu! - deu de ombros, encostando na cabeceira da cama. - E meu também..

- Eu namoro, Nero, eu namoro o Leonardo! - menti. - E por que você não procura outra pessoa pra te ajudar nisso?

- Namora? - coçou o queixo. - Eu vi você terminando com ele hoje de manhã.. - desgraçado, mil vezes desgraçado. - Ele até te jogou de bunda no chão! Aliás, tá doendo aí? Se quiser uma massagem, eu me sacrifico!

- Você é ridículo! - joguei o travesseiro em seu rosto.

- Você acha que eu iria te propor uma coisa dessas se não tivesse certeza que você terminou com aquele mala? - ele diz o óbvio. - Pra fazer dar certo, eu preciso que você colabore também!

- Namorar você mesmo que de mentirinha e desafiador.. - falei sincera. - Eu não sou São Jorge, ele é quem cuida de dragões!

- Engraçadinha! - me mostrou o dedo. - Para de graça, vai Giovanna. Me ajuda caralho! Nunca te pedi nada.

- Você acha mermo que a pônei vale 50 mil? - eu debocho, vendo-o fechar a cara. - Ah, desculpa, mas ela não vale nem 5 reais! Eu daria 2 pra comer ela!

- Você se acha, né?! - assenti positivamente. - Você também não é tudo isso!

- Quem come não tá reclamando! - joguei um beijo cínico, voltando a ficar séria em seguida. - Você não vai poder ficar com ninguém!

- Hã? - ele pareceu não entender. - Não vou poder ficar com ninguém?! Como assim?

- Posso até aceitar essa loucura, mas tu não vai poder ficar com ninguém! - afirmei um pouco insegura. - Só comigo, de mintirinha, é claro!

- Por que não? - questionou confuso. - Não vamos namorar de verdade!

- Não vou fazer o papel de chifruda, nem de mentira! - gesticulei com as mãos, o fazendo gargalhar alto. - Se quiser que eu sele um contrato contigo, vai ter que seguir minhas regras!

- Vou ter que ficar no cinco contra um? - fiz que sim. - Ah Giovanna, tá falando sério?! - confirmei novamente. - Cê tá brincando comigo, né? - fiz que não, vendo-o bufar. - Porra..

- Quanto tempo isso vai durar? - dessa vez sou eu quem pergunta.

- Até a formatura no fim do ano! - arregalei os olhos assustada, ele tá falando sério? Ainda estamos em março!

- Não! - neguei de imediato. - É tempo demais, Deus é mais!

- Giovanna! - me repreendeu. - Eu sei que você não vai se apaixonar, eu não vou me apaixonar. Você é a única que pode me ajudar com isso!

- Porra, é tempo demais! - eu estava tentada, estava precisando do dinheiro. Mas pensar em fingir um relacionamento até o fim do ano me assusta.

- Talvez eu consiga conquistar a Karen antes! - tentou me convencer. - Vamos fazer da certo!

- Conquistar? É só tu estralar o dedo que ela cai de perna aperta! Menino, essa criatura é mais rodada que o cabeloda Joelma na música cavalo manco, cai por mim, tu pega fácil!

- Antonelli! - o tom soa ameaçador.

- Ok.. - suspirei. - Eu não vou beijar você, nem andar de mãos dadas! - ele abriu um largo sorriso.

- Em público você vai precisar se esforçar! - estendeu a mão em minha direção. 

- Sem língua! - também estendi a minha mão, apertando a mão dele.

- Trato feito? - pareceu satisfeito.

- Quero o dinheiro na minha conta amanhã! - eu disse rápido, antes que meu inconsistente acordasse e me desse um puta tapa na cara. - Trato feito!