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História Coração ocupado - Assembleia


Escrita por: epifanias

Notas do Autor


Oi, gente!
Eu sou a Bárbara, faço Jornalismo e esse ano vivi as ocupações das universidades. Inclusive, participei da que aconteceu na minha universidade. E como entendo como funciona mais ou menos a ocupação e sei que muitos romances começam lá, pensei nessa história de amor dentro de uma ocupação no Rio de Janeiro. Eu espero mesmo que vocês gostem da história e que me inundem de comentários legais! Enfim, vamo lá, né?!

Capítulo 1 - Assembleia


Alice é o meu nome. Eu tenho 18 anos, asma, um vício muito grande por Halls preto e uma história cheia de reviravoltas. Meus pais se separaram quando eu tinha dez anos. Hoje minha mãe, Adriana, é professora de Direito na universidade em que eu estudo e o meu pai se mudou pros Estados Unidos, onde vive com a namorada, uma loira de vinte e três anos que ele conheceu num seminário de História, e com a filha dela, uma pirralha de três anos que tomou o meu lugar.

Minha mãe passou por tempos difíceis desde a separação, ficou depressiva e passou cinco anos deitada numa cama encarando a parede, imóvel. Só chorava e de vez em quando comia. Nesse momento, eu vivenciava a fase mais difícil da vida de uma pessoa: A adolescência. Enquanto todas as minhas amigas conversavam com as mães sobre sutiãs, menstruação e sexo, eu vivi tudo isso sozinha, aprendendo o básico com velhas revistas Capricho que minha mãe colecionava. A única companhia que eu tinha era a minha avó, que mudou pra nossa casa desde que mamãe se tornara um vegetal.

Um dia, porém, minha mãe desviou o olhar da parede branca e olhou pra mim, quando adentrei  seu quarto levando café da manhã. E fazendo isso ela percebeu que eu não era mais a garotinha de dez anos que ela largou quando desistiu de tudo pra encarar paredes brancas. Agora, eu era quase uma mulher, tinha acabado de fazer quinze anos e ela havia perdido tudo isso. E então, ela se levantou da cama decidida e disse:
- Quer saber? Dane-se o imbecil do seu pai! Se ele não me quis, quem perdeu foi ele!

Cortou o cabelo, fez luzes, entrou na academia e resolveu tirar a poeira do diploma de Direito. Estudou feito louca e passou com glória num concurso da Federal do Rio de Janeiro. E o meu pai? Até hoje não recebemos mais notícias dele, só sabemos que está em Nova York com esposa e filha substitutas.

Enfim, como você já deve ter percebido eu sou muito dispersa, falei, falei, falei e ainda não cheguei no assunto do título. Desculpe-me, mas eu sou aquariana, ligada, elétrica, até me engasgo com tanta coisa pra dizer! Vamos direto ao ponto então!

O sol mal tinha nascido e eu já estava de pé. Indignada, lia o jornal online que dizia que a PEC que pretendia cortar gastos na saúde e na educação havia sido aprovada pelo imbecil do Michel Temer. Enquanto mastigava uma torrada com geleia, escrevia um textão no Facebook, externando toda a minha raiva com o descaso que o presidente substituto da Dilma apresentava para com a população. Graças a esse bando de néscios, o Temer estava destruindo o nosso querido Brasil, cortando gastos logo da saúde e da educação, que já não recebem muitos investimentos.

Minha mãe passou pela porta da cozinha vestindo um baby-doll preto, enquanto um jovem rapaz de longos cabelos negros caminhava até à saída, acenando carinhosamente.
- Mãe, o que aconteceu com o Felipe? - perguntei, referindo-me ao antigo namorado dela, o qual ela conheceu no tribunal. Ele era promotor de justiça e tinha uns vinte e poucos anos.
- Ah, eu perdi a graça com o Felipe, queria algo assim, mais interessante. Aquele ali é o Rafael, ele é meu aluno do mestrado... MUITO mais interessante e intenso do que o Felipe! - ela mordeu os lábios e eu só encarei-a com uma careta.

