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História Corações divididos - Sakura e Itachi (Itasaku) - Renegado


Escrita por: Karimy

Notas do Autor


Oi pessoas!!! Tudo certo???


Gente, sei que o capítulo ficou grande, mas fiz de todo meu coração e espero que vocês não desistam de ler por conta do tamanho do mesmo.
Muito obrigada a todos pelo apoio de sempre e pelo carinho. Sempre fico muito feliz ao ler os comentários que vocês me enviam. Meus dias são mais fáceis graças a pequenas gentilezas como essas.
Espero que gostem.
Bjs

Capítulo 26 - Renegado


 

Parte I

Ser acusado falsamente era algo comum no mundo ninja.

Era quase impossível saber se alguém estava falando a verdade nesses casos, principalmente sem provas. Existiam muitas pessoas que já não estavam vivas para contar sua versão da história, porém que versão seria mais perfeita do que a que te dá uma justificativa sem fins para culpar alguém?

A minha grande diferença era ter escolhido esse destino; ser apontado eternamente como um renegado. Fiz isso em amor à minha Aldeia, em amor ao meu irmão mais novo. Assassinato a sangue frio, incidente de Konoha, massacre do clã Uchiha... chame como quiser, nomes não são capazes de descrever a dor que senti no momento em que matei minha família, sangue do meu sangue.

A cada golpe que dava, destruía uma parte do meu coração, sendo cada vez mais arrastado para a escuridão. Olhar nos olhos de cada uma das pessoas do meu clã, antes de desferir-lhes o derradeiro ataque, fazia com que eu sentisse uma dor imensurável no peito. Mas às vezes o dever de uma pessoa honrada é este: viver no escuro, guardando dentro de si um segredo inaudito e improvável.

 Apesar de tudo me mantive firme; afinal, eu sempre soube o real significado de servir, e isso implica em muito mais coisas do que se possa imaginar. Uma pessoa que decidia se tornar um ninja, um protetor, devia ter em mente que às vezes uma pessoa tem vontade de ferir a si mesma, ou que às vezes o seu protegido não é uma pessoa boa, e esse tipo de coisa não dava para ser resolvida das maneiras tradicionais.

 O meu clã sempre teve uma visão distorcida da paz, acreditando que estar dentre os maiores guerreiros era motivo de honra. Mas estar dentre os melhores nesse mundo também significava carregar um maior número de mortes nas costas. Eles se esqueceram disso e de algo ainda mais importante: quando se tira a vida de alguém, você também acaba perdendo um pedaço da sua humanidade.

 Uma pessoa que não tem amor pelo próximo é capaz de qualquer coisa e, quando se chega a esse limite sem ter quem possa evitá-lo, a situação pode ficar ainda pior. Eu estava no meio de uma briga sem sentido, onde cada um dos lados não via nada além de seu próprio nariz. Mas eu sabia que, se eles se enfrentassem, esse poderia ser o estopim para uma guerra muito maior.

 Eu acreditava na justiça e na paz acima de tudo, porém nem todas as pessoas faziam o mesmo. Meu clã foi removido para viver nos limites da aldeia após o ataque da Kyuubi. Cinquenta por cento dos que carregavam o sobrenome Uchiha se sentiram injustiçados com aquilo, dizendo estar sendo excluídos da Aldeia. A outra metade acreditava que o Hokage tinha um bom motivo para ter feito aquilo, já que, como um dos clãs mais poderosos, tínhamos maior capacidade de proteger Konoha de ataques futuros e nossa localização nos dava uma visão privilegiada de todo o lugar. Mas o tempo foi passando, e muitas pessoas fora do clã começaram a zombar do meu povo.

 A força policial, que na época era estritamente comandada pelos Uchiha, começou a agir de forma incorreta, descontando nos pequenos criminosos suas frustrações. Mas as coisas já estavam começando a passar dos limites; muitos de nós eram contra o tratamento despudorado que os policiais estavam começando a dar aos outros cidadãos da Aldeia da Folha.

 A briga começou a se tornar um problema interno, causando discussões familiares e coisas do tipo. Vendo como tudo estava bagunçado em nosso distrito, o conselho de Konoha decidiu que precisávamos ser vigiados. Depois de um tempo na Anbu, fui recrutado pelos anciãos do meu clã para vigiar a Aldeia, mas eu sabia que isso era algo errado.

 Não demorou muito para que eu descobrisse sobre a vigilância que era mantida sobre os Uchiha e logo comecei a trabalhar como guarda, observando cada passo deles. Isso me trouxe uma visão mais ampliada de tudo e consegui enxergar a maldade que tinham no coração. Visando o bem maior, cooperei com Konoha, a fim de impedir um confronto sem fim.

 Tudo isso deixou cicatrizes incuráveis em meu peito, cicatrizes que pouquíssimas pessoas sabiam existir. Desiludido com meu destino, decidi que, já que meu irmão jamais poderia saber sobre o que fiz, então deveria morrer. E não existia ninguém no mundo melhor para tirar minha alma miserável desse sofrimento a não ser ele mesmo.

Tudo na vida tem um preço e o valor a ser pago por ter instigado meu irmão a uma vingança estava sendo alto demais. Ele ficou tão obcecado com isso, que se distanciou da Aldeia para treinar com um dos maiores criminosos do mundo ninja. Me sentia o culpado disso e tinha medo que essa revolta que implantei no coração dele crescesse de tal forma, que ele já não fosse mais capaz de distinguir o bem do mal. Assim como aconteceu com nosso clã há tempos.

O pior de tudo era não poder ter mais notícias dele, pois quando ele estava na Aldeia ainda conseguia vê-lo. Tinha que tomar cuidado para não ser visto em busca dele, e Orochimaru tinha uma vigilância à altura de sua reputação e inteligência, jamais o subestimei e nem poderia.

Comecei a procurar maneiras de conseguir informações sobre meu irmão, mas era muito difícil, ninguém estava disposto a trair a confiança de um Sannin. Comecei a perder meu sono por conta disso, e apesar de estar vivendo há muito tempo com os membros da Akatsuki, não me deixei ser corrompido. Porém isso não significava que eu não tenha criado laços com eles.

Mesmo sem saber sobre a situação que me assolava, Kisame permanecia ao meu lado. Um amigo fiel e admirável, que sempre fez questão de estar comigo em todos os momentos. Ele dizia não entender por que eu tinha dó das pessoas, falava isso pois eu sempre tinha uma desculpa para que ele não precisasse matar um ou outro, mas apesar de tudo ele me ouvia e me respeitava sempre.

Uma noite, já não aguentava mais a dor de meu peito, fui treinar do lado de fora da instalação em que estávamos. Senti a aproximação dele e fiquei envergonhado, pensando que deveria ter acordado todos com o barulho de meus golpes. Mas eu não precisei explicar nada, ele sacou de seu coldre uma kunai e começou a treinar comigo.

Depois de um tempo, a privação do sono começou a afetar minhas missões, e compreensível, meu companheiro me levou para um bar, alegando que precisávamos relaxar um pouco. Eu não era acostumado a beber, mas talvez essa não fosse uma má ideia, minha situação já estava difícil e não tinha mais nada o que fazer.

Nesse mesmo dia acabei exagerando nas bebidas e fiquei com uma das mulheres que estavam no estabelecimento. Quando acordei na manhã seguinte fiquei extremamente preocupado, fui imprudente demais, e sequer me preocupei em usar camisinha com ela. Não podia acreditar que tinha feito algo tão estúpido, e envergonhado, não falei sobre isso para ninguém.

 A mulher foi num médico, e ele constatou que ela estava bem e que não estava grávida, para meu grande alívio. Eu não tinha condições de colocar uma criança no mundo, não saberia explicar para um filho meu que era um renegado. Alguns dias se passaram, e voltei ao mesmo bar depois de chegar de uma missão.

 Fiquei com a mesma mulher, sem proteção nenhuma de novo. Nunca havia sido tão descuidado, mas não estava pensando claramente, por conta dos problemas e das bebidas. Outra vez fiquei desesperado, e ao ir ao médico, a mulher constatou que não estava grávida, outra vez. Um pouco intrigado com a situação, resolvi aproveitar que estava em um vilarejo pequeno, numa missão, e fui até um hospital.

 Estava com algumas escoriações pequenas por conta de um treinamento do dia anterior. A enfermeira cuidou de mim, e eu aproveitei para tirar minha dúvida, mentindo. Disse que era casado, e que não estava conseguindo ter filhos. Prontamente a mulher me encaminhou até um médico, e ao terminar de me examinar, ele constatou que eu era estéril. E apesar de nunca ter tido a pretensão de ter filhos, aquilo me abalou um pouco. Talvez essa fosse uma das punições que eu tivesse que encarar por ter tirado a vida de crianças inocentes, sangue do meu sangue. Por mais que eu tenha tentado apagar tudo aquilo da minha mente, foi quase impossível, e ainda tinha pesadelos aterradores nos quais me via assassinando novamente os bebês inocentes do meu clã.

