História Corações de areia - Implicações

De madrugada – em torno das 4 horas – Naruto, junto de Sakura e os demais, abandonaram a pousada e seguiram caminho para Konoha. Na noite anterior, após ter explicado à Sakura que seria – ou já era -, inevitavelmente, a primeira dama de Suna, deixou-a sozinha no quarto, lhe dando espaço para digerir a notícia. As reações ao longo da conversa foram as mais confusas possíveis, e saiu sem perceber se ela estava alegre ou triste com aquilo. 

O mais certo é estar confusa, pensava, enquanto pulavam de árvore em árvore, num ritmo que lhes garantia chegada em Konoha em menos de duas horas. A única semelhança entre a Sakura que saiu de Suna até a pousada e essa que seguia para Konoha, era o silêncio; fora isso, toda a tristeza foi substituida por uma expressão neutra que dificultaria à qualquer um adivinhar seus pensamentos.

Chegaram em Konoha no primeiro minuto da hora 6. Para além dos ninjas que guardavam o portão, havia só uma pessoa à sua espera: Midori, a secretária de Naruto; de estatura mediana, trazia consigo um maço de papeis, colado ao peito. Ajeitou as lentes de armação vermelha e, com seu melhor sorriso entre os lábios, aproximou-se para cumprimentá-los. 

- Sejam bem-vindos. – disse, alegre. 

Todos, de maneira sincrona, assentiram em resposta. 

- Vejo que não te esqueceste dos papeis! – constatou Naruto, com uma alegria fingida. 

- Tentei manter tudo em ordem na sua ausência, Okage-sama, mas, há coisas que só tu mesmo podes fazer. – explicou. – como acabou de chegar, decidi poupá-lo hoje. Selecionei apenas os assuntos mais urgentes. 

- E quais são esses assuntos urgentes? 

Midori leu as primeiras folhas e só depois lhe respondeu:

- Uma reunião com o conselho dentro de hora e meia e um encontro com seu sogro, marcado para duas horas depois da reunião.  

Naruto sentiu o sangue gelar. 

- O Hiashi quer falar comigo? – perguntou, visivelmente preocupado. 

Midori assentiu, com um meio-sorriso de diversão entre os lábios. Não poucas vezes lembrou ao loiro seu compromisso com Hinata, mas Naruto vivia priorizando outras coisas, em detrimento de seu casamento. Agora, tinha que lidar com as consequências. 

- Ele veio pessoalmente ou mandou alguém me chamar? – quis saber. 

- Veio pessoalmente.

- E como ele estava? 

- O mesmo de sempre: calmo e assertivo. – respondeu a moça. 

Naruto engoliu em seco. Era o Okage, mas, ainda assim, não sabia lidar com todas entidades tradicionais da vila. Hiashi era uma delas; diria, sem medo de errar, que nunca conheceu alguém que tomasse de ânimo leve um chamado dele. 

Sentiu uma mão tocar seu ombro. 

- Vai ficar tudo bem. – disse Sakura, num tom singelo. 

Naruto respirou fundo e assentiu, voltando a sorrir. Sakura esboçou um sorriso curto e depois voltou-se para a moça. 

- Os conselheiros solicitaram minha presença na reunião? 

A moça fez que não. 

- Só o Okage. – disse. 

Sakura assentiu e, então, voltou a encarar Naruto. 

- Acho que vou para casa.

Naruto a abraçou. 

- Vê se descansa. – sussurrou em seu ouvido. 

- Você também. – retribuiu o conselho. – e não esquece de me contar o que disserem na reunião. – pediu. Naruto assentiu, soltando-a em seguida.  

Uma vez liberada do abraço, tratou de se despedir de todos os outros e deu costas, caminhando em direção à casa. Por sorte, devido à hora, haviam poucas pessoas na rua. Cumprimentou todas à distância, e desapareceu na esquina. 

- Vamos, Okage-sama? – perguntou Midori. 

- Vamos, sim. – assentiu Naruto. 

Dispensou seus guardas, dando-lhes ordens para que tratassem de providenciar o necessário para a viagem dos ninjas da areia, e seguiu caminho em direção ao edificio administrativo, seguido de perto por Midori, que tratou de deixá-lo atualizado acerca de tudo. 

***

Agora em seu quarto, Sakura decidiu tomar um banho, a ver se conseguia relaxar. Preferiu a banheira, em vez do chuveiro. Colocou os adereços necessários para criar o clima ideal, não se importando com o facto de serem ainda 6 horas. Nua e imersa na espuma que inundava a banheira, a cabeça recostada e os olhos fechados, pôs-se a pensar: 

Primeira-dama de Suna?

É demais para mim, 

mas... 

por outro lado... 

eu... 

Subitamente, todos os seus pensamentos desapareceram, como quê sugados para um vácuo. Sua mente ficou lisa, em branco, e o ambiente absorveu-a. A cabeça pendeu para o lado e o sono, negligenciado nos últimos tempos, lhe caiu em peso, dando-lhe um merecido descanso dos últimos acontecimentos.

Sonhou com Gaara! 

(...)

Batidas na porta foram o chamariz de Sakura para a realidade. Despertou de um sono profundo. Estava em sua cama agora. Era um novo dia. No dia anterior, após aquele cochilo na banheira –em que sonhou com Gaara e do qual só despertou uma hora depois -, não voltou a sair de casa. Era cedo ainda, mas escolheu ficar trancada em seu apartamento, pensando somente. 

