Quero todo o teu espaço e todo o teu tempo. Quero todas as tuas horas e todos os teus beijos. Quero toda a tua noite e todo o teu silêncio.
- Mário Quintana
Com uma sensação estranha no fundo do estômago, aproximei-me de um rapaz alto com semblante derrotado e perguntei baixinho:
— Aconteceu alguma coisa?
— A Min Hee... - engoli em seco, temendo o pior - Ela caiu das escadas e... - seu silêncio dizia tudo, mas eu me recusava a acreditar naquilo, não queria acreditar naquilo. O jovem se afastou, reprimindo um soluço. Inspirei profundamente, em uma tentativa de me acalmar minimamente.
— Não pode ser - sussurrei aturdido.
— Vernon - uma voz familiar me chamou e logo em seguida uma mão pousou no meu ombro.
Levantei o olhar para meu amigo e questionei, ainda em estado de negação:
— Não é verdade, é!?
Joshua mordeu o lábio inferior com força, sinal de que estava prestes a dizer algo terrível, e sussurrou:
— É verdade.
Não a Min Hee, não a melhor amiga do Seungkwan, não aquela garota sorridente e simpática.
— O Seungkwan já sabe? - Jisoo questionou e cerrei os olhos, desejando que tudo aquilo fosse um pesadelo horrível.
Os dias seguintes foram bem difíceis para os familiares e amigos da falecida. Ninguém conseguia acreditar que fora um acidente, muito menos a polícia, que havia conectado este infortúnio ao do Minghao, pois tanto ele quanto Min Hee tinham estranhamente rolado escadas abaixo. Como a memória do nosso vizinho chinês ainda não voltara, ainda não tinha como descobrir mais rapidamente se o que ele sofrera fora de fato uma tentativa de assassinato.
No dia seguinte ao ocorrido, o detetive responsável fez questão de interrogar todos os convidados, mas só isso não bastou para acalmar os pais da vítima, algo totalmente compreensível. Apenas Seungkwan, Seokmin e eu estávamos presentes nos dois eventos, o que poderia — pelo menos na minha opinião — ser visto como algo suspeito. Porém uma das amigas da Min Hee nos contou — para a polícia, Seungkwan e eu — que vira a aniversariante discutindo com o ex, aquele que eu esmurrara, minutos antes da tragédia. De qualquer forma, quando o detetive me perguntou se eu vira a vítima antes do acidente, apenas lhe contei que havíamos conversado um pouco assim que cheguei a festa. Assim como todos, eu queria que o culpado fosse descoberto e preso logo.
Não havia um dia sequer que Seungkwan não chorasse e lamentasse a morte precoce de sua amiga, o que aflorou meu lado protetor. Eu desejava ser capaz de retirar toda dor que ele sentia, mas só podia ficar ao seu lado o máximo possível. Em meio a toda aquela tragédia, nós acabamos nos aproximando ainda mais, tanto emocionalmente quanto fisicamente.
Nos dias em que Seokmin permanceu conosco no apartamento, ele carregava um semblante tão depressivo quanto seu amigo. No quarto dia de luto meu colega resolveu pedir licença do trabalho para ficar alguns dias na sua cidade natal, junto de sua mãe. Seungkwan e eu estávamos sozinhos há dois dias.
— Bom dia, Kwan - cumprimentei meu colega em mais uma manhã nublada de domingo.
— Bom dia - sua voz soou mais firme do que nos dias anteriores. Além disso, seu semblante estava menos sombrio e suas olheiras menores.
Sentei-me ao seu lado e peguei uma das torradas que comprara na noite anterior.
— Dormiu bem? - questionei enquanto passava geléia de framboesa na torrada.
— Sim, consegui dormir umas seis horas.
— Que bom - disse e então dei uma mordida grande no alimento em minhas mãos.
Voltamos nossa atenção para o café da manhã, permanecendo em silêncio por alguns minutos.
— Obrigado, Hansol - meu colega me agradeceu assim que me levantei para levar os pratos e xícaras para a pia.
Virei-me para ele e questionei:
— Pelo quê?
— Por tudo, por ficar ao meu lado mesmo eu chorando toda hora. Obrigado por se preocupar comigo - seus olhos estavam cheios d'água. Refreei a vontade de segurá-lo em meus braços e niná-lo como se fosse um bebê. Eu tinha vontades cada vez mais estranhas quando se tratava de Boo Seungkwan.
— Quem disse que eu me preocupo com você? - rebati, em uma tentativa de fazê-lo rir pelo menos um pouco. Funcionou.
— Por favor né, você me adora, Hansol - ele se gabou de forma afetada e dei uma gargalhada.
— Ah, claro, com certeza, of course - disse em um tom exagerado enquanto levava a louça para pia.
— Não adianta mentir, eu sei - Seungkwan sussurrou no meu ouvido, fazendo todos os pelinhos do meu pescoço se eriçarem. Merda!
Engoli em seco e tentei me concentrar no que estava fazendo. Ele provavelmente só estava brincando comigo, eu precisava me controlar. Controle-se, Vernon!
— Se você acha... - rebati, em uma tentativa de não demonstrar que aquilo havia me afetado.
Continuei a ensaboar os pratos enquanto ouvia Seungkwan se afastar de mim. Não sabia ao certo o que havia acabado de acontecer, talvez tudo fosse só uma brincadeira, talvez não.
Após terminar de lavar a louça, me dirigi para a sala e me sentei ao lado de Seungkwan no sofá. Ele estava debaixo de uma coberta e entretido reassistindo Teen Wolf na netflix.