Mulheres grávidas tiveram sua felicidade arrancada por minhas mãos, pais foram obrigados a ver seus filhos sendo mortos por mim. Mães sabiam que jamais poderiam ver a face de seus bebês, pois eu estava com minha mão encravada no ventre delas, tirando seu último fôlego de vida. Dentre todos, o único sobrevivente foi o Sasuke, mas se for pensar em tudo claramente, o que fiz foi um tremendo egoísmo.

Jamais poderia ter escolhido meu irmão dentre todas aquelas crianças para sobreviver. Ele sempre foi especial para mim, mas aqueles inocentes também eram especiais para seus irmãos mais velhos, pais e avós. Se fosse outro em meu lugar a cumprir aquela missão, talvez o Sasuke também estivesse morto hoje, e talvez não fosse eu aqui a lamentar sobre minha vida cruel e amarga.

Diante de tudo isso, me entreguei cada vez mais à bebedeira e junto disso era quase que inevitável não me entregar a várias mulheres, tentando afogar minhas mágoas e receios. Numa dessas noites conheci Kin, ela se ofereceu descaradamente para mim, mas não senti nenhum interesse nela. Sempre gostei de mulheres tímidas, e isso ela não era nenhum pouco.

Mas ela foi para mim assim como uma doença de pele, que se alastra pelo corpo tomando conta de tudo, infeccionando feridas e abrindo outras. Semanas depois de termos nos conhecido, comentei, embriagado, sobre o Sasuke, foi uma coisa boba que nem me lembrava mais. Porém isso foi o suficiente para que ela entendesse que eu me preocupava com ele.

 Antes da noite terminar ela me disse que sabia onde ele estava e que poderia me dar mais informações caso eu aceitasse ficar com ela. Quase tive um ataque de riso, achando sua atitude estranha: jamais imaginaria que alguém pudesse se rebaixar a tão pouco. Mas ela estava falando sério, e ao perceber isso, aceitei o acordo.

Poderia ter entrado na mente dela com um genjutsu para arrancar as informações de que precisava, mas estaria correndo o risco de afetar sua memória e perder a chance de ter notícias sobre meu irmão. Apesar de termos selado o acordo de ficarmos juntos, sempre acabava saindo com outras mulheres. Ela ficava enlouquecida no outro dia e sempre me ameaçava, dizendo que não me contaria mais nada sobre o Sasuke.

 Tinha medo de que ela cumprisse suas palavras, mas ela sempre acabava esquecendo, até que eu bebesse demais de novo e dormisse com outra mulher. Nunca quis me prender a ninguém e esses atos eram tão simplistas que quase não os percebia. A verdade é que não sabia o porquê de ela ter aguentado ser humilhada por mim durante tanto tempo.

Uma vez, conversando com Kisame e Asami, a namorada dele me disse que acreditava que ela fazia isso por prestígio. Ser a namorada de um membro importante da Akatsuki era algo grandioso na mente de muitas garotas ingênuas. E acabei por acreditar nisso, já que ficava com tantas mulheres bonitas, que não poderia acreditar que elas me queriam só pelo meu charme.

Depois de quase um ano namorando com ela, a mulher me contou que Sasuke estava extremamente desenvolvido e que pretendia me procurar em breve. Minha cabeça girou ao ouvir aquilo dela, mas não me surpreendi, esperei muito para que esse dia chegasse, e aceitaria o destino que eu mesmo escolhi de braços abertos.

Após muito pensar, resolvi que era hora de colocar outra pessoa em meu lugar na organização. Não poderia partir sem garantir que Konoha estivesse a salvo das investidas da Akatsuki. Conversei com Kisame, através de meias verdades; disse para ele que precisávamos de mais alguém no grupo, pois, como estávamos divididos, uma parte em uma localidade e a outra mais distante, tínhamos que ter mais pessoas habilidosas por perto para manter nossa força.

 Por sorte, meu argumento foi o suficiente para que ele e os outros membros do nosso grupo aceitassem o que eu havia dito. Fiquei encarregado de recrutar um novo membro e, como o meu intuito era de conceber informações à Aldeia da Folha, teria que fazer minha busca por lá. Estava um pouco receoso de ter que voltar lá depois de ter ficado tanto tempo longe, mas ainda assim seria um alívio ver novamente o lugar que eu sempre amei.

 Parti depois de alguns dias, me sentindo ansioso para estar logo em meu destino. E para minha surpresa, a Aldeia parecia estar da mesma forma de quando a vi pela última vez, há pouco mais de dois anos. Mas agora me sentia estranho por não estar ali para observar meu irmão de longe, e sim para procurar por uma outra pessoa, e sequer sabia por onde começar.

 Resolvi que talvez pudesse encontrar uma pessoa íntegra no meio dos ninjas mais experientes, mas eles não me convenceram. A vontade de fogo que eles tinham parecia ter se dissipado com o tempo e os únicos que ainda tinham a chama acesa eram ninjas mais famosos, que teriam que enfrentar constantemente a desconfiança dos membros da Akatsuki.

 Comecei a olhar dentre os professores, pensando que talvez alguém que ensinasse a arte da proteção fosse capaz de me fazer sentir algum apreço, mas assim como da última vez, isso não foi o que aconteceu. A maioria era não combatente, tornando impossível que se infiltrassem com êxito na organização.

 O tempo estava passando rápido, e quando pensava ter encontrado a pessoa ideal para minha necessidade, descobria uma falha que poderia abalar o trabalho. Viver dois meses dentro de Konoha sem ser percebido estava começando a se tornar complicado demais. Eu sabia que a barreira de proteção não me detectava, pois eu era livre para entrar, mas tinha que viver escondido, com medo de ser visto por alguém.

O aniversário de Sasuke se aproximava e eu já estava ficando chateado por ver que a Aldeia que sempre amei de todo coração estava carente de ninjas entregues ao seu trabalho. Fiquei durante uma semana vigiando um garoto chamado Neji, ele me pareceu responsável em todos os momentos, porém, no último dia, acabei por desistir ao ver quão impulsivo e emotivo ele era quando o assunto estava relacionado ao seu clã.

 Enquanto ia frustrado de volta para a cabana em que estava escondido, passei pela parte traseira do hospital de Konoha para não ser visto por ninguém. Já era tarde da noite e eu estava morrendo de fome, porém, ao olhar de relance para uma janela, acabei por ver uma equipe médica reunida em volta de uma mesa cirúrgica e resolvi me deter para observar.

 A cena me deixou um pouco intrigado, queria ver se reconhecia quem estava a ser operado. Parei, me esgueirando em cima de um poste, me esforçando um pouco para entender o que estava acontecendo. A médica que estava no comando tinha os cabelos rosas, e isso fez com que eu me lembrasse logo dela.

 Era certo para mim que aquela moça ali presente tinha sido a companheira de time de Sasuke durante o período em que ele ainda estava na Aldeia. Isso me deixou ainda mais curioso e permaneci atento a cada movimento feito na sala. O homem que estava deitado na maca não era nenhum conhecido, parecia ser bem novo de idade e estava com um grave ferimento no peito.

 Não era médico, nem tinha experiência no ramo, mas era claro para mim que aquele pobre homem estava condenado à morte. Os enfermeiros estavam atordoados, fazendo tudo o que a moça mandava com pressa. Ela estava suando, e uma outra moça de cabelos loiros a ajudou, passando um lenço em sua testa.

 Seus movimentos eram graciosos e prudentes, seus olhos e mãos trabalhavam em conjunto, orquestrando movimentos árduos e incansáveis. Mesmo estando do lado de fora da situação, já me sentia nervoso, estava observando aquilo tudo há quase duas horas e nada parecia estar bem. De repente a garota de cabelos rosas arrancou a máscara do rosto com aspereza, e todos pararam à sua volta.

 Uma mulher de cabelos pretos entrou na sala no exato momento e se aproximou da garota, falando algo em seu ouvido em seguida. — Nada disso! — ela gritou em resposta, me assustando um pouco, e quase caí de onde estava. Ela colocou sua máscara de volta, tampando sua boca, e todos ao redor se entreolharam. Ela começou a fazer uma massagem cardíaca no paciente, e eu não entendia o porquê de tanta insistência da parte dela.

 Ela ergueu a cabeça, e eu ergui a minha também em reflexo a ela; aquela Kunoichi estava me deixando envolvido com tudo aquilo de tal forma que me sentia ao seu lado, não tão longe quanto estava na verdade. A garota loira correu para pegar algo a pedido dela, era um bisturi, entregando o objeto nas mãos da médica, que já estava suando outra vez.

 Ela passou delicadamente a ponta do instrumento na região mais alta da barriga do homem, perfurando seu pulmão. Falou alguma outra coisa em seguida, e a mulher de cabelos pretos que entrou depois na sala a entregou algo que parecia um canudo. A mulher de cabelos rosas enfiou o cano no buraco que tinha acabado de fazer, e instantes depois sangue começou a jorrar pelo canudo.

