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História Coração de Tinta - Capítulo Único - " My Creation "


Escrita por: UchihaSpadari

Notas do Autor


Essa é minha primeira oneshot. Claro que não a primeira a ser escrita, mas sim a ser postada. Se trata de algo que pensei logo que acordei, então resolvi postar. Nunca tentei postar uma fic de capítulo único, talvez um dia possa fazer novamente. Quem sabe um dia.

Capítulo 1 - Capítulo Único - " My Creation "


Coração de Tinta

 

 

 

  Como nas últimas semanas exaustivas, seu sorriso nasceu tão mentiroso que até mesmo seu melhor amigo contraiu os lábios sentindo o peso de sua dor. Estavam no bar que sempre marcavam encontros, afinal fora nessa mesma ambientação que visitavam quando ainda eram jovens universitários cansados de uma tarde de aulas longas, e animados pela companhia um do outro. Mas agora, após dez anos de realizações e buscas incessantes por seus sonhos, todos sumiam aos poucos. Era a verdade de vida, uma hora cada um seguia seu caminho, e não era como se fosse inconformado, afinal entre todos eles, fora o único que sempre soube.

 

  Naruto, hoje casado, talvez fora o único que não lhe abandonara em meio ao caos, mas também sabia que assim o seria por vários anos, eram melhores amigos desde que se entendiam por pessoas. Subiu seu casaco, o frio daquela tarde londrina arrepiava até mesmo o último fio de seu cabelo negro e que, pela falta recente de atenção e cuidado, agora se tornava mais longo e enrolado na parte posterior. Subiu o fecho e assentiu para o loiro que sentia o peito doer com tais feições. Onde fora parar o Sasuke que sempre conheceu? O homem frio e de aparência madura, hoje era apenas quieto e corroído em simples gestos, tentando não mostrar, mas falhando ao demonstrar. Máscaras de imparcialidade, atitudes de uma alma vencida e fadada, que aspirava longos sonhos, mas se conformava com a falta de felicidades a se brindar.

 

  Era animadora, caso não fosse tão caótica. Sua situação sempre pautada, a atenção que mantinha, a pontada de felicidade que tomava seu peito a cada passo que encurtava a distância entre o ambiente e seu estúdio. Suspirava contra o vento gelado daquela tarde massacrante, de certa forma suas costas doíam, e nem mesmo suas caretas amenizavam os olhares diretos que cada mulher, acompanhada ou não, lhe lançava ao longo da calçada larga regada à lojas e edifícios. Mas tão efêmero, nada que o pudssse desvirtuar o sentimento de peito desalinhado que o tomava ao cruzar a esquina e conter a corrida que se inicava em suas canelas, como um garoto apaixonado. Garganta seca, mente tão pesada quanto os ombros enquanto a respiração rastejava numa espécie de tensão por ter estado fora tanto tempo. Chave rodada, maçaneta girada, tudo tão robótico, tudo tão comum.

 

  Sua realidade. Silêncio e escuridão. Tudo quieto, tudo parado em seu devido lugar, lonas largadas ao chão, jornais em todo o ambiente para a amenizar as gotas de tinta que banhavam o piso coberto. Soltou o ar pelas narinas colocando seu casaco na maçaneta da porta que fora trancada. Tantos quadros, e nem mesmo lembrava qual havia sido sua última obra a ser vendida, sua última tentativa em transparecer ao mundo. O estômago gelado antes de cada entrevista, os sorrisos e flashes dos atenciosos midiáticos que intentavam a todo custo uma brecha ou informação. Hoje esquecido, hoje mais sozinho do que sempre imaginou. Mas de fato estava? O sorriso carregado de mentira em seus lábios revelava o contrário. Tanto o mundo lhe esqueceu, tanto ele esqueceu o mundo. Seu paraíso, sua vida abstrata. Um lugar paralelo onde a solidão não lhe afetava, somente ohava, admirava, sorria e às vezes chorava.



     -- Tadaima.
 

 

  Seu tom rouco e mais anasalado que o costumeiro revelou a palavra que entregava sua cidadania japonesa, até mesmo duvidada hoje em dia pelo mesmo. Dera de ombros para as três ligações pendentes em seu celular sobre a bancada, todas com o nome mais que conhecido de " Uchiha Itachi ", mas provavelmente eram mais conselhos fartos de sabedoria que o maior psicólogo de Kyoto tentava lhe impor. Sentou naquela cadeira frontal a uma mesa de madeira repleta a utensílios abandonados e até mesmo velhos. Quantos quadros e pinturas fizera, nem ele mesmo o sabia. Porém tinha total perfeição de memória ao ver aquele que nunca mais o deixou ser atencioso a outra tela. Tal obra que desvirtuou sua atenção, e não mais o deixou se focar em outra.