Desceu da cama, e, após se espreguiçar, saiu do quarto para atender a porta. Tratou de espreitar no olho mágico e ver quem era. Seu humor descarrilou ao ver que se tratava de um ninja da ANBU. Sentiu-se apreensiva quanto a abrir a porta; sabia, porém, que devia fazê-lo, se não quisesse que ele entrasse por outros meios. 

Qual será o assunto dessa vez?

[...]

- Mandaste chamar? – quis saber. 

Naruto assentiu. 

- Tenho notícias. – disse, sério. 

Sakura tomou ar, e, sem esperar que Naruto lhe indicasse a cadeira, tomou o assento e aguardou. O olhar de Naruto denunciava sua preocupação; pessoalmente, pensava Sakura, nada mais poderia abalá-la, estava melhor preparada. Dada a montanha-russa de emoções que enfrentou nos últimos dias, sentia-se capaz de lidar com tudo. O que quer que Naruto dissesse, de certeza que não seria algo que não tivesse previsto e para o qual não estava pronta. 

- Pediste-me que te contasse o que fosse dito na reunião. 

Sakura assentiu, permitindo-lhe continuar:

- O conselho aprovou seu casamento com Gaara. – disse Naruto, num tom neutro, sem demonstrar nem tristeza e nem alegria. 

- Já esperava por isso; aposto que eles acham vantajoso uma kunoichi de Konoha se casar com um Kage. – disse, um sorriso amargo entre os lábios. 

- Sim, mas não ficaram por ali. Acrescentaram mais coisas, coisas que tu deves fazer. 

- Que eu devo fazer? 

- Uma decisão dessa magnitude traz sérias implicações, Sakura: a primeira é que já não poderás trabalhar no hospital; isso, até certo ponto, era previsivel, dado o facto do Gaara ser o Kazekage de Suna. 

- O facto de ser previsivel não torna a notícia menos dolorosa.

- Eu sei que não, mas, se tudo correr bem, poderás retomar a atividade médica quando estiveres em Suna. És das melhores médicas que existe, não creio que seu talento será desperdiçado. 

Sakura limitou-se a assentir. 

- E que mais eles disseram? 

- Essa é a parte que me pegou de surpresa: tens que te mudar para o Distrito Hyuuga. 

Sakura pareceu espantada; igual quando conversaram na pousada, Naruto assentiu, reforçando sua afirmação. 

- Acredites ou não, uma kunoichi que vá se casar com um Kage, tem de se submeter à uma formação especial de como ser “a esposa ideal de um Kage”. – disse Naruto, fazendo aspas imaginárias; seu semblante sério desapareceu, substituido por uma expressão de diversão. 

Sakura, entretanto, parecia assombrada. 

- Isso é sério? – quis saber. 

Naruto assentiu, ainda sorrindo. 

- Também só soube ontem. Cá em Konoha, a noiva é “educada” no Distrito Hyuuga. A Hinata já está na etapa final. 

- A Hinata?! – perguntou Sakura, entrando no clima de diversão do loiro. 

- Sim, ela não vai se casar comigo? Então, eu sou um Kage, ela tem que ser “educada” para ser minha esposa. 

Ambos sorriram, o riso passando a gargalhos. Divertidos, sentiram o ar na sala ficar mais leve. Quem os visse, sem saber a razão da euforia, acharia que eram loucos. 

Com muito esforço, passado algo tempo, recuperaram a compostura. 

- Ontem. – começou Naruto. – pouco depois de ter saido da reunião com o conselho, tive outra reunião no Distrito Hyuuga, com o Hiashi e os demais anciões. Como a Hinata já está na fase final do “curso”, pediram uma data especifica para o casamento. – explicou. 

- E quando será?

- Marcámos para a próxima semana. Não viste os enfeites nas ruas? 

- Vi, sim. Só não imaginei que fosse por causa do seu casamento. 

- Os Hyuugas assumiram os preparativos para a festa, estão tratando de tudo. Alguns convites já foram enviados. 

- Eu ainda não recebi o meu. – disse Sakura. 

Naruto voltou a ficar sério. 

- O que foi? – perguntou Sakura, curiosa com a transformação repentina que se deu no loiro. 

- Seu convite foi enviado para Suna, Sakura. – disse, agora parecendo triste. 

Sakura levantou bruscamente, afastando a cadeira atrás de si. 

- Como assim? - quis saber, seu tom exigindo uma resposta imediata. 

Sem ver necessidade para enrolar, Naruto contou: 

- Seu convite foi acoplado ao do Gaara. – disse, vendo a incredulidade rondar o rosto de Sakura. – são noivos agora, e como tal, devem participar juntos da festa... como casal. 

- Isso quer dizer... 

- Quer dizer que, para a semana, o Gaara estará em Konoha e vocês farão vossa primeira aparição pública. Além disso, acertarão a data do vosso casamento junto do conselho; tanto o conselho de Suna quanto o de Konoha querem que a cerimônia se realize o mais breve possível. 

- O mais breve, quando?  - perguntou, sobressaltada. 

- O próximo mês não vai terminar sem que tu e o Gaara passem de noivos à marido e mulher, obrigatoriamente!