 Fiquei sem entender nada, vendo a garota dar um pequeno pulinho de alegria, abraçando em seguida a loira que estava ao seu lado. Confesso que até eu fiquei feliz em ver como ela conseguiu ser bem-sucedida em uma situação que já aparentava estar perdida. Depois da breve comemoração, ela se recompôs e começou a fazer procedimentos simples no paciente, coisas que qualquer enfermeira poderia ter feito, porém ela se prontificou em fazer por ela mesma.

Por fim, acabei por perceber que estava com um sorriso bobo no rosto e tinha até esquecido minha fome e desapontamentos, percebendo que talvez essa fosse a pessoa que eu estava procurando durante esses dois meses. Talvez ela fosse capaz de ficar no meu lugar, servindo Konoha como uma ninja médica. E se estivesse certo quanto a isso, a probabilidade de ficar bem de novo seria grande. Ela era uma garota jovem, bonita e parecia ser muito determinada, esperava não estar errado mais uma vez.

Fiquei esperando ela sair do hospital para ver onde morava, mas a garota não saiu do quarto. Se sentou numa cadeira, com um grosso livro nas mãos. Me esforcei o máximo que podia e constatei que se tratava de um livro didático de medicina avançada que falava sobre articulações. Algo me dizia que eu estava errado, e que ela só lutou tanto pela vida daquele homem porque, talvez, ele fosse algum parente ou conhecido dela.

 Fiz uma transformação, me disfarçando em um velhinho, e fui até o hospital. Tinha que tomar cuidado com o que falaria, pois sabia que não poderia dar nenhum passo em falso. Mas para minha alegria, consegui passar pela recepção sem ser notado ou impedido. Entrei no corredor onde ficavam os escritórios dos médicos: não seria fácil encontrar qual era o dela, mas precisava tentar.

 Entrei em cada um deles e quando cheguei no último encontrei o que estava procurando. Havia uma foto da garota com Naruto, Kakashi e Sasuke em cima da mesa. Tinham alguns papéis muito bem-organizados ao lado da foto, remexi neles um pouco, tentando desviar meu olhar do rosto de meu irmão congelado naquele porta retrato.

 — Sakura Haruno — sussurrei para mim mesmo ao ler o nome da garota em um prontuário assinado por ela.

 Segui até um armário que ficava encostado na parede ao lado da mesa, comecei a procurar os dados dela e, com base em minhas conclusões, aquele homem não parecia ser parente da menina. Ela não era casada, não tinha irmãos e não acreditava que ele fosse namorado dela também, caso contrário a foto que estaria em cima da mesa seria a deles dois juntos.

 Saí do local assim como entrei, indo em direção à cabana que ficava no matagal. Apesar de querer saber mais sobre ela, não poderia criar muitas expectativas para não me decepcionar mais uma vez. Comi algo e dormi, mas acordei bem cedo no outro dia, querendo saber tudo sobre aquela garota que me pareceu tão significativa para o que eu precisava no momento.

 Fui até o hospital escondido novamente, mas não a encontrei. Me recordei do endereço dela que estava na ficha. Tomando o máximo de cuidado possível, segui até a casa dela. Olhei por uma janela, mas deveria ser o quarto errado, já que a cama era de casal, fui para o outro lado, ficando em cima de uma árvore que havia do outro lado da casa dela.

 Levei um grande susto ao ver a garota só de calcinha, com a toalha jogada na cama. Ela estava com uma das pernas em cima do colchão, passando creme em sua pele alva. Meu coração se acelerou, e foi inevitável não olhar com atenção cada parte de seu corpo exposto.

 Ela ergueu seu corpo, com os olhos fechados, e passou a mão atrás da nuca, como se tentasse se aliviar de suas tensões. Seus cabelos pingavam um pouco, escorrendo pelo seu corpo sarado. A vontade que tive naquele momento era de ser uma daquelas gotinhas, passeando por toda extensão de suas curvaturas.

 Mordi meus lábios, enquanto ela vestia o resto de sua roupa, se deitando em seguida para dormir. Provavelmente tinha passado a noite inteira acordada com seu paciente. E eu não entendia como ela tinha coragem de deixar a sacada aberta enquanto trocava de roupa. Apesar de não haver nenhuma casa em frente à sua, ela deveria imaginar que não se podia fazer isso.

 Excitado e contrariado, não pude fazer outra coisa a não ser ir embora. A semana se passou, e eu continuei a observar a garota o mais perto que conseguia. Ela continuava a me surpreender com seu caráter, era extremamente fiel à sua amiga, que depois de alguns dias descobri se chamar Ino. Seus pais a mimavam bastante e, apesar de fingir não gostar, não era o que parecia.

O aniversário de Sasuke tinha enfim chegado, e eu precisava muito ter notícias sobre ele. Exasperado e cansado de esperar, decidi que ela era a garota certa com certeza. Sempre esforçada em seu trabalho e, quando tinha algum tempo livre, ficava lendo livros sobre circulação sanguínea e osteologia, talvez para se aprofundar no assunto. Não dava para esperar mais, teria que falar com ela.

 Quando entrei no seu quarto, fui pego de surpresa ouvindo-a parabenizar, para si mesma, o Sasuke. Virei as costas, pensando em ir embora, mas mudei de ideia quando percebi que ela havia me visto. Ela não só sabia quem eu era, como também assumiu posição de combate, e apesar de ter ficado surpreso continuei como estava; já havia me acostumado com hostilidades, e ela não parecia tão ameaçadora vestida em seu baby doll rosinha de babados.

 Mesmo sabendo quem eu era, a garota se mostrou destemida, me encarando de maneira corajosa. Chegou a me insultar, me chamando de traidor, mas também já estava acostumado com essa palavra infame, que na verdade nunca me resumiu. Sempre fui uma pessoa extremamente leal a todas as causas em que estive envolvido... mas ela não tinha como saber disso.

 Resolvido tudo, retornei para o esconderijo em busca de Kin para obter informações sobre Sasuke. Porém a mulher não tinha muito a me falar, a não ser sobre o fato de ele ter passado seu aniversário sozinho, se fazendo de forte, como sempre. Após ouvir isso da boca dela, decidi contar para todos que havia encontrado alguém para entrar no grupo. Mesmo ainda não tendo a resposta definitiva dela, sabia que ela aceitaria, só de me lembrar de sua determinação.

 Kisame e eu fomos em busca dos materiais necessários para organizar a sala médica, e Konan ficou responsável por arrumar tudo. Antes que saíssemos, ela deu uma alfinetada no meu colega, dizendo que seria mais fácil se Asami ainda estivesse por lá. Me sentia um pouco culpado na separação dos dois, já que a traição dele só ocorreu porque eu o carreguei para o bar.

Aproveitei que ainda tínhamos um tempo livre e fomos em busca de alguns livros. Kisame disse que eu estava exagerando na forma em que estava preocupado em preparar as coisas para a chegada da médica, mas não dei muita importância para ele na hora. Encontramos um livro raro, e quando dei por mim estava lutando pela posse dele. Só então acreditei no que ele havia dito, talvez o tempo que passei observando a Sakura tivesse me afetado de alguma forma.

Depois de tudo pronto, voltei para Konoha o mais rápido que pude, Deidara havia sofrido um ferimento grave, e agora mais do que nunca precisávamos dela. Além do fato de que só depois de ter a resposta dela poderia ficar mais sossegado, porém ao chegar próximo à janela do quarto da garota, fiquei indignado ao vê-la pelada, com a porta da sacada aberta como sempre. Chateado com aquilo, resolvi entrar de vez no quarto dela: talvez assim ela começasse a tomar mais cuidado na hora de se trocar.

Um sorriso começou a se formar em meus lábios, mas me esforcei para contê-lo. Ela estava com as bochechas vermelhas e isso me deu vontade de agarrá-la ali mesmo. Mas sabia que não poderia fazer isso, então me virei de costas para que ela se trocasse, talvez se ela soubesse quantas vezes já a tinha visto nua, não se sentiria tão intimidada com a minha presença. 

 Quando ela se aproximou de mim, pude perceber o quanto estava nervosa, e olhar em seus olhos tão de perto me fez desejá-la ainda mais. Seus cabelos molhados e bagunçados estavam lindos, e a vontade que tinha de morder aquele pescoço era quase que insana. Já estava começando a ficar excitado, quando ela me disse que teria que levar a amiga junto com ela.

Estava com pressa e me segurando o máximo que podia para não a beijar. Peguei-a pela mão, apoiando sua cintura com a outra, e saltei pela sacada. Aquele breve momento em que nossos corpos permaneceram juntos foi incrivelmente excitante para mim, mas precisava me focar no meu dever. 

Quando ela saiu da casa com Ino, estava com os cabelos penteados. Queria rir pela atitude dela: estava no meio de uma situação, no mínimo, inusitada, e ela teve tempo para pensar em se pentear. O jeito como ela ficava envergonhada ao me ver encarando-a só me fazia ficar cada vez mais intrigado e extasiado.

Enquanto íamos para o esconderijo, resolvi pegar o caminho mais longo para evitar qualquer tipo de imprevisto nas estradas mais curtas. Depois de caminharmos muito, olhei para trás e percebi que ela parecia muito cansada, assim como sua amiga. Achei melhor pararmos um pouco para descansar então.