 

  O tom de pele idealmente posto em cada pedaço daquela imagem, a feição tímida e diretamente fixa ao observador, as bochechas vermelhas pelo rubor atraente e excitante que ele perdera longas horas a tonalizar. Mas tudo se perdia diante dos olhos perolados, que ele até hoje desentendia de onde ter visto, e os cabelos azulados que emanavam como cachoeiras pelos ombros desnudos. O quadro que nomeara representava perfeitamente a sensação que tinha o vendo, e jamais entenderia como criara algo tão perfeito em riqueza de detalhes. Hinata, lugar ensolarado. Era isso que acontecia toda vez que a olhava pendurada ao frontal de seu apartamento, sentia o calor gostoso que quebrantava seu gelo, os raios ensolarados que deixavam o frio cruel que o tomara, morrer pouco à pouco.

 

  Sempre de igual modo. Seus braços perderam consideravelmente a força nos últimos meses, e a falta de alimentação que todos o alertavam, se fazia mais presente a cada ranger de estômago, e perder de forças. Olhos escurecendo a cada dia, até mais do que o habitual quando apenas não dormia. O pincel bambo entre os dedos finos e de pele ressecada, os ombros entregues a dureza rígida imposta pela cadeira, enquanto sorria olhando sua maior perfeição, o que jamais entendeu ter feito, seu auge. O quadro que o fizera parar, sentar e admirar sua própria criação incomparável.

 

  Ciúmes de qualquer um que olhasse aquela imagem de soslaio, atenção para qualquer detalhe e precisão que deixara rastros, nervosismo e embalo por encarar tanto tempo, paixão de um rapaz desatento, amor que o tomou por ser tão aficionado. Logo após ter desenhado tal feito, conseguia apenas olhar, sua vida ainda continuava, mas estranhamente aquela visão o forçava a admirar por mais horas. Até que se rendeu, os minutos perdidos se tornavam horas, as manhãs de admiração se tornaram noites em claro, e a sensação de co graduações por algo tão exímio, se tornou a dor que o corroía por saber que jamais passaria de uma pintura.

 

  Tudo enquadrado e desenhado com exatidão, e todas as sensações que o tomava ao admirar tamanha beleza, ninguém era como ela, e tudo daria para estar ao lado dela. Procurou sua inspiração nos últimos anos, de certo teria a visto em algum lugar, jamais achou alguém que fizesse jus ao quadro que corroía seu peito e lhe deixava vítima de seus próprios demônios, as correntes que ele mesmo criou e se envolveu. Jamais, em nenhum lugar, nunca.

 

  Depressão, fome, cansaço, insônia, exaustão e tristeza.

 

  Se entregou ao que impôs a si mesmo, e como caiu.

 

  Seu fôlego era fraco enquanto sua visão cansada revelava a péssima noite de sono que tivera, mas de nada era novidade, vinha sendo assim todas as noites. E enquanto, sozinho naquela sala, respirava devagar sentindo seus lábios contraírem aos poucos pela vontade sôfrega de deixar as lágrimas doloridas e desesperadas banharem seu rosto. Lembrou de certa ocasião, que ainda muito jovem vivenciou em uma de suas apresentações, algo tão banal para um garoto aspirante a glória, algo que na época ele jamais conseguiria responder pela falta de experiência, mas que lhe calou ao longo dos anos, e que lhe fez pensar em silêncio, até atingir a maturidade, e até materializar seu próprio caos.

 

  Certa vez, quando ainda muito famoso na mídia, perguntaram ao pintor Uchiha Sasuke qual a maior falha que tal profissional poderia cometer. Hoje, trancado em sua sala fria como qualquer outro dia nos últimos meses, o antigo algoz das telas vazias jazia quieto e com a resposta travada nos lábios. " O maior erro de um artista, era se apaixonar por aquilo que criou, e que jamais existiria. "



     -- Hina...


  Os sorrisos eram enormes e ele sentia o frio que gelara sua espinha ao andar pela pracinha naquela tarde cinza. Londres era assim na maioria de seu tempo, e as pessoas tão frias quanto o vento que os fazia se esconder em agasalhos e vestimentas cobertas. E de certa forma ele nunca se importou, afinal gostava do silêncio, da quietude e solidão superficial que julgava agradável para sua inspiração e pensamento constante.

  Suas mãos aos bolsos apertavam o casaco enquanto lembrava que era ao menos agradável sair de casa para espairecer. Caso continuasse naquela sala acabaria piorando sua situação que há meses era tão calejada e difícil de se aceitar.

