História Coraline - A porta se abre - Presa no Outro Lado

Quando me virei, Beldam estava trancando a porta. Ela engole a chave e sorri para mim.

- Por que quer me trancar aqui? Eu não vou cair nesse seu plano, Beldam! E quem é ela? - grito, apontando para a Outra Coraline. 

-Bom, respondendo à sua primeira pergunta, nós vamos jogar jogos - diz, agitando as garras. - Já a segunda, é um clone seu. A sua irmã.

- Eu não sou sua filha! - grito, erguendo a faca. O sorriso de Beldam desaparece. 

- Você sabe que eu amo você - simplesmente diz. - Então deve me amar também. 

- Nunca... - começo, cerrando os olhos. -...nunca vou te amar, seu monstro. Eu não vou cair mais nesse seu joguinho. Se acha que vou ficar, está completamente enganada. 

- Não fale assim com a sua mãe, filha - responde, balançando a cabeça. Ela aponta com uma garra os seus botões. - Daqui a pouco vai ficar igual a mim...e a ela. 

- Eu não vou - digo, apenas. Mas não tenho muita certeza. - Como você conseguiu a mão e a chave?

Beldam sorri, e caminha em direção à Outra Coraline. Ela faz um gesto para ela sair da cadeira, e logo depois que ela sai, retira a cadeira do canto da sala. Há uma pequena porta atrás do papel de parede, com uma maçaneta dourada. Como não havia percebido isso antes? Uma chave, também dourada, está lá. Beldam destranca a portinha e a abre. Range. Há um céu estrelado depois daquela porta. Eu franzo a testa. 

Então, tudo se encaixa. A história que podemos ver um céu estrelado se olharmos para o poço em qualquer hora do dia é verdade. O poço é um portal. A mão e a chave passaram por essa porta quando o meu plano deu certo. Elas não foram para o fundo do poço. Elas foram para cá. 

Beldam, fecha a portinha e a tranca. Coloca a cadeira de volta e a Outra Coraline a ocupa, como um guarda. Então, deixa a sala. O que irá fazer? 

Olho para a Outra Coraline. Ela ficará ali, imóvel. Saio da sala de estar. A casa está repleta de sombras, apenas a sala que deixei está iluminada. Subo as escadas e olho para a janela. Lá fora, há apenas névoa. Continuo subindo, até chegar no andar de cima. O quarto. A porta está entreaberta, e eu a empurro. Ligo a lâmpada, e ela apenas pisca e desliga. Eu adentro o quarto, no breu. Então, uma luz toma o quarto. Há um abajur ali, que não havia antes, eu tenho certeza. Mas todas as prateleiras estão vazias, com exceção do abajur. A caixa de brinquedos  está vazia também. Na cama não há nenhum cobertor e nada pra cobri-la. Não há nem travesseiro. Há persianas agora nas janelas, embora não sirva para nada. Beldam parou de atrair crianças, então. Deve querer apenas vingança. 

Saio do quarto e abro a porta que fica ao lado do mesmo. É o banheiro. Dessa vez, a luz acende. Há um odor de esgoto ali, o que deve vir da banheira com as cortinas rasgadas e fechadas, ou do vaso sanitário. Não tenho coragem de subir a tampa. Saio do banheiro e desço as escadas. Não há nada pra fazer. O que Beldam quer? 

Então, adentro as sombras e acho a porta de saída do apartamento.