Segundos depois ela foi até a mim, me entregando uma pílula de soldado que nunca havia visto antes. Fiquei tremendamente surpreso com sua atitude, nunca ninguém tinha me tratado de maneira singela como naquele momento, ainda mais me reconhecendo como renegado, e como se não bastasse isso, ela ainda sorriu para mim, aumentando ainda mais minha confusão mental.

Ela era realmente muito diferente de todas as mulheres que já havia conhecido até então, e já começava a me achar um idiota por desejá-la tanto. Ao chegarmos no esconderijo ela começou a examinar Deidara, mas eu sabia que ela estava desconfortável com todos a olhando, e já confiava nela o suficiente para que ela pudesse fazer seu trabalho em paz, então chamei todos para se retirarem do quarto.

 Depois de terminarem o procedimento, as levei para o quarto em que ficariam, estava tarde demais para que fossem embora. Só de pensar que ela dormiria tão pertinho de mim estava me fazendo enlouquecer, mas precisava ser paciente... No entanto, tudo tem limites.

Eu não estava conseguindo dormir, então fui para o lado de fora da instalação, levando comigo uma garrafa de Vodka, essa garota estava começando a perturbar até meu sono, e já pensava que não conseguiria sossegar até ficar com ela.

Quando dava três horas resolvi voltar para o meu quarto, pois, por mais que ainda não sentisse sono, tinha que tentar descansar para o dia seguinte. Mas quando cheguei na entrada do corredor, encontrei com ela. Me aproximei da garota a imprensando contra a parede, precisava saber se ela também estava querendo algo comigo, ou ficaria maluco a qualquer momento.

Quando a vi morder os lábios, não consegui mais me segurar, ela estava na minha frente e eu só podia pensar em tirar sua roupa ali mesmo. Apertei o corpo dela contra o meu, precisava muito daquilo, e seus lábios macios permaneceram parados de encontro ao meu por uns segundos antes de uma reação e isso fez com que eu questionasse se ela já havia beijado alguém antes. Mas já era tarde demais para pensar naquilo.

 

 Seu corpo frágil e trêmulo junto ao meu estava me fazendo ficar arrepiado. Já havia ficado com várias mulheres, mas nenhuma era tão meiga quanto ela. Enlacei, por fim, nossos dedos, queria olhar para ela outra vez e analisar cada traço de sua feição, mas não conseguia abrir meus olhos, só tinha vontade de permanecer ao lado dela por mais alguns segundos em silêncio.

 Foi um pouco difícil dormir depois do que aconteceu, mas ao acordar horas depois, já estava ansioso para vê-la novamente. Quando ela entrou na cozinha eu estava conversando com Kisame sobre nossos treinamentos e não tive como desviar minha atenção, ou poderia levantar suspeitas do meu interesse. Mas meu corpo formigava de curiosidade, só para saber como ela estava vestida.

 Então Ino nos deu bom dia e eu aproveitei aquele momento para olhar para ela, mas aquele pequeno instante em que nossos olhos ficaram fixados um no outro não foi o suficiente para mim. Quando ela se levantou para ir embora, pensei ser aquele o momento perfeito para poder sentir mais uma vez seus lábios nos meus, mas ela me deu uma resposta malcriada, porém não me importei muito. A sede que eu tinha era muito maior que sua prepotência.

Percebi ela apertando as mãos em punho e a peguei pelo braço, a puxando para um local mais privado. Ao entrarmos na sala resolvi conversar um pouco sobre o fato de ela estar espionando a Akatsuki; tinha medo de que alguém descobrisse sobre isso, estragando a investigação de uma vida. Mas ela permaneceu irredutível, acusadora e ignorante, e o pior de tudo era que eu estava adorando seu jeitinho marrento. No entanto, quando ela disse que meu irmão não tinha nada a ver comigo fiquei furioso, mas como um bom pacifista, tentei me conter, me recordando de que a minha verdade não significava nada para ela, que de nada sabia. Uma onda de confusão tomou minha mente ao ver uma lágrima rolando de seu rosto. Não sabia o que fazer naquele momento, mas a vontade que tinha era de abraçá-la, porém diante de seu argumento achei melhor me afastar, a verdade é que nem queria ter que a ver novamente depois de ter percebido através da boca de outra pessoa o quanto eu tinha feito mal para todos que tanto amava.

 O final de semana se passou agonizantemente para mim, e quando a segunda-feira chegou, fiquei aliviado por ver Kin logo cedo no esconderijo. Apesar de não gostar dela, pelo menos a garota poderia me distrair, para que eu não ficasse pensando tanto na Sakura. Já estava um pouco tarde quando ela e Ino chegaram, estávamos bebendo e eu fazia de tudo para não a olhar, me recordando de minutos em minutos seus insultos e olhares de reprovação.

Quando ela pegou Deidara pela orelha, brigando com ele por ele estar violando seu repouso, fiquei chateado. Não entendi o porquê de ela estar tratando-o tão intimamente, sabia que a garota pensava que eu era um assassino, mas isso ele também era. Falei no ouvido de Kin para que ela fosse pegar mais uma garrafa de bebida, precisava extravasar para tirar a ninja médica da minha mente. Estava indignado, pois além de ela me rejeitar ainda esfregava na minha cara que era amiga do rapaz que tinha os mesmos defeitos que ela pensava que eu tinha.

 Depois de ter tido a Sakura em meus braços, mesmo que por poucos minutos, já não sentia interesse nenhum em ficar com a Kin mais. Ela me abraçava, mas eu tentava tirá-la de perto de mim a qualquer custo, porém não adiantava muito. Eu deveria estar ficando louco, estar gostando de uma mulher só por me sentir rejeitado.

 Não podia mentir: naquela altura, as investidas de Kin já estavam me deixando excitado. Não era com ela que eu queria ficar naquele momento, mas já servia. Apesar de ser uma chantagista, tinha que reconhecer que ela era bonita. Fomos para o quarto e, quando entramos ela me empurrou para o sofá, já tinha bebido demais e sequer me importei pelo fato de a porta ainda estar aberta.

Enquanto Kin se esgotava, a única coisa que conseguia pensar era no corpo de Sakura, sua bunda deliciosa, que morria de vontade de pegar. Pensando nessas coisas, foi inevitável não resistir a Kin, porém, minutos depois, meus olhos captaram um movimento no corredor.

A porta estava aberta e ao nos ver Sakura pareceu passar mal. Tive o tesão cortado na hora, peguei Kin pela cintura e a tirei de cima de mim. Ainda vi quando a garota fechou a porta de seu quarto, enquanto eu ia fechando a minha. Kin ficou louca, perguntando o que eu estava fazendo, mas preferi não responder nada, ela não precisava saber detalhes sobre minha vida.

 Tomei um banho, me sentindo um completo idiota. Não conseguia imaginar como a garota deveria estar se sentindo por ter visto aquela cena, e apesar de saber que ela não queria nada comigo, não conseguia parar de pensar nisso. Saí do chuveiro e sequer me enxuguei, só vesti minhas roupas e deixei a Kin no quarto, deitada na cama, chorando suas lágrimas de crocodilo, que nunca me enganaram.

 Quando entrei no quarto da Sakura ela estava vomitando, seu corpo tremia muito, e a culpa que eu estava sentindo só se intensificou ao ver aquilo. Segurei os cabelos dela, que já estavam começando a cair em sua frente, e comecei a afagar as costas dela, em parte por não saber o que mais poderia fazer. Quando ela me olhou, começou a vomitar mais ainda, e eu queria me desculpar naquele momento, mas não sabia como fazer isso.

 Ela ainda tentara me empurrar, além de marrenta era teimosa, mas não deixei que ela fizesse isso. Quando ela terminou, ajudei-a a se levantar, estava fraca e provavelmente bêbada. Pensando nisso, achei que fosse melhor se ela tomasse um banho gelado para melhorar. Joguei-a embaixo do chuveiro e comecei a tirar as roupas dela.

 Sakura ficou muito constrangida, mas eu tinha que fazer aquilo para o próprio bem dela, e para falar a verdade, não tinha intenção de a constranger. Ela se virou de costas, e disse para ela que não precisava fazer aquilo, já tinha visto isso antes. Mas o que ela não sabia era que eu estava me referindo a ela mesma, e não ao corpo de outras mulheres, já que o tempo em passei vigiando-a sempre a via se trocando — e sempre tentava desviar minha atenção, mas ela deixava a sacada aberta e eu não tinha como saber se a encontraria vestida ou não.

Fui para o quarto e fiquei esperando, ainda preocupado com ela. Ela estava demorando muito, e eu tinha me molhado ainda mais com ela se debatendo daquela forma, abri suas gavetas e peguei uma toalha, tirei minha blusa e comecei a me enxugar, sentado na cama dela. 

