História Corações da Noite - Duas da Mesma Face

Elínia terminou de mastigar o pão doce que comia, andando devagar pode supor que já passava das cinco, hoje teve que ficar mais tempo por razão de uma reunião, atravessou a avenida sem dificuldade, enquanto cantava uma bela musica em sua cabeça, ela seguiu o caminho para sua Universidade.

            -Olá Nia, estávamos te esperando. - Cumprimentou Amanda quando iria passar pelos portões.

            -Ah! - Sorriu feliz que ela havia lhe esperado. -Olá, onde está Vivian?

            -Ela teve que correr para copiar uma tarefa que ela “esqueceu” de fazer. - Elas riram sabendo que Vivian nunca fazia tarefa alguma.

            -Um dia desses ainda vou cobrar as tarefas que ela copia de mim. - Disse a voz de Paloma.

            Elínia gostava que Vivian estivesse perto quando estava em grupo mais que três, isto fazia ela estar mais atenciosa aos detalhes porque sua amiga sempre lhe detalhava com mais humor os acontecimentos e as expressões, sempre comentando com acidez algo que lhe provocava risos.

            -Olá meninas. - Cumprimentou uma voz masculina que lhe despertou uma lembrança longínqua.

            -Olha quem finalmente apareceu? - Amanda parecia conhece-lo. -Como vai, Thomaz?

            Não pode evitar de franzir o cenho com exagero. Definitivamente não era Thomaz, seu tom, sua voz, de nada parecia com o Thomaz, nem o tipo de tratamento, não que ele nunca dissesse: “Olá meninas”, mas o tom parecia mais uma provocação que um cumprimento.

            -Não sumi tanto tempo assim. - Ele riu.

            Não! Com toda certeza não era o seu Thomaz. A risada fora rouca, como se pouco a usasse, e de alguma forma isso lhe provocou um arrepio de medo, como se sua mente estivesse guardado o som com algum tipo de sensação ruim.

            Sobressaltou quando sentiu uma grande mão fechar-se em seu pulso, virou para a pessoa que a seguro, era devidamente um homem, tinha cheiro...  colônia, de cheiro marcante, não era o que o Thomaz usava, seu querido usava um perfume amadeirado, gostoso de ficar aspirando e o dele era um almíscar de vinho e algo mais... sexy.

            -Olá Elína. - Disse ele um pouco mais baixo beijando sua face perto do maxilar.

            Ela ofegou, não o conhecia para dar tal intimidade! E desde quando ele errava seu nome?

            -Huuuummm... - Disse todas as meninas em tom humoradamente provocador.

            Instintivamente empurrou sua mão contra o peito dele para que se afastasse, ele era musculoso, forte tão quanto Thomaz, mas havia algo diferente, a respiração era mais pesada, os gestos mais duros.

            -Não é bem assim, Thomaz. - Riu Amanda. -Ela é uma moça de família.

            Qual é o problema com elas? Em que momento elas confundiram esse homem ao Thomaz? Era impossível confundir, não se confunde água e óleo.

            -Eu sei. - Ele ronronou bem perto de seu ouvido, confirmando que não era Thomaz nunca! Thomaz jamais seria tão indelicado, tão ofensivo, seu Thomaz era delicado, respeitador.

            -Que brincadeira é essa? Ele não é o Thomaz.

            O sinal bateu alto no instante em que disse a última parte, duvidava que elas tivessem ouvido algo, logo que conversavam exaltadamente sobre o trabalho que teriam que apresentar. O movimento ao seu redor se tornou maior, antes que pudesse evitar já estava sendo arrastada para algum caminho que não pode se localizar, segurando seus antebraços por trás com uma força extrema, abriu a boca para reclamar.

            -Schiiii... - O homem chiou perto do seu ouvido, movimentando seu corpo com brusquidão.

            Fez uma careta de surpresa quando seu corpo fora jogado contra a parede próxima.

            -Fique quietinha e não sofrerá nenhum dano.

            -Dano? - Estremeceu.

            Ele espalmou seu rosto agarrando com violência seus cabelos.

            -Para todos os efeitos eu sou Thomaz e você não vai dizer nada a ninguém. 

            -O que fez com o Thomaz? - Perguntou corajosa, preocupada.

            Pode escutar uma leve risada.

            -Isso não é da sua conta. - Sentiu o polegar dele deslizar de seu maxilar ao pescoço de maneira perigosa. -E se você não quiser que suas amiguinhas tenham o mesmo final, acho bom não fazer nada que possa me irritar. - A voz dele tornou-se gutural. -Entendeu bem?

            Ela confirmou com a cabeça, estremeceu quando sentiu-o perto de seu rosto.

            -Com medo?

            Congelou quando a voz soou exatamente da mesma maneira que o invasor disse quando a encurralou na parede.

            -Hei vocês! - Pode escutar a voz da coordenadora da Universidade. -Já para sala!

            Elínia se soltou com facilidade das mãos violentas dele, caminhou debilmente em direção a voz da mulher e seguiu para o corredor onde as vozes ainda podiam ser escutadas.