— Aqui - meu colega estendeu uma parte do cobertor para mim. Cobri-me, direcionando parte da minha atenção para a televisão, pois não conseguia ignorar a presença da pessoa ao meu lado.
Observei pela visão periférica enquanto Boo se deitava no sofá, colocando suas pernas em cima do meu colo. Duas semanas atrás eu iria rir da pessoa que me dissesse que Seungkwan estaria tão à vontade comigo.
Comprimi os lábios, refreando a vontade de sorrir abertamente. Era muito bom saber que ele se sentia confortável comigo, apesar de seus toques cada vez mais frequentes instigarem pensamentos e desejos inapropriados em mim. Eu já não conseguia mais mentir para mim mesmo, me sentia totalmente atraído pelo meu colega de quarto. Mas é claro que tentava ao máximo não demonstrar, achava inclusive que ele me considerava hétero.
— Está esfriando, né!? - comentei enquanto Seungkwan colocava no episódio seguinte.
O inverno faria sua aparição dentro de duas semanas, mas as árvores já estavam prontas para ele, todas suas folhas residiam no chão.
— Sim, infelizmente. Eu gosto tanto do outono.
— Eu também, é minha estação favorita do ano - comentei, sorrindo. Ele retribuiu o sorriso.
— A minha é a primavera, mas eu também adoro o outono.
— A primavera também é legal. Eu não gosto de temperaturas muito elevadas, nem muito baixas.
— Nem eu. É horrível ficar congelando ou derretendo de calor.
— Verdade.
Voltamos nossos olhares para tv, mas depois de alguns minutos, Seungkwan perguntou:
— Eu posso te fazer uma pergunta?
— Acabou de fazer - brinquei e ele balançou a cabeça. Meu colega aflorava meu lado brincalhão por alguma razão.
— Posso fazer outra pergunta, então?
— Claro.
— Qual é a sua sexualidade? - sua expressão neutra não me indicava nada.
Por essa eu não esperava. Por que será que ele quer saber isso?
— Eu sou gay - tentei soar o mais casual possível - E você? - perguntei, apesar de já ter percebido que ele também gostava de homens.
— Então você também faz parte do vale dos homossexuais - ele comentou, me fazendo dar uma gargalhada.
— "Vale dos homossexuais", essa é boa.
— Nunca ouviu falar dessa expressão? Tem certeza de que é gay, Hansol?
— Não, Seungkwan, pra falar a verdade eu sou um viciado em peitões.
— Iguais os da Nicki Minaj? - ele questionou, entrando na brincadeira.
— Sim, é claro. Ela também tem uma bunda que nossa senhora - falei, me lembrando de quando o vi trajando apenas uma cueca boxer.
Meu colega se sentou, pois estava rindo descontroladamente. Era tão bom vê-lo rindo depois de dias.
— Se quiser eu peço pro Seokmin te mandar as fotos que ele tem dela.
— Ah, não precisa, já tenho dezenas.
— Estão na mesma pasta que seus vídeos pornôs?
— Que isso, Seungkwan, eu não vejo pornô no celular...só no notebook.
— Hmm, sei. Por que isso soou tão verdadeiro?
Voltei meu olhar para a televisão, subitamente envergonhado. Ele já sabia quando eu blefava ou dizia a verdade.
— Esse seriado parece bom mesmo hein, acho que vou começar a assisti-lo - mudei de assunto de uma forma nada casual, arrancando uma risadinha do meu colega.
— É ótimo, você vai amar. Inclusive tem um casal gay super fofo, eu surtava demais com eles.
— Ah, é!? Legal.
— São eles! - ele apontou para a televisão e eu voltei meu olhar para a cena. Os dois rapazes estavam deitados em uma cama, um em cima do outro. Assisti enquanto eles se beijavam. Engoli em seco quando o garoto de madeixas loiras levou seus lábios até o peitoral do de cabelo preto. Observei Seungkwan pela visão periférica, ele parecia tão inquieto quanto eu. Os rapazes começaram a conversar e eu respirei aliviado, mas meu alívio não durou muito tempo, logo eles voltaram a se beijar apaixonadamente. Não seria nada bom para mim se eles continuassem a fazer o que estavam fazendo.
— Faz tempo que eu não faço isso - Seungkwan comentou e eu o encarei. Eu sabia o que ele queria dizer com aquilo, mas não tinha certeza da razão.
— Eu também - disse simplesmente. Meu olhar recaiu sobre sua boca assim que meu colega mordeu o lábio inferior demoradamente.
Encaramo-nos pelo que pareceu uma eternidade, até que eu resolvi me arriscar, diminuindo a distância entre nós. Meu coração pulsava nos meus ouvidos e meu estômago se revirava de nervosismo, mas tudo que eu queria naquele momento era colar meus lábios aos seus.
— Hansol... - Seungkwan sussurrou meu nome, me dando coragem para fazer o que eu desejava há dias. Anulei a distância entre nossas bocas, encostando meus lábios aos seus. Levei minha mão até sua nuca, beijando-o de forma lenta e profunda. Sem parar o beijo, ele subiu no meu colo, gemendo baixinho quando cravei meus dedos nas suas coxas fartas. Tê-lo em cima de mim era incrivelmente prazeroso. Enfiei minha língua em sua cavidade quente e úmida e então a movi lentamente sobre a dele, saboreando-a. Nossas línguas se enroscaram e beijamo-nos como se nossas vidas dependessem daquilo. Gemi dentro de sua boca ao senti-lo se apertar contra mim, sua bunda se mexendo suavemente no meu colo. Aquilo era maravilhoso.
— Seungkwan - sussurrei quando nos separamos em busca de oxigênio.
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