 Quando ela saiu do banheiro, vi suas pernas fraquejarem e tive que me levantar para segurá-la. Fui até a janela, suspirando profundamente, se ela não aguentava beber não deveria exagerar então. Fiquei esperando-a terminar de se vestir, e apesar de ainda estar frustrado por conta de todas as coisas que ela falara comigo, não queria sair dali e deixá-la daquele jeito, ainda mais sabendo que a culpa disso tudo também era minha, por ela ter me visto com Kin. 

Ao me virar de volta para ela, a garota me mandou ir embora, mas ela estava tão ruim que a vi suprimindo um sorriso, deveria estar mal demais. E foi inevitável para mim não rir daquilo, ela estava muito engraçada toda grogue, vestida naquele baby doll rosinha. Fiz com que ela se deitasse e resolvi ficar por ali mesmo, não estava nem um pouco a fim de ouvir as histerias de Kin depois de eu tê-la largado antes mesmo que terminássemos nossa transa.

Me deitei junto a ela e instintivamente a abracei, me arrepiando todo ao sentir o cheiro gostoso que ela tinha. Seu corpo estava tão quente junto ao meu que só queria ficar mais um pouco ali com ela, sentindo sua pele macia com o toque de minhas mãos.

 Ela havia perguntado sobre Kin, e eu já sabia sobre a rixa que as duas tinham, mas não estava muito preocupado com ela naquele momento, meus instintos só me faziam querer continuar ao lado da garota que estava revirando meus pensamentos a cada dia mais. Ainda assim acordei bem cedo, deixei um comprimido para dor de cabeça no criado mudo, sabia que ela ia precisar de um. Fui de volta para meu quarto, onde minha namorada dormia com seus olhos inchados por conta de seu choro exagerado.

 Por mais que não sentisse nada pela Kin, me via obrigado a ficar com ela, ou não teria como receber informações sobre o Sasuke. Chamei-a para que fossemos tomar café, mas antes eu não tivesse feito isso. A mulher ficou o tempo todo me enchendo o saco, perguntando o que tinha acontecido para eu ter saído daquele jeito, mas a ignorei dando o silêncio como resposta, isso era mais do que ela merecia.

Fiquei preocupado ao ver Kin esbarrando em Sakura na cozinha, e meu olhar chateado acabou se encontrando com o da garota com quem passei a noite, mas ela virou o rosto rapidamente. Não a entendia: estava tentando mostrar o quanto a desejava, e muitas vezes acreditava que ela sentia o mesmo, porém em algumas outras achava que tudo era fruto da minha imaginação.

Quando ouvi sua voz rouca, dando bom dia a todos, fiquei maluco. Ela estava engraçada daquele jeito, e isso me fez querer arrastar ela dali e beijá-la ardentemente. Mas quando ela começou a se referir a mim como um bicho, uma coisa, tive certeza de que não deveria mais me aproximar dela. Talvez ela estivesse certa, e eu devesse me colocar em meu devido lugar, não merecia e nunca mereceria estar com alguém como ela.

 Tinha que sair nesse dia para resolver questões financeiras para o grupo. E antes de partir dei um aviso para Kin, falando que não queria vê-la implicando com ninguém na instalação. Apesar de não ter citado nomes, imaginava que ela sabia bem que eu falava sobre Sakura. Mas a dissimulada me abraçou em seguida, dizendo que ia se comportar em meu ouvido. Sabia que ela estava fazendo isso para me provocar, então comecei a empurrá-la, mas meu olhar se chocou com o de Sakura e ela estava parecendo enraivecida ao me ver com Kin, o que foi confuso para mim. 

Depois de resolvermos tudo, Kisame e eu voltamos para a instalação, e ao chegarmos aproveitei para dar uma olhada no perímetro. Fiquei morrendo de tesão ao ver Sakura de quatro, colhendo umas ervas. A garota estava afetando meu juízo e eu sabia que isso só ia passar depois que eu ficasse com ela, e resolvi ir até onde ela estava.

Foi estranho ver o quanto ela se esforçava para me rejeitar enquanto seu corpo nitidamente reagia a cada olhar e a cada toque meu. Eu sabia que não estava ficando doido, sabia que ela também me queria e sentir seus lábios nos meus foi a confirmação de que eu precisava para compreender que havia bem mais em mim também por ela do que simples desejo carnal. Naquele momento, só consegui absorver o que tinha acabado de entender enquanto a apertava em meus braços em silêncio.

 Ela parecia uma criança em meu abraço... Fechei meus olhos, deixando toda a sensação de estar compartilhando aquele momento com ela me invadir. Acho que nunca em minha vida havia sido abraçado daquele jeito, e isso alimentou a carência que nem sabia que existia dentro de mim.

 Comecei a acariciar as costas dela, tentando retribuir o sentimento bom que ela estava me passando naquela hora, mas nada que eu fizesse seria capaz de demonstrar o quanto aquele abraço acabou sendo bom para mim. Senti um forte arrepio quando ela começou a me dar um cafuné gostoso, e eu já não sabia mais o que estava acontecendo comigo, mas eu a desejei naquele momento mais do que qualquer outra coisa em minha vida.

Sua boca na minha foi como um bálsamo para minha alma, era como um sonho bom, que nunca havia tido antes e já estava com medo de que ele acabasse. Seu pequeno corpo trêmulo em minhas mãos era tudo o que eu precisava. Me soltei dela, sabendo que estávamos correndo riscos demais em ficarmos expostos ali, mas a verdade é que eu não queria tê-la soltado. 

No outro dia de manhã ouvi Deidara comentando com Sasori que Kin tinha implicado com a Sakura, e saí nervoso procurando por ela. Perguntei para Ino, mas aquela Kunoichi não parecia ir nenhum pouco com minha cara. E o pior foi ouvir Deidara se gabando por ter defendido a Sakura, como se isso o colocasse em um pedestal.

Depois de muito esforço acabei encontrando Kin e como sempre tivemos mais uma discussão. Depois disso voltei para a instalação e vi Sakura lendo o livro que tinha brigado para conseguir. Contei a história do livro para ela e fiquei a observando, enquanto a garota o lia com atenção. Ela era linda demais e tudo o que fazia parecia me inspirar a estar ao seu lado.

Nos beijamos novamente, mas dessa vez foi algo tão espontâneo que parecia normal para nós. Estava louco por ela e não via a hora de arrancar logo sua roupa, mas não ia fazer isso. Sabia sobre sua virgindade e daria o espaço que ela precisasse, mas não dava para deixar de me excitar só por pensar nisso, e passar a mão nela e falar besteiras era algo natural para mim, porém por conta disso acabei exagerando outra vez.

Não queria tê-la magoado, falei aquilo no momento do calor, não era minha culpa o fato de ela me deixar tão louco de tesão. Ela se levantara bem rápido ao ouvir aquilo, dizendo em seguida que era para eu me afastar dela, mas não senti nenhuma convicção em suas palavras. Durante o jantar fiquei morrendo de raiva ao vê-la conversando com Deidara, não sabia o motivo de ela estar fazendo aquilo, mas estava me deixando nervoso. Logo eu, que sempre fui muito paciente com tudo.

No outro dia, Kin foi para a instalação bem cedo, e estava louco para me aliviar de minhas tensões, já que a Sakura estava amarrando um possível encontro mais íntimo entre nós dois. Mas quando percebi que ela chegou quem travou fui eu, não entendia bem ainda o que estava acontecendo comigo, mas não queria que ela me visse com a Kin daquele jeito, nos beijando.

 Depois de levar Kin para o quarto e dar uma desculpa de estar cansado demais para qualquer coisa, ela foi embora. Às vezes tinha a impressão de que a garota queria engravidar de mim, não sabendo ela que isso nunca aconteceria. Fui para fora, e estavam todos reunidos ao redor de uma pedra. Me sentei ao lado de Sakura e segurei sua mão, queria muito senti-la novamente, no entanto ela agiu de maneira ríspida mais uma vez comigo, me deixando sozinho e saindo com Deidara, e como se isso não bastasse voltou de mãos dadas com o garoto. Aquilo foi o fim para mim, senti um aperto no meu peito, mas sabia que não poderia fazer nada. Soquei a mesa e saí dali irritado — mal me dando conta do quão infantil fui e de como todos poderiam ter percebido minha atitude. Mas estava mais chateado por mim mesmo, pois sabia que mesmo se pudéssemos ficar juntos eu não a merecia.

 A situação já estava saindo de meu controle, antes o que era apenas prazer estava começando a se intensificar de maneira incontrolável e até ciúmes estava sentindo dela agora. Tentei me acalmar em meu quarto, mas não estava dando muito certo. Eu precisava falar com ela, precisava saber o porquê de ela estar me tratando daquele jeito, e pior, o porquê de ela estar tão íntima ao Deidara.

 Fui para o quarto dela, esperando-a entrar, e quando o fez a questionei, mas ela se fez de desentendida. Já estava perdendo minha cabeça com aquilo, não queria ter que a ver com ninguém mais além de mim. Já estava cansado da minha sorte, que sempre consistia em viver escondido, sendo odiado por todos.

