- Esse lugar causa arrepios – Disse Chris, esfregando os braços, a sala estava fria.
- No começo não era assim.... – Disse Coraline olhando para os lados.
O gato, por sua vez, cheirou cada objeto sorrateiramente, tomado por uma sensação de perigo, sentindo em sua orelha uma respiração cálida, mas toda vez que se virava para ver, nada via e nada ouvia.
- Aqui não é mais seguro – Disse o gato, preocupado – Na verdade, nunca foi.... Temos que voltar agora – Seus olhos dilataram e seu pelo arrepiou-se por todo corpo.
- Coraline... – Disse uma voz soturna e fria – Quanto tempo... – Era uma voz feminina.
- É você! – Exclamou Coraline, franzindo a testa e olhando para o teto e para o alto das paredes – Apareça! – Gritou.
- Não! Fique por aí mesmo! – Disse Chris, escondendo-se atrás do sofá.
O gato achou isso uma ótima ideia, correu até ele, encolhendo-se nos pés do garoto.
A respiração daquela mulher começou a caminhar pelas paredes. Coraline imaginava uma cobra rastejando entre a parede e o papel de parede, que agora começava a se desmanchar, ficando escuro, queimando sem fogo.
- Eu fiquei tão triste quando você foi embora... – Disse a voz.
Coraline nada respondeu.
- Você me deixou aqui – A voz começou a mudar, ficou mais gutural, rouca e velha, Coraline já não sabia dizer se era um homem ou uma mulher que falava – Eu estava tão só... precisava de companhia, então seus pais fizeram companhia para mim...
- Meus pais! O que fez com eles?! – Indagou Coraline em um grito desesperado.
- Seus pais acreditaram em você, Coraline... E tentaram compreender, eles acabaram encontrando a chave e abrindo a porta... Eu então os suguei para dentro!
- Sua...! – Coraline não conseguiu terminar de falar, sua voz estremeceu, soluçava, tentava esconder as lágrimas para parecer forte.
Chris correu até Coraline, olhou para os lados, dizendo:
- Meus irmãos! Cadê eles?!
- Sabe, eu não sei onde eles estão... Crianças costumam se esconder muito bem... – Disse a voz.
A Outra Mãe começou a rir, sua risada estava cansada e velha, e foi ficando fraca até não se ouvir mais nada.
Então, no mesmo minuto, tudo ficou escuro, e quando as luzes acenderam-se novamente cada objeto, cada imóvel, tudo estava em seu lugar e sem poeira, sem rachaduras, sem rasgos, estavam com uma aparência agradável. A sala estava iluminada e colorida, do mesmo jeito quando Coraline entrou ali pela primeira vez.
- O que faremos? – Perguntou Chris.
- Iremos encontrar meus pais, seus irmãos e acabar com ela de uma vez! – Respondeu Coraline em um tom frio.
Chris sentiu uma curiosidade e uma dúvida, uma pergunta que não saía da sua cabeça.
- A porta está aberta e está maior, por que a Outra Mãe não sai daqui? Por que ela continua aqui? – Perguntou ele.
- Talvez ela não consiga sair daqui – Respondeu o Gato, pulando gentilmente no sofá, se confortando nas almofadas macias e quentes – Talvez esteja presa aqui – Acrescentou ele após deitar-se.
O gato bocejou lenta e cuidadosamente, revelando uma boca e uma língua de um rosa impressionante.
- Como tem coragem de deitar em uma coisa que ela fez? – Perguntou Coraline ao gato, franzindo a testa.
- É um sofá – Respondeu o gato em um tom sarcástico – E por mais que pertença a uma criatura horrenda, ainda sim é um sofá, um belo sofá, macio, quente e confortável. E estou com sono.
O gato espreguiçou-se, esticou os braços revelando uma unha muito bem afiada e brilhante, rasgando o tecido do sofá sem se dar conta.
- E vai ficar aí e não vai fazer nada? Não temos tempo! – Disse Chris andando até o gato.
O gato nada respondeu, parecia não ter notado a existência de Chris.
- Vamos, deixa ele aí, deve estar mesmo cansado – Disse Coraline – Até depois, gato! Fique bem atento, a Outra Mãe deve estar por aí.
O gato, ao ouvir aquilo, rapidamente abriu um dos olhos, sentiu um frio na barriga e se viu obrigado a pular do sofá e acompanhas os dois.
Inclinou a cabeça para o lado; os olhos verdes brilhavam. Andando com a cabeça e a cauda erguidas orgulhosamente.
- Que fique claro que eu escolhi ir com vocês – Acrescentou felinamente depois de disparar um olhar rápido para os dois, virando a cabeça para o lado em um movimento rápido e orgulhoso – Humanos...
Os dois riram logo em seguida.
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