Desde que mamãe deu a volta por cima, vivia dormindo com os alunos de mestrado, saindo com  advogados e trocando beijos com desembargadores. Eu não tinha nada contra ela sair com outros caras, mas não gostava quando eles eram quase vinte anos mais novos do que ela.    
- Você viu que a PEC foi aprovada?  - perguntei qualquer coisa pra tentar escapar dos casos sexuais da minha mãe. - Agora, a universidade federal acaba, com certeza... - bufei, ainda indignada.
- Não sei onde esse Brasil vai parar com esse golpista no poder! - ela reclamou enquanto colocava leite numa xícara - Mas fiquei sabendo que hoje terá uma assembleia estudantil sobre a atual conjuntura política. Estão falando em ocupar a reitoria... - ela comentou, sabendo que eu me interessaria.
- Jura? - perguntei até um pouco mais feliz.
Minha mãe me conhecia muito bem e sabia o quanto eu gostava de protestos, manifestações e revoltas. Como boa aquariana, sempre gostei de ir contra o sistema, questionar e principalmente, lutar com unhas e dentes pelos meus direitos.
Ela sorriu e disse:
- Sim, vai ser às 16hs em frente à reitoria! Eu acho que você deve ir... - ela piscou.
- Claro! Eu vou com certeza! - respondi, de prontidão. - Se eles ocuparem hoje inclusive, nem vou voltar pra casa! - falei e ela sorriu.
- Então vai, minha revolucionária! Voe bem alto e reconquiste seus direitos! Mas não se esqueça de vir pra casa de vez em quando, senão vou ficar com muitas saudades... - mamãe beijou minha bochecha carinhosamente.
Engoli o restante do meu café da manhã e fui correndo para o departamento de artes e design da minha faculdade, onde tinha aula às 8hs. Eu faço design gráfico e já estou no segundo período. Sou apaixonada pelo curso!

Entrei correndo na sala e cumprimentei Clara e Davi, meus dois melhores amigos.
- Viu que a PEC foi aprovada? - Davi sussurrou em meu ouvido, com cuidado para que a professora não chamasse a atenção dele.
- Vi sim... - falei triste - Mas fiquei bem feliz porque hoje vai ter uma assembleia estudantil e eles querem ocupar a reitoria!
- Ai, sério? - os olhos de Clara se tornaram duas jabuticabas brilhantes - Que maneiro, já quero ir!
- Ai, também quero!! - Davi sorriu - Vai ser puro lacre a gente ocupando a reitoria, né?!
- Sim, vai mesmo! - vibrei.

Mais tarde, fomos os três para a frente da reitoria. Um mar de estudantes já rodeavam o local e dentre todas aquelas cabeças, não pude deixar de notar um garoto sorridente, que tinha cabelos castanhos desgrenhados, curiosos olhos da mesma cor e sorria com covinhas. Os lábios eram finos como uma linha, mas tão bem desenhados que davam a impressão de serem pinturas no rosto do menino. Ao ver aquela obra prima da natureza, minha primeira reação foi piscar algumas vezes pra conferir se aquele homem não seria apenas fruto da minha imaginação. Após perceber que não, a segunda reação foi colocar a mão sobre o peito para sentir as batidas do meu coração. E a sensação era como se eu tivesse uma escola de samba inteira dentro do peito. Meu coração saltava e se rebatia dentro de mim, como se em algum momento ele fosse sair pela minha boca! Voltando de meus pensamentos, percebi que meus amigos falavam comigo:
- Alice, você ouviu o que eu acabei de perguntar? -   Davi balançou uma das mãos em frente aos meus olhos e eu despertei de meus devaneios.
- Ahn... Na verdade, não... Você pode perguntar de novo? - olhei para os grandes olhos verdes, que apenas zombavam da minha distração.
- Tava olhando quem, hein?! - ele ergueu uma das sobrancelhas, curioso.
- P-Pra ninguém! - tratei logo de disfarçar o estado catatônico que aquele jovem príncipe induzira em mim.
- Aham, sei... - Clara disse, desconfiada. - Enfim, a pergunta não era essa. A pergunta era "se forem ocupar a reitoria hoje, você vai ficar de uma vez? - ela repetiu a pergunta feita por meu amigo a alguns minutos.
- Vou! Só precisaria ir em casa buscar algumas coisas, mas vou ficar com certeza!  - sorri e olhei mais uma vez para o menino do sorriso lindo.

Ele acendia um cigarro fino, e aquela imagem ficou gravada em minha cabeça. O garoto dos cabelos desgrenhados fumando um cigarro e fazendo um biquinho pra assoprar a fumaça. Pra mim, parecia mais uma obra de arte. Aquela fumaça subindo, os olhos curiosos observavam um dos amigos falando algo com muita convicção, a boca sugando o calor do cigarro que lentamente era reduzido a um amontoado de cinzas, o sorriso indicava que o corpo ficava cada vez mais leve sob os efeitos de o que quer que fosse que ele fumava.

O microfone de repente zumbiu agudo, o que me despertou daquele frenesi hipnótico e me virei para frente, com o coração batendo feroz no peito.
Eu queria aquele menino. Eu queria descobrir quem ele era, o que fazia da vida, quais eram suas opiniões, queria lê-lo como um livro, devorando cada informação que saísse de sua boca. Eu... Eu queria amá-lo!


Notas Finais


Espero que gostem!


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