Brigamos feito um casal maduro, e aquilo fez com que eu me despertasse para a realidade; estava me apaixonando por ela. Sabia que não deveria, mas não tive como escapar daquilo. Quando tudo se acalmou pude, enfim, sentir seus lábios nos meus. Não queria ter que discutir com ela nunca mais... Nossas bocas pareciam ter sido feitas uma para outra, e nossos corpos colados estavam me fazendo ficar perdido em desejo.

A boceta molhada dela em meu dedo era algo incomum, diferente de muitas mulheres com quem fiquei, ela não era nenhum pouco frígida. E sequer poderia acreditar que enfim a teria para mim, como há muito tempo estava desejando, e senti-la gozando para mim foi algo incrível... só não mais por termos sido interrompidos.

 Os dias se passaram e eu estava me sentindo cada vez mais envolvido e estar com ela era tão bom que já não procurava outras mulheres, só ela que me interessava. Era complicado ver Kin sempre tentando alfinetar a Sakura, mas eu estava tentando amenizar as coisas como podia. No entanto ser obrigado a vê-la com Deidara já estava me fazendo perder o controle, estava tentando respeitar o tempo dela, não insistindo em transarmos, mas às vezes tinha medo de ela estar mentindo para mim, e ficando com o garoto bem embaixo do meu nariz — não sabia se podia confiar nela e, definitivamente, não podia confiar em Deidara, conhecia ele bastante bem para saber disso.

 Nunca ter me sentido verdadeiramente amado por alguém talvez contribuiu para que eu me sentisse inseguro. Mas me esforcei ao máximo para acreditar nela e tentar seguir em frente no nosso estranho relacionamento. Porém não dava para ignorar o fato de ela estar conversando com ele sempre, e o pior era saber que ele realmente parecia estar gostando dela, até um beijo em sua bochecha eu o vi dar. Não dava mais para deixar aquilo continuar daquele jeito.

Estávamos meio que brigados e resolvi ir procurar por ela, mas não a encontrei em seu quarto, quando passei pela sala médica pude ver ela e Deidara bem próximos um do outro. Não aguentei e esmurrei a parede na mesma hora, mas ao perceber o que tinha feito saí dali rapidamente, vendo-a de relance procurando pelo causador do barulho. Estava sendo difícil demais para mim gostar de alguém, pior ainda sabendo que nunca poderíamos ficar juntos. E diante disso tudo acabei ficando com a Kin de novo, tentando esquecer de vez a Sakura.

No outro dia fiquei muito atordoado, estava me achando ridículo por estar com uma mulher que não gostava, enquanto a que arrebatava meu coração ficava cuidando de outro a noite inteira. Não aguentando mais, fui outra vez procurar por ela, e brigamos de novo, já não estava mais tolerando aquela situação. E o pior era que não conseguia fazê-la enxergar que o Deidara não prestava, mas sabia que era difícil fazer isso sendo que ela sequer sabia a verdade sobre mim. Então tentei convencê-la, contando sobre o porquê de Ino estar com o Sasori, mas não achava que tinha funcionado muito bem e resolvi desistir de uma só vez, mesmo que isso fosse terminar de despedaçar meu coração, que já era dividido em inúmeros pedaços de decepções.

Porém ela me impediu de ir embora, e eu a agarrei com força em meus braços. Estava desesperado por seus beijos, não queria mais me afastar dela, mas sabia que nosso relacionamento era complicado. E, frustrado por tudo o que eu sentia, pela minha confusão em não saber lidar com nada daquilo e pela certeza de que jamais poderíamos realmente ficar juntos, antes de ir embora toquei em sua testa, não dava mais para ficar tentando me iludir... eu a amava.

Mas como nada dura para sempre, acabei pegando ela e Deidara num momento aterrador. O garoto estava com o rosto pertinho do dela, olhando para a boca que agora me pertencia. E o pior era saber que não podia fazer nada, caso contrário alguém saberia sobre nós. Ela saiu rapidamente ao me ver, e a vontade que eu tinha era de socar o garoto ali mesmo.

Depois fui conversar com ela, queria que ao menos tentasse se colocar no meu lugar. E foi exatamente o que ela fez, me cobrando novamente para que eu me afastasse de Kin. Se ela soubesse o quanto eu a queria e o quanto desprezava aquela mulher, não insistiria tanto nisso. E por mais que eu quisesse me declarar, não podia, não era o certo, já que estava ciente do meu destino.

 No entanto o Deidara era como a Kin, uma praga em minha vida, e quando estava treinando ouvi ele se gabando, dizendo que levaria a Sakura na festa que teria na instalação. Não consegui me conter com ele falando sobre como estava louco para ficar com ela. Meu sangue ferveu, e quando me dei por mim, já tinha esporrado o garoto. Agora tinha que me preocupar com as consequências disso, a Sakura não ficaria feliz ao saber o que eu fiz com seu amiguinho.

Já estávamos numa situação difícil; ela me acusando por eu estar com a Kin, e eu brigando com ela por conta do garoto, então esse foi o estopim para uma briga muito maior do que poderia imaginar. Ela avançara em cima de mim na frente de todo mundo, e sem saber o que fazer naquele momento, tive que fingir não estar satisfeito com sua ação. Mas a verdade é que tive vontade de rir e a abraçar ao vê-la tão nervosa.

 Ninguém jamais havia me enfrentado daquele jeito, muito menos uma mulher. De certa forma, aquela atitude fez com que eu sentisse orgulho dela. Mas tive que me segurar para que ninguém desconfiasse sobre nós, e já estava cansado disso. A levei para longe de todos e tudo ficou ainda mais tenso, porém estava determinado a sair de lá sabendo que a teria de volta. Por sorte, aquele momento devastador passou e pude senti-la de volta em meus braços, já não sabia o que faria sem ela em minha vida.

Essa situação serviu apenas para nos aproximar ainda mais, porém era difícil estar com ela sabendo que nossos momentos juntos já estavam contados. Eu sabia disso. Se fosse um pouco mais sensato, jamais teria tentado me envolver, apesar de não ter imaginado que nossos sentimentos eclodiriam da forma como aconteceu.

No dia da festa, Kisame quase me matou de susto ao falar que eu deveria me declarar para ela, apontando a garota com a cabeça. Naquele momento eu estava enraivecido por ver Sakura conversando sozinha com Deidara. Sabia que nossa relação tinha avançado bastante, mas eu não sabia como dizer que a amava sem falar para ela toda minha verdade. 

  Já não aguentando mais, resolvi seguir o conselho de Kisame, só não sabia como faria aquilo ainda. Meu lado ciumento acabou falando mais alto e quase dei início a uma discussão. Fui para o quarto dela nervoso e, já alterado por conta da bebida, não sabia como ela reagiria ao saber sobre o que sentia, e isso me fazia ficar ainda mais temeroso.

 Quando ela chegou, resolvi adiar o momento em que falaria para ela sobre meus sentimentos e acabamos nos envolvendo em um momento quente e delicioso, estava ensandecido, louco para tê-la para mim. Não conseguia mais esperar, mas ela não parecia se sentir da mesma forma comigo. Era como se esse tempo todo em que estivemos juntos ela não quisesse nada comigo e estivesse apenas me enganando.

Já não sabia o que fazer, e a imagem dela conversando com Deidara se formou em minha mente. Ela deveria estar com ele esse tempo todo, me ludibriando... Não, isso não teria lógica alguma, mas meu pensamento acabou escapando pela minha boca e quando dei por mim estávamos tendo uma das piores brigas que já havíamos tido até então.

Fui estúpido, mas estava inebriado pelo ciúme. Me arrependi imediatamente, porém nunca fui bom com desculpas e não sabia o que fazer. Ao escutarmos um barulho, temi, pensando na hipótese de ser algo sério e pedi para que ela ficasse no quarto. A sorte era que foi apenas uma briga boba de Kisame, também por ciúmes da mulher que amava. Quando olhei para o lado, vi Sakura caída no chão, fiquei extremamente preocupado ao ver que a teimosia dela acabou resultando em um ferimento.

Sem pensar nas consequências a peguei no colo, carregando-a para longe de lá, mesmo sem seu consentimento. Tínhamos brigado, mas estava contando com que tudo se acertasse, como sempre acontecia. Mas diferente de todas as outras vezes, ela parecia irredutível e, chorando, acabou adormecendo em meu colo.

 Talvez aquilo tivesse sido o melhor para ela, eu não a merecia, nunca mereci na verdade. Meu coração estava pesado quando cheguei em minha casa. Ela estava dormindo profundamente, enquanto eu a enfaixava com cuidado para não a despertar e termos mais uma briga. Já estava cansado de tudo isso, nunca pude ter paz e sabia que jamais teria. Não tinha o porquê de fazê-la sofrer junto de mim então.

Deitei em minha cama ao seu lado, pensando que nunca havia levado mulher alguma ali. E a pessoa na qual eu queria passar o resto de minha vida agora estava lá... mas não da maneira que eu gostaria. Talvez fosse melhor se ela tivesse continuado apaixonada pela Sasuke, ele, sim, a merecia. Me sentia o pior homem do mundo, por sempre fazer as pessoas que mais amava sofrerem tanto.