 

  Um esbarrão. Seu ombro voltara de maneira considerável por estar perdido em pensamentos, e enquanto pensou em somente seguir cuspindo seu olhar indiferente, sentiu suas pernas travando e as canelas bambeando com o contato visual que o fizera estremecer e congelar. Seu sussurro não audível soou com o nome de seu algoz, o algoz atraente que o matava a cada dia, finalmente encontrara, depois de tanto procurar, tanto chorar, tanto respirar e aspirar esse momento. Era ela, seu sol, e aquela estranha iluminação em meio ao cinza nublado agora era compreensível. Era Hinata, seu raio de sol, deixando evidente entre os lábios um sorriso tão tímido acompanhado do pedido de desculpas baixo e sorrateiro, que contrastava perfeitamente as bochechas ruborizadas pintadas a vermelho, os olhos quase cerrados que mais pereciam espelhos d'água enquanto os cabelos pairavam lentamente contra o vento. Sorriu consigo mesmo, era tudo o que sempre quis. Um desculpar baixo, mas como ele imaginou naquela voz fina e sussurrante de uma garota tímida e quieta.


  E enquanto sentou ao banco de madeira pelo cansaço e tremor de suas pernas, sentia o estômago gelar admirando de perto tamanha beleza, Hinata de igual modo se sentou com as mãos na linha da saia meio acanhada, olhou duas vezes de soslaio e pesou os ombros com a risada tímida pelo momento constrangedor de olhares apaixonados que ele lançava sem perceber. Tarde escura, frio congelante, escuro do ambiente iluminado pelo sorriso dela , e a pessoa que ele sempre idealizou existindo. Seus lábios abriram ainda estupefato diante dela, a mesma sorria tímida como uma garota que sabe estar sendo cortejada pelo homem que ama. Um levantar de olhos, um contato visual perfeito. Seu coração acelerou e aspirou aquele ar delicioso de inverno.


     -- Procurei você por tanto tempo.
 

 

  O sussurro rouco e pesado pela alegria, deu início ao sorriso que nascia em meio a tormenta. Jamais imaginaria que aqueles olhos poderiam ser ainda mais enigmáticos estando diante de seu rosto, os fios azulados da franja caíam de maneira lenta dançando por toda pele cálida e sem qualquer defeito aparente nas laterais faciais, como realmente uma obra de arte, mas tão real. Suas mãos ainda trêmulas vagaram pelo ar de maneira tão temerosa que sentia o bater de seu coração quase descompassar ainda mais, isso é claro, se fosse possível estar mais nervoso. Seus dedos finalmente acariciaram a face dela enquanto a mesma apenas em silêncio sorriu cobrindo a palma da mão dele e inclinando o rosto. Quietos, mas estranhamente sabiam tudo o que outro pensava, como nos filmes, como na literatura e nos romances televisionados, as obras ternas de paixão que até mesmo ele um dia pintara. Era o amor, em cada toque, em cada olhar, em cada beijo, estava em tudo.
 

 

     -- Sasuke. -- O sussurro pronunciou seu nome enquanto ele adorou o que escutara, como se ninguém na face da Terra pudesse repetir um simples nome de maneira tão precisa e ideal. -- Sempre estive aqui.

 

 

  Tamanho frio se perdia no calor que emanavam um ao outro, e enquanto as árvores quebradiças balançavam ao redor, Hinata apenas fechou os olhos se aproximando ainda mais dele, era como se o conhecesse desde sempre. Sorriram uma última vez um ao outro, e outros sorrisos mais acompanhariam suas vidas dali em diante, e no meio de tanto falatório e pessoas alheias ao redor naquela pracinha, sua cabeça apenas inclinou no ombro dele enquanto o mesmo fechou os olhos com um sorriso, estava completo.






 

 

  E em meio há todo caos que os soluços de uma mãe desamparada soavam naquela sala. Itachi apenas mantinha os braços cruzados vendo a imagem de seu irmão tão amado, agora rendido e mais frágil do que jamais o vira, olhos vermelhos, pulsos magros e a cabeça escorada na madeira da mesinha. Os cabelos negros caídos sobre a superfície envernizada enquanto o vento frio entrava pela janela aberta, como ele adorava, um dia frio, tão frio quanto seu corpo mole e deixado ao léu.

 

  Suas lágrimas escorria aos poucos enquanto a porta arrombada deixava dois paramédicos sustentando o corpo dela, era inevitável. O irmão que tanto amou, tanto cuidou e esmerou a cada sustentar de pés, cada engatinhar, cada risada gostosa e animada. Que chorou ao seu lado, e que acima de tudo sorriu e brincou. Como o amou, mas bem sabia nesse exato momento, sabia que mesmo sentindo a tristeza que era o mundo sem Sasuke, finalmente seu irmão estava em paz, e pelo sorriso fraco que seu corpo morto há dois dias deixava evidente em rastros expressivos, mostrava a verdade que ninguém jamais entenderia, estava idealizado e feliz, estava com Hinata.

 

 

 

      Fim.


Notas Finais


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