Enquanto a vigiava no sono, lembrei-me de quando ela confessou o que sentia por meu irmão.

 — Sério? — perguntei incrédulo, me sentindo um pouco mal ao ouvir aquilo, mas não queria que ela percebesse isso em meu tom de voz.

 —  Ah, eu era nova, Itachi, e ele era o "garoto sensação". — Ela riu gostosamente, como se zombasse de si mesma. — Mas a verdade é que nem sei bem o porquê de eu ter me apaixonado pelo Sasuke naquela época, acho que foi coisa de criança mesmo, tanto que passou e nem percebi como.

Eu sorri sem graça para ela, passando meu polegar em seus lábios.

 Foi difícil para mim saber que a mulher que amava um dia já esteve apaixonada pelo meu irmão. Mas as coisas da vida eram sempre muito engraçadas, como há uma semana, que estava ao lado dela. Nunca imaginei que um dia me sentiria amado por alguém, e mesmo que ela nunca tivesse me dito isso, eu sabia que era esse seu sentimento por mim.

   — Você me deixa maluco, garota! — Brinquei ao sentir sua mordida em meu pescoço, me despertando de meus devaneios.

Olhei-a intensamente, desferindo em seguida um beijo em seus lábios. Eu a amava mais do que poderia explicar, e queria poder sentir aquilo por mais algum tempo. Não acreditava que amar alguém fosse algum tipo de pecado, amar era tudo o que me restava por enquanto...

E com as lembranças de nossos momentos juntos enquanto a olhava, acabei caindo no sono.

No dia seguinte ao da festa acordei bem cedo, mas permaneci abraçado a ela, com meus olhos fechados. Não sabia como ela reagiria ao acordar, mas já estava me preparando para o pior, sentindo um gosto amargo em minha boca pelo medo de perdê-la de vez. Quando ela acordou, fiquei quieto, fingindo estar dormindo. Percebi seu olhar para mim por vários segundos, mas ela acabou me deixando sozinho, saindo do quarto devagar.

 Queria ter ido atrás dela, mas não pude fazer isso, sequer pude conter a lágrima que escapou de meus olhos ao ser abandonado por ela. Mas enxuguei meu rosto, tentando me conformar, pensando que aquilo era o melhor para ela, e não importava o quanto eu sofresse, o que realmente importava era que ela estivesse bem 

 Na segunda-feira, já não estava mais aguentando aquele distanciamento, engoli meu orgulho e fui até o quarto dela, porém ela saiu ao me ver lá dentro. Aquela foi uma das piores sensações que já tive em minha vida; estava sozinho de novo e agora tinha absoluta certeza disso. Depois desse desastre de encontro que tivemos, segui minha vida, tentando voltar ao normal, mas nada era normal sem tê-la ao meu lado.

Beijar Kin não era nada parecido com beijá-la. Kin não tinha em seu corpo a delicadeza que Sakura possuía, e sequer a sentia tremular em minhas mãos, como a mulher que eu amava fazia, tudo nela parecia errado e artificial, mas não podia fazer mais nada, eu mesmo já tinha traçado o meu destino, como sempre.

 Depois de semanas dolorosas, não aguentei mais. Ela estava cada vez mais próxima de Deidara e eu não conseguia pôr em minha cabeça que havíamos terminado de vez. Impulsionado pelo meu sentimento, fui atrás dela e, quando a puxei para meus braços, tive certeza de que ela também tinha sentido minha falta. Estava feliz mais uma vez e não queria que aquilo acabasse nunca mais.

 Refleti muito com o passar dos dias e decidi que não poderia mais esconder para ela quem eu realmente era e o que sentia. Peguei uma camisa que guardei há muito tempo, com o símbolo de meu clã desenhado nas costas. O aniversário dela seria nesse dia, e como presente queria lhe dar essa blusa e contar para ela toda a verdade. Ela mais do que qualquer outra pessoa nesse mundo merecia saber tudo sobre mim. 

Mas meu coração se partiu novamente quando vi Deidara dando um beijo em sua boca. A boca que deveria ser minha apenas. Me retirei da cozinha e fui para meu quarto, rasgando o presente que a daria e o jogando na lixeira. Abri uma garrafa de Whisky e enchi um copo para tentar apagar da minha mente o que tinha acabado de ver.

Sentia uma dor imensa em meu peito e o pior era saber que mesmo que se ela soubesse de toda a verdade isso não mudaria nossa realidade. Era um renegado, não poderia dar nenhum futuro a ela, e por mais que Deidara também fosse um renegado, ele tinha mais chance de se redimir do que eu.

 Ao vê-la entrar em meu quarto, queria mandar que fosse embora, mas não deu tempo. Quando ela começou a falar, não pude conter minhas lágrimas, estava atordoado demais, com a cena de outro a beijando toda hora em minha mente. Mas ao ouvi-la dizer que me amava, não pude me segurar; por mais que não pudéssemos ficar juntos, eu não conseguia mais viver sem ela... e a abracei beijando-a intensamente.

Notar o quão entregue ela estava, o quão dedicada e solícita foi em nosso primeiro ato de amor, fez com que eu me esquecesse dos empecilhos que nos separavam. Naquele momento o meu desejo por ela era tão grande que quis poder fazer um filho nela, mas sabia que isso não era possível. Fiquei amargurado e ressentido por conta dessa terrível realidade que me assolava e, quando contei para ela, sequer tive coragem de encarar sua face. A realidade de ser tão limitado em tantos pontos me deixava frustrado: não podia oferecer nada a ela além do presente.

  Fiquei o dia inteiro pensando nisso e, quando foi no domingo resolvi ir atrás dela, imaginando que estivesse chateada pela forma que a tratei. Ela parecia saber o quanto eu ainda estava chateado com aquilo tudo, mas não queria conversar sobre isso, queria apenas aproveitar nosso tempo juntos, sentir seu corpo no meu já era o suficiente para me consolar.

No entanto, após ficarmos juntos, outra vez brigamos: não conseguia me conformar com o fato de saber que jamais poderia dar uma família a ela... Que jamais poderíamos ser um casal normal, passeando de mãos dadas pela Aldeia, e isso contribuiu muito para que eu me colocasse irredutível em sua frente, desistindo de vez de lhe dizer sobre tudo o que havia passado até agora.

 Estava sendo tudo muito difícil para mim, mas nada é ruim o bastante para que não possa piorar. Quando cheguei na instalação, Kin estava furiosa, discutimos feio, pois ela não aceitava o fato de sequer estarmos transando mais. Ela disse que ia embora e que me privaria de seus relatórios sobre o Sasuke. Estava quebrado por dentro, mas tive que aceitar a condição dela e dizer que me casaria com ela, para que ela me mantivesse informado sobre meu irmão.

Não fazia ideia de como falaria o que tinha acontecido para Sakura, muito menos se ela sequer me ouviria. Tive que sair para resolver algumas coisas não muito importantes da instalação e Kin foi junto comigo. Quando voltamos, ela fez questão de dizer para todos que tínhamos ficado noivos, e enquanto isso acontecia achava que morreria com a sensação ruim que tive ao ver Sakura presenciando tudo aquilo.

 Larguei Kin e fui atrás dela, ainda ouvi a garota gritando desesperada, e quando olhei para trás, vi Kisame a segurando pelo braço, impedindo que ela me seguisse. Eu já não tinha nada na minha vida, se eu perdesse a Sakura, ou o Sasuke eu não conseguira me olhar no espelho nunca mais. Ela estava tremendamente assustada, e a única coisa que eu poderia fazer para tentar recuperar seu perdão era contar a verdade, e foi o que eu fiz.


               Blue jeans,

 white shirt Walked into the room You know,

you made my eyes burn It was like James Dean,

 for sure You so fresh to death And sick as ca-cancer

 

 Se eu soubesse que ela acreditaria de primeira em mim, teria falado tudo muito antes. Ela era realmente tudo o que eu mais queria em minha vida. No entanto, ainda tinha que desempenhar meu papel, por isso, apesar de querer muito continuar ao seu lado durante todo o resto da noite, não pude. Kin me aguardava furiosa pelo meu desaparecimento e não podia mais dar motivos para ela me manipular.


             You were sort'a punk rock 

I grew up on hip hop

 But you fit me better

 than my favourite sweater
 

Os dias se passaram, mas tudo cooperava para tirar a paz da minha vida e, como se não fosse o bastante, tinha que aturar as reclamações de Kin quase todos os dias. Não estávamos mantendo relações sexuais e ela não se conformava com isso, porém eu não conseguia mais tocar em mulher alguma que não fosse a Sakura. Seria mais do que insanidade, estaria traindo a mim mesmo se me sujeitasse a isso.


             And I know,

 that love is mean,

and love hurts

 But I still remember that day

 We met in december, oh, baby

 

 Quando cheguei na instalação, na segunda-feira de manhã, após ter um ótimo domingo com a Sakura, Kin estava andando de um lado para o outro dentro do quarto. Perguntei o que era e, ao ouvir que Sasuke tinha matado Orochimaru, quase caí para trás; estava desolado com a notícia, mas não havia muito o que eu pudesse fazer agora. Disse para que ela fosse embora, que não queria ficar com ela nunca mais. Ela começou a gritar, dizendo que eu não podia fazer isso com ela e, quando ela veio em minha direção, armando um tapa para mim, fui obrigado a usar meu sharingan nela. Já havia me cansado de Kin e suas chantagens havia tempo demais, não queria mais ter que aturar nada vindo dela.


              I will love you until the end of times

 I would wait a million years

 Promise you'll remember that you're mine

 Baby, can you see through the tears?

Love you more than those bitches before

 Say you'll remember (oh, baby) Say you'll remember (oh, baby)

 I will love you until the end of times

 

Depois de alguns minutos, ela se recompôs, saindo assustada do quarto, e eu estava sentado em minha cama, imaginando como meu irmão estaria agora quando Kisame abriu a porta de uma só vez. Me levantei da cama assustado; ele sempre batia antes de entrar, então sabia que alguma coisa séria tinha acontecido.

 

  — Itachi, vem logo. — Foi a única coisa que ele disse antes de sair, e eu me apressei a segui-lo.


             Big dreams,

 gangster 

Said you had to leave

 to start your life over
 

  Ao chegar do lado de fora, me deparei com a cena de Ino e Sakura se encarando furiosamente. Olhar o rosto da mulher que amava e ver marcas de dedos foi desesperador, mas antes de qualquer coisa precisava tirá-la de lá. Ela ficou atônita e acabou por desmaiar; fiquei muito preocupado, mas sabia que ela era forte demais para se deixar abalar por aquilo.


              I was like "no, please, stay here"

 We don't need no Money

 We can make it all work

A semana começou a se arrastar arduamente, e agora já não precisávamos nos esconder de ninguém mais, porém isso estava sendo difícil para ela. Na quinta-feira fui obrigado a deixá-la sozinha, pois tinha uma reunião com o restante do grupo, no entanto ao chegar lá fui recepcionado por Tobi, que de prontidão me deu uma notícia avassaladora.


              But he headed out on Sunday

 Said he'd come home on Monday

 I stayed up waiting,

anticipating and pacing 

But he was chasing papers

 Caught up in the game

 That was the last I heard

 

Passei minha vida inteira esperando por esse momento, mas jamais imaginava que ele viria logo quando, pela primeira vez em muito tempo, estava feliz de novo. Sabia que havia provocado Sasuke de todas as formas, mentindo para ele, dizendo ter assassinado nosso clã por um capricho meu, mas, depois de ter conhecido a Sakura, não queria mais ter que encarar o meu destino.


              I will love you until the end of times

 I would wait a million years

 Promise you'll remember that you're mine

 Baby, can you see through the tears?

Love you more than those bitches before 

Say you'll remember (oh, baby) Say you'll remember (oh, baby) 

I will love you until the end of times

 

Voltei para o esconderijo, pensando no que diria para ela, porém achei que talvez fosse mais fácil para nós dois se ela não soubesse de nada. E apesar de muitas coisas se passarem em minha cabeça, eu jamais desistiria do destino que eu mesmo tinha traçado para mim. Se fizesse isso, estaria traindo a mim mesmo, e consequentemente a traindo também.


              He went out every night

 And, baby, that's alright

 I told you that no matter what you did

 I'd be by your side 

'Cause I'm a ride or die

 Whether you fail or fly Well shit,

 at least you tried 

 

Saí, deixando-a chorando mais uma vez, porém agora disse com todas as palavras o quanto a amava, não poderia deixá-la sem explicar que ela era tudo para mim. Mas eu sabia que precisava encarar as coisas como sempre, de cabeça erguida. E por mais que talvez ela não entendesse agora, sabia que um dia iria entender o porquê de eu ter feito isso. O porquê de eu ter escolhido me entregar de bom grado à morte, pelas mãos de meu próprio irmão.


              But when you walked out that door

 A piece of me died

 I told you

 I wanted more 

But that's not what I had in mind 

I just want it like before 

We were dancing all night

 Then they took you away

 Stole you out of my life

 You just need to remember 
 

 

Parte II – Sakura

 

 Corri o mais rápido que pude para o lado de fora da instalação, tinha prometido a mim mesma que estaria ao lado dele sempre e não poderia voltar atrás agora. Fosse lá o que tiver acontecido, eu precisava ir até ele e pedir para que não desistisse de mim, pois eu jamais iria desistir dele enquanto eu vivesse.

 — Sakura... — Olhei para o lado, vendo todos do lado de fora.

Asami estava abraçada a Kisame, e Konan tapava a boca com as mãos, enquanto Yahiko afagava suas costas. Sasori estava com os braços cruzados, parecendo preocupado, enquanto Deidara me olhava assustado, esperando minha resposta.

— Eu não tenho tempo. Você sabe para onde ele foi? — perguntei para o garoto. Seus olhos tremeram com minha pergunta, e tentei permanecer o mais forte que podia, me lembrando da roupa que Itachi vestia, de seu cheiro, e que não pude ficar tanto quanto queria ao seu lado.

 — Ele foi atrás do Sasuke. — Deidara começou a falar, mas eu não entendia ainda aonde ele queria chegar com isso. — Ao que parece o irmão dele o desafiou para uma luta.

 Enfim conseguia compreender o que estava acontecendo, mas não poderia permitir...

 — Sakura, não vai atrás dele, por favor. — Olhei para trás mais uma vez, vendo Ino com os olhos cheios de lágrimas para mim, mas jamais faria o que ela me pediu. Como poderia?

  — Você não entende, Ino. 

 — Você que não entende. É por culpa dele que o Sasuke...

Arregalei meus olhos, vendo suas lágrimas rolarem. Agora tudo fazia sentido para mim, e não sabia como não tinha pensado nisso antes. Ela ainda amava o Sasuke, amava muito, e ainda culpava Itachi por tudo de ruim que aconteceu com o garoto. Eu compreendia bem mais claramente as coisas agora, pois já pensei assim um dia.

 — Sinto muito, Ino. — Virei de costas, pronta para saltar no galho de uma árvore.

  — Shintenshin no Jutsu. 

 Sabia bem o que aquelas palavras queriam dizer. Estava me sentindo adormecida e eu já não conseguia mais fazer o que eu quisesse com meu próprio corpo. Mas eu estava sem tempo, não poderia deixar a infantilidade da minha amiga me atrapalhar agora.

  — Eu preciso ir, Ino. Sai do meu corpo — gritei mentalmente, sabendo que ela me ouviria.

   — Não posso fazer isso Sakura, sei que estávamos brigadas, mas não posso permitir que você estrague sua vida.

 Eu já não sabia mais o que fazer, estava desesperada e precisava sair logo dali. Comecei a me recordar dos momentos que Itachi e eu tivemos juntos, sabendo que aquilo me daria mais força para seguir em frente e sair daquela situação. Mas antes que eu fizesse qualquer coisa, senti um forte solavanco e, quando abri os olhos, estava de volta ao controle de meu corpo.

Olhei para trás e Ino estava de joelhos, chorando intensamente. Ela agarrava o pó do chão com força, e quando olhei em seus olhos, ela acenou positivamente para mim. Respirei fundo, sabendo que agora eu não era mais a única a saber do segredo de Itachi.

Enquanto estava em minha mente, Ino foi capaz de ver minhas recordações. Agora ela sabia sobre a verdade de Itachi, sobre o quanto ele amava o irmão, a ponto de abrir mão de tudo o que era e tudo o que poderia ter sido por ele, a ponto de se tornar o renegado mais odiado e procurado. Agora ela sabia que, se existia alguém que amava a Vila verdadeiramente, esse alguém era Itachi, que sacrificou tudo e todos por amor a ela. Agora Ino compreendia que os meus sentimentos por ele não eram sem fundamento, não eram infantis ou torpes e que, além de tudo, eram correspondidos com fervor e devoção. Ino sabia o quanto eu queria ter compartilhado tudo com ela desde o início e quanto eu precisava dela.

Eu sorri para ela e vi a expressão de compreensão em sua face mais uma vez. Havia mais em nossa amizade do que um coração despreparado poderia suportar e, se eu tinha uma certeza, era esta: nossa amizade jamais morreria.


              I will love you until the end of times

 I would wait a million years 

Promise you'll remember that you're mine

 Baby, can you see through the tears?

Love you more than those bitches before

 Say you'll remember (oh, baby) Say you'll remember, (oh, baby)

 I will love you 'till the end of times

 

Me sentindo um pouco mais leve por saber que minha melhor amiga agora sabia sobre toda a verdade com relação ao homem que amava, pulei no galho de uma árvore, olhando para trás novamente em seguida. Todos pareciam perplexos e não entendiam nada, mas isso não me importava agora. A única coisa que realmente era importante para mim era Itachi, e conseguir chegar a tempo para dizer que o amaria até o fim dos tempos.


Notas Finais


É isso aí gente... Até o próximo!!!

A música usada no capítulo:
Blue Jeans
Lana Del Rey


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